quarta-feira, 18 de junho de 2008

MENTIRAS DA HORA

Evandro Ferreira

Campanha de "esclarecimento" da lei que mudou o fuso horário do Acre afirma que a mudança é um ideal da revolução acreana (?!?!). É uma mentira histórica propagada com uso de recursos públicos. Onde anda o Ministério Público do Estado do Acre para coibir este abuso?

Todos já notaram que a campanha de publicidade relativa à implantação do novo fuso horário está em pleno andamento. Ela começou timidamente e de forma incompetente, no rádio, faz algumas semanas. Inicialmente, haviam informado o dia errado em que o novo horário entraria em vigor. Depois passaram uma semana mandando todos "desconsiderar' a mensagem anterior. Parecia até piada.

E a última versão da campanha, que está sendo transmitida nas rádios locais, contém uma informação no mínimo suspeita: ela recomenda a todos continuar a acordar no horário habitual.

A agência responsável pela peça publicitária está confundindo os ouvintes, que imaginam que o novo horário não irá mudar em nada as suas vidas. Muitos pensam, erroneamente, que com o novo horário irão economizar uma hora na parte da manhã e que, por isso, poderão dormir um pouco mais etc. Ledo engano: todos terão que acordar uma hora mais cedo sob pena de chegar atrasado nos compromissos matinais.

A maior parte da população ainda não se deu conta que o projeto de Tião Viana, sem pedir permissão, usurpou "para sempre" uma hora da vida de cada um dos acreanos.

E por que a peça publicitária está pregando este tipo de "peça" nos ouvintes? O que mais posso pensar que não uma tentativa de livrar a cara do autor do projeto, que fará os acreanos "acordar no escuro"?

E os responsáveis pela campanha publicitária não se limitam a isso. Quem já viu o outdoor da campanha (leiam aqui post do Blog do Altino) observa que eles tascam uma imagem do sol na peça publicitária. Deveriam colocar a imagem da lua, pois os acreanos agora terão de madrugar! Agora vão ter que acordar olhando as estrelas no céu!

Mas o mais grave da mensagem contida no outdoor é o chavão: "Ideal da Revolução Acreana". Que sacrilégio! Que mentira sem tamanho tentar associar a mudança do fuso horário com os ideais da revolução acreana!

E está subscrita pelo nosso governador Binho Marques, o ordenador das despesas do Estado. Tenho certeza que ele não está de acordo com o que está escrito nos outdoors. Tampouco os acreanos autênticos foram tocados em sua acreanidade ao lerem tamanha mentira.

Em primeiro lugar, na época em que os revolucionários lutavam para incorporar o Acre ao Brasil, entre 1899 e 1903, não existia sequer o sistema de fusos horários. Ele só surgiu 10 anos depois!

Naquela época, quem dirigia a vida das pessoas e determinava a hora de acordar, almoçar e dormir era a posição do sol. Ou seja, os revolucionários se acordavam com o raiar do sol (pouco antes das seis da manhã), almoçavam quando o sol estava a pino (por volta do meio dia), e encerravam o dia de trabalho quando o sol se punha (por volta das seis da tarde).

Em segundo lugar, todos sabem que com a mudança promovida pelo senador Tião Viana, o sol passará a surgir no horizonte dos acreanos depois das seis da manhã. E se o dia estiver muito nublado, correremos o risco de ter plena claridade matinal pouco antes das sete da manhã!

E para completar a aberração, nosso final de tarde tropical vai ser uma imitação das tardes nas regiões temperadas do planeta: o sol vai se pôr por volta das sete da noite! A mudança do fuso horário acreano é, portanto, um claro atentado contra a natureza e o relógio biológico dos acreanos de pé rachado, ou seja, aqueles que nasceram e se criaram na terra de Galvez.

Mas, além de ferir as leis da natureza que imperam na região tropical onde o Acre está inserido, a mudança da hora, feita por decreto, modifica não apenas o ideal da revolução acreana, mas o dos autonomistas, que sempre lutaram por um Acre Estado autônomo e dono de seu próprio destino. Um Acre onde os próprios acreanos poderiam decidir com liberdade e democracia "as questões acreanas". Sem depender, como ocorria quando ainda éramos Território Federal, das decisões unilaterais tomadas nos gabinetes de Brasília.

Ao se render a interesses empresariais e colocar a vaidade pessoal à frente do interesse público e da democracia, o senador Tião Viana dá uma demonstração de desprezo à pluralidade de opiniões e aos verdadeiros ideais revolucionários e autonomistas acreanos.

Nessa questão de fuso horário, regredimos por um instante aos tempos de Território Federal, pois o povo não teve "autonomia" para dizer se era a favor ou contra a mudança do fuso horário.

E como desgraça pouca é bobagem, ainda temos que assistir a esta campanha publicitária eivada de equívocos históricos. Mas o pior mesmo é saber que ela está sendo paga com recursos públicos. Onde anda o Ministério Público do Estado do Acre?

O acreano Evandro Ferreira é pesquisador do Inpa e do Parque Zoobotânico da Universidade Federal do Acre. Tem mestrado em Botânica no Lehman College, de New York, e Ph.D. em Botânica Sistemática pela City University of New York e The New York Botanical Garden. Escreve no blog Ambiente Acreano.

terça-feira, 17 de junho de 2008

O DEFUNTO DA VEZ

Petistas, padres, freiras, beatas, sindicalistas, oportunistas, o escambau, esqueceram durante 20 anos do trabalhador rural Ivair Higino, assassinado em Xapuri, assim como esqueceram do sindicalista Wilson Pinheiro, outro que os fazendeiros eliminaram em Brasiléia, antes de Higino e de Chico Mendes.

Agora que os supostos assassinos de Higino foram absolvidos pelo júri popular, todo mundo se ajoelha convenientemente. Nesta quarta-feira, às 19 horas, na Catedral Nossa Senhora de Nazaré, será celebrada uma missa, organizada pela Comissão Pastoral da Terra, em sufrágio da alma esquecida do trabalhador.

Oportunismo barato, nada mais. É a mesma gente que, no Acre, cala diante do plantio da cana-de-açúcar sem respeito às leis ambientais, da prospecção de petróleo, da mudança de fuso horário, do avanço da pecuária nas reservas e projetos de assentamento extrativista, da exploração ilegal de madeira, da ameaça aos índios isolados...

Estou pensando em psicografar uma entrevista com Ivair Higino para mostrar o que ele pensa a respeito do Acre e da omissão dos "cumpanhero". Ou, quem sabe, mostrar a situação do lote onde o colono viveu.

Deveriam ler com lupa a entrevista do desembargador Adair Longuini. Clique aqui.

ADAIR LONGUINI 20 ANOS DEPOIS

"PF ajudou assassino de Chico Mendes"


O caso Chico Mendes marcou para sempre a carreira do magistrado Adair José Longuini, 55, que presidiu, em dezembro de 1990, o julgamento que condenou a 19 anos de prisão o fazendeiro Darly Alves da Silva e o filho dele, Darci Alves Pereira, como mandante e assassino do líder sindical e ecologista de Xapuri (AC).

Longuini trocou o Paraná pelo Acre tendo como sonhos a compra de terras e a carreira como advogado de banco. Seis anos depois, sem a menor experiência, teve que instruir o primeiro processo criminal de sua carreira como juiz, sob a vigilância da imprensa nacional e internacional interessada naquele crime que completará 20 anos no dia 22 de dezembro.

- Magistrado novo, há seis meses na carreira, sem prática advocatícia na área criminal, diante de um processo daquele, no início, em seguida a ação penal. Tive que me desdobrar, estudar mais para fazer o melhor - relembra Longuini em entrevista exclusiva a Terra Magazine.

O juiz dedicou-se tanto que virou professor de direito penal na Universidade Federal do Acre, onde o que ganha, segundo ele, não é suficiente sequer para pagar a gasolina do carro. Casado com a juíza Regina Longuini, pai de três filhos, foi eleito pelo critério de merecimento e tomou posse, em dezembro do ano passado, no cargo de desembargador do Tribunal de Justiça do Acre.

A carreira do desembargador chama a atenção pela firmeza em seguir uma linha de coerência. Além disso, Longuini realizou o velho sonho: é proprietário de duas fazendas, que somam aproximadamente mil hectares, onde cria um rebanho bovino com 1.100 cabeças.

- A área que tenho é pequena para o padrão que impera na Amazônia, tanto que estou estacionado nessas 1.100 cabeças há oito anos. Para possuir um rebanho maior, teria que investir em tecnologia ou partir para a devastação de novas áreas - pondera.

Após 20 anos, o magistrado que presidiu o tribunal do júri de Xapuri dá a entender que Chico Mendes poderia estar vivo caso a Polícia Federal no Acre não tivesse aconselhado Darly a fugir quando o seringueiro apresentou uma carta precatória, expedida pelo juiz de Umuarama, solicitando a prisão do fazendeiro por crimes cometidos no Paraná.

Longuini não poupa a conduta de dom Moacir Grechi, ex-bispo do Acre, nem do delegado Mauro Spósito, ex-superintendente da PF no Acre, que chegou a ser acusado pelo próprio Chico Mendes, um mês antes do crime, de envolvimento no complô que planejava assassiná-lo.

- De qualquer forma decidi cumprir a precatória. Chamei o escrivão e falei: "Olha, não divulgue para ninguém: temos a carta precatória e vamos fazer a prisão de Darly. Você vai fazer o mandado dentro do meu gabinete e vamos chamar a Polícia Militar, que vai sair em campo para fazer a prisão". E assim fizemos, na surdina. Na hora que os policiais saíram já não encontraram mais o Darly. Ele já havia fugido. Pude concluir posteriormente que a própria Polícia Federal foi quem avisou Darly para que empreendesse fuga para não ser preso. Isso me deixou muito aborrecido. Fiz denúncia ao então diretor da Polícia Federal, Romeu Tuma, para quem enviei um extenso telegrama pedindo que o caso fosse apurado - afirma Longuini.

Leia a entrevista em Terra Magazine.

MARINA ESTRÉIA EM TERRA MAGAZINE

Marina Silva
De Brasília (DF)

É muito especial para mim estrear no território dos internautas, por meio de Terra Magazine, a quem agradeço pela oportunidade. Espero dedicá-la a um bom diálogo com as críticas e idéias de todos vocês. Também é especial por acontecer num momento novo, no Brasil e no mundo, que exige conhecimento, sensibilidade e intuição para identificar, na massa impressionante de informações que nos chega, a profundidade dos fatos e processos, a conexão entre passado e futuro, enfim, o nosso espaço de escolhas reais, sejam individuais ou coletivas.


Veja também:
Senadora Marina Silva estréia em Terra Magazine

Faz parte desse espaço uma interpelação ética da qual não podem fugir nem os países desenvolvidos nem os em desenvolvimento, entre eles o Brasil. A Amazônia, com sua incomparável floresta tropical, sua biodiversidade e sua diversidade social, talvez seja o maior símbolo dessa interpelação. Para os países desenvolvidos, a pergunta que se faz é sobre seu passado. Destruíram sua biodiversidade, arrasaram os povos originários dos lugares conquistados e provocaram, a partir da revolução industrial, alterações ambientais tão extensas que levaram à atual crise ambiental global, em cujo centro estão as mudanças climáticas.

Embora pareça paradoxal, nossa situação é bem melhor porque somos questionados sobre o futuro. Quando somos perguntados sobre o passado, estamos diante do quase irremediável. Sobre o futuro, temos a chance de projetá-lo. Isso implica dizer o que vamos fazer com nossa biodiversidade, porque temos 20% das espécies vivas do planeta; com nossos recursos hídricos, porque temos 11% da água doce disponível, 80% dos quais na Amazônia; com a maior floresta tropical e com a maior diversidade cultural do mundo. O Brasil ainda tem cerca de 220 povos indígenas que falam mais de 200 línguas.

Clique em Raposa Serra do Sol: um lugar de direito para ler o artigo completo na Terra Magazine.

segunda-feira, 16 de junho de 2008

A HORA DOS CARAS-DE-PAU


Que o pessoal da Companhia de Selva -a agência de propaganda que gerencia a grana das contas do governo do Acre e da prefeitura de Rio Branco- entende mais de ganhar dinheiro do que de história do Acre, todo mundo já sabia.

O que surpreende é o senador Tião Viana (PT) e o governador Binho Marques (PT) associarem a reputação de ambos a uma mentira tão deslavada - esta segundo a qual a mudança de fuso horário integra o Acre ao Brasil e, o que é pior, ao induzirem subrepticiamente que a mudança é um ideal da Revolução Acreana.

Quanta cara-de-pau em defesa da hora mais errada.

"COBAIAS HUMANAS"

Justiça extingue processo que denunciava
as pesquisas sobre malária no Acre


O juiz federal Jair Araújo Facundes indeferiu a petição inicial e julgou extinto o processo movido pela Associação Brasileira de Apoio e Proteção aos Sujeitos da Pesquisa Clínica (Abraspec), que acusava a União e o Governo do Acre de usar pessoas como cobaias em estudos sobre a malária no Estado.

O governo estadual e a União foram intimados a prestar esclarecimentos à Justiça Federal no Acre. Segundo Facundes, "é razoável afirmar que a captura por atração humana de anofelinos não ofende à dignidade da pessoa humana, não é degradante nem cruel no âmbito das normas que lhe é aplicável".

Segundo a denúncia, pelo menos seis agentes de endemias contratados pela Secretaria de Saúde teriam sido obrigados a levar, entre 2003 e 2007, no mínimo 300 picadas por dia para que fosse identificado o tipo de mosquito predominante em Cruzeiro do Sul, no extremo-oeste do país, onde existe uma epidemia de malária. Por causa da denúncia, a Abraspec entrou com ação na Justiça contra a União e o governo do Acre por considerar que houve uso de cobaias humanas em estudos sobre a malária no Estado.

No entanto, antes da ação na Justiça, no dia 20 de maio, o secretário de Saúde Osvaldo de Sousa Leal Junior, negou o uso de cobaias humanas. Ele afirmou numa nota técnica que "a captura de mosquitos transmissores é um procedimento epidemiológico e entomológico de rotina, mundialmente adotado para o controle de vetores".

O ministério da Saúde também divulgou nota técnica em que trata dos critérios usados pela instituição quanto à captura de mosquitos Anopheles por atração humana. Assinada pelo coordenador-geral do Programa Nacional de Prevenção e Controle da Malária, José Lázaro de Brito Ladislau, a nota negava "os rumores de que o Brasil, particularmente o Estado do Acre, esteja fazendo pesquisa em seres humanos envolvendo esse procedimento".

O juiz argumenta que, para se saber se a prática é desumana, degradante ou cruel, deve-se verificar - uma vez constatada a autonomia de vontade, ou seja, se as pessoas são física e psiquicamente livres para decidir - qual o sentimento da comunidade em face da prática examinada. E segundo ele, deve-se buscar, o mais possível, amostras de todas as opiniões (leigos, cientistas, acadêmicos, juristas, imprensa etc.) para se definir se a conduta é repulsiva.

"No caso dos autos tem-se que a prática da captura de mosquitos por atração humana é exercida pessoalmente por grandes e reconhecidos pesquisadores (homens e mulheres) no mundo inteiro, além de executada, também, por agentes públicos de endemia. Assentou-se também que a técnica da captura por atração humana é do (re)conhecimento público, admitida pela opinião pública como motivo de admiração e mostra de dedicação à causa da humanidade" - afirma a sentença.

Segundo Facundes, o procedimento é necessário, tem inegável reconhecimento científico por organizações insuspeitas (OMS), a opinião pública mundial tem acesso a reportagens que tratam do assunto, reconhecendo sua necessidade e até certo desprendimento de quem o realiza. Além disso, diz, os riscos de contaminação e acidentes são análogos aos de outras capturas e profissões, e é realizado também por cientistas e pesquisadores pessoal e diretamente.

O juiz responde ao questionamento da Abraspec que, por hipótese, a técnica de captura com atração humana é regular, sob a perspectiva moral, científica e jurídica apenas se observadas as normas de segurança e os protocolos internacionais, acima descritos e indicados:

"Ou seja, abstratamente, em tese, a técnica da captura do mosquito é legal, porém concretamente poderia ser ilegal por desobediência às regras previstas em protocolos internacionais, ao exigir que seus agentes fiquem nus ou sem equipamento de proteção, ou por turnos exageradamente longos, ou por não terem sido prévia e corretamente treinados ou advertidos dos riscos".

No final da sentença, Facundes destaca que o Ministério Público Federal instaurou procedimento para apurar os fatos e poderá colher elementos de prova, pareceres que demonstrem a (ir)regularidade ou ilegalidade de dada técnica de captura, ouvir pesquisadores, testemunhas, requisitar documentos, vídeos, fotografias, diligenciar e indicar que normas de seguranças eventualmente estão sendo descumpridas, enfim, "instruir eventual ação de modo a torná-la viável".


Da Terra Magazine.

O juiz Jair Facundes acrescentou a seguinte nota de rodapé à sentença: "É emblemático do tom açodado, espetacular e midiático dado a esta ação a seguinte circunstância: foi proposta por e-mail, serviço que permite a propositura de ação por peticionamento eletrônico, e autuada dia 30 de maio, sexta-feira, quando vieram os autos para despacho. Nesta mesma data, 30.5.08, antes mesmo dos originais chegarem (condição de validade da propositura), antes mesmo de folhear os autos, atendi a telefonema de jornalista do portal Agência Amazonas, perguntando-me se já havia decisão".

domingo, 15 de junho de 2008

ME VOY

Maria Emília Coelho mostra em vídeo um pouco dos impactos socioambientais causados pela Estrada Interoceânica no lado peruano.

FOLHA DA JIBÓIA

sábado, 14 de junho de 2008

"CAMINHO DAS ÍNDIAS"

A novelista Glória Perez avisa


- Faz tempo que não te mando notícias. Aí vai uma, e boa: a Brendha Haddad está no elenco de "Caminho das Índias". Será uma indiana. Beijos.

Clique aqui para saber mais sobre a atriz Brendha Haddad. Ou saiba mais sobre "Caminhos das Índias" no blog da Glória Perez.

"Querido Altino,

Você, como sempre, divulgando tudo em primeira mão. Por causa do blog - que, por sinal, está na minha lista de favoritos, pois eu adoro e acompanho - já recebi diversos telefonemas e mensagens de incentivo de amigos e fãs.

Ainda não sei nada sobre a personagem, mas fazer parte de mais um trabalho de Glória me deixa radiante de felicidade. Será, como em "Amazônia", um trabalho com muito amor e dedicação.

Obrigada pelo carinho e atenção nesse meu novo caminho - "caminhos da índia". Rs.

Estou muito, muito, muito feliz por mais uma conquista. Serei eternamente grata por tudo. Um grande beijo.

Brendha Haddad"

sexta-feira, 13 de junho de 2008

A HORA DE GREENWICH E DO ACRE

Maria Craveiro de Albuquerque


A hora de Greenwich, adotada na Grã-Bretanha em 1848, chegou aos Estados Unidos em 1873, ao Japão em 1888 e ao Brasil em 1913. No Acre ficaremos a partir do dia 23 de junho, por força de lei e sem consulta popular, com uma hora a menos que Brasília. O debate promovido por este blog a respeito da mudança de fuso horário para o Acre tem nos mostrado diferentes visões. Mas vale ressaltar que certas formas de ver o tempo –como a idéia de que é aceitável uma pessoa que tenha mais poder deixar esperando alguém com menos status– ignoram diferenças culturais e parecem ser universais.

Sendo assim, venho colaborar com o debate apontando estudos feitos por autores que analisaram a questão do tempo, a partir da contribuição de diversas áreas, começando por artigo do historiador inglês Peter Burke, que propõe uma leitura da história do tempo a partir do ponto de vista de um historiador cultural ou social examinando os sistemas de tempo de acordo com nossas construções sociais ou culturais.

Burke aponta que para se escrever a história cultural do tempo há pelos menos três grandes pontos (inúmeros outros menores a abordar), como a cronologia, a geografia e a sociologia. O primeiro ponto é sobre uma tendência na história humana, da mudança de um tipo de experiência do tempo que pode ser descrita como “ecológica”, para outra que podemos chamar de “mecânica”.

O antropólogo britânico Edward Evans-Pritchard, estudando o povo Nuer do Sudão, na década de 1930, escreveu sobre seu “relógio do gado”. Para os Nueres, cujas vidas giravam em torno dos animais de que dependia sua sobrevivência, o ciclo de tarefas pastoris era central para a percepção do tempo, em nível de hora, dia, mês ou ano. Esse “tempo orientado por tarefas” já foi universal. No entanto a invenção e a gradual disseminação dos relógios mecânicos permitiram que o tempo fosse dividido em partes iguais, enquanto a iluminação artificial das ruas e casas, primeiro a gás e depois a eletricidade, libertou as atividades humanas da dependência do Sol e da Lua, ou pelo menos substituiu as restrições naturais pelas culturais.

O segundo ponto a tratar é a geografia do tempo. Culturas diferentes têm maneiras muito diferentes de dividir e descrever o tempo. No século 16, quando os europeus estavam invadindo e explorando diversas partes do mundo, descobriram “culturas do tempo” diferentes: chinesa, japonesa, asteca, maia e assim por diante. Os colonizadores não devem ter ficado surpresos com essas descobertas, já que na Europa os católicos, cristãos ortodoxos, judeus e mulçumanos usavam calendários diferentes. Ao longo dos últimos cinco séculos, porém, houve uma tendência para o estabelecimento de um sistema de tempo global, pelo menos em nível oficial.

O terceiro ponto refere-se a uma sociologia do tempo. Em um país após o outro, os europeus incentivaram, quando não obrigaram, os habitantes locais a pensar em termos do tempo do relógio ocidental, considerado bom para a disciplina do trabalho, e na divisão dos “séculos” em antes ou depois de Cristo. O estabelecimento de uma rede de carruagens públicas na Europa do século 18 dependia de um “horário”, um sistema de organização que mais tarde se estendeu às viagens por trem e avião. Assim como, o “tempo industrial”, serviu não apenas como extensão do tempo do mercador às fábricas, primeiramente na Inglaterra e depois em todo o mundo, mas também à padronização do tempo seguindo o surgimento de novas formas de transporte. Hoje, nosso “tempo livre”, “feriados” e lazer, assim como nossas horas de trabalho são governados pelo relógio e pelo horário.

Mesmo na Europa o tempo não era homogêneo, como já nos foi dito pelo historiador francês Jacques le Goff, que escreveu sobre um conflito entre duas culturas do tempo na Europa medieval. De um lado, o “tempo da igreja” (concebido por teólogos e filósofos cristãos), consistia em revesti-lo de qualificações espirituais, tornando-o a sucessão linear desencadeada no ato da Criação que, tendo a eternidade por pano de fundo, transcorre irreversivelmente para o fim dos tempos. Nesse sentido o tempo da igreja é entendido pelos clérigos medievais como sinônimo de tempo histórico. De outro lado, o “tempo dos mercadores”, mensurável, mecanizável, e sobre o qual agem a inteligência, a habilidade, a experiência e a manha do mercador (Le Goff, 1995, p. 54).

No artigo, o autor citado aborda os sentidos atribuídos pelos seres humanos ao tempo como um produto sócio-cultural variável no interior de uma mesma sociedade e de um mesmo período. Um tempo sagrado versus um tempo profano, daí o conflito. Le Goff (na obra citada, pp. 53-59) analisando os possíveis encontros destes dois tempos, considera que coube à própria igreja permitir ao mercador unificar seu tempo de trabalho ao da vida religiosa cristã.

Outros tempos


Numa civilização pode coexistir tantos “tempos” quanto existam diferentes segmentos sociais. Esta pluralidade de representações é possível por que a imagem do tempo é entrelaça a uma série de fatores historicamente construídos, tais como as heranças culturais preservadas, o escalonamento da hierarquia social, as divisões sócio-profissionais, o controle sobre parcelas do poder ideológico.

Mas, certamente é necessário pensar em termos ampliados, pois, o tempo: (...) não é um fenômeno cultural de limites precisos, de alcance facilmente mensurável, tampouco um bem simbólico puro ou monolítico: revestido com a tinta invisível dos aspectos culturais que animam a vida cotidiana, o tempo se esconde numa série de domínios da existência humana onde não se manifesta explicitamente (RUST, L. D. Disponível em: Tempo e cultura clerical na Idade Média Central).

Rust entende ainda que a imagem do tempo não é algo natural aos seres humanos, mas uma elaboração multifacetada, polissêmica, densa e variável ao longo da história . Ela não se encontra apenas nos relógios e calendários, mas infiltra-se nas leis e organizações políticas, nos códigos éticos e morais, nas formas de sociabilidade, nos sistemas filosóficos e religiosos, nos tratamentos dispensados ao corpo e ao espaço e até no emprego da violência . “São estas maneiras de ‘fazer a história’ que ‘marcam’ ou ‘selam’ o tempo ”. Uma temporalidade é um dispositivo essencial da relação do ser humano com o mundo, permitindo-lhe dotar-se de uma identidade e orientar suas ações Uma representação do tempo é a janela que oferece uma das visões mais abrangentes sobre um universo cultural.

Para Hust, Le Goff assume o risco de “destruir a inocência do tempo”, por entender que o tempo não é um elemento objetivo e invariável ao longo das sociedades; mas um produto de interações sociais, de heranças e dinâmicas culturais, de intervenções ideológicas... Uma representação do tempo é uma modalidade de interação humana.

Em suma, a questão do tempo deve ser situada num quadro maior de contrastes e convergências, pois, mesmo que essas mudanças de atitude em relação ao tempo possam parecer extremamente recentes e até relativamente sem importância, elas trazem mudanças significativas e profundas para todos que serão por ela afetados.

Maria Craveiro de Albuquerque é professora do Curso de Educação Física da Ufac. Possui mestrado (UFRJ) e doutorado (UFSCar) em Educação. E não é a favor da mudança de fuso horário para o Acre, mesmo não tendo sido consultada.

PALHA

quinta-feira, 12 de junho de 2008

REALISMO FANTÁSTICO

"Acre terá o mesmo amanhecer de Brasília"

Ninguém consegue levar mesmo a sério a trapalhada do presidente Lula e do senador Tião Viana ao decidirem que, a partir do dia 23 de junho, seja reduzida em uma hora a diferença do fuso horário do Acre em relação a Brasília.


Ambos providenciaram a mudança para atender as emissoras de TV, especialmente a Rede Globo, que tem sido obrigada a respeitar a Portaria 1.220/2007 do Ministério da Justiça, a classificação indicativa da programação.

A trapalhada é federal porque, por exemplo, para evitar que as crianças tenham que levantar-se no escuro, as escolas do Acre terão que mudar seus horários.

E assim faremos, em todos os ambientes sociais, para atender à vaidade do senador, que chegou a retirar a proposta dele mesmo de consulta à população no caso dessa mudança tão drástica.

- Ora, se é pra mudar o horário da aula, por que não deixar o relógio como estava? - questiona o cronista Antonio Alves.

Para atender à Rede Globo, Toinho, e, em troca, aparecer ao vivo toda as semanas nos telejornais da afiliada Rede Amazônica.

Leia aqui o contorcionismo de dois assessores do senador, que assinam "reportagem" no Página 20 como se fossem da equipe do jornal. Entre outras maravilhas, anunciam no título que "o Acre terá o mesmo amanhecer de Brasília".

Excesso de empoderamento dá nisso.

quarta-feira, 11 de junho de 2008

CRIANÇAS DA AMAZÔNIA


Está pronto para ser lançado no Mill Valley Film Festival, nos Estados Unidos, o documentário "Crianças da Amazônia", da diretora e produtora paulista Denise Zmekhol, que mora na Califórnia, mas desembarca no Brasil nesta quarta-feira, 11, para dar continuidade à aventura de filmar com a etnia Suruí, em Rondonia.

"Crianças da Amazônia" é a história da maior floresta da Terra e das plantas, animais e povos indígenas que ela abriga. Durante milhares de anos, as pessoas de fora sabiam muito pouco sobre o funcionamento da floresta, até que uma grande estrada foi construída em seu coração.

Veja também:
Fotos e bastidores de "Crianças da Amazônia"
Cenas do documentário

Junto com a estrada vieram madeireiros, fazendeiros, garimpeiros, agricultores, varíola, cachorros, metralhadoras, cercas, napalm, gado, incêndios, ervas, resfriados, promessas falsas, câmeras de televisão, políticos, eletricidade, microondas, ambição...

- Essa é a história do que aconteceu com os povos da floresta, quando uma estrada lhe apresentou o mundo esfomeado. Eu fui uma das estranhas que entrou na Amazônia, viajando para o Norte ao longo da Transamazônica e da BR-364, que liga os estados de Mato Grosso, Rondônia e Acre com o resto do país. O ano era 1987. Eu estava trabalhando em um documentário de televisão internacional, um dos vários que me levariam da minha casa em São Paulo para a Amazônia nos três anos que se seguiram - afirma Denise Zmekhol em entrevista exclusiva a Terra Magazine.

Denise Zmekhol fotografou muitas comunidades tribais, famílias de seringueiros que moravam lado a lado com povos indígenas. E entre os seringueiros, estava o líder sindical e ecologista Chico Mendes, que foi entrevistado e fotografado um mês antes de seu assassinato, em 22 dezembro de 1988.

Naquele ano, índios e seringueiros estavam sendo pressionados por todos os lados por criadores de gado, cafeicultores, madeireiros, garimpeiros e agentes do governo, e, destemperadamente, tentavam manter seu estilo de vida tradicional, adaptando-se às novas demandas das pessoas de fora.

- Suas vidas estavam mudando rapidamente. Assim, para mim era um alívio desligar a câmara e capturar os aspectos atemporias de suas vidas diárias em fotografias: pescando, cozinhando, celebrando cerimônias, canções, extraindo látex, caçando e tomando banho de rio. Nos anos desde que fui à Amazônia pela primeira vez, essas imagens claramente me lembravam do que os povos da floresta pediam: apenas a terra para viver.

Desde que deixou a Amazônia, as fotos que tirou das crianças da floresta sempre a atraíram. Olhava para elas brincando com os macacos, deitadas na rede, comendo cupuaçu, correndo peladas, os corpos pintados de azul com tinta do pé de jenipapo.

- As crianças pareciam conectadas com a floresta, independentemente do acordo que seus pais tivessem com os madeireiros, ou dos planos arriscados que faziam para assegurar sua proteção e uma existência sustentável na floresta.

Agora as crianças estão crescidas e muitas têm seus próprios filhos, bem como a carga das preocupações de adultos, mas a conexão com a floresta permanece. E é essa conexão que "Crianças da Amazônia" explora. Como ela mudou em 15 anos? O que essas crianças, hoje amadurecidas, têm para contar de sua terra natal. É a história de como somos, todos respirando o mesmo ar, todos passando pelo mesmo legado e destino.

Leia a entrevista com Denise Zmekhol na Terra Magazine.

terça-feira, 10 de junho de 2008

DESMATE DA AMAZÔNIA DENTRO DA LEI


Este aviso tosco está na edição de hoje dos jornais oficiosos e do Diário Oficial do Estado do Acre - a terra de Chico Mendes, Marina Silva, Jorge Viana e tantos outros defensores da floresta. É a maior licença ambiental de exploração florestal (298,29 hectares) e corte raso (191 hectares) dos últimos anos, concedida a um ex-deputado estadual e pecuarista. Leia:

"José Vieira de Farias

Torna público que recebeu do Instituto de Meio Ambiente do Acre - IMAC, a Licença de Operação nº 210/2008, com validade de 01 (um) ano, para atividade de exploração florestal (extração, arraste e armazentamento) de espécies florestais em uma área de 298,29 ha, fazer o corte raso e a queima controlada em 191,00 ha para posterior implantação da atividade pecuária no ano de 2008, localizado à Rua, BR-364, Km 48, Seringal Barcelona, margem direita - Sena/Manoel Urbano, Sena Madureira-AC".

Cleísa Cartaxo, presidente do Imac, disse ao blog que se trata de uma área de conversão à qual o proprietário tem direito, após apresentar Certificado de Cadastro de Imóvel Rural expedido pelo Incra, averbação da reserva legal em 80% e o devido licenciamento ambiental da propriedade.

- Não podemos negar o direito do proprietário. O que costumamos fazer quando alguém tem direito a desmatar mais de 100 hecatres, por exemplo, é negociar para que o desmate seja parcelado e não de uma única vez. É uma forma de minimizar o impacto. Essa licença não dá direito a desmatar toda a área a que o proprietário tem direito - afirma Cleísa Cartaxo.

Em tempo: enquanto isso, a exemplo dos demais moradores de Rio Branco, estou proibido de queimar a grama e as folhas que caem das árvores existentes no quintal de minha casa. Um ipê, por exemplo, ameaça desabar sobre ela durante os temporais. Paguei taxa para abrir o processo de solicitação de autorização para derrubada do ipê junto à Secretaria Municipal de Meio Ambiente. E agora espero a boa vontade do Corpo de Bombeiros para derrubar o ipê com segurança. José Vieira vai torrar 200 hectares de floresta apenas para plantar capim e enfeitar o pasto com algumas vaquinhas. Queria vê-lo pagar, como paguei, mais de R$ 20 por cada árvore da propriedade. É o fim da picada.

COMITÊ INTERNACIONAL


A antropóloga Beatriz Huertas, do Comitê Internacional para a Proteção dos Povos em Isolamento, percorrerá, a partir desta terça-feira, 10, a região do Rio Juruá, na fronteira Brasil-Peru, em companhia dos índios ashaninka da aldeia Apiwtxa.

- Vamos fazer um relatório sobre a questão e apresentá-lo aos governos do Brasil e do Peru e aos organismos internacionais de defesa dos direitos humanos. Na medida de nossas possibilidades vamos fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para que o problema seja resolvido - disse Beatriz Huertas com exclusividade a Terra Magazine, referindo à situação dos índios isolados da região.

Segundo a antropóloga, há na Amazônia Peruana 14 povos ou segmentos de povos isolados, sendo que a maioria está concentrada na faixa de fronteira com o Brasil. Ela assinala que muitas das concessões florestais outorgadas pelo governo peruano incidem sobre áreas de comunidades indígenas.

- Sabemos que alguns empresários beneficiados por essas concessões estão aproveitando-se da formalidade da concessão para retirar madeira ilegalmente. Isto é altamente irregular e perigoso e vem sendo denunciado há muito tempo, porém parece não existir um sistema adequado do Instituto Nacional de Recursos Naturais para frear - afirma.

A antropóloga e membros Federação Nativa do Rio Madre de Dios e Afluentes (Fenamad) já sofrereram ameaças de morte durante o processo de criação de uma reserva territorial para povos indígenas isolados da região.

Leia a entrevista na Terra Magazine.

segunda-feira, 9 de junho de 2008

TOINHO ALVES À ESPERA DO TSUNAMI

Michelle Portela

O jornalista Toinho Alves espera ser salvo por um tsunami. Quem sabe, pelo aquecimento global. Salvo da governança, que "não somente está em crise, como é a crise", ele usa o setor da comunicação pública do Estado e a imprensa local para exemplificar a teoria da crise.

Para os governos atuais, a imprensa não é tratada como uma questão de comunicação, espaço de diálogos entre os diversos setores da sociedade, mas como um problema político, em que o diálogo é cerceado.

Ao manter um sistema falido, uma vez que os jornais de circulação diária não cumprem o dever de informar, mas de divulgar, o governo manteria uma rede de corrupção ativa e passiva.

Os veículos de comunicação, que recebem recursos de publicidade do governo, serviriam de canais de distribuição desses recursos para finalidades privadas.

Toinho Alves, entretanto, não perdeu a fé e ainda demonstra esperança.

Acredita que o Partido Verde (PV) pode ser um opção de voto no Acre, desde que estabeleça novas bases concretas de argumentação, num diálogo possível entre os movimentos sociais e governos. Mas, para ele, a internet é o "grande truque".

Envio parte da entrevista por acreditar que toda ela, apesar de extensa, interessa à sociedade, isto posto, não apenas à acreana. Entretanto, na parte final, Toinho Alves objetiva nas questões que mais incomodam a você e a boa parte de seus leitores.

Clique aqui e boa leitura!

A jornalista Michelle Portela realizou a entrevista com Toinho Alves, da assessoria do governador Binho Marques (PT), em fevereiro, em Rio Branco, durante trabalho de campo no mestrado em Sociedade e Cultura na Amazônia, da Universidade Federal do Amazonas, sob orientação do antropólogo Alfredo Wagner Berno de Almeida. Veja trechos do que pensa Toinho Alves sobre a imprensa do Acre:

"O domínio das empresas se constituiu. De um lado, o império ‘flavianista’ da Gazeta e, do outro, o império ‘narcisista’ do Rio Branco. Tanto TV, quanto rádio e jornal requisitavam cada vez mais profissionais desqualificados que fossem capazes apenas de seguir a ordem do chefe e latir para adversários políticos, feito ‘cachorrinhos de guarda’. Não precisava escrever bem, nem precisa ter idéias próprias, era proibido, bastava apenas escrever o que o chefe mandava, escrever a favor do governo ‘que nós apoiamos’ ou contra o governo ‘que nós combatemos’. Enfim, essa visão puramente politiqueira, comercial da imprensa, predominou e toda uma geração de repórteres e apresentadores, jornalistas, locutores, se formou, trabalhou, atuou dentro disso daí. Acho que, agora, com o advento da internet e das novas mídias que a internet possibilita, está havendo uma mudança nesse cenário, mas essa mudança ainda não é assimilada pelo sistema político. Mas ela vai ser assimilada porque o sistema político tende sempre a sobreviver, ele não vai ficar segurando numa canoa que afunda. Tanto os jornais, como os veículos de comunicação, como fumadores de opinião pública estão falindo. Isso, bem visivelmente aqui no Acre. Eles são extensões de grupos econômicos e políticos, mas eles estão extensões cada vez mais dispendiosas e inúteis".

"Não diria que é simbólica. Ela é também uma forma de canais de realocação de dinheiro, através da publicidade, da compra da opinião dos jornais. Com o dinheiro que o governo gasta com um jornal, ele está sustentando uma porção de gente, o sistema político. E ele estã sustentando uma porção de negócios periféricos: aluguel de carros, a butique da esposa do dono do jornal, a empresa de publicidade, uma série de pequenos negócios que se articula em torno desse dinheiro, que surge através da existência de um jornal".

"As duas principais emissoras de televisão do Estado são sustentadas por empresas que vendem remédios para o Governo. Vamos dizer que a comunicação é moeda de troca no negócio principal, que é a venda de remédios. E agora, é diversificado, agora tem venda de veículos. São um aglomerado de empresas que começaram como vendedores de remédios e depois, diversificaram. Inclusive, o fato de investirem em veículos de comunicação foi o início dessa diversificação para uma variedade maior de empresas. Isso, de um veiculo que, em tese, poderia se sustentar, que é a televisão. Mas, imagina você, aqui em Rio Branco na capital do Acre, nós temos as TVs Rio Branco, Acre, União, Cinco, Aldeia, têm outras aí, pelo menos seis emissoras, todas com programação local. Seis emissoras com programação local. Isso não tem nem nas maiores cidades brasileiras. Isso, sem falar que nós temos os jornais Rio Branco, Gazeta, Tribuna, Página 20. Quatro jornais diários e um semanário do Estado. E várias emissoras de radio, pelo menos uma meia dúzia".

"Agora, o dinheiro do governo, não é “só do poder executivo”. Se você der uma olhada, a Gazeta é um jornal diário que tem quatro ou cinco colunistas sociais. Tem coluna social ‘no balde’. Boa parte dos colunistas tem cargo comissionado, não no governo, mas principalmente no Judiciário, no Ministério Público, no gabinete de juízes, promotores, desembargadores. Mantêm uma coluna no jornal, então, naturalmente, as personalidades mais fotografadas são seus chefes do trabalho estatal".

"Os blogs, sites mal comportados, eles vão no sentido contrário, mas em menor alcance e menor poder. O blog do Altino tem mais alcance do que o jornal a Gazeta, mas ele tem menos poder porque o poder do jornal é unificado pelo sistema de rádio, televisão e político. O político dança no compasso do jornal e não dança no compasso do blog, que é algo que está escapando e o poder político esta trabalhando como inserir no sistema".

"Antes eu tinha vergonha de me apresentar como jornalista, agora pode me chamar até blogueiro que eu não me ofendo".

Clique aqui para ler a íntegra (sem revisão) da entrevista.

AS SANTAS HORAS DO DIA

Antonio Alves

Sou menino da província. Cresci numa cidade pequena, perdida nos confins da floresta amazônica –no dizer de um de seus cronistas, “a capital do fim do mundo”- e aprendi a gostar desse sentimento do ermo, do íntimo, do ignoto, esse tesouro oculto aos olhos do mundo. Vivi os tempos da distância e do sossego, em que o sentido da vida era uma verdade tão simples que estava ao alcance das crianças e o tempo era o eterno presente em que o avô que um dia havia sido neto caminhava de mãos dadas com seu neto que um dia seria avô –e tinham, ambos, o mesmo brilho eterno no olhar.

Havia o inverno, com o rio cheio pelas chuvas intermináveis, e o verão de praias iluminadas sob o infinito céu azul. E um dia com muitas horas: de acordar, de ir pra aula, de brincar, de almoçar, de dormir. Nessas horas infantis, pouco importava o relógio. E se alguma inusitada preocupação me levava a perguntar as horas, meu pai respondia com a velha brincadeira: “faltam dez minutos pra mais tarde”. Se eu insistia, variava: “faltam cinco minutos pra daqui a pouco” e ainda devolvia a pergunta: pra que você quer saber as horas?

Mas elas existiam, as horas, e eram marcadas pelos hábitos da província. Às dez da noite a luz piscava, avisando que a usina iria encerrar suas atividades e o fornecimento de energia elétrica seria interrompido, para retornar às quatro da tarde no dia seguinte, horário que mudou com a inauguração da usina nova e o fornecimento da energia 24 horas por dia. O sino da catedral chamava para a missa. A sineta da escola, que chamávamos de “campa”, anunciava o início da aula. Chegar depois de bater a campa era ter que voltar pra casa e explicar o atraso a uma mãe contrariada. O grito do leiteiro era pontual, às seis da manhã no início da rua, dois minutos em cada casa, onde o velho tocava o chapéu para dar bom dia, tirava o litro cheio da manta sobre o flanco do cavalo e colocava no lugar o litro vazio que um sonolento menino lhe entregava.

Mas ninguém nem nada marcava as horas tão certo quanto a Rádio Difusora, com as vozes infalíveis de seus locutores, o ritmo matinal do forró, as melodias para os aniversariantes logo depois das mensagens para o interior, as canções românticas ao luar. No final da tarde soavam os acordes da solene introdução de “O Guarani” e uma metálica e oficial voz do Brasil anunciava: “em Brasília, dezenove horas”. Era melhor apressar a brincadeira, começar o último tempo do jogo, fechar a caverna e dispersar a tropa, pois às seis horas convinha estar em casa, de banho tomado, pedindo a bênção a papai e mamãe.

Essas tais seis horas eram sagradas, “a hora do anjo”, pois marcavam o momento exato em que o mensageiro de Deus havia revelado à Virgem que ela haveria de ser mãe de um menino que salvaria o mundo. E enquanto o sol lançava seu último clarão no horizonte, o som da “Ave Maria” de Gounod enchia o ar da província e a vida de seus moradores com o mais legítimo frêmito religioso.

Não admira que esse menino, mesmo tendo se tornado um jovem rebelde e cheio de teorias revolucionárias, depois de adulto retornasse ao rebanho cristão do qual, em verdade, jamais saiu. Que buscasse a companhia de uma irmandade que canta “as santas horas do dia” e segue o calendário da lua. Que se orientasse pelas estrelas. Que rezasse, contrito, as velhas rezas entre velas, santos e promessas com que se pede chuva e saúde. Que balbuciasse, na língua do avô português, seu tímido amor e seu desejo de aconchego ao colo da avó índia.

Sim, toda a gente que viveu aquele tempo -em verdade um tempo de Deus na terra- é gente cristã legítima. Gente cheia de pecados, crimes e torpezas, de grandeza mesquinha e soberba miúda, traições e vinganças, avarezas e usuras, segredos guardados entre a alcova e o confessionário, ganância altas e invejas rasteiras, e a indisfarçável e transbordante luxúria nos olhares e nos gestos e toda a herança venérea da civilização e a tuberculose e tudo o mais que se possa lembrar ou imaginar, mas tudo, tudo mesmo, tudo tudo tudo envolto no imenso manto do perdão divino que se alcança na morte e se carrega para dentro da eternidade.

Menos as horas, que estas ficariam eternas sobre a terra, para todas as gerações futuras. O sol nasceria sempre às seis da manhã, com os pássaros. Estaria a pino no meio-dia, pois é no meio da jornada que o homem pisa na cabeça de sua sombra. Descansaria às seis da tarde, para que o ouro do dia cedesse o céu à prata da lua. E da meia-noite não se fala, pois que sua guarda não é segredo, é mistério, e as corujas sabem disso.

As horas seriam, per omnia saecula seculorum, os pontos de encontro entre a mãe natureza, ponderada e sábia, e seus filhos rebelados em lógica e civilização. As marcas rudimentares da enxada no solo, as sementes que os povos dos sertões carregam na capanga de couro para trocar com aquelas que os povos da floresta trazem no bisaco de algodão. A herança que deixaríamos aos meninos, para que crescessem e ensinassem aos seus filhos a pedir a bênção aos mais velhos.

Agora, que o mundo já se acaba e a província morre no olhar de meninos que envelheceram sem sabedoria, agora, que a vida é matéria plástica que se compra e se vende, agora, que os frutos brotam em prateleiras de supermercados e não tem sementes, agora, que novos cristãos enlouquecidos queimam a mãe em nome do pai, agora, que a impunidade torna o perdão desnecessário e ridículo, agora, que as palavras não tem significado e todos os números somam zero, agora já não há mais tempo sobre a terra.

Devo recusar ao mundo as poucas horas que guardei, para com elas, quem sabe, construir outra província, íntima e oculta, onde possam viver apenas os que, como eu, recusam o fim dos tempos. Nela haverá de novo um inverno de chuvas intermináveis e um verão de céu azul. Nela haverá um templo e na parede deste templo, de frente para a entrada, um antigo relógio marcará antigas horas com badaladas que serão as notas de uma música muito, muito antiga.

O cronista Antonio Alves escreve no blog O Espírito da Coisa.

domingo, 8 de junho de 2008

O POEMA DA CASA QUE NÃO EXISTE

Afonso Schmidt


Onde a cidade acaba em chácaras quietas
e a campina se alarga em sulcados caminhos
achei a solidão amiga dos poetas
numa casa que é ninho, entre todos os ninhos.

Térrea, branquinha, com portadas muito largas,
desse azul português das antiquadas vilas
e uma decoração de laranjas amargas
que perfumam da tarde as aragens tranqüilas.

Ergue-se no pendor suave da colina,
escondida por trás dos eucaliptos calmos;
tem jardim, tem pomar, tem horta pequenina,
solar de Liliput que a gente mede aos palmos ...

Neste ponto, a ilusão, a miragem, se some;
olho para você, eu triste, você triste.
Enganei uma boba! O bairro não tem nome,
a estrada não tem sombra, a casa não existe!

sábado, 7 de junho de 2008

O CIPÓ DA ALMA AMAZÔNICA

Moisés Diniz


Ayahuasca é um termo de origem quéchua, que significa “vinho das almas” ou “cipó dos mortos”, designa o chá feito pelo cozimento de duas plantas originárias da floresta amazônica: o cipó jagube ou mariri (Banisteriopsis Caapi) e as folhas da rainha ou chacrona (Psychotria Viridis).

Aya quer dizer “pessoa morta, alma, espírito” e waska significa “corda, cipó ou vinho”. Assim a tradução, para o português, seria algo como “corda dos mortos” ou “vinho dos mortos”.

A ayahuasca serviu como base para o estabelecimento de diferentes tradições espirituais por comunidades indígenas nos países amazônicos desde tempos imemoriais. Os povos indígenas utilizaram a ayahuasca como um elo imaterial com o divino que estava entre as árvores, os lagos silenciosos, os igarapés. É que, para eles, a natureza possuía alma e vontade própria.

Povos indígenas do Brasil, Peru, Bolívia, Colômbia e Equador, há quatro mil anos, utilizam a ayahuasca em seus rituais sagrados, como o padre usa o vinho sacramental na Eucaristia e os indígenas bebem o peyote nas cerimônias sincréticas da Igreja Nativa Americana.

O uso ritualístico da ayahuasca é bem mais antigo que o consumo do saquê ou Ki, bebida sagrada do Xintoísmo, usada a partir de 300 a.C, feito do arroz e fermentado pela saliva feminina, sendo cuspida pelas jovens virgens em tachos.

A mesma prática é realizada pelas índias da Amazônia, quando produzem a caiçuma da mandioca, bebida ritualística indígena fundamental na dança do mariri e no ‘contato’ com os deuses da floresta assombrosa.

As origens do uso da ayahuasca nos países amazônicos remontam à Pré-história. Há evidências arqueológicas através de potes e desenhos que nos levam a afirmar que o uso da ayahuasca ocorra desde 2.000 a.C.

Somente os ‘intelectuais de água salgada’, que lêem um tomo filosófico à tarde, bebem ‘whisky’ à noite e pegam sol pela manhã, para levantar argumentações contra o uso espiritual da ayahuasca. Não conhecem a força e a beleza da espiritualidade amazônica e indígena.

A utilização da ayahuasca pelo homem branco é uma acolhida da espiritualidade das florestas tropicais, um banho de rio milenar e sentimental do tempo em que os povos amazônicos viviam em fraternidade econômica e religiosa.

Os ataques ao uso ritualístico-religioso da ayahuasca, como bebida sacramental, nos autoriza a afirmar que podem estar nascendo interesses menos inocentes e mais poderosos do que uma simples preocupação acadêmica com a utilização de substâncias psicoativas.

Nunca é bom esquecer que a ayahuasca é uma substância natural exclusiva das florestas tropicais dos países amazônicos e pode alimentar interesses econômicos relacionados a patentes e elevar a cobiça sobre a nossa inestimável biodiversidade.

A ayahuasca é uma combinação química simples e ao mesmo tempo complexa, que envolve um cipó e um arbusto endêmicos do imenso continente amazônico. Simples porque a sua primitiva química material da floresta é realizada por homens comuns, do pajé ao ayahuasqueiro dos templos amazônicos.

Complexa porque envolve a elevação de indicadores psico-sociais de qualidade de vida e ajuda a atingir estados ampliados de consciência dos usuários. Isso por si só já alça a ayahuasca a um patamar superior no plano do controle científico dessas duas ervas milenares.

Assim, a ayahuasca ganha contornos políticos por envolver recursos florísticos de inestimável valor psico-social e espiritual. Os seus usuários consideram o “vinho das almas” como um instrumento físico-espiritual que favorece a limpeza interior, a introspecção, o autoconhecimento e a meditação.

Utilizar ayahuasca aqui na Amazônia é beber do próprio poço de nossa ancestralidade e da magia que representa a nossa milenar resistência. Aqui na floresta, protegidos pelos entes fortes de nossa religião animista e natural, nossos ancestrais não precisaram “miscigenar” sua fé.

Não foi necessário fazer como os negros escravos que deram nomes de santos católicos aos seus deuses africanos. Nossos ancestrais indígenas não precisaram batizar Iemanjá de Nossa Senhora ou Oxossi de São Sebastião para se protegerem da fé unilateral do dono da terra.

É que entre nós a terra era de todos e o único dono era o senhor da chuva, do orvalho e do sol. A beleza coletiva dos recursos naturais era compartilhada por toda a aldeia, do curumim ao sábio ancião.

A ayahuasca era a essência espiritual dessa convivência material fraterna e universal entre as árvores carinhosas, os riachos irmãos, os pássaros cantores, os peixes, as larvas, os insetos, as flores. A Ayahuasca ancestral era o elo entre a terra e o espírito.

Se não fosse uma erva espiritual e mágica, trazida pelas mãos milenares dos povos indígenas amazônicos, ela não teria resistido ao tempo. Por isso é natural que a ayahuasca atraia cada vez mais o homem branco, esmagado pelo destrutivo modo de vida urbano, elitista, ocidental, capitalista.

A ayahuasca não é um chá que se consome como se bebe um líquido ácido qualquer. O seu uso é espiritual e envolve aqueles que o utilizam na mais límpida tradição de amar o próximo e reencontrar os valores que perdemos na caminhada do planeta que se dividiu em castas, cores, fronteiras e etnias.

Não entrarei no debate acadêmico sobre o uso de substâncias psicoativas por parte das religiões milenares, das eras pré-colombianas aos templos dos tempos atuais. Não tenho competência para debater os pontos de vista da medicina, da psicologia ou da etnofarmacologia. Ficarei apenas com os resultados do uso milenar da ayahuasca pelos povos indígenas.

A milenar história amazônica não registra casos de morte ou de seqüelas à saúde dos povos indígena por terem utilizado a ayahuasca. Nenhum índio deu entrada no hospital dos brancos ou foi curado pelos pajés. Aliás, as mulheres indígenas, ‘apesar’ de beberem a ayahuasca, não registram nenhum caso de câncer de mama.

A ayahuasca não é "taliban", seus usuários não se constituem em nenhuma seita, eles não são fanáticos, não há um único caso de morte ou de castigo físico que tenha sido resultado do seu consumo ritualístico.

O uso ritualístico da ayahuasca não provoca transes místicos ou de possessão. Ela não age no organismo como a antiga bebida hindu, denominada soma, que se divinizou por afastar o sofrimento, embriagando e elevando as forças vitais.

Depois de 4.000 anos de uso sagrado e ritualístico da ayahuasca os estudiosos da civilização ocidental erguem argumentos anêmicos e endêmicos de uma sociedade que tem medo do ‘contato’ aberto do homem com a natureza. É que eles têm medo da relação amorosa entre o indivíduo e a natureza com os seus elementos poderosos e coletivos.

Os sábios e avançados incas utilizaram a ayahuasca para consolidar-se como povo, como nação e para ajudar no florescimento da cultura, da matemática, da agricultura e da astronomia. Não é qualquer planta ou cipó que faz um povo, uma história milenar, uma religião.

Só não puderam utilizar a sagrada ayahuasca para produzir metálicos fuzis, pois se assim fosse, não teriam sido dizimados pelos invasores espanhóis. Pizarro não consumiu o “cipó dos mortos”, por isso dizimou tantos guerreiros, mulheres índias, donzelas, pajés, curumins.

A ayahuasca resistiu, venceu os invasores e as suas crenças unilaterais, atravessou os séculos, os milênios, unificou as milenares gerações indígenas e suavizou a dor ‘civilizatória’ das eras pós-colombianas.

Quando o Acre propôs, sob a iniciativa da deputada Perpétua Almeida, que o uso ritualístico da ayahuasca fosse considerado patrimônio cultural imaterial é porque ninguém mata uma alma, ninguém prende um sentimento, ninguém aniquila uma vontade, ninguém encarcera uma opinião, ninguém enclausura uma fé.

A ayahuasca é diferente de outras religiões, que nascem de visões, contatos divinos, que têm origem na cosmologia do céu para a terra. A Ayahuasca é a religião da terra para o céu, da matéria eterna e natural para o infinito do sonho humano, a religião natural.

Uma verdadeira e única religião do Brasil, aliás, uma colossal e genuína religião amazônica! Combatê-la é bizarro, síndrome de colonizador!

Moisés Diniz é deputado estadual (PC do B).

sexta-feira, 6 de junho de 2008

O RIO ACRE


Rio Acre, no centro de Rio Branco, a capital do Acre, em foto de Marcos Vicentti, tendo à esquerda, ao fundo, a encosta do Calçadão da Gameleira e o Pavilhão Acreano. Os desmatamentos e a construção de açudes são algumas das ameaças. Clique na imagem do rio que abastece cinco cidades acreanas.