segunda-feira, 18 de outubro de 2004

BOCA DO ACRE VIRA TERRA SEM LEI

Polícia tortura e impõe toque de recolher em cidade sem delegado, promotor e juiz

O município de Boca do Acre (AM) permanece sob clima de conflagração após os distúrbios ocorridos há 15 dias, quando mais de duas mil pessoas se revoltaram com as decisões da juíza da 42ª Zona Eleitoral, Rosa Maria Calderaro, e atearam fogo na casa e na emissora de rádio do prefeito Iran Lima (PPS), além de atear fogo e destruir parcialmente os prédios da prefeitura e do fórum.

Distante 215 quilômetros de Rio Branco, no Acre, e 2,5 mil quilômetros de Manaus, no Amazonas, Boca do Acre virou literalmente uma terra sem lei após a revolta popular decorrente da impugnação do candidato a prefeito Dominguinhos Muñoz, da coligação Frente Popular para o Desenvolvimento Bocacrense, integrada pelo PT, PT do B, PRTB e PV.

No final de semana, a cidade permanecia sem delegado, promotor, juiz e até sem prefeito. Todos deixaram a cidade após a revolta dos partidários de Muñoz e alguma ordem tem sido imposta pelos homens do batalhão de choque da Polícia Militar do Amazonas, que foram enviados para a cidade a pedido do desembargador Kid Mendes Oliveira, presidente do Tribunal Regional Eleitoral do Amazonas.

Boca do Acre, que costuma atrair centenas de turistas acreanos, estava com suas ruas praticamente desertas no final de semana por causa do toque de recolher estabelecido pelos policiais militares.

Bailes e reuniões estão proibidos e quem se aglomera na rua após as 21 horas é preso. Os policiais do batalhão de choque, com farda camuflada, percorrem as ruas fortemente armados e apavoram a cidade.

A população poupa de críticas apenas os policiais militares que já atuavam há vários anos na cidade, mas cuja maioria foi deportada, a pedido do prefeito, para a vizinha cidade de Pauini, após a revolta popular.

Não existe Polícia Civil em Boca do Acre. Há vários anos, o cargo de delegado de polícia é exercido por cabos da Polícia Militar, que são indicados pelo prefeito. O "delegado" costuma ser auxiliado nas investigações por um soldado.

O cabo Alves, que era o delegado titular, foi deportado pelo prefeito após o quebra-quebra. Na semana seguinte, ele foi substituído por outro que já era titular de uma delegacia em Manaus. O novo delegado, o cabo Correia, primo do prefeito, foi nomeado na sexta-feira, mas não havia assumido até domingo.

O prefeito Iran Lima também exonerou cargos de confiança de sua administração, cancelou a concessão de vários motoristas de táxis e até destruiu no mercado as bancas de vendedores de peixes que supostamente não o apoiaram no dia da eleição.

“A cidade está sobressaltada com as demissões, ameaças e desrespeito aos direitos humanos”, afirma o professor José Lopes, 57, ligado ao PT, assinalando que a juíza foi alertada quanto à iminência de distúrbios.

Realmente, em agosto a coligação sugeriu à juíza que fosse requisitada o auxílio de tropas federais para garantir a normalidade das eleições. Ela julgou desnecessária a providência.

“Em setembro, voltamos a sugerir o auxílio de forças federais ou o reforço da tropa da Polícia Militar na cidade. Mais uma vez a juíza desconsiderou nosso apelo”, contou Lopes.

O capitão Dias Figueiredo, comandante da PM em Boca do Acre, disse que seus homens não puderam fazer nada além de atirar para o alto na tentativa de conter a fúria popular. “Éramos 29 homens contra mais de duas mil pessoas”, afirmou.

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) anulou as eleições em Boca do Acre porque o número de votos nulos (6.089) é maior que os válidos (5.806). Os votos nulos somaram 50,64% enquanto o prefeito e o candidato do PDT obtiveram 48,28% dos votos.

Alegando que Domingos Munhoz não havia se desincompatibilizado do cargo de vice-prefeito, a juíza Maria Rosa Calderaro impugnou a candidatura dele quando faltavam dois dias para a eleição. A mulher de Munhoz, Maria das Dores, a Dorinha, assumiu o lugar de candidata da coligação PT-PL e também foi impugnada.

Na véspera da eleição, a juíza compareceu à rádio "Eu e você", de propriedade do prefeito. Ela repetiu três vezes que só havia duas candidaturas válidas - a do PDT e a de Iran Lima. E chegou a recomendar que os eleitores não votassem na candidatura do PL-PT porque os votos seriam anulados. Após a entrevista, milhares de pessoas foram para as ruas.

No dia da eleição, por volta das 23 horas, quando a apuração ainda não havia sido concluída, teve início a reaçõu popular. Ela se estendeu até a madrugada sem que a polícia tivesse condições de reprimí-la.

7 comentários:

Anônimo disse...

"Ainda bem que toda essa cofusão foi na boca do acre, ja pensou se passa para o coração?"

Anônimo disse...

Astronauta Marmore,

Altino estou vindo aqui te convidar para "FALAR BEM DO GOVERNO JORGE VINA" lá na Caverna.... rsssssssss

Anônimo disse...
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Anônimo disse...
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Andr´ Muggiati disse...

Muito bom, Altino. Parabéns pelo furo!

Por aqui A Crítica publicou no domingo reportagem dizendo que José Lopes, tesoureiro de Amazonino, é o maior devastador do Estado do Amazonas. divinha em qual município ficam suas fazendas?

Pois é. Além disso Boca do Acre também já conta com o maior rebanho bovino do Estado.

Abs,

Anônimo disse...

Boca do Acre so é lembrado durante as eleições onde o canditado a governador as vezes se atreve em ir lá pedir votos, ou quando sai alguém pra prefeito.
Falar em falta de ordem naquele pequeno minicipio e querer punir os acusados parece até engraçado. Quem passa por lá pode observar que não existem investimentos, manutenções, tudo que um municipio deve ter, e como lá não é tão grande dava sim pra se fazer de lá quem sabe um municipio modelo.
Quando o povo resolve reagir a determinado resultado la vai o governo interferir, é claro que não se pode confundir manisfestação com anarquia, mas o grande culpado e o governo que não da a minima para aquele municipio, não faz nada essa é a grande verdade.
Cabe sim a policia conter os animos, mas me diga quem é o responsavel por deixar o povo tão revoltado?

roberta aguiar disse...

sim como eu faço para falar com alguma radio dai, pois nenhuma radio dai tem site ou pior um unico telefone disponivel ...
preciso enviar midia pra boca do acre, socorroooo...
preciso dos telefones das radios e das emissoras de vc's....

roberta aguiar
(robeta16@yahoo.com.br)