domingo, 25 de setembro de 2005

RIQUEZA DA HORA


Já estou cansado de revelar aqui ou registrar denúncia no Instituto de Meio Ambiente do Acre contra o tráfego permanente de caminhões carregados de madeira que transitam, sobretudo à noite e nos finais de semana, na frente de minha casa, na estrada da Área de Proteção Ambiental Raimundo Irineu Serra.

Os caminhões com madeira supostamente ilegal vêm da estrada de Porto Acre e seguem com destino aos pátios das serrarias do Distrito Industrial de Rio Branco. Quando alguém registra denúncia junto aos órgãos de fiscalização, ouve sempre a alegação de que é madeira oriunda de área de manejo.

Pesquisa da engenheira agrônoma Simone Aparecida Vieira, da Universidade de São Paulo, revela que existem nas florestas e nos pátios das serrarias do Acre árvores de porte pequeno, sendo que as mais jovens têm 200 anos.

A agrônoma datou, com Carbono 14, a idade de várias árvores em Rio Branco, tais como: castanheira (1050 anos), andiroba (920), angelim rajado (572), bálsamo (542), catuaba rosa (540), cumaru ferro (445). O manejo florestal de madeira estabelece ciclos de exploração de 25 ou 30 anos.

- Esta constatação pode alterar o enfoque dado até o momento aos planos de manejo florestal nos quais os pontos principais são as árvores de interesse econômico e o tempo que estas levam para atingir o diâmetro comercial - afirma Simone Vieira.

A dinâmica do crescimento e mortalidade das árvores e os fatores que controlam estes processos, ainda são pouco conhecidos. Alguns trabalhos revelam que de maneira geral, nas florestas tropicais a biomassa acima do solo é constituída de poucas árvores muito grandes, que representam a maior fração da biomassa total, e algumas árvores menores, que juntas constituem uma pequena porção da biomassa.

A floresta de terra firme da Amazônia compreende 41% da área total de
florestas úmidas do planeta (FAO 1991), com aproximadamente 250 milhões de hectares e cerca de 30% do estoque global de carbono vegetal. Acima de 50% do carbono presente na floresta Amazônica, encontra-se na biomassa dos tecidos lenhosos como troncos, galhos e raízes grossas.

A pesquisa foi apresentada ao Centro de Energia Nuclear na Agricultura, Universidade de São Paulo, para obtenção do título de doutora.

O trabalho faz parte do projeto “Experimento de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia” (LBA), que é uma iniciativa de pesquisa internacional liderada pelo Brasil e tem por objetivo “gerar novos conhecimentos para entender o funcionamento climatológico, ecológico, biogeoquímico e hidrológico da Amazônia, o impacto das mudanças no uso da terra nesses funcionamentos e as interações entre a Amazônia e o sistema biogeofísico global da terra”.

Nota do blog: o economista Mário Lima envia o seguinte comentário:

Caro Altino, não faz sentido o Assuero Veronez reclamar da falta de trabalhos acadêmicos ou de base científica. Peço que destaque a seguinte passagem da tese da doutora Simone Vieira:

"A vegetação e o clima coexistem num equilíbrio dinâmico, que pode ser alterado por perturbações diversas em qualquer um dos dois componentes. Com o crescente desmatamento nos trópicos úmidos (Lawrence et al., 2001), vários estudos vêm sendo conduzidos visando entender as interações existentes entre mudanças ocorridas tanto na distribuição dos diversos tipos de vegetação, como na sua estrutura e composição química, e o clima (Semazziet al., 2001, Foley et al., 2002). Dentre esses estudos pode-se citar experimentos de microescala em torres meteorológicas, perfis de umidade e de fluxos gasosos entre a superfície e a atmosfera (Gash & Nobre, 1997; Shuttleworth et al., 1991). Tais experimentos mostraram os efeitos do desmatamento sobre a precipitação e a evaporação, demonstrando que mudanças na vegetação podem influenciar o clima regionalmente".

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