quinta-feira, 31 de março de 2016

Crise econômica transforma o Acre em porta de saída de imigrantes haitianos


Principal porta de entrada de haitianos durante cinco anos, o Acre começa a se tornar porta de saída de uma parcela dos 50 mil imigrantes que entraram no país e que agora começam a voltar para o Haiti por causa da crise econômica, principalmente a falta de emprego e a alta do dólar.

Mais de 40 haitianos desembarcaram em Rio Branco na madrugada desta quinta-feira (31). Homens, mulheres e crianças de colo deixaram cidades do interior dos estados de Santa Catarina, Paraná e São Paulo.

Como no Brasil o preço das passagens para Porto Príncipe varia de R$ 5 mil a R$ 8 mil, os haitianos começam a se deslocar para o Peru e Equador. Nesses países, refazendo a rota pela qual a maioria ingressou em território brasileiro a partir de 2011, dizem que fica mais em conta comprar passagem aérea até Santo Domingo, capital da República Dominicana.

- Quase todos os haitianos estão em situação bem difícil no Brasil. Falta trabalho e o valor do dólar está muito alto. Não temos mais como continuar aqui e muito menos como ajudar nossos parentes que ficaram no Haiti. Quem tem algum dinheiro não pode comprar passagem aérea no Brasil de volta para o Haiti. Passei pelo Acre em 2012 e a situação no Brasil era outra. A situação começou a piorar nos últimos dois anos. Poucos conseguem fazer o que estamos fazendo agora para regressar ao Haiti - disse um haitiano que estava acompanhado da mulher e de um bebê brasileiro.

Consultado, o secretário estadual de Justiça e Direitos Humanos, Nilson Mourão, não tinha conhecimento da nova rota que os imigrantes estão tentando estabelecer de volta ao Haiti. Mourão assinalou que o abrigo de imigrantes que era mantido em Rio Branco, em parceria com o governo federal, está fechado desde o mês passado.

- A única coisa que podemos fazer agora é orientar quem estiver de passagem pelo Acre - disse Mourão.


segunda-feira, 21 de março de 2016

Peixes da Amazônia

Consumidores do Acre vão encontrar durante a Semana Santa vários tipos de cortes de peixes da empresa Peixes da Amazônia em novas embalagens. No ano passado, a empresa forneceu ao Supermercado Araújo 17 toneladas do produto. Por causa do sucesso de vendas, dessa vez a maior rede de supermercados do Acre adquiriu 30 toneladas para a Semana Santa. Outras 130 toneladas de pintado, pirarucu e tambaqui já estão sendo vendidas na rede de supermercados do Grupo Pão de Açúcar, em São Paulo. Fica para trás o tempo, nas décadas de 1980 e 1990, no Acre, quando parte dos consumidores cristãos, por causa da oferta insuficiente de peixe no mercado local, esperava autorização do bispo liberando os fiéis para consumo de carne de boi. A empresa é um empreendimento de R$ 70 milhões, que conta com a participação de investidores do Acre (21%), Fundo de Investimento (33%), Agência de Negócios do Acre (35%) e piscicultores (10%), além de um financiamento de R$ 25 milhões do Banco da Amazônia para construção do frigorífico.

quarta-feira, 16 de março de 2016

Conversa de amigo de Lula com senador Jorge Viana foi interceptada pela PF

Senador sugere a Roberto Teixeira subir o tom contra o juiz Sérgio Moro, MPF e PF para provocar prisão do ex-presidente por “desacato a autoridade” e virar “preso político”; Jorge Vina critica a atuação do delegado Maurício Moscardi, o qual ele acredita ser um “inimigo do PT” que já esteve no Acre fazendo uma “operação contra o PT” 


O juiz federal Sérgio Moro quebrou o sigilo da operação Lava Jato cujo inquérito tramita em Curitiba. Consta nos autos uma conversa do advogado Roberto Teixeira, amigo e compadre do ex-presidente Lula, com o senador Jorge Viana (PT-AC), interceptada no dia 4 de março.

Na ligação, o senador Jorge Viana expõe a estratégia a qual ele acredita que deveria ser seguida por Lula, de subir o tom contra o juiz moro, o Ministério Público Federal e a Polícia Federal, provocando assim uma possível prisão por “desacato a autoridade”, transformando Lula em um “preso político”.

Jorge Viana também critica a atuação do delegado de Polícia Federal Rodrigo Moscardi, o qual ele acredita ser um “inimigo do PT” que já esteve no Acre fazendo uma “operação contra o PT”. O senador revela que “denunciamos (a operação G-7 da PF, comandada pelo delegado) pro Zé Eduardo Cardozo várias vezes que era uma ação dirigida, que ele tem ódio”.

O senador sugere que tem que subir o tom, transformar Lula em preso político, enfrentar Moro, MPF e PF até ser preso por desacato. Dizer que está desafiando para proteger sua família. Fala que Moscarid é um inimigo do PT que estava lá prendendo Lula, que ele esteve no Acre e fez uma operação contra o PT. Diz que Moscardi fez uma operação contra o governador Tião Viana no Acre. Viana diz que Lula precisa transformar isso numa situação política e sair do jurídico.

Veja o diálogo transcrito pela Polícia Federal:

JORGE: Alô?

ROBERTO TEIXEIRA: JORGE?

JORGE: Oi, ROBERTO. Eu sei que você tá tão atarefado, mas eu precisava.. eu to aqui no Acre, no interior, querendo ir pra Brasília, desde cedo tô me deslocando de carro, mas primeiro ser solidário aí com vocês e eu vi a nota de vocês, eu acho que foi a coisa mais coerente que eu vi até agora..

ROBERTO TEIXEIRA: Perfeito.

JORGE: Eu quero só passar uma ideia de quem tá longe, e que ao mesmo tempo sofre como se tivesse perto.

ROBERTO TEIXEIRA: Perfeito.

JORGE: Eu acho que a fala do presidente foi bom, mas ela foi muitos tons abaixo do que deveria ser.

ROBERTO TEIXEIRA: Certo.

JORGE: Talvez.. olha a minha ideia.. falei até com o DAMOUS. Talvez seja a única oportunidade que o presidente tem de por fim à essa perseguição, essa caçada contra ele. Se numa segunda-feira, por exemplo, reflitam sobre isso, ele chamar uma coletiva e comprar e estabelecer uma relação, um diálogo com seu MORO pela, ao vivo, MORO, PROMOTORES, DELEGADOS, dizendo que ele não aceita mais que ele persiga a família dele porque ele tá agindo fora da lei, os promotores fulano e ciclano estão agindo fora da lei, os delegados fulano e ciclano e quem age fora da lei é bandido e que se ele quiser agora vim prendê-lo, que venha, mas não venha prender minha mulher, prender meus netos, nem meus filhos.. E forçar a mão nele pra ver se ele tem coragem de prender por desacato a autoridade, porque aí, aí eles vão ter uma comoção no país, porque ele vai tá defendendo a família dele, a honra dele.. dizer: olha, eu estou defendendo a minha honra, você está agindo fora da lei, quem age fora da lei é bandido.. me sequestraram, me colocaram.. eu não sei, tinha que pensar algo parecido com isso e dar uma coletiva e provocar e dizer que não vai aceitar mais..

ROBERTO TEIXEIRA: Perfeito.

ROBERTO TEIXEIRA: É.. mas isso, mas viu, JORGE, ele anunciou isso, falou isso, ele disse que vai varrer o Brasil inteiro, vai denunciar isso o tempo todo..

JORGE: Isso não funciona.

ROBERTO TEIXEIRA: E agora..

JORGE: Não tem clima no interior do Brasil pra ele vir, pra ele andar. Ele tem que fazer uma ação ao vivo chamando coletivas, isso é mais forte do que ele fazer comício, fazer coisa.. gente, o clima tá muito ruim contra nós, não há uma comoção. Ele tem que botar a família dele, fazer a defesa e virar a fazer..

ROBERTO TEIXEIRA: Entendi.

JORGE: E fazer um confronto direto com eles. Se não fizer isso agora, não tem clima pra andar no Brasil.

ROBERTO TEIXEIRA: Perfeito.

JORGE: Esses caras tão trabalhando há muito tempo esse ambiente. (ininteligível).

ROBERTO TEIXEIRA: Perfeito. Vamo, vamo refletir sim, vamo transferir isso aqui. Ele agora vai estar num ato aqui dos bancários, que ele vai agora falar pro povo, né? E..

JORGE: Diga: me prenda, eu estou aqui. Vou ficar nesse endereço esperando a chegada dos seus subalternos com o mandado de prisão. Se ele prender, o LULA vira um preso político e vira uma vítima, se não prender, ele também se desmoraliza. Tem que virar o jogo agora. Esse negócio de andar o Brasil, de falar, isso não vai funcionar, isso foi num passado distante. Tem clima, e isso tem que ser feito urgente, porque senão no dia 13 vai ter milhões de pessoas na rua querendo a prisão do LULA. Eu to dando um toque, eu to no andar de baixo andando e é só mais pra vocês refletirem um poucose puder.

JORGE: Eu não sei, mas você fala, diz: ó, foi uma possibilidade, LULA, existe greve de fome quando alguém se rebela e não aceita determinadas coisas, na parte judicial, porque ninguém do Supremo vai dar colhida mais ao LULA, mas tem muitas manifestações favoráveis. Se o LULA colocar como o defensor da família dele, da mulher, dos filhos e desafiar e dizer que eles tão agindo fora da lei, como agiram hoje fora da lei, quem age fora da lei é bandido e dizer: vocês são bandidos, agiram foram da lei. Só vai ter uma saída: ou o cara prende ele ou fica desmoralizado. Não aceito mais. Que o judiciário ponha um juiz isento pra me investigar, ponha um promotor isento pra me investigar, ponha é.. é.. delegado da polícia federal isento.. esse MOSCARDI veio aqui no Acre, fez uma operação contra o PT, nós denunciamos pro ZÉ EDUARDO CARDOSO, entramos com uma representação há seis anos contra esse delegado que pegou o presidente hoje. Ele é um inimigo do PT e tava lá. Agora, o presidente não tem outra oportunidade. Pra mim ele tem que fazer no máximo até segunda-feira, chamar uma coletiva e insubordinar e dizer que não aceita mais, não aceita mais e dizer: olha, vocês estão agindo fora da lei, e quem age fora da lei é bandido (ininteligível) o senhor está agindo como bandido, e o senhor não tem moral de me apurar de me investigar, eu to falando como cidadão, não é como ex-presidente, cidadão. Aqui está a constituição. Pense nisso. Reflita, porque nós não vamos ter outra oportunidade igual ao dia de hoje, não.

ROBERTO TEIXEIRA: Perfeito. Eu vou pensar e transferir. Eu vou passar essa informação. Qual é o nome daquele delegado que você falou que já fez problemas aí?

JORGE: O.. esse MOSCARDI. O MOSCARDI, eram três.

ROBERTO TEIXEIRA: MOSCARDI?

ROBERTO TEIXEIRA: Perfeito. MOSCARDI. Tá bom.

JORGE: O governador TIÃO VIANA sabe bem disso.

ROBERTO TEIXEIRA: Perfeito. Eu vou.. (ininteligível)

JORGE: Agora, ROBERTO, reflita. Têm coisas que só tem um momento de virar o jogo.

ROBERTO TEIXEIRA: Certo.

JORGE: Essa ação deles hoje foi uma barbeiragem. O ministro MARCO AURÉLIO, todo mundo, mas na segunda ou na terça eles vão consertar.

ROBERTO TEIXEIRA: Sei.

JORGE: (ininteligível) Eles tão botando a receita agora. Se o presidente LULA fizer isso ele vai virar e vai deixar de ser uma ação jurídica e vai ser uma ação política. O presidente LULA precisa transformar esse confronto numa ação política. Eles tão se rebelando, só dizendo que não aceita mais o MORO, que agora se ele mandar um ofício ele não vai, e dizer que ele tá agindo fora da lei, chamar de bandido. E diga: venha me prender, agora eu que estou desafiando, venha me prender. Mas não venha prender minha mulher, nem meus netos, nem meus.. a mim, eu to aqui nesse endereço esperando. Os seus policiais. Aí o povo vai pra rua, aí a gente faz um confronto institucional pela política, que é o campo do LULA, e não pelo jurídico que é o campo deles. Pensa nisso. Era.. era alguma observação que eu
queria fazer.

ROBERTO TEIXEIRA: Tá ótimo, então. JORGE: Tá bom, querido.

ROBERTO TEIXEIRA: Ok, então.

JORGE: Um abraço.

ROBERTO TEIXEIRA: Um abraço.

JORGE: Sorte aí, que Deus ajude você.

ROBERTO TEIXEIRA: Tchau.

Clique aqui para ler o auto de interceptação da Polícia Federal.

segunda-feira, 14 de março de 2016

Dramático resgate de uma preguiça em Área de Proteção Ambiental de Rio Branco (AC)

Animal foi capturado e devolvido ao tentar atravessar estrada 











Pesquisador escreve carta aberta a Maria Bethânia sobre ambientalismo de mercado

POR MICHAEL F. SCHMIDLEHNER 


Prezada Maria Bethânia,

Tomo a liberdade de escrever esta carta em protesto contra sua participação na campanha “A Natureza está falando”, da Organização Não Governamental Conservação Internacional (CI). Percebo que a senhora se entende como uma pessoa espiritualmente ligada à natureza. Recentemente assisti uma entrevista sua na TV. Nesta entrevista a senhora falou que, antes de aceitar ser enredo da Mangueira, consultou seus guias espirituais para obter autorização. A principio considero muito boa esta atitude. Entretanto, sinto que sua participação na campanha da CI pareceu-me contraditória com a referida atitude. A seguir exponho as razões desse estranhamento que motivou a lavra desta Carta.

Inicio compartilhando algumas informações que possam ajudar esclarecer em que consiste, na minha avaliação, o propósito desta Organização Não Governamental (ONG). Tendo trabalhado algum tempo com uma ONG, hoje entendo que tem três principais perguntas que podem revelar os interesses que movem uma ONG: Quem a dirige? Quem a financia? Quais as relações entre dirigentes e financiadores? Vejamos, através de alguns exemplos, como estas questões se comportam no caso da CI.

A maior parte das receitas da CI provem de empresas e fundações, sendo grande parte destas fundações por sua vez ligadas às corporações, ricos empresários ou bancos (por exemplo Fundo Filantrópico Goldman Sachs, Fundação Walt Disney, Fundação Coca Cola, Fundação Margaret A. Cargill etc.).

A maior empresa do mundo – Walmart – é uma das principais parceiras da CI. O ex-presidente e filho do fundador desta empresa, o multibilionário Rob Walton ao mesmo tempo é presidente do comitê executivo da CI. Walmart vem sendo veementemente criticado por violar direitos trabalhistas no mundo inteiro, por explorar trabalho forçado na China e por causar uma gigantesca pegada ecológica. A parceria com este gigante das ONGs é estratégica para Walmart por duas razões. Primeiro, o melhoramento da imagem pública da empresa. Segundo, os projetos conservacionistas da CI (principalmente os projetos de Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação florestal – REDD) em grande parte objetivam a emissão de certificados de “emissões de carbono evitadas”. Estes certificados podem ser usados por empresas como Walmart, para “compensar” as emissões por ela causadas. Ao invés de mudar suas praticas ambientalmente destrutivas, a empresa pode - com relativamente pouco dinheiro – “apagar” sua pegada ecológica e tornar-se “carbono neutral”. Através de um dos projetos facilitados pela CI no Brasil, por exemplo, Walmart pretende “evitar” a emissão de 458 milhões de toneladas de carbono na floresta Nacional do Amapá.

De fato, estes projetos tendem a resultar em criminalização e até expulsão dos povos da floresta, que são forçados a abandonar suas tradicionais práticas de subsistência. Em Botswana, por exemplo, onde a CI apoia o governo na implementação de políticas conservacionistas, centenas de indígenas foram espancados, presos e expulsos de áreas de proteção ambiental. Trata-se de uma reserva, onde o governo do país quer explorar minas de diamantes e extrair gás de xisto (fracking).  A CI se defendeu contra as acusações com uma nota, alegando que não teria envolvimento em tais ocorrências, mas que não poderia ser responsabilizada por eventuais evicções promovidas pelo governo de Botswana. Entretanto, a nota não menciona o fato que o Sr. Ian Khama - o próprio Presidente deste país africano – integra a diretoria da ONG (CI).

A CI ainda promove pesquisas e atividades de bioprospecção em terras indígenas e em regiões de grande Biodiversidade (biodiversity hotspots), frequentemente em parceria com empresas, tais como Monsanto e Novartis. Estas atividades são percebidas por ONGs críticos e comunidades indígenas e como biopirataria e biocolonialismo. Eles acusam a CI, alem de criminalizá-los, de roubar seu conhecimento tradicional e de se apropriar de recursos biológicos, monopolizando e mercantilizando-os.

Empresas petrolíferas, exploradoras de carvão e empresas de energia, cientes do fato que a queima dos combustíveis fosseis são a principal causa da crise climática, hoje tem grande interesse no melhoramento da sua imagem e na possibilidade de compensação de emissões, que deve permitir que eles continuam seu negócio como sempre. Por isso não é de estranhar que encontramos nomes como BP, Shell, Cerrejon Coal, etc. na lista dos parceiros da CI. A organização justifica suas parcerias com as empresas poluidoras, argumentando que ela trabalharia para melhorar as práticas ambientais das mesmas. Na pratica não podemos ver muitos resultados deste trabalho da ONG. Ela parece mais viabilizar meios para que as corporações possam comprar seu caminho fora da responsabilidade e continuar com suas práticas destrutivas.

No Brasil, a Petrobras é parceira da CI. Aqui o entrelaçamento de interesses entre os dois obviamente vai além da sua parceria oficial. O multibilionário brasileiro André Esteves preenche (juntos com o ator Harrison Ford) o cargo de vice-presidente do conselho da CI. Em 1992 Esteves foi acusado de ter pagado R$ 6 milhões em propinas para Fernando Collor. A quantia teria sido repassada a Collor para que a BR Distribuidora – subsidiária da Petrobrás – cedesse sua bandeira para uma rede de 120 postos de combustíveis controlada pelos empreendimentos de Esteves. Uma das empresas de Esteves ainda vende equipamentos para exploração de petróleo para a Petrobras. Acusado de ter pagado propina na compra de ativos da Petrobrás na África e de ter tramado contra a operação Lava Jato, Esteves foi preso em novembro do ano passado e responde por processo criminal. A CI apresenta seu vice-presidente Esteves no seu site como “conservacionista”, sem maiores explicações. Temos que perguntar: como Esteves chegou a ter esta posição na CI? Que faz dele uma “conservacionista”? Em que consiste este conservacionismo da CI?

O rompimento da represa em Mariana em novembro de 2015 é considerado o maior desastre ambiental que já teve no Brasil. A mineradora Samarco que é responsável pelo desastre é propriedade da Vale S.A. (50%) e da empresa anglo-australiana BHP Billiton (50%). Ambas as corporações tem parceria com a CI. Houve um laudo independente do instituto Pristino em 2013, que apontava para o perigo de rompimento, e que foi ignorado pela Vale e pela BHP Billiton. Mas por que a CI ignorou este laudo? Sendo ela parceira ambiental destas Multinacionais, não teria sido sua responsabilidade de pressioná-las para que tomem medidas? Ou seja, a CI não poderia ter evitado este desastre? E depois do desastre: enquanto a população brasileira (juntos com algumas organizações financeiramente independentes das empresas) protestava para que as corporações se responsabilizassem, a CI (assim como outras ONGs que recebem dinheiro da Vale) ficou praticamente quieta, se restringindo a analises técnicas sobre o ocorrido.

Assim como as indústrias poluidoras, as empresas petrolíferas e as grandes instituições financeiras, a indústria de armas também tem seus interesses entrelaçados com os da CI.  Wes Bush, o presidente da empresa Northrop Grumman é tambem membro da diretoria da CI. Produtos da Northrop Grumman são, por exemplo, o bombardeiro “Stealth B-2” e o drone “Global Hawk”, utilizadas entre outros, nas guerras que os EUA promoveram em Afeganistão e no Iraque para manter seu controle sobre o petróleo nestas regiões. Neste momento estes mesmos equipamentos efetuam bombardeios na Síria.  Em 2011, a corporação faturou com seus produtos acima de 26 bilhões de dólares. Neste mesmo ano, a Fundação Northrop Grumman doou 2 milhões (menos que um milésimo do faturamento) para a CI. Em contrapartida, a ONG confere à empresa a reputação de responsabilidade ambiental. No site da CI consta: “CI colabora com Northrop Grumman [...] para permitir que a empresa possa demonstrar impactos positivos de suas operações comerciais. As atividades específicas incluem uma análise das melhores práticas, protocolos recomendados para a medição de áreas de impacto (energia, água, resíduos e ecossistemas) [...]”. Impactos positivos?!

Novamente: em que consiste afinal o conservacionismo da CI? O que ela realmente conserva? Sinto que – mais que a conservação da natureza – o propósito fundamental da CI é a conservação de um sistema. Ela contribui na conservação de estruturas de poder e de interesses particulares de indústrias e do capital financeiro. Estes mesmos interesses e estruturas querem levar nosso planeta à destruição. Lutar contra eles hoje é uma questão de sobrevivência. Não podemos consentir ou colaborar com a maquiagem verde que organizações como a CI vendem para estas corporações!
Os povos indígenas andino-amazônicos levam muito a sério a ideia da natureza como ser vivo e sujeito falante. Em 2010 representantes destes povos proclamaram na Bolívia os Direitos Universais da Natureza e desde então se reúnem anualmente para ouvir denuncias de crimes contra a natureza. Praticas da CI, tais como os mencionados projetos REDD que visam a mercantilizarão da natureza e o encobrimento de crimes contra ela estão sendo denunciados e julgados neste fórum, e um grande número dos parceiros da CI está na banca dos réus.

O “ambientalismo dos conservadores do sistema” que vem sendo praticado pela CI e outras grandes ONGs tende a produzir em suas propagandas imagens da natureza selvagem, intocada, sem gente. Estas imagens condizem à pretensão deste sistema de transformar florestas, rios e oceanos em capital disponível sem interferência humana (sumidouros de carbono, serviços ecossistêmicos comerciáveis etc.). Ignorando as intimas ligações, os inúmeros processos de coevolução entre comunidades, plantas e bichos, imagens como estas nos vídeos da CI acabam afirmando nossa separação da natureza. Assistindo-os, sentimos por um curto momento uma espécie de admiração por uma natureza irreal e romantizada, enquanto de fato ela nos escapa ainda mais. Esta comoção superficial faz que continuemos cegos diante as atrocidades muito reais que o sistema produz,  tanto contra a natureza, quanto contra as pessoas que dependem dela.


Acredito firmemente que, quando nos reconectamos com a natureza dentro de nos nós (sendo nós parte dela), ela cobra de nós um grau cada vez mais elevado de discernimento, de vigilância e de disposição de lutar por ela. Peço que a senhora faça esta consulta, tanto no mundo dos fatos, quanto no mundo espiritual, para reavaliar sua participação na mencionada campanha e considerar a retirada do seu apoio a ela!

Espero que minhas palavras não a tenham ofendido. Certamente esta não foi minha intenção. Ao contrário, quero convidá-la para conhecer melhor os movimentos populares que se criam em reação à crise planetária, em defesa dos direitos da natureza e em oposição contra as falsas soluções do ambientalismo de mercado. Seria um grande ganho para esta luta contar com seu apoio e solidariedade.

Atenciosamente,

Michael F. Schmidlehner
Pesquisador independente e ativista
Rio Branco, março 2016

Café com Altino - Entrevista casal andarilho do blog Fodam-se os Postais

Jornalista Diego Drush e o designer gráfico Eduardo Heideke falam das viagens pela América Latina, Acre e o blog "Fodam-se os Postais"



sexta-feira, 11 de março de 2016

Produtora seleciona atores e figurantes para série de TV sobre o Acre

Narrativa épica de “Mauani - O Silêncio de Maria” aborda violência de mais de 350 anos de escravidão negra, indígena e de trabalhadores nos seringais


A produtora Mil Acre Filmes abriu inscrição para atores e figurantes que queiram fazer parte do elenco da obra de ficção “Mauani - O Silêncio de Maria”, dirigida por Silvio Margarido, que vai atualizar a violência de uma história de mais de 350 anos de escravidão negra, indígena e dos trabalhadores nos seringais do Acre.

Com uma narrativa épica, em que, no presente, se revisita as lembranças do passado, a obra também vai contar histórias de amor, amizade e afeto. A série terá 5 capítulos de 26 minutos.

Acreano, o diretor Silvio Margarido trabalha há quase 30 anos com audiovisual e desenvolve pesquisas principalmente com temas regionais. Um de seus trabalhos é "O Mergulho" (2008- 2009), documentário produzido para a série DOCTV IV, que mostra a diversidade de relações que a população de Rio Branco tem com o rio Acre.

Com roteiro do jornalista e cronista Antonio Alves e Margarido, “Mauani - O Silêncio de Maria” conta uma história que se passa em vários anos do século passado na floresta (seringal e aldeia indígena) e na casa de Maria, na Rio Branco (AC) nos dias atuais.

Escravidão, matanças, exploração e preconceito é o que Maria cala na fala, mas tudo isso está presente em suas memórias escritas e que ela compartilha com a neta Maria Clara, que é surda-muda e possivelmente também silenciará os segredos de Maria.

Depois do enterro do marido, o negro Chicão, Maria, uma idosa descendente de índios, compartilha com sua neta surda-muda, um caderno de memórias escrito durante vários anos.

A relação de amizade entre avó e neta possibilita a Maria fazer suas confissões para Maria Clara através dos escritos.

O conteúdo do caderno são as memórias de Maria desde sua infância, vivida numa aldeia indígena dizimada por correrias, depois num cativeiro no barracão do seringal, até a vida adulta numa colocação de seringa na companhia de Chicão; e o importante para ela: o aprendizado solitário do abc e das operações básicas da matemática, que possibilita ajudar no controle das economias do seu marido e, ainda, desenvolver sua mania de escrever sobre sua vida.

Maria narra para a neta todo sofrimento que ela, a família e muitos outros trabalhadores sofreram no interior dos seringais. Esta narrativa épica com nuances de ações dramáticas será entrecortada por esta relação de avó e neta que se comunicam por meio de Libras.

A produção foi contemplada na linha do FSA (Fundo Setorial do Audiovisual) da Ancine. para distribuição de cinema e programação específica para as TVs públicas. O valor financiado pelo FSA foi de R$ 650 mil, mas o projeto tem orçamento maior e seus produtores estão fechando apoios do governo do Acre, prefeitura de Rio Branco, Universidade Federal do Acre, além de empresas privadas.

Prevista para ser lançada em setembro deste ano, “Mauani - O Silêncio de Maria” será distribuída pela EBC – Empresa Brasil de Comunicação, para televisões comunitárias, educativas, canais de televisão de sinal aberto. Mauani já tem exibição em rede nacional garantida através da TV Brasil.

Atores e modelos, profissionais ou não, em busca de qualificação, podem concorrer para interpretar 17 personagens da obra ou participarem como figurantes -  homens e mulheres de seis a 80 anos. Os selecionados passarão por oficina de preparação do elenco e receberão cachê pela participação.

Quem estiver interessado pode se inscrever enviando currículo e duas fotos para o e-mail mauaniosilenciodemaria@gmail.com

quarta-feira, 9 de março de 2016

Em Brasileia, a memória de um ícone do sindicalismo e do PT na lama

POR ANDERSON PEIXOTO



Estive em Brasileia, visitei o Memorial Wilson Pinheiro e fiquei chocado com o que vi. Já não é novidade para ninguém a situação daquela cidade após os seguidos alagamentos, bem como o jogo de empurra sobre a responsabilidade em recuperá-la, vide o caso da avenida Marinho Monte, principal via da cidade.

Brasileia tem ruas totalmente esburacadas, o Parque Centenário coberto por mato e terra e aquela beira de rio totalmente abandonada.

Mas o que quero ressaltar é a questão do Memorial Wilson Pinheiro, que junto com a casa de Chico Mendes, em Xapuri, simbolizam os principais equipamentos históricos da luta repercutida mundialmente entre pecuaristas e seringueiros nas décadas de 1970 e 1980.

O museu está jogado às traças. Virou foco de dengue como mostra uma plaquinha fixada em uma de suas janelas. No que resta do Memorial pude ver quadros, painéis, objetos históricos, além de documentos originais, escritos por Wilson Pinheiro, Chico Mendes e outros representantes dos sindicatos à época.


Os materiais estão soltos, quebrados e cobertos por poeira e terra. O chão está com a terra trazida pelo rio Acre ao longo das alagações, exatamente do mesmo jeito. Sem contar que o acesso ao espaço acontece tranquilamente. Entrei no Memorial e fiquei lá dentro um tempão olhando tudo e fotografando sem acreditar no descaso que eu presenciava.

Perguntei a um representante do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Brasileia (localizado nos fundos do Memorial) sobre aquela situação e a resposta foi que a Fundação Elias Mansour ordenou que era para deixar tudo como estava e que se algo fosse alterado a multa era pesada. Depois da visita da FEM já se passou muito tempo e não há resposta sobre reforma ou restauração do espaço.

Não conheci Wilson Pinheiro, mas imagino que ele preferiria que seu nome fosse lembrado como símbolo da luta dos trabalhadores rurais, e não apenas em pontes e ginásios.

Diante do que vi no Memorial, saí com duas impressões. A primeira é que o descaso pode mostrar como está fragilizado o sindicalismo rural no Acre. A segunda impressão revela o desinteresse do poder público na formação cultural e histórica dos acreanos e daqueles que querem conhecer mais sobre essa terra.

É esse o valor que o governo do Acre dá para sua história? É muito fácil sair pelo mundo venerando os povos da floresta, o movimento seringueiro e dizer que tudo está a mil maravilhas no Acre, mas como diz o ditado: "Quem te conhece que te compre".

E não me venha com essa história de #PartiuAcre, pois chegar nas cidades do Alto Acre é um desafio e tanto. Caminhar por aquelas ruas é mais difícil ainda.

Para completar, voltei de Brasileia dentro de um ônibus velho, sem para-choque, com bancos quebrados e sujos, mas que diariamente faz a linha Assis Brasil/Rio Branco. Esse retorno mereceria um relato a parte.



Anderson Peixoto é estudante e funcionário público

segunda-feira, 7 de março de 2016

Sebastião Salgado no Acre para fotografar índios de recente contato na fronteira

Renomado fotógrafo Sebastião Salgado desembarca em Rio Branco (AC) nesta quarta-feira (9). No dia seguinte, seguirá viagem tendo como destino a base da Frente de Proteção Etnoambiental do Alto Rio Envira, mantida pela Funai na fronteira Brasil-Peru. Antes de partir, tomará café com o governador Tião Viana​. Salgado permanecerá 15 dias convivendo com os integrantes do grupo de índios isolados que estabeleceram contato em junho de 2014. O fotógrafo será recebido e conduzido pelo sertanista Jose Meirelles​, que tem dedicado sua vida à defesa dos povos em isolamento da região. O convite ao fotógrafo partiu do senador Jorge Viana​.

quinta-feira, 3 de março de 2016

terça-feira, 1 de março de 2016

Ex-petista Naluh Gouveia preside TCE que ela chamava de “tribunal de faz de conta”

Entrevista com a ex-vereadora e ex-deputada petista Naluh Gouveia, presidente do Tribunal de Contas do Estado do Acre (TCE). Quando era deputada, ela chamou o TCE de “tribunal de faz de conta” e comandou a lavagem da escadaria da sede do Tribunal de Justiça do Acre. Barrada pelo PT duas vezes em sua pretensão de ser candidata a prefeita de Rio Branco, Naluh revela como e quem viabilizou o nome dela para ser conselheira do TCE. Ela se recusou avaliar os governos do PT no Acre.



sábado, 27 de fevereiro de 2016

Nabor Júnior, ex-governador do Acre

 Três mandatos de deputado estadual, dois de deputado federal, um de governador e dois de senador pelo Acre. Nabor Teles da Rocha Júnior, 85 anos, dos quais 40 de vida pública. É impressionante a lucidez deste devoto de São Francisco de Assis. Reza duas horas diariamente, vai dormir às 22h e acorda às 5h. Há dez anos, de segunda a sexta, pratica tai chi chuan e li an kun. Lépido e fagueiro, Nabor Júnior me pareceu mais jovem do que quando deixou o Senado. Ano que vem completa 60 anos de casamento (bodas de diamante ou jade) com dona Darcy. Ela não esquece o quanto foram hostilizados no aeroporto de Rio Branco pela militância petista quando o marido perdeu a cadeira de senador para Geraldinho Mesquita. “Foi muito feio o que fizeram. Gritavam ‘fora Nabor, fora Nabor’ e deram até empurrão nele”. A visita ao casal, na companhia do amigo Jurilande Aragao, demorou mais de duas horas. Ouvimos muitas lições de história sobre o Acre. Fomos conduzidos pela jornalista Dora Rocha , filha de Nabor e Darcy.
VÍDEO 






quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Veja o governador Tião Viana em entrevista exclusiva no Café com Altino

O governador do Acre Tião Viana (PT), 55, revelou no primeiro programa “Café com Altino” que vai abandonar a política após o término do segundo mandato. Casado, pai de três filhos e avô há um ano, Viana é médico infectologista e ex-senador. Ele contou o drama de ter sobrevivido à paralisia infantil e meningite e explicou como vai adotar expediente para os servidores públicos para reduzir gastos. Falou muito mais. Vale a pena assistir. 






terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Tião Viana anuncia que deixará a política; governo vai adotar expediente corrido de servidores contra crise econômica


O governador do Acre Tião Viana (PT), 55, anunciou em entrevista exclusiva ao primeiro programa “Café com Altino”, gravado na noite de sábado (20), que já decidiu abandonar a política após o término do segundo mandato. Assinalou que desiste da política não por decepção, mas por se considerar feliz pela contribuição que já deu e por entender que “é hora de fazer outras coisas bacanas por meus filhos e por minha esposa".

- Passei 24 anos transferindo os meus ideais às causas coletivas. Tenho um ponto de partida, um ponto de caminhada e um ponto de chegada. Acho que está na hora de eu parar na próxima estação, que é 2018, e descer desse trem - afirmou.

Casado, pai de três filhos e avô há um ano, Tião Viana, é médico infectologista e ex-senador. Ele contou o drama de ter sobrevivido à paralisia infantil e meningite.

Viana pretende se dedicar à carreira acadêmica como professor da Universidade Federal do Acre, onde ingressou via concurso realizado quando exercia o segundo mandato de senador, o que lhe assegurou o direito de ser contratado e ficar sem lecionar até agora por causa da carreira política.

O governador avalia que alguém que entra na política com valores e coerência pode de repente “se tornar um bandido”. Segundo Viana, na política, atualmente, “um bandido, num segundo, pode se tornar um herói porque os valores estão perdidos”.



Encurralado pela crise econômica, o governador do Acre também antecipou com exclusividade que permitirá que os servidores públicos possam negociar com os seus superiores expediente corrido de 7 horas nas repartições públicas, excetuando as pastas de Saúde, Segurança e Educação.

Ao discorrer em defesa do expediente corrido como medida de redução de gastos, Tião Viana fez uma revelação na contramão da opinião da maioria da população que reclama da qualidade da água distribuída pelo Departamento Estadual de Água e Saneamento (Depasa).

- Tem que mudar alguns hábitos. Por exemplo: por que tanta água mineral em tudo que é órgão? Na minha casa eu bebo água que não é mineral. Eu bebo água do Depasa. Tem o meu filtro lá, que passa por uma questão de segurança, que é alcalinizar. Por que um copo descartável? Na minha casa eu tenho o meu copo. No trabalho eu tenho o meu copo. Por que não pode cada um ter o seu e a gente estar economizando? Copo descartável vai ficar 500 anos no meio ambiente.

O governador tomou a iniciativa de abordar o caso de um bebê de quatro meses que morreu na semana passada na Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) do 2º Distrito, em Rio Branco, após uma nebulização. A família acusa que houve negligência e erro durante a administração de medicamento.

O caso foi revelado em reportagem da TV Acre, afiliada da Rede Globo, e repercutiu ainda mais nas redes sociais por causa do choro do apresentador no encerramento do telejornal. O governador criticou duramente a editoria da emissora, que teria ouvido mas deixou de publicar versão da Secretaria de Saúde se solidarizando com a família.

O governador disse que recebeu os pais do bebê em seu gabinete e que está sendo apurado se o médico estava ou não no trabalho. Segundo ele, não faltou nada do Estado para o atendimento.

- Eu não posso estar a favor do erro. A minha impressão hoje, daquele caso, que vai ter que ser apurado, é que, se aquele bebê tivesse ficado na casa dele, aquele bebê possivelmente estaria bem hoje.

Tião Viana foi questionado sobre discordâncias com os ex-governadores Jorge Viana e Binho Marques. Ele considera salutar divergências com o irmão, mas evitou pronunciar o nome de Binho Marques e comentar a respeito dele.

- O Jorge pensa a política ao olhar dele. Eu penso a política ao meu olhar. Tenho minha visão de mundo e ele tem a dele. Ele escolhe o cotidiano dele e eu escolho o meu. Nós temos caminhos diferentes e isso é muito bom. (…) Quanto a esse assunto aí, de um ex-governador [Binho Marques], nada a comentar, nada a declarar - acrescentou sorridente.

No final da entrevista, Tião Viana respondeu a uma “pergunta sem aguçar”: se é verdade que não gosta de ser tratado como Sebastião.


 


DEU ZICA: A guerreira produção do "Café com Altino" enfrenta problema de ordem técnica. O vídeo da entrevista foi editado, renderizado, exportado (operação que demanda horas) e na hora de fazer upload para o Youtube deu problema por causa da velocidade da conexão com a internet. O vídeo será disponibilizado em full HD. Ciro Facundo Netto e Lelande Holanda cuidam disso. Na hora que concluírem, farei a inserção da entrevista nesta postagem, dividida em dois blocos. Desculpem os leitores, mas tudo está sendo feito pela vontade que a equipe tem de contribuir para a democracia na mídia acreana.

 

Café com Altino



No primeiro programa que vai ser exibido neste blog nesta terça-feira (23), o governador do Acre Tião Viana (PT) faz ao menos duas revelações exclusivas durante a entrevista que gravamos no sábado (20) - uma decisão de cunho pessoal, mas mesmo assim política, e outra que afetará a maioria dos servidores públicos do Estado ante a crise econômica. Viana contou o drama que foi sobreviver à paralisia infantil e meningite. Comentou as desavenças com os ex-governadores Jorge Viana e Binho Marques, ambos do PT, e respondeu a uma “pergunta sem açúcar” - se é verdade que não gosta de ser tratado como Sebastião. E muito mais.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Luz do sol

"A luz do sol não sabe o que faz/ e por isso não erra e é comum e boa" (Fernando Pessoa). “O sol que veio à terra/ para todos iluminar/ não tem bonito e nem feio/ ele ilumina a todos igual” (Raimundo Irineu Serra)

domingo, 14 de fevereiro de 2016

Origem do topônimo Acre e a polêmica sobre o gentílico acreano

POR EDUARDO CARNEIRO 

Trecho do livro “Rio Purus”, escrito por Antonio Labre em 1872, prova que o nome Rio Acre existia antes da migração de 1878

Não se sabe ao certo a origem do vocábulo Acre. Até o momento, o registro mais antigo com esse nome é um documento assinado pelo Brasil e pelo Peru em 23 de outubro de 1951. No Art. 1, § 7º do Tratado de Comércio, Navegação, Limites e Extradição, consta a expressão “a margem esquerda do rio Acre ou Aquriy”. O documento revela que desde o início dos anos 1850 aquele rio já era reconhecido por meio de duas grafias ou duas imagens acústicas. O uso do termo “rio Acre” foi mais corrente entre os migrantes brasileiros, já entre os bolivianos, até a primeira metade da última década do século XIX, o mais frequente foi “rio Aquiry”.

Acredita-se que o “Aquiry” tenha origem em uma das palavras de língua tupi “Uwákürü” ou “Uakiry”, faladas pelos índios apurinãs (ipurinás), e que significam “rio dos jacarés”. Ou mesmo do vocábulo “Yasi'ri” ou “Ysi'ri” que significa “água corrente, veloz”. Há quem defenda ainda que tenha surgido do léxico tupi “akyrá”, nome de uma tribo indígena que viveu na região do atual Estado do Ceará, e que significa “gordo”.

As hipóteses sobre a origem do nome “Acre” são muitas. Castelo Branco (1958, p. 4), menciona que houve quem defendesse a procedência fenícia da palavra “Acre”. Porém, a mais aceita hipótese é a de o nome tenha surgido do aportuguesamento de uma palavra indígena. Para uns, a palavra foi “a'kir ü”, de origem tupi, que significa “rio verde”; para outros, da palavra foi “Aquiry”, já mencionada. Como aconteceu tal “aportuguesamento”? Para essa pergunta também há várias respostas.

Para Castelo Branco (1958, p. 4), por exemplo, o fenômeno aconteceu no início dos anos 1870, quando os exploradores brasileiros da região puruense transformaram a palavra apurinã “uakiry” em “aquiri”, “aqri” e depois “Acre”. Ele diz que em 1871, “Labre (Antonio Rodrigues Pereira Labre) encurtara (a palavra Aquiri) para Acre, grafia esta de que ele fora o primeiro a adotar e a publicar” (idem, ibidem, p. 45). O autor chega a dizer que o “Aquiri” era o nome primitivo de “Acre” (idem, ibidem, 72).

Também é muito conhecida a explicação de que o aportuguesamento tenha surgido através de um erro de grafia do Aquiry ou Aquiri. O fato teria acontecido em 1878, quando João Gabriel de Carvalho, o “primeiro” colonizador do rio Aquiri, escreveu ao comerciante do Pará, Visconde de Santo Elias, pedindo para que certa quantidade de mercadorias fosse destinada à "boca do rio Aquiri". O comerciante não entendendo a grafia de João Gabriel, achou que o mesmo havia escrito algo como “Acri” “Aqri” ou “Acre”. Reza a “lenda” que a partir de então, todas as mercadorias destinadas para aquela região foram com o nome “rio Acre”.

Há quem diga que a origem do nome Acre esteja nas propagandas feitas no Ceará pelos responsáveis por arregimentar mão de obra para a extração da borracha. Para convencer os matutos, supostamente se dizia que a Amazônia era uma região rica e fértil e que lá ninguém ficaria sem um “acre de terra”.

Muitas outras explicações ainda são possíveis, contudo, mencionaremos apenas mais uma, a de que o nome guarda relação com um porto mediterrânico conhecido como São João de Acre. Esse porto ficou notório na história por ter sido palco do mais importante conflito armado entre muçulmanos e cristãos durante as Cruzadas do século XIII, e que acabou por definir a hegemonia islâmica na Terra Santa.

Atualmente esse “Acre” é uma pequena cidade da região norte do Estado de Israel e fica cerca de 160km de Jerusalém. Na língua hebraica, o porto é chamado de Akko. Por ter mais de quatro mil anos, é natural que a região tenha recebido outros nomes. Mas é sabido que por quase toda a Idade Média o topônimo “Akre” se tornou o mais comum, principalmente quando virou capital do Reino de Jerusalém. Judeus, árabes e cristãos de todo mundo aportaram em Belém e em Manaus antes mesmo do boom da borracha, e potencialmente, qualquer um deles poderia ter nomeado esse rio amazônico de Acre. Embora com chantes remotas, essa hipótese não pode ser descartada sem que antes se feita uma pesquisa mais séria.

Diante de tantas indagações, podemos afirmar que o nome Acre não é um patrimônio dos primeiros acrianos, pois não foram eles que inventaram a palavra. Como falei inicialmente, há menção dessa palavra em documento oficial datado em 1851, ou seja, antes da colonização daquela região por brasileiros. Além do mais, no livreto Rio Purus (1972), escrito por Antonio Labre, já constava a palavra “rio Acre” e mo Jornal do Amazonas, em sua edição de 16 de novembro de 1876, p. 2, menciona que um vapor por nome “Acre” navegava o rio Purus. Portanto, o vocábulo “Acre” é anterior à primeira geração de acrianos. Não é impossível que o topônimo Acre tenha surgido a partir de uma palavra indígena, mas esse fenômeno linguístico, se é que aconteceu, é anterior à segunda metade do século XIX.

A expressão “rio Aquiri ou rio Acre” continuou sendo empregada durante um bom tempo, mesmo com a hegemonia brasileira na região. Ela está no texto do Tratado de Petrópolis (1903) e no do Tratado de Limites Brasil-Peru (1909). Na década de 1960, autores como Castelo Branco (1958) ainda a usava. Tudo indica que o nome “Aquiri ou Aquiry” só desapareceu lentamente do vocabulário amazônico. Na verdade, o nome “Acre” só se tornou mais usual com a proclamação do Estado Independente do Acre por Galvez em julho de 1899. E é possível que ele tenha escolhido o nome devido ao fato daquele rio ser o mais rico em seringueiras, consequentemente, o mais populoso, o mais trafegável e o mais importante da região.

Quando Luiz Galvez estende a significação do nome Acre para muito além das terras banhadas por aquele rio, deu-se o início de uma operação semiológica, ou seja, um acontecimento enunciativo de nomeação. Ele usa o nome Acre para identificar uma outra coisa que não era o rio que deságua à margem direito do Purus, e sim um ente político administrativo, uma pessoa jurídica de direito público. Portanto, o Acre inventado por Galvez não era o mesmo “Acre” que dava nome ao rio. São dois signos linguísticos diferentes, embora sendo homônimos, com mesmo significante e mesma “imagem acústica”.

Quando estudamos a semântica de um acontecimento enunciativo, é preciso tratá-lo como um fenômeno singular, mesmo que sua erupção no universo discursivo esteja marcada pela interdiscursividade. Assim sendo, apesar de haver um diálogo entre a “República do Acre” e “rio Acre”, ambos são signos diferentes, designam coisas distintas, o primeiro não é a continuação do segundo, não há uma cadeia de linearidade entre eles.

O “Acre” de Luiz Galvez era um Estado soberano que adotara a forma republicana de governo. A república pressupõe o exercício da cidadania, que pressupõe um vínculo jurídico entre o indivíduo e o Estado. Nesse caso sim, há a necessidade da invenção de um “gentílico”, que passará a identificar o cidadão com o Estado em que ele nasceu ou em que ele exerce a cidadania. Posso afirmar que foi a partir de então que o gentílico “acreano” se tornou frequente na linguagem regional.

O gentílico, portanto, não tem 138 anos de uso como afirma a Academia Acreana de Letras, pois isso significaria dizer que o vocábulo tivesse surgido em 1878, com a primeira ofensiva colonizadora de brasileiros em terras à margem do rio Aquiri ou Acre. E mesmo que houvesse alguma referência do gentílico nesta data, coisa que não tem, dizer que ele tem 138 anos é tratar os diferentes signos homônimos como se fossem um único signo.

O sujeito reconhecido como “acrEano” por residir às margens do rio Acre, não pode ser tratado como o mesmo sujeito que se tornou a “acrEano” por ser um cidadão de um país chamado Acre. Nesse país, no caso o Estado Independente do Acre, um sujeito poderia ser considerado “acrEano”, mesmo não residindo próximo ao rio Acre, já que a identificação territorial do nome “Acre” se tornou mais ampla, sendo possível agora um sujeito residente às margens do rio Iaco também ser chamado de acrEano. A mudança não foi apenas na extensão territorial que o nome agora passava a designar, houve também uma mudança qualitativa. O território deixava de ser uma mera localização residencial do sujeito para se tornar o espaço jurisdicional de um Estado soberano.

A história do “acrEano” cidadão da República do Acre não é a mesma daquele sujeito que antes da República era supostamente tratado como “acrEano” tão somente por morar nas proximidades do rio Acre. Dizer que a origem de um está na sequencia evolutiva do outro é desconsiderar que ambos foram produzidos por fenômenos de subjetivação distintos. Como fenômenos singulares, cada um deve ter sua narrativa própria, pois não se trata de um mesmo “acrEano” que vem evoluindo com o tempo.

Da mesma forma, temos um anacronismo quando se afirmar que o gentílico “acrEano”, designador do sujeito natural do Estado do Acre, unidade federativa da República do Brasil, tem origem em um tempo em que sequer esse Estado existia. Como pode? A narrativa oficial impõe a temporalidade linear e tranquilizadora do identifico, eu prefiro mostrar a tensão da dispersão temporal daquilo que é naturalmente movente e distinto por si mesmo. Não há uma cadeia de derivação enunciativa entre um e outro. O lastro histórico e continuísta que reagrupa os diferentes homônimos em uma mesma narrativa é artificialmente construído.

Mesmo com a dissolução da República do Acre em março de 1900, os defensores da Questão do Acre continuaram empregando o gentílico, visto que era útil a causa, pois promovia a união entre as pessoas e a mobilização delas. Naquele contexto, ser acriano significava mais a ideia de não ser boliviano, do que propriamente de ser brasileiro. Isso por que, como já vimos, durante a vigência da República do Acre, ser “acrEano” também significava não ser brasileiro.

Eduardo Carneiro é professor da Universidade Federal do Acre (Ufac), escritor, historiador, economista e doutorando em Estudo Linguístico pela Universidade Estadual Paulista (Unes). Este artigo corresponde a um trecho do livro “O Discurso Fundador do Acre(ano): História e Linguística.