segunda-feira, 10 de outubro de 2005

ARMADILHAS NA FLORESTA

Por causa do artigo "Cá entre nós", de autoria do jornalista Elson Martins, publicado aqui no sábado, o senador Geraldo Mesquita Jr. (PSOL-AC) enviou o seguinte comentário:

"Prezado Altino,

Algumas afirmações contidas no texto do Elson revelam percepções parciais que precisam ser esclarecidas. Diz ele: "recentemente o senador que se juntou à oposição liderada pelo fazendeiro Marcio Bittar...".

Dois comentários: 1)O Marcio era o candidato dos sonhos da FPA, em 2002, para compor a chapa ao senado com a Marina. Ele foi cortejado e disse não; 2) Muita gente se coloca, hoje, em (o)posição crítica a esse governo sem necessariamente estabelecerem alianças entre si.

Diz, ainda, o Elson, em outra parte do texto, que " velhos amigos ou parceiros meus como Geraldinho, etc... não me convencem de modo algum que seus novos aliados da direita aprenderam a ter boas intenções com o Acre".

Ora, a FPA sabia que o Márcio era de direita quando o convidou para formar chapa com a Marina ao senado em 2002? Outra vez: os erros e equívocos desse governo colocaram muita gente em posição de confronto a ele. Isso não significa necessariamente que estejam aliados. De qualquer forma, o texto do Elson foge ao besteirol de sempre e permite a reflexão.

Um abraço".

Leia agora as explicações do Elson Martins em resposta ao comentário do senador:


"Caro Altino:


As observações do senador Geraldinho (PSOL-AC) em resposta ao meu texto “Cá entre nós”, publicado em seu blog, podem estar corretas. Admito que errei ao dizer que o candidato ao governo pelo PPS, Márcio Bittar, é de direita. Bastaria identifica-lo como fazendeiro, com todas as ameaças que a definição acarreta.

Não tenho nada, juro, contra a pessoa do seu Márcio Bittar que conheço apenas por suas declarações em campanhas políticas e na imprensa. Mas suas idéias contra o extrativismo, e daí contra a tradicionalidade da vida acreana, me assustam. Se Jorge Viana, Marina e Silva e outros nomes do PT o queriam para candidato ao Senado, em 2002, na minha modesta opinião cometeram grave erro político.

O Jorge Viana tem atitudes no exercício do poder que me revoltam. Entretanto, posso criticá-las com a expectativa de fazê-lo enxergar que aqui fora (do governo) tem gente capaz de pensar e corrigir rumos na construção da sociedade sustentável do Acre. Na sua base eleitoral, afinal, existe um movimento popular histórico.

Seu Márcio, ao contrário, representa o segmento que atacou e se apropriou de parte do Acre a partir dos anos 70. Esse segmento mantém fazendas com asfalto e energia à porta, pastos colossais e mansões rurais, tudo cercado para evitar a intrusão da sociedade extrativista que, em parte, expulsou das terras.

Há 30 anos, portanto, existem dois lados que se opõem no Acre: o lado que defende a floresta e quer viver em harmonia com ela, explorando sua riqueza com ajuda da ciência, da tecnologia e dos conceitos de sustentabilidade; e o lado que não acredita nesses valores, mas sim no lucro imediato obtido com a devastação da natureza. Seu projeto de vida fica longe daqui, mas bancado com o dinheiro daqui.

As diferenças que demarcam os dois lados são históricas, econômicas, culturais, ambientais e ideológicas, entre outras. Não sei explicitá-las melhor e quem souber deve fazê-lo nestes tempos ameaçadores para a democracia e para o extrativismo acreano. O que carrego, de sobra, é um imutável compromisso com a vida que nossos ancestrais teceram nesses rincões da Amazônia.

Por isso, repito: ninguém me convence que os fazendeiros que infernizaram a vida dos povos da floresta nos anos 70/80, não estejam articulando novas armadilhas contra nós. E seu Márcio, a meu ver, é uma delas".

3 comentários:

Anônimo disse...

Diz o Elson: "Há 30 anos, portanto, existem dois lados que se opõem no Acre:". Seria bom complementar, caro Elson, há trinta anos formamos no Acre uma frente que luta contra a expropriação dos seringueiros que ocuparam as terras por um século. A venda das terras, apoiada em títulos seculares e por vezes fruto da falsificação, resultou na transferência para a atualidade o velho e corcomido latifundio seringalista em detrimento dos direitos dos "posseiros". A morte de Wilson Pinheiro, em outras tantas, até a de Chico Mendes, são momentos da limpesa de área que garantiu e por vezes ampliou a propriedade seringalista e a transformou nos latifúndios pecuaristas da atualidade. É isso que vem sendo apoiado pelos ditos "novos empresários".

Anônimo disse...

Concordo com tudo o que o Geraldinho Mesquita respondeu e a replica do Elson. E o Elson levantou uma questão séria...ele disse: "Se Jorge Viana, Marina e Silva e outros nomes do PT o queriam para candidato ao Senado, em 2002, na minha modesta opinião cometeram grave erro político."
E aí: até que ponto isso é um simples erro ou é o famigarado pragamatismo político que se transformou o PT?
O PT já não é o mesmo.... começa a cair na vala comum da fisiologia e das oligarquias....que pena!

Anônimo disse...

Prezado Altino, Que bom que podemos conversar através da tua página. Tenho tentado ligar para o Elson inutilmente. O celular dele parece que está desligado. O comentário que fiz ao texto do Elson foi só para renovar o meu respeito a ele, mas também para lembrar a todos nós que não temos mais o direito de sermos ingênuos. Quando esse grande jornalista reproduz o maniqueismo oficial, fico a lembrar do discurso do LULA sobre as elites. Nunca dois governos fizeram tanto pelas elites como o do Jorge e o do LULA. Assim como o Elson, não transijo com quem não tem amor pelo Acre e seu povo bom e corajoso. Mas a nosso percepção não pode ter filtros nem bloqueadores. Governo que permite a derrubada sistemática mais sem-vergonha que se tem notícia no Acre, agarrado ao discurso da florestania, faz pior que a fazendeirada que quer transformar o Acre num grande pasto. Eles (os fazendeiros), pelo menos, não ficam tentando enganar ninguém. E tudo ocorre para que uma patota se dê bem. Observe que tenho sido esculhambado, ultimamemte, por apontar essa grande contradição do governo da FPA. Na prática os projetos de manejo patrocinados pelo atual governo têm servido para enricar alguns poucos, em detrimento dos habitantes da floresta, que continuam contidos na exata linha da miséria e impedidos de se apropriar de fatia maior da riqueza que está sendo gerada. É o que eu tenho visto acontecer nas minhas andanças. De qualquer forma, obrigado pela oportunidade do debate, mesmo limitado ao gueto dos blogs. E ao Elson, peço que por favor dê notícias. Meu e-mail está aí registrado. Forte abraço,