sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

"EU TENHO A FORÇA, SOU INVENCÍVEL"



Está explicado o porquê de, nos últimos dias, ao telefonar para integrantes do primeiro escalão do governo do Acre, ouvia sempre o mesmo sussurro:

- Ligo depois. Estou em reunião da equipe de governo com o Motomura, da Amana Key.

A edição do Diário Oficial desta sexta-feira (10) revela que o governo estadual contratou por R$ 115 mil a empresa de consultoria Amana Key Desenvolvimento e Educação Ltda. para ajudar a avaliar o primeiro ano de gestão do governador Tião Viana (PT).

O contrato foi assinado pela chefe da Casa Civil, Márcia Regina de Sousa Pereira, e pelo consultor Oscar Motomura, dono da Amana Key.

Objeto do contrato: "prestação de serviços de consultoria: Advance Estratégico, exclusivo para integrantes da equipe de Governo do Estado do Acre, com o objetivo de fazer um balanço da atual gestão com base nos programas realizados em 2011 e definição dos desafios e prioridades para os próximos anos."

É patético, digamos, o governo do Acre gastar R$ 115 mil para ser avaliado exclusivamente por integrantes da equipe de governo.

O pior é que esse "Advance Estratégico" ministrado por Motomura é famoso por estimular a autoestima de executivos de empresas públicas e privadas, mostrando o quanto "têm poder".

É fácil imaginar o efeito dessa autoavaliação exclusiva para integrantes da equipe do governo do Acre.

Então todos cantando os dois refrões de He-Man: "Eu tenho a força/ Sou invencível/ Vamos amigos/ Unidos venceremos a semente do mal". (Bis). "Lá Lá Lá Lá Lá Lá Lá Lá Lá!/ La Lá Lá Lá Lá Lá Lá Lá!/ He-Man!/ Lá Lá Lá Lá Lá Lá Lá Lá Lá!/ La Lá Lá Lá Lá Lá Lá Lá! He-Man!". (Bis).

UM MÉDICO COM QUATRO EMPREGOS PÚBLICOS

O Ministério Público de Rondônia ingressou com ação civil pública, com pedido de liminar, na 2ª Vara da Fazenda Pública, em Porto Velho, para determinar a suspensão do pagamento de dois dos quatro cargos públicos ocupados por Jovanio Silva dos Santos, servidor do Tribunal de Contas do Estado.

Jovanio Santos, que ocupa atualmente o cargo de Agente de Controle Externo do TCE, também mantém contrato como médico ortopedista e traumatologista do Pronto-Socorro João Paulo II, com contrato de 40 horas semanais.

O servidor do Tribunal de Contas de Rondônia exerce ainda a função de diretor médico da Policlínica Municipal Hamilton Gondin, de Porto Velho, também com contrato de 40 horas semanais, além de outro contrato, como médico clínico geral, de 40 horas.

O promotor de Justiça Geraldo Henrique Ramos Guimarães, autor da ação civil pública, sugere a suspensão dos pagamentos de dois dos quatro cargos ocupados: o de médico ortopedista, pois o servidor não possui especialização para tal cargo, e o de médico auditor de 20 horas na Secretaria de Estado da Saúde, considerando a incompatibilidade com seu cargo de agente de controle externo do Tribunal de Contas de Rondônia.

O promotor de Justiça pede à Justiça que o servidor seja condenado por ato de improbidade administrativa, sendo-lhe aplicada as sanções previstas no artigo 12 da Lei de Improbidade Administrativa (Lei 8.429/92), dentre as quais constam: ressarcimento integral do dano, perda da função pública, suspensão dos direitos políticos, pagamento de multa civil e proibição de contratar com o poder público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

MINHA ASSISTENTE

Jornalista ou blogueiro que se preza tem assistente. A minha demorou, mas chegou


NOTA DE REPÚDIO

"Na edição de ontem (07.02.2012) do panfleto denominado Página 20, em nota apócrifa inserida na coluna “Poronga", denominada “Decepção”, aquele veículo atribuiu a saída do ex-deputado federal José Melo, falecido no último dia 06.02.2012, à decepção que este teria tido com a gestão do deputado federal Flaviano Melo à frente do Governo do Estado do Acre.

O Partido do Movimento Democrático Brasileiro no Estado do Acre vem a público manifestar sua repulsa e indignação à atitude vil e covarde praticada por um veículo que tem como propósito único e exclusivo servir de satélite “jornalístico” a um projeto político partidário, mesmo que isso signifique desrespeitar o momento de dor e sofrimento causado pela perda traumática de um ente querido.

Ao utilizar-se de um cadáver insepulto para paparicar seus patrocinadores, o jornal Página 20 ultrapassou todos os limites éticos do bom jornalismo. Ao imprimir com tintas marrons conotação política a uma grave enfermidade, desvelaram o seu desprezível e inaceitável modo de agir.

O ex-deputado federal José Melo honrou o Acre e seu povo. Abandonou a política e recolheu-se em Brasília para tratamento ao ser diagnosticado como portador de esquizofrenia.

Teve a altivez, a serenidade e a lucidez de se recolher antes que o imaginário o dominasse, se apresentando como real.

Talvez falte isso ao papelório fascista, acometido que foi pela esquizofrenia jornalística, cujo sintoma mais saliente, é a incessante necessidade de bajular e adular qualquer um que se disponha a pagar um vintém. Mesmo que isso signifique solapar a honra e a dignidade de quem quer que seja.

A nossa solidariedade à família Baptista de Melo.

Rio Branco (AC), 8 de fevereiro de 2012.

Diretório Estadual do PMDB no Acre"

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

ESTARRECEDOR

Revolta no velório de Zé Melo, em Brasília


O senador Sérgio Petecão (PSD-AC) usou o Facebook para anunciar a revolta de parentes e amigos do ex-deputado José Melo, irmão do deputado federal Flaviano Melo (PMDB-AC), vítima de ataque cardíaco em Brasília.

Petecão disse ter ficado "estarrecido" com a coluna Poronga, do Página 20.

- Um jornalista covarde assaca comentários maldosos e mentirosos à família, ao falecido e ao deputado Flaviano Melo. Fica aqui o meu repúdio e a minha indignação contra esse jornalista puxa-saco, que não respeita o momento de dor da família Melo.

Eis a nota da coluna intitulada "Decepção":

- Os antigos amigos de Zé Melo e os expertos em política acreana debitam a saída de Zé Melo da política pela “decepção” que teria tido com a gestão do irmão no governo do Acre, que foi marcada por escândalos policiais.

Meu comentário

Zé Melo era advogado, intelectual brilhante. Foi eleito deputado constituinte mais votado pelo Acre, sendo um dos mais jovens parlamentares do país à época.

Honrou dois mandatos, mas na verdade decidiu se afastar da vida pública após diagnóstico de esquizofrenia.

Ele mesmo percebeu quando começou a perder o controle do que era real ou não em sua mente.

Levou anos praticamente recluso sob tratamento e intenso cuidado de seus familiares, em Brasília.

Diferente de alguns vivaldinos em atividade, que se julgam sãos ou santos, Zé Melo foi honesto ao decidir não afetar o povo a partir de sua doença.

Que Deus lhe reserve um bom lugar para descansar bem longe da maldade que tem imperado no Acre.

Atualização - Na próxima segunda-feira (13), às 19 horas, missa para Zé Melo na catedral Nossa Senhora de Nazaré, em Rio Branco.

BRASIL TEM 3,8 MILHÕES FORA DA ESCOLA

Acre é o estado com a pior taxa de inclusão, 85%, o que representa 35 mil crianças e adolescentes fora do sistema de ensino

Um estudo divulgado nesta terça-feira pela ONG Todos pela Educação aponta que 3,8 milhões de crianças e adolescentes entre 4 e 17 anos estavam fora da escola em 2010. Com isso, a meta para o ano estabelecida pela ONG não foi atingida.

O número de jovens dentro da escola representa 91,5% da população nesta faixa etária, enquanto a meta intermediária da ONG previa 93,4%.

O estudo "De Olho nas Metas" é um relatório anual cujo objetivo é acompanhar indicadores educacionais ligados às cinco metas estabelecidas pelo Todos Pela Educação para serem cumpridas até 2022. A primeira é justamente chegar ao índice de 98% ou mais das crianças e jovens de 4 a 17 anos matriculados e frequentando a escola no prazo de dez anos.

"Essa meta é a base de todas, porque primeiro temos de colocar as crianças na escola", disse Priscila Cruz, diretora executiva do Todos pela Educação.

Apesar da meta intermediária não ter sido alcançada, o estudo divulgado hoje aponta que na última década houve um aumento de 9,2% na taxa de acesso à escola.

A região Norte registrou o maior aumento na frequência ao sistema de ensino, com crescimento de 14,2%, o que possibilitou o atendimento de 87,8% das crianças e adolescentes entre 4 e 17 anos. A região Sudeste teve o menor avanço na década, expansão de 8%. Ainda assim, é a parte do país com maior índice de jovens matriculados, 92,7%.

Com o maior número de jovens em idade escolar (17,3 milhões), a região Sudeste registra o maior número de crianças e adolescentes fora da escola (1,27 milhão). Desses, 607,2 mil estão em São Paulo, Estado com maior número de jovens sem estudar. Percentualmente, no entanto, apenas 7% dos paulistanos entre 4 e 17 anos não frequentam a escola.

Na região Norte são 579,6 mil jovens que não estão estudando. O Acre é o estado com a pior taxa de inclusão, 85%, o que representa 35 mil crianças e adolescentes fora do sistema de ensino.

"O que é preciso fazer agora é localizar onde estão esses alunos fora da escola. São jovens no campo, com dificuldade de locomoção. Os gestores até hoje se preocuparam com grandes políticas, preocupados com as médias. Agora, é o momento de intervenções cirúrgicas para cada tipo de população", afirmou a diretora da ONG.

PRÉ-ESCOLA

As taxas de acesso à pré-escola permanecem em patamares muito mais baixos que os estabelecidos pelas metas. Crianças de 4 e 5 anos têm a menor taxa de atendimento (80,1%). Na região Norte, apenas 69% das crianças que deveriam estar na pré-escola estão estudando.

O ensino médio também apresenta uma taxa de frequência menor do que a média. Na faixa de 15 a 17 anos, apenas 83,3% estão inseridos no sistema de ensino, o que representa 1,7 milhão de jovens fora da escola. O menor percentual de acesso é registrado novamente no Norte (81,3%).

CONSTRUMIL APLICA CALOTE NO ACRE

Pelo menos 20 fornecedores ameaçam acionar a Justiça nos próximos dias para receber cerca de R$ 20 milhões devidos pela construtora Construmil, responsável pelo lote 06 da BR-364, sentido Rio Branco/Cruzeiro do Sul, que delarou falência e deu férias para funcionários e engenheiros responsáveis pela obra no Acre ainda no mês de dezembro.

A informação chegou a ser repassada pelo próprio diretor do Departamento de Estradas e Rodagem do Acre (Deracre), Marcos Alexandre, para vários empresários e comerciantes do município de Feijó, que questionam seus direitos e ameaçam realizar um protesto contra a inadimplência após serem informados que o estado pagou cerca de R$ 8 milhões para empresa na semana passada.

Para sanar alguns débitos, a Construmil pode ser obrigada a entregar várias máquinas de sua propriedade, que estão estacionadas em um terreno do empreário Cildo Freitas, no município de Sena Madureira, a 144 quilômetros de Rio Branco.

A Construmil ajudou a construir o Acre encantado do PT durante os 12 anos de mandato dos governadores Jorge Viana e Binho Marques. Era um das principais financiadoras das campanahs da Frente Popular do Acre.

Clique aqui e saiba mais na Contilnet.

NA UFAC, TEMOS VAGAS EM MEDICINA



A Universidade Federal do Acre (Ufac) vai divulgar nesta quarta-feira (8) a segunda lista de chamada na tentativa de preencher as vagas no curso de Medicina. Na sexta-feira (3), quando encerrou o prazo para matrícula, nenhum dos 40 estudantes aprovados no processo seletivo apareceu para se matricular no curso.

No processo seletivo do curso mais concorrido da Ufac, feito com base nas notas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), apenas dois acreanos conseguiram ser aprovados. Ambos preferiram se matricular em universidades no Ceará e Pará.

Dos 1.620 candidatos aprovados para o campus da capital Rio Branco, matricularam-se 1.024 alunos, o equivalente a 63,21 % do total. No campus de Cruzeiro do Sul, no extremo-oeste do país, matricularam-se 292 estudantes, o que corresponde a 67,91 % das 430 vagas disponíveis.

O vice-reitor da Ufac, Pascoal Torres Muniz, esperava que ao menos 35 vagas em Medicina seriam preenchidas após a primeira chamada.

- Nossa seleção foi nacional. Os alunos tiveram opção de concorrer a duas vagas pelo pelo Sisu, mais a da Ufac como bônus. O problema foi a Ufac ter feito desnecessariamente um processo seletivo próprio. Vamos chamar 40 na quarta, mas é provável que não vamos conseguir preencher as vagas. Caso isso aconteça, vamos proceder a terceira ou quarta chamadas, de dois em dois dias, sempre com 40 pessoas na lista - afirma.

O curso de Medicina, que dura seis anos, é ministrado no campus da Ufac em Rio Branco. A maioria dos alunos é oriunda de outros Estados.

- Esses alunos têm, em média, 24 anos de idade. Participaram durante anos de cursos preparatórios com carga horária de 40 horas semanais. A sociedade acreana não oferece tais oportunidades e geralmente busca o caminho mais curto, que é enviar os filhos para estudar no exterior, principalmente na Bolívia - avalia.

Veja a entrevista com o vice-reitor no Blog da Amazônia.

QUADRILHA

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

IMAGENS DO ACRE EM DESENVOLVIMENTO

A indústria decresceu, segundo dados da Fieac, mas nunca na história do Estado um governo exibiu tanta imaginação










MÁFIA DO SOM

Governo do Acre gastou R$ 7 milhões com sonorização em 2011



O governo do Acre pagou no ano passado mais de R$ 7 milhões à empresa T.A Mota por serviço de sonorização em mais de 200 supostos eventos de pequeno, médio e grande porte no Estado.

O Blog da Amazônia teve acesso ao dossiê sobre o que já é chamado de "máfia do som". Desde novembro o documento está em poder do Ministério Público Federal, Ministério Público do Acre, Polícia Federal, Tribunal de Contas do Estado e Receita Federal.

Elaborado por Agnaldo Camurça da Cunha, pequeno comerciante que se viu forçado a abandonar o trabalho com sonorização no Acre, o dossiê acusa gestores públicos e os responsáveis pela empresa T.A Mota de terem cometido corrupção envolvendo uso de "laranja", sonegação fiscal, superfaturamento e fraudes no pagamento com certidões negativas vencidas da Previdência e da Receita Estadual.

- Tomando como base o valor do que foi contratado originalmente, o governo do Acre teria que ter realizado três Feiras Agropecuária por dia durante todos os dias de 2011 para atingir o valor de R$ 7 milhões pagos à máfia do som - estima Aguinaldo Camurça, referindo-se ao maior evento organizado no Estado com verba pública.

Por bem menos o governador Tião Viana (PT) determinou, nos primeiros dias de janeiro, uma operação da Polícia Civil para combater corrupção envolvendo R$ 1,2 milhão do Programa de Desenvolvimento Sustentável do Estado do Acre (Proacre).

Foram cumpridos três mandados de prisão e 24 mandados de busca e apreensão na capital Rio Branco e em mais cinco municípios. E foram presos a secretária de Educação de Porto Walter, Ivânia Ferreira da Silva, o assessor dela, Rivelino Silva Gudes, além de Márcio Klinger, que coordenava o Proacre desde 2009.

As denúncias indicam que o faturamento milionário da "máfia do som" já dura mais de 10 anos e teve continuidade em 2010,  quando a T.A Mota venceu uma licitação na modalidade de pregão para Registro de Preços, que originou Ata de Serviço, tendo como gerenciador a estatal Fundação Elias Mansour (FEM).

O contrato com a FEM previa a realização de eventos de pequeno porte (de até 300 pessoas) por R$ 485,00, de médio porte (300 a 100 pessoas) por R$ 690,00, além de eventos de grande porte (acima de 1000 pessoas) por R$ 2,9 mil.

Sete secretarias do governo do Acre aderiram à Ata de Registro de Preços. Elas deveriam pagar por valores unitários previstos no contrato, de acordo com o tamanho de cada evento. Pelo contrato registrado, por exemplo, um grande evento não poderia ultrapassar o valor de R$ 2,9 mil.

- A máfia do som, com a participação de alguns gestores, vem recebendo valores superfaturados em desacordo com a legislação, usando artifícios fraudulentos e imorais - disse Aguinaldo Camurça ao Blog da Amazônia.

Para sonorizar o Carnaval 2010, a T.A Mota recebeu R$ 382,2 mil da FEM, conforme as notas fiscais 000511 e 000517 e os empenhos 71730122/2010 e 7173030134/2010. Como os pagamentos foram baseados no contrato, na verdade o valor pago deveria ter sido de apenas R$ 11,8 mil pelos quatro dias do evento.

A partir do contrato com a FEM, a empresa conseguiu ampliar o valor em contratos para R$ 7 milhões através das "caronas" de diversas secretarias, segundo a denúncia de Camurça. A FEM pagou no total R$ 1,3 milhão à empresa, em 2011.

Mas a T.A Mota também faturou alto em outras fontes: Secretaria de Humanização da Gestão Pública (R$ 14,9 mil); Secretaria de Educação (R$ 74,6 mil); Gabinete do Vice-Governador (R$ 200 mil); Secretaria de Saúde (R$ 301,6 mil); Secretaria de Comunicação (R$ 467,1 mil); Secretaria de Turismo e Lazer (R$ 947,5 mil); Secretaria de Articulação Institucional (R$ 1,3 milhão); Secretaria de Governo (R$ 1,3 milhão) e Secretaria de Habitação (R$ 1,2 milhão).

Pela sonorização de um evento durante o Natal, em frente ao Palácio Rio Branco, caracterizado como de médio porte, o governo estadual pagou R$ 2 mil, conforme a nota fiscal 00696 e o empenho 7173031865/2010.

- É exatamente o valor previsto no contrato. Isso prova que os pagamentos referentes aos "eventos" são pagos da forma mais conveniente ao gestor e ao empresário - afirma Camurça.

No Ministério Público do Acre, Camurça entregou o dossiê com as provas e prestou depoimento contra a "máfia do som".

O caso está sendo investigado pela promotora de Justiça Waldirene Oliveira da Cruz Lima Cordeiro, da Promotoria do Patrim6onio Público, que coordena no Estado a campanha “O que você tem a ver com a corrupção?”.

A promotora é casada com o economista Mâncio Lima Cordeiro, que ocupa o cargo de secretário de Fazenda desde que o PT assumiu o governo do Acre há 13 anos.

Por trás da T.A Mota



A empresa T.A Mota, que pertence a Tarcísio de Araújo da Mota, foi criada há seis anos. Porém, quem a representa e assina os contratos com o governo estadual é o funcionário público e empresário Raimundo Nonato Machado, mais conhecido como Biau, responsável pela sonorização de comícios das campanhas eleitorais do PT nós últimos 12 anos.

- No início, os contratos eram feitos em nome de Thereza Pontes Pinheiro da Silva, mulher do Biau, que era proprietário da Biau Som. Em 2007, o Biau teve problemas com documentos e parou de utilizar o nome da esposa, passando a usar o nome de seu ex-funcionário Tarcísio.

Camurça afirma que Biau é o único prestador de serviços na área de sonorização de eventos para o governo do Acre nos últimos 12 anos.

- Os serviços são executados com equipamentos de sua propriedade, mas ele não poderia participar deste tipo de prestação de serviços, pois é funcionário público - acrescenta Camurça no dossiê.

Segundo Camurça, a empresa T. A. Mota não poderia ter recebido pagamentos do governo estadual porque não dispunha de certidões exigidas por lei.

- Desde 20 de agosto de 2010, a certidão da Fazenda Estadual estava vencida e foi atualizada somente no dia 12 de julho de 2011. A certidão relativa às contribuições previdenciárias do INSS, estava vencida desde 19 de dezembro de 2010, sendo atualizada no dia 28 de junho de 2011, mas o empresário Biau, de posse de uma procuração da T. A. Mota, conseguiu receber os pagamentos referentes ao Carnaval; Expoacre 2010; Expojuruá 2010, Réveillon 2010; Carnaval 2011 e demais eventos de menor porte - afirma.

Nos últimos meses do ano passado, fugindo ao padrão do contrato assinado com a FEM, a T. A. Mota chegou a receber R$ 55,6 mil pela realização de 71 eventos de pequeno porte e oito de médio porte, conforme a nota fiscal 000626 e empenho 717303122586/2010.

A FEM também pagou R$ 74,5 mil pela sonorização do Festival Varadouro, de música, classificado como de grande porte, com duração de três dias, conforme a nota fiscal 000660 e empenho 7173032010/2010.

Na seqüência, a T. A. Mota recebeu mais R$ 140 mil pela realização de 40 eventos de pequeno porte; 50 de médio porte e 29 de grande porte, conforme a nota fiscal nº 000680 e empenho 7173032152/2010.

A FEM também pagou à empresa mais R$ 74,7 mil por equipamentos de som e vídeo para o Cine Teatro Recreio, onde o PT costuma realizar plenárias. O pagamento consta na nota fiscal 44227 da empresa e no empenho 7173032133/2010 do governo estadual.

- Onde foram realizados tantos eventos? Verificamos que teria sido realizado mais de 199 eventos pela FEM, apenas nesta denúncia, o que daria quase um por dia no período de um ano - assinala Camurça no dossiê entregue às autoridades.

Na denúncia de sonegação fiscal que entregou à Receita Federal, Camurça apresentou fotos das casas de Tarcísio de Araújo da Mota, dono da empresa, e de Biau, que representa a T.A Mota junto ao governo estadual. O suposto "laranja" mora num precário apartamento no térreo de um prédio da Cohab. Biau numa mansão. Também existem fotos de galpões que pertencem a Biau e do "galpão" de Tarcísio, na verdade uma pequena garagem de carro próxima ao prédio.

Camurça relata à Receita Federal que outro motivo que o faz desconfiar da lavagem de dinheiro pela empresa T.A Mota por intermédio de seu representante Biau é devido aos investimentos imobiliários: uma mansão, dois galpões lotados de equipamentos de som e luz, um trio elétrico avaliado em R$ 1,5 milhão, além de carros de luxo.

- A quantidade de equipamentos de sonorização e iluminação adquiridos nos últimos anos pelo empresário ultrapassa o valor de R$ 5 milhões - acrescenta Camurça na denúncia.

Empresário esclarece - atualização às 11h37

Consultado pela reportagem, o empresário Raimundo Machado, o Biau, que gerencia a T.A Mota, admitiu que sete secretárias pegaram "carona" no processo licitatório da empresa com a FEM, mas ponderou que isso não significa que tenha recebido na totalidade os R$ 7 milhões.

- É impossível que uma secretaria tenha realizado algum pagamento sem a devida comprovação de que os serviços foram efetivamente executados - disse, referindo-se à ocorrência de mais de 200 eventos de pequeno, médio e grande porte realizados pelo governo estadual e sonorizados por sua empresa.

Biau informou que trabalha com sonorização desde 1983 e que vem sendo contratado pelo governo estadual desde a gestão do governador Edmundo Pinto, no começo dos anos 1990.

- Portanto, não posso ser acusado de ser beneficiado pelos governos do PT. Tenho participado regularmente dos processos licitatórios que envolvem a contratação de serviços de sonorização. É um processo público e transparente que culmina com o pregão presencial. Acontece que simplesmente não comparecem outras empresas. Talvez isso aconteça porque as empresas que poderiam concorrer com a minha não dispõem dos equipamentos exigidos nos editais - acrescentou.

O empresário disse que a T.A Mota recebeu R$ 382,2 mil da FEM pela sonorização do Carnaval de 2011, mas contesta o autor das denúncias de que um grande evento não poderia custa acima de R$ 2,9 mil.

- O Carnaval de Rio Branco reúne 70 mil pessoas diariamente, segundo cálculo realizado pela Polícia Militar do Acre. O contrato estabelece que eventos de grande porte, com público acima de mil pessoas, a sonorização vale R$ 2,9 mil. Portanto, é justo, com base no contrato, que eu receba pela quantidade real de pessoas presentes nos nove dias de Carnaval. Além disso, forma utilizados outros equipamentos, como dois telões de led com 24 placas, quatro projetores de multimídia e TVs LCD, conforme consta no mesmo contrato - conclui.

Veja mais fotos no Blog da Amazônia.

sábado, 4 de fevereiro de 2012

NINAUÁ

POR JUAREZ NOGUEIRA


Altino, caro

Receba meu abraço.

Pela sua amizade, desde a primeira vez que fui ao Acre, quando me recebeu em sua casa. Dessa viagem eu trouxe a certeza de que escreveria um livro. E tanta coisa mais que não cabe em livros. A ideia da história surgiu quando eu visitei a aldeia katukina, durante um ritual do kambô. Tudo foi inspirado pelas minhas jornadas na floresta, neste a.C.Re que me parecia então todo feito de árvores e me deu o conhecimento vivo de uma insuspeitada, perene alegria.

Do que me coube registrar, em minhas anotações de viagem e no que a memória em sentimento gravou, aí está meu recém-nascido livro, “Ninauá”, pela Gulliver Editora.

Em resumo, é isso:

"Ninauá ensina: o coração, como as árvores, nasce onde ama.

Ninauá é um curumim. Seu nome significa ‘grande homem da floresta’. Um dia, os daku nawás – os homens enrolados – invadem sua aldeia e capturam seus parentes.

Em fuga, o indiozinho mergulha no igarapé, de onde sai à procura de sua gente. Seguindo em uma aventura pelas matas, Ninauá conta com a ajuda dos yuxin, os encantados, para encontrar seu povo e livrá-lo do cativeiro. Em sua busca, terá de enfrentar seu inimigo, o txakabu nawá. Homem mau e ambicioso, instigado pelas histórias de um velho índio jivaro, ele persegue um tesouro: acredita que a floresta esconde as lendárias minas do Rei Salomão.

Na aldeia das guerreiras amazonas, Ninauá aprende como derrotar o inimigo. Porém, é advertido: nada será como antes. Sua saga o levará ao seu destino, sob a luz de uma estrela guia, quando então o txakabu nawá descobre a verdade sobre si mesmo, quem é Ninauá e onde está escondido o verdadeiro tesouro.

A história do pequeno Ninauá conta a viagem do herói. É uma estrutura narrativa universal, cuja essência está contida nos mitos, contos de fadas e lendas que nos revelam como alguém se lança no caminho em busca de um bem e realiza a sua obra. Na verdade, é a história por trás de todas as histórias contadas infinitamente, de geração a geração, desde tempos imemoriais, com diferentes nomes e personagens, para expressar um conhecimento profundo, que toda alma traz consigo. Essa história tão antiga, diz o escritor Hajo Banzhaf, “é, ao mesmo tempo, uma história simbólica, uma parábola para o caminho de vida do ser humano. É isso que a torna tão fascinante, e é por isso que tem de ser contada e recontada, para que nunca nos esqueçamos por que estamos aqui na Terra e o que temos de fazer aqui e agora.”

A capa é do artista carioca Rafael Nobre, sobre ilustração do artista acreano Ivan Campos. Já adianto que a culpa é sua, Altino. Desde que vi uma obra do Ivan em sua casa, não sosseguei. A par do peruano Pablo Amaringo, só mesmo o Ivan para retratar o espírito da floresta numa pintura com força paleozóica. Com a cumplicidade da Ana, esposa dele, Ninauá ganhou essa cara com que vai se mostrar ao mundo e agora é assim: onde o livro for, Ivan vai junto e junto vai todo o meu carinho e a minha gratidão pela gente daí, que eu amo. Já falei com Ivan e Ana pelo telefone. O livro segue depois, para vocês. Espero retornar em breve, no fim do ano, penso, a depender das demandas – muitas! – aqui.

Minha gratidão, Altino.

Sempre,

Juarez Nogueira


Nota do blog

Meu amigo Juarez Nogueira é escritor mineiro de Divinópolis. É autor de "Manual de Sobrevivência na Redação" (Editora Autêntica) e "O Menino Alquimista" (Editora Landy), que recebeu o prêmio Leitura Altamente Recomendada da FNLIJ (Fundação Nacional do Livro Infanto-Juvenil), a seção brasileira da IBBY (International Board on Books for Young People), que atua em 72 países e desde 1968 distingue o melhor da literatura para este segmento. É autor, ainda, de "Quando Falar é Fazer" (Gulliver Editora) e agora deste "Ninauá" (Gulliver Editora).

Nota do autor de Ninauá

Ao final deste livro, um glossário dá ao leitor a significação de vocábulos menos familiares, nomes e palavras de diferentes idiomas indígenas constantes no texto e que nele aparecem ao lado de termos que os traduzem e os aproximam de seu significado. Portanto, poderão ser facilmente compreendidos. A linguagem incorporou-se ao texto tal como está, adequada ao universo da narrativa e dos personagens, contextualizados neste trabalho.

A opção pelos termos indígenas ora utilizados deve-se a critério subjetivo. A ideia é aderir ao texto a poesia de vários idiomas do tesouro linguístico indígena, trazer ao leitor um pouco desse conhecimento, cotejado de minha peleja com as palavras e as esparsas anotações de viagem que fiz pela Amazônia e pelas selvas do Peru, nos anos de 2006 e 2007. Foi quando tive a alegria de conviver com os huni kuin, que se reconhecem como ‘gente verdadeira’. É um termo kaxinauá. Mas este nome – entendo e estendo nesta obra – como um valor, pela beleza de seu significado, aos diferentes povos da floresta: kaxinauá, katukina, arara, nukini...

Das lendas amazônicas, selecionei, do rico imaginário de nosso povo, as que se apresentaram ao escopo da imaginação para servir a este trabalho.

Sobre a lenda, já disse o escritor argentino Leopoldo Lugones: “A lenda é fé, esperança e caridade. Os homens de coração duro, que depreciam a lenda, dizendo: “é mentira”, são indignos da beleza e da graça. Gostariam que as pérolas, os diamantes, as esmeraldas, os rubis, os topázios da lenda, existissem realmente. Não veem que, assim, já teriam dono, e seriam motivo de opressão, orgulho, inveja. Enquanto na lenda são de todos e a todos aperfeiçoam.”

As histórias sobre as viagens dos navios do rei Salomão ao rio das Amazonas constam da monografia de D.Henrique Onffroy de Thoron, publicada pela primeira vez no jornal geográfico O Globo, de Gênova, em 1869, e impressa em Manaus na tipografia Commercio do Amazonas, no ano de 1876. Há uma cópia nos Anais da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas. Algumas tradições medievais contam da presença judaica no Brasil e existem textos que registram a localização de Ophir, a terra do ouro, na América. São teorias históricas bastante conhecidas, a propósito dos Diálogos das Grandezas do Brasil, obra anônima composta em 1618, e da Crônica da Companhia de Jesus, do Padre Simão de Vasconcellos (1597-1671), entre outras.

Os episódios relativos ao ciclo da borracha em Manaus e ao cativeiro do índio seringueiro são baseados em temas significativos ao período áureo da borracha (ou seringa), em uma era de progresso que inseriu a Amazônia na dinâmica do mercado e da economia internacional (1880-1910).

Neste contexto, a par da fantasia e do mistério desta aventura, a história não deixa de contemplar parte do processo de ocupação da Amazônia, marcado por relações de poder desiguais. Um poder voltado para dominar índios, seringueiros, trabalhadores, homens, mulheres, crianças, e usá-los como estratégia de acumulação por exploradores que enxergam na floresta apenas uma fonte de riqueza fácil. Não a percebem em sua essencialidade, sua vitalidade para o planeta Terra. Ou, se percebem, ignoram esse tesouro e o destroem por interesses mesquinhos. Assim, embora não seja esse o foco, a narrativa contempla um rastro histórico de atentados contra os direitos humanos que gerou – e continua gerando – tragédias humanas, conhecidas ou não dos brasileiros e do resto do mundo. Tragédias que vitimaram, pela violência das armas, defensores da floresta e dos povos que ali vivem, como é o caso do seringueiro Chico Mendes (Acre) e da missionária Dorothy Stang (Pará).

No mais, a história.

É o desejo de gravar um sentimento. Uma saudade. O amor pela floresta, pela vida da floresta. A floresta que vi do alto, vi de dentro, vi de perto. Vi sob o iminente risco da exploração e da devastação, ameaça que voa rasante – e pousa (!) – sobre toda a floresta.

Há quem acredite ter sido o homem expulso do paraíso. Não. Deus criou o homem e deu-lhe um jardim para habitar e ajudá-Lo a tomar conta.

Ninauá é um indiozinho que me apareceu na floresta, na aldeia dos katukinas, no Acre, durante um ritual na mata. Com ele, veio a inspiração para a história toda, tal qual narrei.

Ninauá é um e todos.

É uma esperança.

Verde, quente como a floresta.

Uma esperança que, desejo, inspire refletir, conhecer, amar a floresta – flor esta, a vida. Para responsavelmente cuidá-la. Para não ter de se contar a história, às novas e futuras gerações, assim: Era uma vez...

MÉDICOS EXIGEM RETRAÇÃO DE SUELY

O presidente da Fenaman (Federação Nacional dos Médicos), Cid Célio Jayme Carvalhaes, enviou na sexta-feira (3) carta ao governador do Acre, Tião Viana (PT), em que pede a substituição ou retratação da secretária estadual de Saúde, Suely Melo, que chamou os médicos do Estado de “mercenários” durante um programa de TV local na semana passada.


Na carta, Cid Carvalhaes manifesta “perplexidade” e assinala que Tião Viana é médico e que a agressão da secretária “o atinge em cheio”.

O presidente da Fenamam afirma que a atitude da secretária é “incompatível com os elementares pilares do decoro governamental quando, de forma hilárica, carente de civilidade, demostrando claudicação nos conhecimentos de preceitos básicos da saúde individual e coletiva, agride, graciosamente aos médicos de Rio Branco e do Estado do Acre, afirmando que os mesmos são mercenários”.

- É inadmissível que um governo democrático e popular permita ações tão execráveis  desta natureza, por parte de uma senhora titular de tão relevante função. Espera-se, no mínimo, que seja dela exigida retratação pública pela péssima posição assumida diante de câmeras de televisão - acrescenta Carvalhaes.

Cópias da carta foram enviadas ao Conselho Federal de Medicina, Conselho Regional de Medicina e ao Sindicatos dos Médicos do Acre.

Veja a carta

“Brasília, 03 de fevereiro de 2012

Excelentíssimo Senhor
Dr. Sebastião Afonso Viana Macedo Neves – Tião Viana
MD. Governador de Estado do Acre

Senhor Governador,

Externamos-lhe nossa admiração por sua condução dos destinos do povo acreano impressa no seu governo, assim confirmado  na oportunidade em que visitamos o Acre e tivemos a honra de sermos recepcionados por Vossa Excelência quando  pudemos dimensionar essas ações.

Causou-nos perplexidade o pronunciamento da Senhora Secretária de Estado da Saúde por Vossa Excelência designada, incompatível com os elementares pilares do decoro governamental quando, de forma hilárica, carente de civilidade, demostrando claudicação nos conhecimentos de preceitos básicos da saúde individual e coletiva, agride, graciosamente aos médicos de Rio Branco e do Estado do Acre, afirmando que os mesmos são MERCENÁRIOS, agressão esta que o atinge em cheio, quando Vossa Excelência, mesmo exercendo a nobre função de Governador do Estado do Acre continua, para bem do povo acreano e honra da medicina brasileira, exercendo a sublime missão de médico.

A FENAM na sua postura de defesa intransigente da saúde da população brasileira e dos interesses e da dignidade dos médicos espera e aguarda de Vossa Excelência substituição imediata de pessoa que se mostrou  inqualificada politicamente para o exercício de tão nobre mister desrespeitando, inclusive, sua função profissional como médico.

É inadmissível que um governo democrático e popular permita ações tão execráveis  desta natureza, por parte de uma senhora titular de tão relevante função.

Espera-se, no mínimo, que seja dela exigida retratação pública pela péssima posição assumida diante de câmeras de televisão.

A FENAM e os médicos brasileiros aguardam de Vossa Excelência a merecida punição que esta essa Senhora.

Atenciosamente,

Dr. Cid Célio Jayme Carvalhaes
Presidente”

DOIS PRESOS, UMA MEDIDA

José Ribamar Bessa Freire

Dois índios presos em momentos e locais diferentes: um no Rio de Janeiro, outro no Rio Jordão (AC). Ainda que distantes no tempo e no espaço, essas prisões arbitrárias, no frigir dos ovos, são exemplares porque apontam na mesma direção. Foram realizadas em defesa da propriedade privada e em nome da ordem estabelecida, revelando como o Poder Judiciário, embora considere a justiça cega, às vezes é capaz de ver longe. Muito longe.

O preso do Rio, provavelmente um Puri, aparece no boletim de ocorrência apenas como índio, genérico, sem identidade étnica. Foi encarcerado num momento de reformulação da política pública de segurança. O motivo da prisão está escrito com todas as letras no registro policial: “o gatuno vadio tinha uma expressão suspeitosa de quem estava pensando em roubar”. É. É isso mesmo que você leu. O cara não roubou, mas foi preso porque acharam que ele tinha cara de ladrão.

Desenterro seu caso dos arquivos policiais, porque li agora notícia vinda do Acre com um fato similar. Lá no Acre, município do Jordão, Irineu Kaxinawá, 19 anos, permaneceu trancafiado mais de quatro meses na Penitenciária de Taraucá, sem julgamento algum. Motivo da prisão: teria ajudado seu primo menor de idade a esconder na casa do avô deles, Getúlio Sales - um líder tradicional dos Kaxinawá - roupas e bijuterias de pequeno valor que foram surrupiadas da loja de Maria Raimunda. Detalhemos os dois casos.

Polícia da Corte

No Rio de Janeiro, em 1831, o posto de chefe de polícia era ocupado por um juiz de direito. Foi, portanto, um juiz que decretou a prisão do índio, numa época em que a polícia era tão eficiente que lia até pensamento. Está lá, no documento que encontrei no Arquivo Nacional, no Fundo Polícia da Corte, formado por 340 volumes manuscritos, entre os quais os livros com a relação de presos feita pela policia na primeira metade do século XIX.

Os índios estão escondidos no arquivo em documentos da Intendência Geral da Polícia, conhecida depois como Polícia da Corte. Eram muitos, mas os livros usados nas escolas os tornaram invisíveis. Quase sempre sem emprego, sem domicílio fixo, viviam de biscates e perambulavam pelos cortiços do centro da cidade. Foram duramente reprimidos quando D. João VI chegou ao Rio, em 1808, até os anos 1840, quando cessam os registros nos arquivos, depois de apodrecerem nas prisões.

Os motivos alegados para prendê-los eram diversos: atitude suspeita, vadiagem, embriaguez, porte de canivete, desordem, agressão, furto, ausência de permissão para andar na rua depois das 19h e até por estarem “pensando em roubar”.

No entanto, a equipe de pesquisa que coordenei começou a desconfiar desses motivos quando encontramos, em outro documento do Arquivo Geral da Cidade, registro do mesmo índio preso trabalhando como braçal na reforma do Passeio Público, em 1831. É que o Código Penal previa pena de prisão com trabalhos forçados. Naquela época, os negros escravos estavam quase todos ocupados nas fazendas de café do Vale do Paraíba e não havia quem cuidasse das obras públicas. Daí ocorria a prisão dos índios, porque o poder público “estava pensando” em tê-los como mão de obra gratuita.

Quem estudou bem essa documentação foi um gringo, Thomas Holloway, professor de História Latino-Americana na Universidade de Cornell, nos Estados Unidos. Ele vasculhou os arquivos das polícias Militar e Civil do Rio, no século XIX, guardados no Arquivo Nacional, e escreveu o livro "Policing Rio de Janeiro – repression and resistance in the XIX century", publicado pela Universidade de Stanford.

No livro, o historiador americano analisa a tensão política vivida em 1831, quando o então ministro e futuro regente Diogo Feijó reformulou a política de segurança pública e criou não a UPP, mas o CMP (Corpo Municipal de Permanentes) para manter a ordem vigente. Um dos primeiros comandantes dessa nova polícia militar foi o Duque de Caxias, encarregado de “limpar a cidade”, o que foi feito fechando os olhos aos abusos de autoridade, à violência e à corrupção. E no Acre?

O caso de Tarauacá

Irineu Kaxinawá, de 19 anos, vivia na Aldeia Nova Empresa, Terra Indigena Kaxinawá do Baixo Rio Jordão. Falava português com dificuldade e foi, em 2010, estudar na cidade. Seu primo roubou umas quinquilharias, ele ajudou a esconder, como o primo é menor de idade, quem foi preso foi ele, Irineu, no dia 3 de outubro do ano passado.

- Foi estudar numa escola pública do Jordão e agora está fazendo mestrado na melhor escola de bandidos do Acre, que é a penal de Tarauacá - escreveu o pai dele, o antropólogo Terri Aquino.

Quem deu a bolsa de mestrado ao Irineu foi a juíza de Tarauacá, uma ex-delegada de polícia do interior do Amazonas, que negou a liberdade provisória para que o acusado respondesse processo em liberdade. Ela alegou que o objetivo da prisão era “evitar que o delinquente, tendo praticado o primeiro crime, pratique novos crimes, quer porque seja acentuadamente propenso à prática delituosa, quer porque, em liberdade, encontrará os mesmos estímulos relacionados com a infração cometida”.

Praticado um crime? Propensão à prática delituosa? De onde é que a magistrada tirou isso, meu Deus! Um menino com bons antecedentes, profissão definida, residência fixa, nunca praticou violência contra gente, bicho ou planta, nunca havia sido preso, não foi ainda julgado para ser considerado delinquente.

A juíza do Acre avançou mais que seu colega do Rio. Enquanto no Rio o índio foi preso porque “estava pensando em roubar”, o kaxinawá, no Acre, permaneceu quase cinco meses numa penitenciária para evitar que ele pensasse em roubar.

- Se ele errou, e até acredito que tenha errado mesmo, a Justiça acreana poderia dar uma chance de recuperação a esse jovem índio de apenas 19 anos. E não ser assim tão rigorosa com um "ladrãozinho de galinha", podia dar uma pena branda, como prestação de serviços comunitários – escreveu seu pai, angustiado, que passou o Natal e Ano Novo nas aldeias Yawanawá e em visita ao filho preso, depois de conversar com juiz, desembargador, diretor de penitenciaria, defensor público, advogado, secretário de Direitos Humanos, tudo em vão. Seu filho permanecia preso.

- Estou abrindo o meu coração publicamente, mas não estou interessado em piedade de ninguém. Estou apenas atrás de Justiça para o meu moleque. O Acre é cruel. E tem proporcionalmente a maior população carcerária do Brasil. E esse caso do Irineu me dá muita vergonha de ser acreano – escreveu o antropólogo Terri Aquino ao jornalista Altino Machado.

Futurologia

Altino, que mantém o blog mais lido sobre a Amazônia, correndinho, mobilizou Deus e o mundo, jornalistas, professores, advogados, gente em todo o Brasil que conhece os Kaxinawá, através dos trabalhos do Terri, cuja vida continua dedicada aos índios, lutando por suas terras, línguas e culturas.

O jornalistas Elson Martins, a historiadora Fátima Almeida, a cronista Leila Jalul, a radialista Eliane Sinhasique, e tantos outros no Acre, mas também em Minas Gerais - Maria Inês de Almeida, diretora do Centro Cultural da UFMG, Nikão Duarte, professor de jornalismo no Rio Grande Sul, João Dal Poz, antropólogo da UFMT, Ivana Bentes, professora da Escola de Comunicação da UFRJ, todo mundo indignado com o fato de se manter numa penitenciária barra pesada um menino que nem foi ainda julgado, enquanto quem rouba dinheiro público – milhões – e enfia nas cuecas, nas meias, nos bolsos e em contas no exterior – está circulando livremente e até se elegendo como parlamentar.

Altino mobilizou também o advogado João Tezza, que na sexta-feira (27), impetrou um habeas-corpus onde, com todo respeito, critica a juíza que trata um réu primário como delinquente, antes de qualquer condenação, sob a justificativa de que ele cometeria outros crimes. Para o advogado, a juíza “imbuiu-se de poderes mediúnicos”:

- Se a previsão do futuro é indispensável ao exercício da profissão de vidente, é vedada, por lei, no exercício da magistratura, enquanto praticada em um Estado Democrático de Direito - escreveu Tezza.

Irineu vai agora responder em liberdade, graças ao habeas-corpus concedido. Seu pai, um antropólogo muito respeitado e querido na comunidade acadêmica e pelos índios em todo o Brasil, pode respirar, enfim, aliviado. Nós também. No entanto, não são apenas dois presos e uma medida. Existem atualmente mais de 3 mil índios presos em todo Brasil. Para libertá-los um Tezza apenas não basta. É preciso um "Tezzão".

O professor José Ribamar Bessa Freire coordena o Programa de Estudos dos Povos Indígenas (UERJ), pesquisa no Programa de Pós-Graduação em Memória Social (UNIRIO). Escreve no Taqui pra ti.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

FALTA BOCEPREVIR NO ACRE

Secretaria de Saúde mente para o Tribunal de Justiça

Mais uma situação dramática envolvendo os pacientes portadores de hepatite no Acre que necessitam ser tratados com o inibidor de protease Victrelis (Boceprevir).

No dia 19 de dezembro, um paciente de 48 anos, portador de hepatite crônica pelo genótipo 1 do vírus C da hepatite, pós-transplantado, com replicação viral (RNA positivo), impetrou mandado de segurança no Tribunal de Justiça do Acre, após ter sido informado pela Secretaria de Saúde que não existe o Boceprevir.

Leia mais:


Como a Secretaria de Saúde se limita a informar verbalmente que não dispõe do Boceprevir, o paciente não apresentou à Justiça nenhum documento comprovando que a Secretaria Estadual de Saúde não fornece o medicamento.

Ao apreciar o mandado de segurança, o desembargador Francisco Praça decidiu notificar a Secretária de Saúde, que teve dez dias para oferecer informações que entendesse necessárias.

Pois bem, a Secretaria de Saúde mentiu para o Tribunal de Justiça do Acre. E levou o desembargador Francisco Praça a proferir o despacho a seguir:

- A teor das Informações prestadas pela autoridade apontada coatora, fls. 51/52, informando que a medicação solicitada encontra-se à disposição da parte interessada, sendo atendida espontaneamente a pretensão, intime-se o Impetrante, por intermédio de seu Procurador constituído nos autos, para manifestar-se quanto ao cumprimento ou não do pleito.

O paciente transplantado esteve na manhã desta sexta-feira (19) na Secretaria de Saúde e foi informado pelo setor jurídico que não existe Broceprevir. Kátia, uma mulher que o atendeu, se recusou a assinar documento informando que o Boceprevir não está disponível.

Consultada pelo blog, a secretária Suely Melo confirmou que não existe Boceprevir no Acre.

- É muito estranho que tenhamos informado que temos o medicamento - comentou a secretária.

A pedido dela, enviei a movimentação do processo, que está disponível no site do Tribunal de Justiça do Acre.

Ao deixar a Secretaria de Saúde, o pós-transplantado se dirigiu ao Centro de Referência para o Programa de Medicamentos Excepcionais do Acre (Creme), onde certamente não obterá a prova de que a Secretaria de Saúde não dispõe de Boceprevir e presta informação mentirosa à Justiça.

Isso vai ficar impune, doutor Praça? O que o médico Tião Viana, governador do Acre, pode fazer para humanizar realmente a sua gestão?

Atualização às 11h45

O paciente obteve documento em que o Creme declara que o Boceprevir não está contemplado nos protocolos do Ministério da Saúde nem no elenco estadual de medicamentos, não havendo em estoque para efetuar a dispensação. É uma versão bem diferente da que consta nos autos do processo que tramita no Tribunal de Justiça do Acre.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

JORGE VIANA CONECTADO AO ACRE REAL

A máquina de propaganda do PT apresenta o Acre como oásis da prosperidade econômica, social e política, mas a Gol deixou de realizar vôos para o Estado.

Para ir ou sair do Acre, a opção é a TAM. A companhia chega a cobrar, por exemplo, mais de R$ 6 mil no trecho Rio Branco-São Paulo.

O senador Jorge Viana (PT-AC), que sempre apresenta o Acre como paraíso, vivenciou, segundo ele, uma "situação absurda" há dois dias.

Ao tentar comprar bilhete no trecho Brasília-Rio Branco-Brasília, Viana recebeu da TAM a alternativa de um bilhete no valor de R$ R$ 6,7 mil.

Jorge Viana enviou uma carta ao presidente da Gol em que pede informações sobre as razões que levaram a empresa a se retirar do Acre.

Noutra carta, enviada ao presidente da TAM, Viana questiona os preços das passagens nos voos da empresa para o Acre.

Viana assinala que o fim dos voos da Gol causa prejuízos à população do Acre, onde o transporte aéreo é serviço de primeira necessidade.

O senador se colocou à disposição da direção da Gol para agendar reunião dedicada à discussão do fim dos voos para o Acre.

Viana promete adotar as medidas necessárias para que a situação seja mudada.

Não dá para esquecer que o senador andou mais preocupado no ano passado em manobrar contra a retomada do antigo fuso horário do Acre.

Quando o projeto foi aprovado no Senado, Jorge Viana soltou a seguinte pérola:

- Excluíram o Acre do sistema online em que o mundo vive.

A omissão da Gol e a ganância da TAM são didáticas. Servem para conectar o senador ao Acre real, distante da propaganda.

JÚLIO BARBOSA CONDENADO OUTRA VEZ

Ex-prefeito do PT terá que devolver R$ 484,4 mil aos cofres públicos


O ex-prefeito petista Júlio Barbosa de Aquino, de Xapuri (AC), foi condenado pelo Tribunal de Contas do Estado do Acre (TCE-AC) a devolver aos cofres do Tesouro Municipal R$ 484,4 mil.

Júlio Barbosa, como é mais conhecido dentro e fora do país, nos salões da política e do socioambientalismo, é secretário Nacional de Meio Ambiente do PT, sendo apresentado frequentemente como um dos sucessores de Chico Mendes na defesa das florestas da Amazônia.

Segundo acórdão do TCE, publicado na edição Diário Oficial do Acre desta quinta-feira (2), o valor a ser devolvido com correção e acrescido de juros legais se refere a não comprovação de saldo e a despesas sem finalidade pública, no valor de R$ 353,06.

O ex-prefeito petista, que administrou Xapuri entre 1997 e 2004, também foi multado em 10% sobre o valor a ser devolvido.

Leia mais no Blog da Amazônia.

FALA BRASIL

Onze governadores respondem a processo de cassação no Tribunal Superior Eleitoal; situação de Tião Viana é grave


Todos são acusados de crimes eleitorais. O caso do governador Tião Viana, do Acre, é um dos mais graves. As denúncias atingem a cúpula do governo do Acre. Tião Viana e o vice-governador do Acre podem perder os mandatos nos próximos meses, afirma reportagem da TV Record. Eles são acusados de terem praticado vários crimes na última campanha eleitoral de 2010.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

"SOU PRÉ-CANDIDATÍSSIMA"


A deputada Perpétua Almeida (PCdoB-AC) usou o Twitter para anunciar que está "fortalecida e energizada" após dez dias de retiro durante o recesso parlamentar.

- E vamos que vamos. Com muito trabalho à frente, eu escolho lutar. Disposta e determinada a enfrentar desafios, mesmo que eles me tragam conflitos - disse.

A deputada respondeu a duas perguntas do blog:

Vai desistir ou já desistiu da pré-candidatura a prefeita de Rio Branco pela Frente Popular do Acre?

- Vixe. O TRE me tirou? Que parte dessa história eu perdi? Sou pré-candidatíssima.

Será que o PT jogou o Marcus Alexandre Médici na fogueira pra sair de vítima, em julho, com outro candidato?

- Eu não posso falar por eles. Só pelo que o PCdoB decidiu. E decidiu que sou pré-candidata. E eu voltei empolgadíssima.

PT e o PCdoB disputam no âmbito da Frente Popular do Acre o direito de indicar o próximo candidato da coligação a prefeito de Rio Branco.

MARCUS ALEXANDRE MÉDICI

PT teme "mandioca" dos adversários em disputa eleitoral


O PT decidiu na noite desta quarta-feira (31) pela pré-candidatura do paulista Marcus Alexandre Médici, diretor-presidente do Departamento de Estradas e Rodagens do Acre, a prefeito de Rio Branco.

O Teatro Plácido de Castro estava lotado de ocupantes de cargos comissionados e funções gratificadas no governo estadual. Marcus Médici, que está há 12 anos no Acre, foi aclamado como pré-candidato a partir da benção do governador Tião Viana.

Saudado pelo governador como "papa" dos petistas acreanos, o ex-deputado Nilson Mourão, secretário de Justiça e Direitos Humanos do Acre, disse que a campanha do PT, em relação aos adversários, será baseada no "bateu, levou" .

- Se fizermos corpo mole, nossos adversários vão enfiar a mandioca na gente - advertiu Mourão, causando risos e aplausos da platéia.

Sem mencionar os nomes dos pré-candidatos Fernando Melo (PMDB) e Tião Bocalom (PSDB), favorito nas pesquisas, o "papa" do PT acreano incorreu em ato falho.

No município de Acrelândia, onde o tucano Bocalom começou a carreira política, agricultores cultivam mandioca com mais de um metro de comprimento, cuja produção costuma ser exibida anualmente no Parque de Exposição Agropecuária.

Além disso, o ex-deputado petista Fernando Melo marcou seu mandato, com apoio do ex-senador Tião Viana, defendendo um projeto de implantação de uma usina para a produção de etanol a partir do cultivo de mandioca.

- Quando você olha para nossos adversários, vê saqueadores do dinheiro público, pessoas dispostas a usurpar o dinheiro destinado para a área social, deixando o povo na miséria - disse Viana.

O sobronome Médici é bem adequado aos tempos que vivemos no Acre, onde os irmãos Jorge e Tião Viana, oriundos dos extintos Arena e PDS, controlam o PT.

No Acre, campanha eleitoral não tem fim. Resta esperar para saber quem vai merecer a macaxeira após a contagem do último voto.