terça-feira, 20 de maio de 2008

DIRETO DE SANTA ROSA DO PURUS

Sob o ataque implacável dos piuns


Estou em Santa Rosa do Purus, um dos municípios mais isolados do Acre, com 3,9 mil habitantes, onde será realizada amanhã mais uma sessão da "Assembléia Aberta", que é o programa de interação criado pelo deputado Edvaldo Magalhães (PC do B), presidente da Assembléia Legislativa. Durante as sessões abertas, parlamentares se tornam ouvintes de vereadores, sindicatos de trabalhadores e associações de classe nas cidades do interior do Estado.

A viagem de Rio Branco até Santa Rosa durou uma hora e meia num avião bimotor. A outra forma de alcançar o município é percorrer o rio Purus, a partir de Sena Madureira, a 146 quilômetros da capital. A viagem de barco durante o inverno amazônico, quando o rio está cheio, dura em média uma semana. Porém, nesta época do ano, dependendo do barco, pode demorar até 14 dias.

É a primeira vez que venho a Santa Rosa e minha impressão negativa estava muito influenciada pelas imagens precárias do lugar, sobretudo das que foram feitas quando a vila foi declarada município, há 16 anos. A maioria das ruas é pavimentada com tijolos e os moradores transitam sem pressa, a pé ou em bicicletas e motos, sem que sejam importunados pelos 11 carros existentes na cidade.

Existem por aqui apenas 1,8 mil eleitores. O prefeito José Tamir (PT) foi eleito com 430 votos. Quando concorreu a vereador, em 1992, foi o mais votado, com cinco votos. Existem nove vereadores, sendo que o mais votado na última eleição foi Júlio Brandão, que era do PT e mudou para o PMN. Cada vereador ganha R$ 1,2 mil.

Viver por aqui não é fácil. A cidade estava sem gás de cozinha há mais de uma semana. Uma botija de 18 quilos custa R$ 53,00. No momento falta gasolina. O litro custa R$ 4,25. O diesel, R$ 3,80. Tudo gira em torno do Fundo de Participação do Município, que injeta mensalmente R$ 300 mil na economia. O máximo por aqui é ser funcionário público ou aposentado do INSS.

Nuvens de piuns (insetos, borrachudos) castigam os moradores, sobretudo às margens do rio Purus. Neste momento, estou no ponto de acesso à internet existente na prefeitura. Já acendi vários porroncas (aliás, o fumo daqui é excelente, Toinho) e tenho lançado baforadas de fumaça, mas meus braços, pés e o rosto já estão mais enrugados de tantas picadas dos insetos. Eles parecem resistentes aos três tipos de repelente que apliquei desde que desembarquei na pista de terra dos aviões.

Existe muito peixe no Purus e nos lagos no entorno de Santa Rosa. Como em todas as cidades acreanas, a incidência de hepatite é elevada. Hoje mesmo foi enterrado um índio vítima da doença. Índios da etnia kaxinawá, kulina e jaminawa habitam a região. O vice-prefeito José Domingos (PT) é da etnia kaxinawá. Os indígenas representam 80% da população, sendo que parte deles vive embrigada na beira do rio e nas ruas da cidade.

Conheça o website da prefeitura de Santa Rosa do Purus.





CASA PLANETÁRIA

Lucia Helena de Oliveira Cunha

Todos sabem que as lutas socioambientais de Marina Silva estão inscritas em sua história e na história. Todos também conhecem o seu brilhantismo intelectual, já evidenciado quando assistia às minhas aulas de Sociologia e Antropologia na Universidade Federal do Acre, cursando História.

Impressionava-me à época, nos anos de 1980, a capacidade de sua elaboração teórica e de colocação de questões relevantes do ponto de vista do conhecimento e do ponto de vista político. Entre nós havia uma troca de iguais, assim como tem sido até hoje quando também aprendo com Marina a partir de seu pensamento sempre fértil e original e de suas ações criativas e destemidas.

Mas é necessário ressaltar, ainda, que em uma época em que a política é rebaixada em sua importância histórica para a construção do novo, banalizada no espetáculo mediático da modernidade, Marina ainda demonstra ter uma visão ampla do significado de saber e fazer política, mesmo sem poder fazê-lo nos termos que ainda são postos retrogadamente na política brasileira marcada pelo servilismo, favoritismo, bajulações – pelo neo-populismo, neo-coronelismo, neo-colonialismo. Querendo sempre fazer política em sentido grande, destes “ismos” a ex-ministra nunca compactuou.

Nem das históricas pressões de interesses escusos dos ruralistas, dos madereiros e do agro-negócio. Fiel aos seus princípios éticos e à sua visão de mundo alargada, coerente com suas propostas, optou em se desligar de sua função ministerial

É bom que se diga que, mesmo comprometida com o presente, fazendo a “poética do agora”, seu projeto de futuro é amplo: a construção de um novo projeto societário ou civilizatório que coloque em novos termos as relações entre os homens e a natureza e dos homens entre si, dentro de um novo pacto histórico; de um novo contrato social e natural que contemple a dança da vida – o respeito a todos os seres vivos.

Essa é Marina que conheço intimamente, ainda remando contra a maré possui um projeto do presente com desdobramentos para o futuro em que o inédito tenha lugar. Em que as gentes da floresta, do mar, da terra, dos rios possam habitar esse futuro numa “casa comum” planetária, com sua rica diversidade cultural e ambiental.

A antropóloga Lucia Helena de Oliveira Cunha é Dra. em Meio Ambiente e Desenvolvimento pela Uuiversidade Federal do Paraná. Publicado originalmente no Blog da Mary.

segunda-feira, 19 de maio de 2008

TRONCO


Clique na imagem.

"A AMAZÔNIA ESTÁ ACIMA DE NÓS"

A magricela Marina Silva, 50, senadora petista do Acre, já perdeu três quilos desde que entrou no olho do furacão, após surpreender ao presidente Lula na semana passada com o pedido de demissão do cargo de ministra do Meio Ambiente.

- Estou só a tala - diz com exclusividade a Terra Magazine.

Ao deixar o ministério, a ex-seringueira e ex-empregada doméstica alfabetizada aos 17 anos, conseguiu gerar, dentro e fora do País, uma repercussão que suplantou aquelas que ocorriam eventualmente com a queda de algum titular do Ministério da Fazenda.

Ela espera do sucessor Carlos Minc, como demonstração de continuidade da política ambiental, que resista à pressão do governador Blairo Maggi, do Mato Grosso, que atua contra a manutenção da resolução do Conselho Monetário Nacional que, a partir de 1º de julho, obriga o sistema financeiro a exigir regularidade ambiental como condição para o crédito rural na Amazônia.

- Além da manutenção da implementação da resolução do Conselho Monetário Nacional, que lute firmemente contra a alteração do código florestal, que levaria a mais desmatamento na Amazônia. É necessário manter e fortalecer as operações de combate ao desmatamento - insiste a ex-ministra.

Marina Silva disse que quando se ocupa um espaço de poder, mesmo sendo algo pequeno, como uma coluna de jornal, sofremos a tentação de querer olhar as pessoas de cima para baixo.

- Aprendi, e não foi agora, mas com muitas pessoas ao longo da vida, como Chico Mendes e dom Moacir Grechi, que a gente tem que olhar de baixo para cima. De baixo para cima a gente consegue enxergar o que está acima de nós. A Amazônia está acima de nós. E com esse olhar a gente é capaz de enxergar que, para fazer algo que seja bom, é preciso se colocar numa perspectiva de serviço, que também pode ser o gesto de abrir o caminho para que outro ocupe o seu lugar. Eu já disse que é melhor ver o filho vivo no colo de outro a vê-lo jazer no próprio colo.

A partir de hoje a senadora passa a cumprir licença de 10 dias para descanso. Vai passsar o final de semana no seu "Acre querido", mas nega a disposição para ser candidata a governadora do Estado.

- Temos bons nomes: Binho Marques, Jorge Viana e Tião Viana. Não estou pensando nas próximas eleições, mas naquilo que será o futuro das próximas gerações.

Leia a entrevista na Terra Magazine.

MAIS UM MICO DO MINC

O "maluco" pode não durar no Meio Ambiente


Deu na Folha:

"Após dizer que o governador de Mato Grosso, Blairo Maggi (PR), se pudesse, plantaria soja até nos Andes, Minc contemporizou. Ele afirmou que, assim como os ruralistas, os ambientalistas também têm que ter bom senso e algum limite.

- Nós, os ambientalistas, os ecochatos de plantão, também temos que ter bom senso. Se os ambientalistas, sobretudo os mais puros e duros, se nós fôssemos muito fortes há 80 anos, provavelmente não haveria Pão de Açúcar e Corcovado, que foram feitos em costão rochoso. Acho que o limite deve ser para todos. Espero que com essa o Maggi continue não gostando muito de mim, mas pelo menos fique achando que eu sou menos maluco do que o que eu realmente sou - disse".

domingo, 18 de maio de 2008

VERSOS ÍNTIMOS

Post deste blog no dia 11 de setembro de 2006


Vês?! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão — esta pantera —
Foi tua companheira inseparável!

Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.

Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.

Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!

(Augusto dos Anjos)

A foto é de autoria do Ricardo Stuckert, fotógrafo da presidência da República. Foi tirada no gabinete de Lula, em 2002, quando o nome de Marina Silva foi o primeiro confirmado para a equipe
ministerial. Está publicada na edição de hoje do Jornal do Senado.

O ACRE ERA UM LIXO

Como nesta imagem do Palácio Rio Branco


Tenho dois amigos em Rio Branco com quem converso todos os dias por meio de mensageiro instantâneo na web. Tive o prazer de encontrar um e outro pessoalmente uma vez apenas, mas o prazer maior foi tê-los apresentado virtualmente e saber que se tornaram amigos.

Um é o Davi Sopchaki, 20, estudante de engenharia florestal, cujo maior trabalho é fotografar Rio Branco de todos os ângulos. O outro é Thiago Fialho, 21, estudante de direito, blogueiro.

Comecei a admirar o Thiago há quatro anos, quando ganhou destaque nos cadernos de informática da grande imprensa ao criar o primeiro videolog no país. Ele enviou e-mails às redações sugerindo uma matéria e argumentava que o assunto tinha sido destaque na revista Time e no diário inglês The Guardian - o que era uma baita mentira dele.

Horas depois, recebeu e-mails da Folha, Globo e do Diário de Pernambuco, que queriam entrevistá-lo. Depois disso, quando o assunto parecia ter esgotado, ele mesmo escreveu uma matéria que abordava o assunto, assinou com o nome de um amigo dele, e enviou para alguns jornais. A Tarde, da Bahia, e o Diário do Nordeste publicaram.

Já escrevi outras vezes a respeito da inteligência e da paixão dessas duas figuras pelo Acre. O faço agora para lembrar que a gente às vezes até parece exagerar nas críticas ao Jorge Viana, Marina Silva, Tião Viana, Binho Marques, Raimundo Angelim e tantos outros, como Sibá Machado. Mas é inegável que a Frente Popular do Acre transformou o Estado. E é por isso que deve demorar bastante até que o povo devolva a oposição ao poder.

Davi Sopchaki e Thiago Fialho participam na web do fórum SkyScraper City, mais conhecido como SSC. Felizmente não são do PT, mas passaram os últimos meses dedicados em reunir uma sequência de fotos para mostrar a transformação da paisagem, promovida pela prefeitura de Rio Branco e governo estadual.

É possível ver o antes e o depois do Parque da Maternidade, do Parque Tucumã, da Via Chico Mendes, da avenida Antonio da Rocha Viana, da Estrada Dias Martins/Av. Ceará, do Palácio Rio Branco, do Memorial dos Autonomistas, do acesso ao aeroporto, da Praça do Seringueiro, da Praça dos Povos da Floresta, do Hospital da Criança, do Palácio das Secretarias, do Mercado Velho, da Rua Epaminondas Jácome, da Praça da Revolução, da Usina de Arte, da Gameleira, da Tentamen, da Estrada do Calafate, do Distrito Industrial, da Praça dos Tocos... É possível conferir o antes e o depois disso e daquilo.

O Acre de antes era o Acre, entre outros, de Nabor Júnior, Flaviano Melo, Edmundo Pinto, Romildo Magalhães e Orleir Cameli. O Acre era um lixo. É claro que o problema de água e esgoto, por exemplo, ainda persistem em Rio Branco, mas a mudança em alguns aspectos já é significativa e transformou a vida das pessoas, o que evidencia que a corrução diminuiu um pouco. A mudança agrada até a quem não conheceu o lixo que era o Acre.

Clique em "Acre - Melhorias urbanas nos últimos 10 anos - Fotos de antes e depois das obras" para constatar.

A REVOLUÇÃO DE LULA E TIÃO

Do ex-frade Sílvio Martinello, dono do diário A Gazeta, na coluna Gazetinhas, sobre a "revolução" que o senador Tião Viana e o presidente Lula promoverão, a partir do dia 23 de junho, quando for reduzida de duas para uma hora a diferença do fuso horário do Acre em relação a Brasília:

"Já é mais da metade de maio, o tempo urge e ruge.

Está na hora de as autoridades constituídas se mexerem para colocar o Acre no novo fuso horário, que deveria entrar em vigor já no próximo mês.

Vai mudar geral e tudo deve ser devidamente consignado no papel, porque haverá inclusive implicações jurídicas.

Senão vejamos:

Os governos estadual, municipal e federal precisam baixar decretos sobre os novos horários de funcionamento das repartições públicas; das escolas e faculdades;

O Judiciário também, já que as audiências são marcadas com meses de antecedência;

Assembléia Legislativa e câmaras municipais, também.

As agências bancárias, idem.

Os horários de vôos terão que ser remanejados;

Comércio, indústrias abrirão suas portas mais cedo;

Ônibus urbanos e interurbanos terão que mudar seus horários de chegada e partida;

Jornais, rádios e tevês terão que adequar sua grade de programação; no caso dos jornais seu deadline.

Bares, restaurantes, botecos e botequins, também;

No caso dos bares, existe portaria da Secretaria de Segurança decretando fechamento mais cedo;

O que mais?

Igrejas, templos, terreiros de umbanda terão que mudar os horários das missas, dos cultos, das macumbas;

Boates, motéis, inferninhos, lupanares terão que adaptar seu funcionamento ao novo ‘relógio sexual’ de seus freqüentadores;

O que mais?

Ah, alguém terá que avisar aos galos, grilos, sapos corós e outros bichos e aves noturnas para começar seus cantos, coaxar, pios e safadezas mais cedo;

O lobisomem, o mapinguari, a mula-sem-cabeça, o sufocador também serão obrigados a mudar seus hábitos noturnos.

Como se vê, não é brincadeira. Vai ter que mudar tudo mesmo.

Só uma coisinha, mudem o que quiserem, este colunista só não abre mão de uma coisa: a sesta - aquela soneca depois do almoço.

O telefone toca. É a ex-ministra Marina Silva para agradecer a cobertura que este matutino deu à sua gestão de forma generosa, mas crítica quando necessário.

Marina está bem, está em paz. Vai reservar dez dias para repousar e depois assumirá sua vaga no Senado.

Lembramos como tudo começou: dos tempos das comunidades eclesiais de base - ela, uma monitora, o colunista um fradito relapso.

Salve, Marina!"

sábado, 17 de maio de 2008

FALA, MEIRELLES


O jornalista Elson Martins e o antropólogo Terri Vale de Aquino entrevistaram durante quatro horas o sertanista José Carlos dos Reis Meirelles Júnior.

O sertanista fala de Santa Rita do Passo Quatro (SP), onde passou a infância e manteve contato íntimo com a natureza que marcaram para sempre a sua vida, da família do interior paulista, da Faculdade de Engenharia de Guaratinguetá, onde cursou até o terceiro ano, e do tiro de espingarda no peito que, se não lhe tirou a vida, mudou a sua história pessoal.

Escapou do tiro e da engenharia para ser indigenista e auxiliar de sertanista da Funai entre índios ainda isolados no Maranhão. Conta as primeiras experiências com os índios Urubu Kaapor e Awa Guajá na pré-Amazônia maranhense e da vivência como “auxiliar de sertanista” na Frente de Atração Awa Guajá, no alto rio Turiaçú.

Também aborda o início do seu trabalho de indigenista e sertanista no Acre, os dez anos que passou como chefe do Posto Indígena Mamoadate, além do seu trágico encontro com os índios isolados Mashko, nas cabeceiras do rio Iaco, acima da foz do igarapé Abismo, onde as circunstâncias o forçaram a matar um deles.

Vale a pena conferir o relato da experiência exemplar de José Carlos dos Reis Meirelles nos seus últimos 20 anos como sertanista nas cabeceiras dos altos rios Envira e Tarauacá, protegendo grupos indígenas ainda isolados, “os invisíveis”, e garantindo-lhes parte de seus antigos territórios tradicionais ao longo de nossa extensa fronteira com o Peru.

Meirelles tem denunciado que as florestas do lado peruano já foram todas loteadas para exploração madeireira e que essa exploração desordenada já atingiu às cabeceiras dos rios Amônia, Breu, Jordão, Juruá, Envira e Purus.

As concessões de lotes para exploração madeireira em toda a selva do Oriente peruano tem causado graves conseqüências para os povos isolados de ambos os lados da fronteira.

Vale a pena conferir as três primeiras partes da longa entrevista que estão sendo publicadas neste blog a pedido do Txai Terri Aquino.

Como os índios entraram na vida do Meirelles

As lições maranhenses do sertanista

Novo tempo histórico dos direitos indígenas no Acre

Entrevista

José Carlos dos Reis Meirelles Júnior é colaborador deste blog. Leia mais aqui.

A GRANDE LIÇÃO DE MARINA SILVA

"A gente tem que olhar de baixo para cima"


Hoje foi a vez da senadora Marina Silva (PT), ex-ministra do Meio Ambiente, telefonar para o blog. A conversa durou mais de uma hora e uma parte foi gravada para ser publicada em Terra Magazine na segunda-feira.

Perguntei o que aprendeu em mais de cinco anos à frente do MMA.

- Aprendi, e não foi agora, com muitas pessoas ao longo da vida, como Chico Mendes e dom Moacir Grechi, que a gente tem que olhar de baixo para cima. De baixo para cima a gente consegue enxergar o que está acima de nós. A Amazônia está acima de nós. E com esse olhar a gente é capaz de enxergar que, para fazer algo que seja bom, é preciso se colocar numa pesrpectiva de serviço, que também pode ser o gesto de abrir o caminho para que outro ocupe o seu lugar. Eu já disse que é melhor ver o filho vivo no colo de outro a vê-lo jazer no próprio colo - respondeu.

Marina Silva, que estará no Acre na sexta-feira, disse que os "enormes avanços" da agenda ambiental do país nos últimos cinco anos não permitem que se sinta derrotada.

Confira:

Desmatamento caiu de 27 mil km2 para 11 mil km2 em 3 anos

Redução de 500 milhões de toneladas de CO2 - a maior contribuição para redução de emissões no planeta

Área anual de plantio de florestas cresceu de 320 mil hectares (2002) para quase 700 mil hectares (2007), somando mais de 1 bilhão de árvores plantadas por ano.

Área plantada por pequenos produtores subiu de 25 mil hectares/ano (2002) para mais de 150 mil hectares por ano (2007)

Área de manejo florestal certificado saíram de 300 mil hectares (2002) para 3 milhões de hectares (2007)


Unidades de Conservação Federais

24 milhões de hectares de novas unidades de conservação. Quase 50% de todas unidades de conservação federais criadas no Brasil.

Aumento de 59% na área em Unidades de Conservação na Amazônia em 5 anos

Quase 40% das áreas de Ucs da Amazônia foram criadas nos últimos 5 anos.

Em 2002: 92 Ucs e 39 milhões de hectares
Em 2008: 130 Ucs e 62 milhões de hectares
Aumento: 38 Ucs e 23 milhões de hectares

Mais que dobrou a área de Reservas Extrativistas (de 5,1 para 10 milhões de hectares)

Aprovação da Lei da mata Atlântica, Lei de Gestão de Florestas Públicas, Dispositivo da Limitação Administrativa Provisória

Reposicionamento de obras para atender os aspectos ambientais: BR 163; São Francisco; Paiquerê; Usinas do Madeira

Equipe concursada e permanente do Ministério e vinculadas mais que dobrou

Criação do Serviço Florestal Brasileiro, Instituto Chico Mendes e Secretaria de Mudançcas Climáticas.


Licenciamento Ambiental

Aumento de 50% no total de licenciamentos ambientais entre 2003 e 2006, que passou de 145 empreendimentos licenciados por ano para para 220 licenciamentos de qualidade sem nenhuma judicialização

Em 2003 havia 45 hidrelétricas judicializadas

Criação de uma diretoria específica para o licenciamento no Ibama com três coordenações gerais: de petróleo e gás, de energia e transporte e de mineração e obras civis.

A equipe técnica era formada por 7 servidores públicos efetivos e 71 contratados temporariamente.

Hoje são 149 efetivos, ou seja, 31 temporários, num universo de 180 funcionários.

Novas normas e procedimentos deram mais transparência e eficiência ao Processo:

A Instrução Normativa nº 65 do Ibama estabeleceu, pela primeira vez, os procedimentos necessários para a solicitação, análise e emissão de licenças ambientais para usinas hidrelétricas e pequenas centrais hidrelétricas.

Disponibilização na internet de todas as informações relativas aos licenciamentos de competência do Ibama, por meio do Sistema Informatizado de Licenciamento Ambiental (Sislic), como por exemplo: relatórios de impacto ambiental, pareceres técnicos e editais de convocação de audiências públicas

Foi construído também o Portal do Licenciamento, que permite o acesso às informações sobre processos conduzidos pelos órgãos ambientais dos 26 estados e do Distrito Federal.

Em quatro anos, o Ibama concedeu licença para 21 hidrelétricas, o que representa mais de 4.690 MW, todas sem judicialização.


Pontos que emblemáticos para demonstrar continuidade da política ambiental

Manutenção da implementação da resolução do Conselho Monetário Nacional que a partir de 1º de julho obriga sistema financeiro a exigir regularidade ambiental como condição para o crédito rural na Amazônia

Lutar firmemente contra a alteração do código florestal que levaria a mais desmatamento na Amazônia

Manter e fortalecer as operações de combate ao desmatamento integrando IBAMA, Polícia Federal, Forças Armadas.

Dar continuidade a ao processo de criação de unidades de conservação, especialmente das resex do Xingu e do Jauaperi-Rio Branco (Roraima), dentre outros, que aguardam decisão na Casa Civil.

Lançar e implementar o Plano Nacional de Comunidades Tracionais e investir 1,5 bilhões em ações de apoio ao desenvolvimento das comunidades tradicionais de todos biomas do Brasil.

Finalizar e lançar o sistema de pagamento por Serviços Ambientais especialmente para manutenção da floresta em pé

Terminar a implantação do Fundo Amazônia

Manter o rigor e ampliar os investimentos no setor de licenciamento para ampliar a qualidade e eficiência no licenciamento ambiental.

EDMUNDO PINTO



Do leitor Luiz Matos:


"Prezado Altino e demais leitores deste blog,

Hoje faz 16 anos da morte do saudoso governador Edmundo Pinto. Gostaria de saber se algum jornal da capital acreana publicou sequer uma nota sobre a data. Acessei a página web dos principais e não consegui encontrar. Será que procurei direito ou vai sair uma edição especial na próxima segunda?

Pelo visto, somente o Portal G1 e a família do assassinado guardam esta data na memória. Impressão minha, ou no vídeo (veja aqui) a resposta dada pelo "assistente de ordens do governador" não foi nada convincente? Vocês o (re)conhecem? Alguém foi preso? Existem respostas para estas perguntas?

Enfim, não lembro de muita coisa daquela época, afinal estava no auge dos meus 9 para 10 anos. Mas de dois eventos políticos ainda me recordo do início da década:

1) a carreata do então candidato Fernando Collor de Melo na Av. Getúlio Vargas e

2) o aceno dado para mim por aquele ilustre homem, meses antes de sua morte, na "Panificadora Suprema".

Tempo bom não volta mais.

Abraços e bom fim de semana


Resposta de Leila Jalul, colaboradora deste blog:


"Prezado Luiz Matos,

Edmundo Pinto foi, sem medo de errar, uma das figuras mais insignificantes para o Acre. Se somar dois mais dois, noves fora coisa nenhuma, o Edmundo Pinto foi, exatamente isso.

Edmundo não tinha bandeira, dava bandeira. Era fruto do nada, com coisa nenhumna.

Seu histórico, permita-me dizer, tinha o DNA de Jorge Kalume com Garrastazu Medici.

Não sou do contra. Sou atual. Apenas isso. Minha consistência não reside no adorar, mas do viver vivendo, de preferência com senso crítico.

Esse menino-mártir, de minha parte, não merece veneração. Não desejei sua morte, evidentemente. Nem chorei sua sorte, mais do que evidentemente.

Não louvo a sua passagem pela governança do Estado do Acre, porquanto obscura, exceto as luzes do seu assassinato. Seu filho [Rodrigo] Pintinho segue a mesma linha de soberba do pai. Vai se dar mal. É esperar para ver.

Não estou falando do Edmundo governador. Estou falando de um funcionário que comigo trabalhou e que de frente batia com a minha consciente figura de servidora pública, com o dever de servir.

Faz 16 anos que o Edmundo Pinto morreu e o Acre não sentiu a menor falta.

Quem acenderá as velas?

Eu, não".

PERDENDO O PESCOÇO

Zuenir Ventura


Num país em que é comum as pessoas deixarem os cargos públicos por desvio de conduta ou suspeita de corrupção, sair sendo acusada de "purista" é um elogio. Em cinco anos à frente de um ministério sujeito a tantas pressões e envolvendo tantos interesses, esse é o único defeito grave que se atribui a Marina Silva. E ainda assim não se lhe faz justiça. Sua adesão à causa ambiental não é motivada por sectarismo ideológico. Conheci-a há 20 anos no Acre, como um ser da floresta, pertencente à espécie dos seringueiros, que sempre viveram em harmonia com a natureza. Aprendeu com a própria experiência e com seu amigo Chico Mendes que toda aquela riqueza natural não é um santuário intocável, mas que os recursos ambientais devem ser usados com racionalidade, até para não acabarem, para serem usados sempre.

Foram essas idéias e princípios, defendidos desde o começo também por Lula e consagrados depois por organismos internacionais que os inscreveram em sua agenda planetária, que levaram Marina Silva ao Ministério do Meio Ambiente. Era um sinal para o mundo do quanto tínhamos avançado nessa questão, embora para isso tivéssemos sacrificado Chico Mendes. Hoje, pelo menos dois indícios sinalizam para o retrocesso: a absolvição do mandante da morte da missionária Dorothy Stang e a vitória dos que acham que o meio ambiente prejudica o desenvolvimento, e não o contrário. E que Marina é um "estorvo ambiental".

Os seus adversários não escondem a satisfação com o desfecho, e querem mais. Rápidos como a serra e o fogo no mato, conseguiram outro avanço no campo do atraso. Já está em fase final de votação na Câmara dos Deputados um projeto que recua 40 anos na história de nossa política ambiental: a bancada ruralista quer ressuscitar o velho código florestal de 1965. Assim, os donos poderão desmatar 50% de suas terras, em vez dos 20% em vigor desde 2001, graças a uma medida provisória de FHC. Se com essas restrições quase 20% da floresta amazônica não existem mais, imagine-se quando liberarem a farra do boi, ou melhor, da soja. Outra acusação, e essa é debitada a Lula, é de que sua ex-ministra não seria "isenta", como se a isenção fosse uma virtude numa questão como a da preservação da Amazônia.

Uma coisa rara em todo o episódio: contrariando a praxe nesses casos, Marina sai melhor do que entrou, mais admirada. Como disse uma vez e provou agora, "perco o pescoço, mas não perco o juízo". Carlos Minc, um político que também é fiel à sua biografia, deve pôr o seu pescoço de molho, principalmente após cutucar quem ele disse que quer "plantar soja até nos Andes" e depois de prometer que não será "biombo verde de uma política predatória". Ele reivindica participar das discussões sobre a política industrial do país. É esperar para ver.

Zuenir Ventura é colunista do Globo. Tirei as fotos de Marina no dia 14 de julho de 2006, durante um simpósio sobre ciência, religião e meio ambiente, promovido pelo patriarca Bartolomeu, da igreja ortodoxa. Naquele dia, após a entrevista coletiva, Marina pediu ao passar por mim que eu não sumisse, pois ainda queria falar comigo. Momentos depois me chamou para dizer: "Vamos almoçar apenas eu e você". E assim aconteceu no restaurante do navio Ibero Star, no Rio Negro, em Manaus, não sem antes um norte-americano e um grego da organização do evento tentarem me retirar da mesa. "Fiquem em paz. Altino não é apenas jornalista. Ele é meu meu amigo. Eu o convidei para almoçar". Ficamos em paz, conversamos e depois pedi para gravar as respostas dela para algumas perguntas. Foi mais um dos grandes momentos com minha parceira de palco em três ou quatro peças no teatro amador, além de outras lutas. Assista abaixo.



sexta-feira, 16 de maio de 2008

TARDE NO QUINARI

RECEITA DE DESRESPEITO FEDERAL


Estou em Cobija, capital do departamento bolivano de Pando, que se alcança após a travessia do rio Acre, em Brasiléia. É daqui que são exportadas armas e boa parte da cocaína que abastece Rio Branco, a capital do Acre, e várias cidades brasileiras - a nossa outra porta imexível de entrada da cocaína é Cruzeiro do Sul, no extremo-oeste do país.

Apenas os traficantes mais inexperientes eventualmente são presos por patrulheiros rodoviários ou policiais federais, especialmente os bolivianos e peruanos que ousam comparecer à delegacia para obter o visto de entrada com suas mochilas carregadas de droga.

Nessa Área de Livre Comércio também se adquire a preços tentadores os últimos lançamentos da indústria eletro-eletrônica. É possível adquirir, por exemplo, um notebook Sony Vaio por R$ 2 mil. É o tipo de equipamento que ninguém declara à Receita Federal, bastando esperar que os patrulheiros se recolham durante uma chuva.

O presidente Evo Morales esteve em Cobija na terça-feira. No dia seguinte, 80 homens da Força Especial de Luta Contra o Crime prendeu sete integrantes de uma quadrilha que aterrorizava a região. Mais de 30 pessoas foram assassinadas nos últimos cinco meses em Cobija pelo bando que era liderado pelo boliviano Mauro Vasquez, 38, casado com uma garota de 16 anos, e levado para um presídio de segurança máxima em La Paz.

Veja reportagem da equipe do site O Alto Acre.



No dia 27 de abril estive aqui e compareci à Inspetoria da Receita Federal em Brasiléia para declarar uma compra feita em Cobija: um pacote de 50 unidades de CD-R, um pacote de 25 unidades de DVD-R, um audifone, um teclado de computador e dois controles-remoto.

Não consegui pagar os R$ 36,47 de impostos porque meu CPF estava suspenso. Os fiscais agiram com rigor, de acordo com a lei, e fizeram a retenção de minha compra. Passei a contar com prazo de 30 dias para regularizar meu CPF (o que fiz no dia 29 de abril), quitar o Documento de Arrecadação de Receitas Federais e retirar a mercadoria.

Foi o que fiz hoje, tendo em seguida comparecido à Inspetoria da Receita Federal, onde o atendimento ocorre das 8 às 12 horas e das 14 às 17 horas. Ao chegar, às 8h45, havia apenas um fiscal para atender as centenas de pessoas que passam por lá diariamente.

Apresentei o comprovante de pagamento e o Termo de Retenção de Mercadorias. O fiscal levantou da cadeira com o telefone, se afastou de mim, mas deu para ouví-lo dizer a alguém que havia "um senhor" em busca de mercadoria retida, e que o interlocutor dele precisava chegar ao trabalho para abrir o depósito da inspetoria.

Após mais de uma hora de espera, apareceu o outro fiscal com a chave do depósito. Pegou um saco de ráfia com o número da retenção de minha mercadoria, mas faltava a declaração de bagagem apresentada por mim em abril.

O fiscal pegou o telefone e discou para outro fiscal:

- Rapaz, acorda. Você precisa estar aqui. Não estamos encontrando a declaração de bagagem de uma pessoa.

Fiquei esperando mais outro tempão até que chegou, de cara amassada, o mesmo fiscal rigoroso que havia feito a retenção de minhas mercadorias no dia 27 de abril.


- O senhor foi tão rigoroso comigo ao aplicar a lei e fazer a retenção das mercadorias naquela dia. Deveria também ser rigoroso para cumprir o dever de comparer ao seu local de trabalho na hora certa. O senhor deveria estar aqui às 8 horas, mas já são mais de 10 horas - disse-lhe.

- Mas expliquei direitinho ao senhor... - ele respondeu.

Aí argumentei que minha intenção era declarar a mercadoria e seguir viagem, que a fiscalização poderia ter recorrido ao bom senso. Bastava ter reforçado a minha necessidade de regularizar o CPF para não enfrentar o mesmo problema em outra ocasião. Mas que poderia ter permitido que seguisse viagem, pois tratava-se de uma merreca de muamba.

Os traficantes de armas e cocaína, além dos picaretas que se valem de empresas fantasmas para fraudar o fisco, seguem sem perseguição pela fiscalização.

Seria bom que o inspetor chefe da Receita Federal do Alto Acre, Telmo Figueiredo (jornalista), tomasse providências para melhorar o atendimento à população. Exigindo especialmente que os seus subordinados não fiquem dormindo em casa durante o expediente, quando filas se formam em frente à inspetoria.

A foto acima mostra um dos fiscais ao chegar com a chave do depósito, às 9h10.

Minha mãe e meu irmão, que me acompanharaam ontem na "viagem", fizeram compras em Cobija. Para que ficassem bem posicionados na fila, às 12h45 foram até a Inspetoria da Receita Federal declarar suas bagagens, enquanto permaneci na redação do site O Alto Acre para redigir a nota acima. "Os fiscais só reabriram para atendimento às 14h30", relatou minha mãe. O prédio da inspetoria em Brasiléia parece um xilindró. Os fiscais e a população merecem um ambiente mais adequado.

OPINIÃO DO LEITOR


"Lembro da Marina Silva nas paradas de ônibus de Rio Branco a pedir votos, com uma delicadeza e humildade que até hoje deixa saudades.

Sempre foi e sempre vai estar em nossas memórias como um exemplo de crescimento e desenvolvimento espiritual.

A Marina não perde nada ao deixar o Ministério do Meio Ambiente. Quem perde somos nós, que nunca contribuimos e nem fizemos manifestações de apoio à suas ações.

As manifestações que sempre fazemos é por melhores salários, implantação de planos de cargos e carreiras e por aí vai.

Então eu fico a imaginar uma pessoa largar a vida familiar e mais outras particularidades, para dedicar-se a uma causa, e depois ficar sozinha, no meio de uma quadrilha, como a que é formada pela maioria dos políticos.

E depois, quando pede um tempinho para descansar, fica todo mundo a dar palpites, inclusive com insinuações maldosas.

Parabéns Marina, nossa eterna defensora da floresta. Você combina com o termo florestania.

Parabéns Altino por abrir espaço para todos, inclusive para leigos como eu.

Abraços"

quinta-feira, 15 de maio de 2008

SIBÁ PODE SER JUBILADO


O ex-senador Sibá Machado (PT) terá dificuldade para escapar do jubilamento no Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Regional (MDR) da Universidade Federal do Acre (UFAC).

Formado em geografia, em dois anos só fez uma disciplina (Planejamento Regional) e foi reprovado na prova escrita de inglês. Teve direito a fazer novo exame, mas até hoje não o fez.

Sibá Machado é da primeira turma e todos os demais reprovados em inglês ja se submeteram a novo exame. O prazo para conclusão do curso, de dois anos, expirou em fevereiro.

Para que o ex-senador contasse com prazo mais dilatado para apresentação da dissertação era necessário que o orientador Sílvio Simione da Silva tivesse solicitado prorrogação ao colegiado argumentando que o aluno estava desenvolvendo a pesquisa.

Leia mais na Terra Magazine.

"SINTO-ME NO OLHO DO FURAÇÃO"

De saída do apartamento para participar de uma entrevista coletiva em Brasília, a ex-ministra Marina Silva declarou com exclusividade a Terra Magazine:

- Sinto-me no olho do furacão.

Como está se sentindo fora do Ministério?
Estou bem, graças a Deus.

O que vai fazer agora?
Neste momento, estou de saída para uma entrevista coletiva aqui em Brasília. Saiu a minha exoneração no Diário Oficial e algumas providências precisam ser tomadas.

Leia mais aqui.

"FRÁGIL GUERREIRA"

Do assessor de imprensa Sizan Luis Esbreci:

"Prezado Altino:

Não tenho como deixar de enviar a nota da deputada Janete Capiberibe a você, referência de leitura na região Amazônica. Presidenta da Comissão da Amazônia, a deputada trata da saída da ministra Marina Silva do Ministério do Meio Ambiente.

Eis a nota:

A frágil guerreira Marina Silva resistiu por muito tempo, enquanto dava respaldo nacional e internacional à uma política ambiental inconsistente, de um governo que prioriza o agronegócio e o desenvolvimento predatório e considera pouco as populações tradicionais e as gerações futuras. Foi, durante cinco anos, um escudo das políticas ambientais pálidas do Governo Federal.

Isolada no Governo Federal, a demissão da ministra Marina Silva torna pública a forte pressão sobre este Ministério para o afrouxamento das normas ambientais como forma de acomodar os interesses econômicos imediatistas em prejuízos Amazônia e às populações tradicionais da região.

Sem dúvida, as pressões foram internas e externas.

Provas disso são a importação de pneus usados, a liberação dos transgênicos – contrabandeados e ilegais, a ampliação das áreas desmatadas para cultivo, o esgarçamento da legislação ambiental para acolher projetos danosos à natureza e às populações, a transposição do Rio São Francisco, a ausência de políticas de desenvolvimento sócio-ambiental sustentável, dentre outras, como o congelamento do PAS desde 2003.

Tudo isso contradiz a história e a militância da amazônida Marina Silva.

O Governo Federal está obrigado a repensar sua política ambiental, reavaliar seus compromissos políticos e dar, finalmente, um rumo ao desenvolvimento, principalmente na região Amazônica. Do contrário, a saída da ministra Marina Silva representará tão somente a vitória do desenvolvimento predatório, que avançará, agora sem qualquer obstáculo institucional, principalmente na Amazônia".

SOLTANDO FOGOS

Antonio Alves

Marina saiu do governo, chutando o pau da barraca. Comemoram os barões do agronegócio, os madeireiros, pecuaristas e devastadores em geral.

Comemoram mais ainda os amigos de Marina, aliviados por ela ter escapado com a vida e a dignidade intactas da armadilha política em que Lula a colocou. Agora vamos ver como ele se vira, sem a salvaguarda que a Ministra lhe dava.

Tem muita gente fazendo análises, diagnósticos, prognósticos. Não tenho a mínima vontade de escrever e nem de ler essas coisas cheias de lógicas e razões.

Quero apenas comemorar o fato de que alguém, enfim, teve coragem de dizer: olha, Lula, pega teus 70% de aprovação e teu investiment greidi e enfia no PAC.


Como vão ficar as coisas? Ora, do jeito que já vinham ficando. É simples: chegou a hora, anunciada pelos profetas loucos dos barrancos acreanos, em que toda estratégia e tática se resume no lema “quem for tatu que cave, quem for macaco que se atrepe”.

A Terra treme? O mar balanceia? Estou cantando e bailando, viva São João!

O poeta Antonio Alves escreve no blog O Espírito da Coisa. Leia "Oração por Marina", homenagem dele, de fevereiro, quando a então ministra completou 50 anos de idade.

quarta-feira, 14 de maio de 2008

OPINIÃO DO LEITOR

"Demissão de Marina renova sonho de Chico Mendes"

"Prezado Altino,

Suas análises das políticas ambientais implementadas no Acre e na Amazônia de modo geral têm sido predominantemente críticas e num tom questionador, o que acho deva fazer parte da atuação de qualquer jornalista. Ou seja, o direito à dúvida e não à mera reprodução de "certezas" mal-intencionadas e comprometidas com interesses, no mais das vezes, não claramente explicitados, prática essa que caracteriza tanto as intervenções da grande mídia quanto essa pequena mídia do Acre. Felizmente seu trabalho vem fugindo a esse modelo.

Entretanto, neste caso específico da não substituição de Marina Silva pelo Jorge Viana terei que discordar de você e dizer-lhe que sua análise foi equivocada. Por quê? Por dois motivos básicos. Vamos a eles:

Primeiro, como você bem sabe, a utopia e a luta de Chico Mendes passaram longe de começar de forma institucionalizada e oficial. Deveu-se, isso sim, à organização inicialmente quase microscópica dentro das colocações mediante um trabalho lento de organização e agregação paulatina de novos aliados. Diferentemente de uma atuação oficial, o trabalho do Chico e seus companheiros chegou a ser objeto de processos judiciais nos governos militares, ocasião em que o próprio Lula foi interrogado juntamente com Chico, o que torna a evolução do caminho desses dois nomes ainda mais interessante e irônica. Isso porque ao passo que lula se oficializou, temos aí o resultado, enquanto Chico manteve-se firme em seu objetivo sendo, por isso, assassinado inclusive com a conivência "oficial", já que a polícia estranhamente resolveu não fazer valer o mandado de prisão para Darli Alves, expedido pela justiça do Paraná. Se Chico estivesse num gabinete oficial desses muitos que existem no aparelho administrativo do Acre e de Brasília, certamente estaria vivo, mas aí não seria mais o Chico que o mundo conheceu e em quem tantas esperanças depositou. Da mesma forma que essa Marina que sai agora do Governo Lula não é mais aquela Marina de 2003, de tão desgastada e desacreditada.

Passo assim ao segundo ponto que convém lembrar. Apesar de tudo o que representou Marina Silva na luta pelos direitos dos extrativistas e pela preservação ambiental, tornando-se o mito que era quando entrou no governo Lula, sua institucionalização e oficialização como Ministra de Estado serviu muito mais como uma maquiagem, uma espécie de cosmética cultural extrativista destinada a fazer parecer que, com ela, o cuidado ambiental estava garantido. Como todo cosmético, sua função no contexto deste governo era encobrir os estragos ambientais e sociais deixados pelo avanço dos interesses mercantis de toda ordem, principalmente sobre a Amazônia. Como o foco do governo Lula sempre foi a economia, Marina representou sempre aquela reserva de crédito da preocupação do governo com meio ambiente, o que de fato nunca existiu. O melhor exemplo disso, além das polêmicas hidroelétricas do Madeira, foi a privatização de milhares de hectares de florestas da Amazônia para exploração de madeireiras, através do Plano Nacional de Concessão de Florestas Públicas, um projeto inspirado na economia madeireira implantada por Jorge Viana durante seu primeiro governo e que, como sabemos, é a menina dos seus olhos graças ao volume de capitais que gera com a exportação de madeira.

Portanto, meu caro Altino, assim como essa enganosa política de desenvolvimento sustentável vigente no Acre, e mais do que conseguir implantar por dentro da máquina de governo uma política ambiental aceita e respeitada, nossa querida Marina serviu mais como um daqueles rótulos bonitinhos e esteticamente bem trabalhados para identificar produtos altamente nocivos na prateleira do grande supermercado que é o comércio mundial. Aliás, foi usada para encobrir os estragos deixados por esses produtos (madeira, etanol, energia elétrica, carne bovina e por aí vai). Mas como a face eminentemente economicista desse governo começa a aparecer e ele começa a se orgulhar disso, Marina é, portanto, dispensável, vinha tornando-se até um entrave, um transtorno, um problema, como a ela se referiu certa vez o presidente. Sua demissão foi, assim, a resolução do problema no qual ela vinha se tornando para o governo e, como ela mesma diz em sua carta, “tenho o sentimento de estar fechando um ciclo cujos resultados foram significativos”, ou seja, o jogo começou a ficar duro demais e muito escancaradas as prioridades economicistas do governo.

Marina sai exaurida, espremida, desgastada. Legitimou o que tinha de legitimar, tornou-se peça antiquada dentro do governo. A utopia de Chico jamais iria continuar, mesmo que com Marina, dentro dos aparatos oficiais, primeiro porque ela (a utopia) não cabe nesse governo, ele a rejeita, depois porque Jorge Viana nunca foi suporte, porta-voz ou continuador dessa utopia. Ele a usa para executar exatamente o contrário.

Para concluir, meu caro Altino, penso que um possível ingresso de Jorge no time de um governo que começa a explicitar seus verdadeiros compromissos traduziria melhor as posturas, práticas e vocações desse político-empresário do “ramo florestal”, ou seja, estaria no lugar certo. Ao passo que a saída de Marina, se mantido seu compromisso com a causa ambiental, pode colocá-la também num lugar mais apropriado para a denúncia e a explicitação dos interesses que, muito bem representados no governo, vêem o meio ambiente como entrave e estorvo. Sua saída pode significar, portanto, uma nova força, um pequeno alento de renovação do sonho de Chico, não a sua morte".

Este blog tem um leitorado realmente qualificcado e atento. O que enviou esta análise tão convincente assina como Eduardo Silva. Ele diz ser professor da Rede Estadual de Ensino. Tá bem.