segunda-feira, 18 de outubro de 2004

POLÍCIA TORTURA EM PÚBLICO

Na terça-feira 12, o batalhão de choque da Polícia Militar, enviado a pedido da justiça eleitoral para garantir a ordem em Boca do Acre, se envolveu numa ação que gerou revolta silenciosa da população: torturou durante várias horas Francisco da Silva Matos, 19, e depois invadiu uma casa, sem mandado judicial, dando tiros contra o menor Weberson Durão, 14.

Os dois jovens foram acusados de furtar uma rede de pescar que estava estendida sobre o muro do hospital da cidade. Um policial do batalhão de choque encontrou Francisco na rua e o levou para a delegacia numa moto.

Francisco começou a ser espancado logo que desceu da moto, na calçada da delegacia, na presença de dezenas de pessoas que diariamente se aglomeram no local na tentativa de obter o registro de queixas.

“Foi uma selvageria que jamais imaginei presenciar junto com minha irmã”, contou Maria das Graças, casada com um soldado da própria PM. “O policial, depois de espancar o rapaz de todo jeito, jogou ele no chão e ficou chutando o corpo dele e pulando em cima dele”.

Francisco foi jogado numa cela e depois foi retirado pelo mesmo policial e transportado num carro para indicar o paradeiro do menor. “Dentro do carro eles me bateram mais, sempre com o cano do revolver apontado para minha cabeça”, relatou.

Novamente foi trazido para a cela e o mesmo policial se dirigiu à casa do menor. Ao perceber a presença da polícia em sua casa, o garoto correu e o policial tentou atingi-lo com três tiros.

“Ficamos em pânico. Isso nunca tinha acontecido aqui. Não temos a quem recorrer”, disse Maria Auxiliadora, mãe de Weberson Durão.

Na mesma noite, embriagado, o policial do batalhão de choque voltou à delegacia e se dirigiu à cela com uma arma dizendo que iria matar Francisco. Ainda deu um tiro dentro da delegacia, mas acabou contido pelos colegas.

“A mãe do Francisco me procurou para denunciar esse caso. A única coisa que pude fazer foi um pronunciamento. Não temos a quem recorrer. A truculência administrativa e policial impera em todos os ambientes”, disse o vereador petista Raimundo Nascimento.

Até o final da manhã de sábado, Francisco, que sofreu dois cortes no pênis por causa do espancamento, não havia conseguido ser submetido ao exame de corpo de delito porque não havia delegado na cidade.

“Estou com muito medo, pois o policial disse que se eu abrir o bico ele irá me levar para fora da cidade pra acertar a conta com ele”, afirmou.

A reportagem relatou o caso ao major George, comandante da Polícia Militar em Boca do Acre, que disse desconhecer o caso. George concordou em comparecer à casa dos pais da vítima e providenciou a requisição do exame.

"Vamos tomar todas as providências cabíveis, mas será difícil identificar o agressor, pois nossas equipes estão se revezando constantemente", avisouo major.

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