domingo, 13 de agosto de 2006

AMIGOS DO LULA

Por causa da nota sobre o blog do Zé Dirceu (abaixo), a editora Helena Sthephanowitz, do blog "Os amigos do presidente Lula", escreveu o seguinte:

- Para se manter informado, o internauta dispõe de ampla fontes de notícas na web. Entre os blogueiros, uma boa opção é consultar o blog de variedades do jornalista Altino Machado. A temperatura sobe no post "Blog do Zé Dirceu". Com um comentário apimentado, Altino Machado expõe suas dúvidas sobre quem é o editor. Vale a pena conferir e comentar.

O AMOR É O DOM SUPREMO

"Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o címbalo que retine.

E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria.

E ainda que distribuísse todos os meus bens para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse amor, nada disso me aproveitaria.

O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não se vangloria, não se ensoberbece, não se porta inconvenientemente, não busca os seus próprios interesses, não se irrita, não suspeita mal; não se regozija com a injustiça, mas se regozija com a verdade; tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.

O amor jamais acaba; mas havendo profecias, serão aniquiladas; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, desaparecerá; porque, em parte conhecemos, e em parte profetizamos; mas, quando vier o que é perfeito, então o que é em parte será aniquilado.

Quando eu era menino, pensava como menino; mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino.

Porque agora vemos como por espelho, em enigma, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei plenamente, como também sou plenamente conhecido.

Agora, pois, permanecem a fé, a esperança, o amor, estes três; mas o maior destes é o amor".

(São Paulo - Coríntios 13)

sábado, 12 de agosto de 2006

BLOG DO ZÉ DIRCEU

Tenho lido o blog do colega Zé Dirceu, mas algo me intriga: ele, que costuma tropeçar na língua, se revela cheio de estilo em cada post e até na primeira entrevista. Não acredito que seja apenas ele o redator e editor do conteúdo do blog.

Desde agosto do ano passado, Dirceu passou a contar com um blog com o objetivo de apoiá-lo quando se encontrava no centro da crise política brasileira: o "Amigos do Zé Dirceu".

Chego a desconfiar que o Zé Dirceu seja a Bel - Izabel Cristina da Cruz, que criou o "Amigos do Zé Dirceu". Bel revela no perfil do antigo blog que é brasileira, tem 24 anos e é professora de história.

Bel anda muito empenhada na divulgação do blog. Na quarta-feira, enviou a seguinte mensagem aos "companheiros da blogsfera-lulista":

- Encaminho o endereço do editor do Último Segundo para que possamos enviar comentários de felicitações pela iniciativa do blog do Zé Dirceu. É fundamental mostrarmos a importância do espaço que foi criado para discutir assuntos de relevância Nacional, sob uma ótica moderna e não-sectária. Saudações socialistas! Bel

Mas Zé Dirceu pode ter delegado a tarefa à sólida base de assessores que mantém no Paraná. Outra hipótese, que não pode ser descartada: o conteúdo do blog sob os cuidados do jornalista e escritor Fernando Morais.

Espero que outro colega do blogueiro Zé Dirceu, o bem informado Ricardo Noblat, desfaça o mistério.

RONDÔNIA DE FORASTEIROS

Como já sabíamos que Rondônia é um Estado de forasteiros, a partir do movimento social, de um programa de governo e de nossos primeiros passos rumo à florestania, conseguimos estancar a migração e firmar nossa singularidade no contexto regional.

Os acreanos do pé rachado - isso inclui aqueles que não nasceram aqui, mas zelam por nossa história de povo - têm que seguir fazendo o dever de casa: reforçar a porteira, para evitar que o Acre seja vítima do desastre ambiental e da insustentabilidade econômica que avassalam Rondônia. O mato-grossense Márcio Bittar (PPS), candidato a governador do Acre, por exemplo, de vez em quando aparece em campanha por aqui, mas continua equivocado ao prometer que vai adotar Rondônia como paradigma do desenvolvimento acreano.

O governador de Rondônia, Ivo Cassol (PPS), que passou de denunciante a investigado no caso da máfia presa durante a Operação Dominó, é amigo e apoiador da campanha de Bittar no Acre.

Revista Veja traz infográfico interessante, tendo como fontes o IBGE e o Ministério da Fazenda. Vejamos os números do infográfico:

50,5% dos habitantes de Rondônia são migrantes. É o maior índice do país

Dos 24 deputados estaduais, apenas 1 nasceu em Rondônia

Dos 8 deputados estaduais, apenas 1 nasceu em Rondônia

O governo é o motor da enorme economia local: responde por 25% do PIB

15% de todo o dinheiro que circula no estado é enviado pelo governo federal

Sua atividade econômica é a agropecuária, que foi incentivada pela União e hoje responde por 19% do PIB estadual.



Esquadrilha da fumaça: Ivo Cassol, Blairo Maggi, Márcio Bittar e Roberto Freire. Leia mais
aqui.

sexta-feira, 11 de agosto de 2006

ISTO É O ACRE



Altino,

Apesar do atraso, estou lhe enviando algumas considerações e fotos do V Yawa. Voltamos, Sirlei e eu, de alma lavada após essa viagem ao povo yawanawa do Rio Gregório.

Um hiato de 20 anos nos separava dos parentes e o reencontro não poderia ser melhor. É uma emoção enorme ver todo o resgate cultural em uma comunidade indígena que, como muitas do Acre, sofreu décadas de opressão e aculturação.

Que prazer ver velhos, adultos e crianças empenhados em recuperar, manter e aprender cânticos, danças e filosofia de vida. Que bom encontrar velhos e novos amigos que comungam do mesmo ideal: Txai Terri, Ailton Krenak, Sian Kaxinawa, Perfeito Fortuna, Dionísio, Itanor.

Formidável ter a oportunidade de testemunhar a histórica aliança cultural e política com os ashaninka, que, liderados pelo secretário de Povos Indígenas, Francisco Pianko, trouxeram com o seu mistério e dignidade, os segredos da caiçuma.

Povos como os marubo, do Amazonas, e os vizinhos arara e katukina, também estavam representados. Parabéns às novas lideranças Biraci Nishikawa e Joaquim Tashka. Com o auxílio luxuoso da Laura, conduziram tão brilhantemente o evento.

Parabéns às irmãs e primeiras mulheres pajés, Kátia e Raimunda, com o misto de doçura e firmeza na concretização de seus ideais.

Parabéns aos velhos líderes Raimundo, Tatá e Yawarina cujo conhecimento agora não mais corre o risco de se perder. Parabéns, ainda, à toda a comunidade guerreira yawanawa do Rio Gregório por essa beleza de festa.

Contem sempre conosco

João Bosco Guerreiro

O Guerreiro é médico com doutorado em acupuntura. Trabalhou nas aldeias indígenas do Acre em meados dos anos 80. Mudou para São José do Rio Preto (SP), onde vive até hoje, mas quase todos os anos volta para rever os amigos e irmãos que deixou aqui. Sinto-me feliz de ter colaborado modestamente para esse reencontro dele com os verdadeiros donos das terras acreanas. É por isso que o diário britânico The Independent destacou hoje que os "índios são chave na preservação da Amazônia" e cita o povo que organiza essa festa. Recomendo que cliquem sobre as fotos para vê-las ampliadas.













THE INDEPENDENT

Índios são chave na preservação da Amazônia, diz jornal

Uma reportagem do jornal britânico The Independent, de hoje, assinada por Daniel Howden, afirma que os povos indígenas são "a melhor resistência contra o arco da destruição" na Floresta Amazônica.

O diário lembra que, embora contem apenas 0,3% da população brasileira, os indígenas têm direito a 12,4% do território.

No entanto, continua a reportagem, "o governo não tem nem a vontade nem os recursos para estender o império da lei até os recônditos do país".

Por isso, de acordo com o Independent, são os índios que têm que brigar pela sua terra contra "as ameaças de madeireiros, fazendeiros e autoridades corruptas".

Nas palavras de
Hylton Murray-Philipson, diretor da organização não-governamental britânica Rainforest Concern, os povos indígenas são "a forma mais eficiente na relação custo-benefício de proteger a floresta".

Equilíbrio delicado
O Independent também chama a atenção para o "ressurgimento da população indígena brasileira e do seu delicado equilíbrio entre adaptar o mundo moderno e a sua visão de mundo tradicional".

Como exemplo das mudanças, o repórter do diário britânico cita a pajé Katia Luísa, da tribo dos Yawanawa, no Acre, a primeira mulher a ocupar essa função na história da tribo.

De acordo com a reportagem, os Yawanawa, "como outras tribos, chegaram perto de desaparecer", mas hoje têm uma população de 620 pessoas e "devem ultrapassar os mil em dois anos".

O jornal destaca a importância da primeira pajé como um exemplo de "deixar de lado objeções tradicionais" e cita as palavras do cacique Yawanawa, Taska.

"O espírito é o espírito, não tem sexo, então, uma mulher pode ser iniciada no espiritual", diz Taska, segundo o Independent.

Fontes:
BBC e The Independent. Tirei a foto de Joaquim Tashka e Kátia Hushahu em julho, durante a palestra deles no simpósio internacional sobre religão, ciência e meio ambiente, realizado em Manaus.

I LOVE YOU, GRACIL

Eu já havia declarado aqui, na nota "I love you, João Donato", a minha afeição pelo músico acreano. Na terça-feira, foi a vez do candidato a governador Binho Marques (PT) também declarar amor ao adversário político Narciso Mendes. Por já ter comido toucinho com mais cabelo e agora ter trombrado com a nau dos desesperados, é hora de renovar o meu amor pelo barman Gracil Roque, o homem pequenino, gentil, sorridente e carinhoso que aparece na foto, ao lado de Donato. I love you, Gracil. Ignoremos a demência dos invejosos.

ESTADO DA FLORESTANIA

Altino,

Tenho um grande apreço pela história do Acre e do seu povo. Depois que descobri seu blog não deixo de passar por ele sempre que venho blogar. No dicionário Aurélio, que tenho no meu micro, não consta a palavra "florestania". É cunhada por você? O que significa?

Só encontrei:
florestano1
Adj. 2 g.
1. De, ou pertencente ou relativo a Floresta (PE).
S. m.
2. O natural ou habitante de Floresta.

florestano2
Adj.
S. m.
1. Florestense1.

Abraços.

Elifas Araujo


Caro Elifas: recebi hoje o estudo "Democracia Participativa no Estado da Floresta: uma análise do Zoneamento Ecológico-Econômico do Estado do Acre", do inglês Oliver J. Henman, pesquisador de Universidade de Oxford, que trabalha no Parlamento Britânico como assessor de relações exteriores e se relaciona com vários grupos de pesquisa sobre inovação democrática.

Oliver J. Henman analisa o processo de Zoneamento Ecológico-Econômico do Estado do Acre como exemplo de democracia participativa que fomenta a redistribuição do poder, através de uma visão de poder aberto e a construção coletiva de políticas públicas.

Pois bem, o texto tem mais de 40 páginas e o autor me informa que deve ser publicado em São Paulo atá o final do ano. Ele está vendo opções de publicar na Inglaterra também e vai fazer um resumo para publicação no
blog dele, que está desatualizado desde a última viagem que fez ao Acre.

Em resposta à sua pergunta, segue um trecho do estudo de Oliver Henman:

"Com essa perspectiva histórica, se torna possível entender que existe uma visão de democracia particular ao Acre, baseado na redistribuição de poder. Observamos o desenvolvimento heterogêneo de processos participativos, baseados na experiência de luta pela terra e vida da floresta, radicalmente diferente de um processo urbano, mas com as mesmas preocupações de empoderamento e de efeito redistributivo concreto, nesse caso, através da definição de propriedade de terra. Essa trajetória peculiar do Acre levou alguns pensadores a sugerir que se trata de outra forma de relações sociais, relações definidas pela floresta e a presença da natureza e não pela cidade. Daqui surgiu o conceito de 'florestania', que agora faz parte da visão do atual governo estadual, que se deu o nome: 'Governo da Floresta' e ao Acre: 'Estado da Florestania'.

Mas como definimos a 'florestania'? Esse termo foi desenvolvido pelo
Antonio Alves, jornalista e teórico acreano, que explicou em entrevista que a ideia de 'florestania' surgiu como alternativa à cidadania, já que cidadania depende do substantivo, cidade, então seria aplicável aos direitos dos moradores de cidades, mas a maioria da população do Acre vivem na floresta e até hoje foi formada pela experiencia de vida na floresta, por isso florestania. Esse conceito não se limita a uma ideia rígida de vida na floresta como um bioma virgem, fechado e pronto para exploracao pelos humanos, mas se baseia numa forma de vida tradicional da Amazônia, em equilíbrio com os sistemas da natureza existentes, como as estacoes temporais e os ecossistemas delicados.

Na verdade essa visão expande muito mais a definição de democracia porque leva em consideração os fatores não humanos nos eventos políticos da Amazônia. Segundo Antonio Alves, além das pessoas que moram no Acre, os administradores devem também considerar os seres vivos não humanos, o impacto das políticas públicas sobre eles e até a sua vontade para o desenvolvimento do Estado. Sem duvida, observamos que no Acre, um evento como uma enchente pode levar a uma mudança de necessidade política, porque tem um efeito direto na situação de moradia na área afetada, dessa forma um fator não humano pode levar a uma posição política. Esse conceito de 'florestania' tem um impacto indiscutível na evolução política particular ao Acre. Até podemos perceber que esse estado conseguiu criar estruturas próprias, influenciados apenas em parte pelos demais exemplos de democracia participativa, que possibilitam uma aproximação do governo à população rural com efeito de redistribuição de poder e de terra, entre os quais se encaixa o processo participativo do Zoneamento Ecológico-Econômico".

EI, VOCÊ AÍ

Flaviano Melo, ex-prefeito de Rio Branco, ex-governador do Acre, ex-senador da República, é candidato a deputado federal pelo PDMB. O nome dele consta na lista de inelegíveis enviada pelo TCU ao TSE em decorrência de conta rejeitada por irregularidade. A foto foi copiada do jornal A Gazeta, do qual Melo é sócio majoritário.

quinta-feira, 10 de agosto de 2006

ANGELIM NA RUA DA SAUDADE

Olá, Altino:

O apelo através do seu blog (
leia aqui) funcionou: o prefeito Raimundo Angelim veio pessoalmente ver a situação da nossa Rua da Saudade, aqui pertinho do Clube Juventus, e prometeu pavimentar com tijolos o pequeno trecho que um secretário de Obras do ex-prefeito Flaviano Melo amaldiçoou há cerca de 20 anos.

Ele veio acompanhado do presidente da Emurb, engenheiro José Carlos, no final da tarde de ontem. Batemos um longo papo os três, sobre a cidade, sobre o tanto de coisa que a Prefeitura está fazendo nos bairros. Zé Carlos vai começar o trabalho na Saudade em duas semanas.

Ou seja: o prefeito vai exorcizar os demônios deixados pelo fdp “estrangeiro” que passou por estas bandas nos anos 80. Angelim é da mesma massa do Binho Marques: não gosta de bajuladores e não se descabela com as críticas, quando estas aparecem.

É isso, cara. Seu blog sempre serve, mesmo, mas também pesa o fato de a gente eleger essa nova safra de políticos comprometidos com a florestania, que levam em conta a identidade amazônica em suas ações.

A turma do bairro vai ficar muito contente e agradecida ao prefeito.

Um abraço,

Elson Martins

XINGU - A TERRA MÁGICA

Pedro Novaes

Apesar da correria, tudo está dando certo e o projeto Xingu - A Terra Mágica, ganhando vida. Nesta sexta-feira, finalmente partimos para o Xingu. Todos estão muito animados. Entre os dias 13 e 21, estaremos entre os Waurá, depois até 27, entre os Yawalapiti; na aldeia Kuikuro, entre 27 e 3/9, de onde voamos para o Baixo Xingu, ao encontro dos Metuktire do famoso chefe Raoni.

De lá, no dia 9, finalmente para os Panará, de onde retornamos para a cidade de Canarana para algumas gravações entre 17 e 20, dia de nossa volta a Goiânia. Depois, teremos gravações rápidas, possivelmente em Brasília e São Paulo.

A série antiga está sendo remasterizada. A partir de outubro, começa a edição da nova série de seis programas. Os seis novos e os 10 antigos vão ao ar, a partir de novembro, pela TV Cultura e Rede Pública de Televisão, aos domingos, às 21 horas.

O website do
Xingu - A Terra Mágica já tem uma primeira versão que está no ar. Ele aos poucos ganhará mais informações e vida. Nós manteremos de lá, do Xingu, com o auxílio de um telefone via satélite, um diário/blog do projeto para que todos acompanhem o andamento das gravações e o dia-a-dia entre os índios.

Pedro Novaes é o diretor de produção do projeto "Xingu - A Terra Mágica". Para obter mais informações sobre o projeto, clique em
Washington Novaes, para assistir a entrevista que fiz recentemente com o jornalista.

ÁLBUM DE ARTISTAS



"Cher Altino, filho do carbono e do amoníaco, hoje é meu aniversário, tô ficando réi, mas continuo lindo!

Fernando
"

Fernando França, também conhecido como Fernando Socó, é o grandalhão que aparece na foto acima, com a Laísse, Marina e Henrique. Ele é um acreano muito mau.

É artista plástico, mudou para Fortaleza, vive fazendo exposições pelo mundo afora, mas não esquece o Acre e jamais perdeu a mania de guardar tudo, mas tudo mesmo: gibis, cartas, presentes e tudo mais que seus amigos possam imaginar.

Participamos, nos anos 80, do grupo Semente, que construiu o Teatro Horta, no bairro Estação Experimental. Estavamos lá, entre outros, Marina Silva (figurinista e atriz), Binho Marques (ator e diretor), Clarisse Baptista (atriz sem o pai saber), Écio Cunha (ator e violonista), Sílvio Margarido (ator, poeta, cineasta e percussionista), Danilo D'Sacre (artista plástico e poeta), Ariosto Miguéis (teórico e carregador de piano), Branco Medeiros (ator e artista plástico), Henrique Silvestre (ator), Beto Brasiliense (poeta e compositor), Johnson Nogueira (ator e percussionista). Eu era poeta, à-toa e ator, mas escapei de fininho pra escrever essa nota.

Fernando, que aniversaria hoje, enviou essas fotos. Elas foram tiradas em maio de 2000. Naquele ano, 41 pessoas que formavam o grupo Semente se reuniram para cumprir um compromisso assumido quando o grupo se desfez e cada um foi cuidar de sua vida: se reencontrar em Rio Branco 20 anos depois.

Muita coisa mudou e continua a mudar: Marina virou vereadora, deputada, senadora e ministra; Binho foi secretário de Educação, é vice-governador e candidato a governador; Clarisse foi estudar teatro no Rio, voltou pro Acre, dirige a Usina de Artes João Donato e vai participar da minissérie "Amazônia", de Glória Perez; Écio se formou em violão na UNB; Sílvio abandonou a carreira de ator, mas continua poeta, cineasta e percussionista; Danilo continua artista plástico; Ariosto é delegado de polícia; Branco voltou para Belém, onde nasceu e vive ainda como artista plástico; Henrique é poeta e professor de literatura da Ufac; Beto voltou para Brasília e continua poeta e compositor e Johnson, formado em geologia, é professor-doutor da Univerdade de Sobral (CE).

É muita sacanagem do Fernando Socó enviar essas fotos, que me remetem aos dias mais felizes de nossas vidas, sem nenhuma moeda no bolso, mas cheios de sonhos. Chegávamos até a passar fome, mas havia sempre música, inspiração para escrever poemas, pichar muros e acreditar que a gente iria mudar o mundo. O cara que vivia em melhores condições era o Binho, dono de um Gurgel caindo aos pedaços, sem capota, que tinha algum trocado para pagar matrícula e comprar os livros de estudos da Marina.

Paro por aqui, Fernandão, parabenizando-o e citando o "Cemitério cênico", poema que escrevi naqueles dias, no esplendor dos meus 17/18 anos, e sem o qual, sei, você não ficaria mais feliz neste dia:

"A crueldade opaca da melancolia
Tomou o cemitério em seus braços
E acalentou os mortos com o estridente réquiem
Gravado no peito amargo das necrópoles inertes.

Então, os mortos nefastos
Adormecidos e embriagados
Dormiram perpetuados
Na esperança necromântica, romântica
Do necrólatra e necrófobo que sou
Alma".

Ah! Aqui vai, veja só a contradição, a terrível epígrafe do poema: "Para pertencer a todos, exceto o nulo e Augusto dos Anjos".


ESTRANGEIRO ENTRE ASPAS

Elson Martins

O governador Jorge Viana empregou a palavra “estrangeiro” (isso mesmo, com aspas) domingo à noite, pelo menos três vezes durante a inauguração do novo Mercado Velho. Ele falou emocionado para cerca de três mil pessoas que o aplaudiram muito. A multidão, sentada ou de pé diante de um palco onde foi apresentada, no final, a ópera “Aquiry”, do maestro acreano Mário Brasil, parecia feliz com a reconstrução do mercado e a revitalização da rua Epaminondas Jácome.

Construído em 1929, por Hugo Carneiro, o Mercado do Rio Branco (nome original) foi a primeira grande obra de engenharia da cidade. Bela e imponente para a época e, como se vê após a reconstrução, para os dias de hoje. Mas não foi cuidada pelos governantes e nos últimos 50 anos transformara-se em um ambiente feio, sujo e perigoso. Virou o patinho feio da capital.

É preciso reconhecer que o que o manteve de pé (embora entre escombros) após 77 anos de sucessivos descasos da administração pública foi sua rica história e a identidade dos que o ocuparam resistindo com uma cultura tratada a pão e água. Na chegada dos anos 2000, o velho Mercado era um amontoado de coisas e gente ignoradas, porém um nicho de resistente acreanidade. Algo em ruínas que, entretanto, sobreviveu nas vielas de lata e amianto, nos bregueços que indicam serventia na floresta, nas armadilhas de caça e no tabaco migado.

Em 2005 o governo começou a obra de recuperação do espaço e foi um Deus nos acuda. Muitos, no começo, se sentiram ameaçados achando que o que viria de bom não seria para seu bico. Alguns se apressaram em fazer acordo e se acomodar em outra freguesia. Eu mesmo ouvi queixas e escrevi algo me solidarizando com eles. Temia que a alma daquele lugar fosse para o purgatório.

Aos poucos, percebi que a reforma tinha objetivo mais sensato, ou pelo menos era de um enorme interesse coletivo. De fato, não a restauração propriamente dita do mercado, mas a limpeza e embelezamento de seu entorno, incluindo as lojas da rua da frente (Epamonindas Jácome) e de trás (praticamente desmanchada pelas enchentes do rio Acre) criavam a nova atração da cidade, algo do que se orgulhar.

Foi o que se viu na noite de domingo: uma festa acreana por excelência, ainda que alguns emperiquitados quisessem dar “aquele” toque de colonizador, já identificado aqui e ali no olhar, na soberba, no zelo cerimonial... Prevaleceu, porém, a delicadeza e singeleza dos que amam sua terra e querem que prevaleça o sentimento de dignidade e florestania nas ações públicas.

Não se trata, pois, de resgatar a “belle époque” da borracha que privilegiava somente às elites, mas de dar valor ao que foi construído pelo povo apesar delas. Ou seja: uma identidade forte, uma cultura original, um espírito solidário moldado pelo homem colonizado que reinventou sua cultura para sobreviver.

E aí está o novo Mercado Velho com seus pioneiros e originais habitantes, um espaço bonito com jeito de shopping (arre!) aberto, popular, limpo, colorido, com o sabor e o cheiro de nossa culinária, com a quinquilharia que nos alegra a alma. Coisas que exprimem durabilidade, resistência, enfim, raça forte.

É preciso ser “estrangeiro” para não perceber e valorizar isso. Ou perceber mas misturar, tendenciosamente, com interesses políticos e pessoais virando as costas para o deslumbramento. É preciso ser “estrangeiro” para não cantar o Hino Acreano na beira do rio Acre depois de ouvir a ópera do nosso almático maestro Mário Brasil, menino sambudo da rua do Ipase que virou doutor em música com 6 anos de especialização em percussão no Japão.

“Estrangeiro”, portanto, não é propriamente o que chega, mas o que insiste em dominar com chiste de mau gosto. Tem o que nem chega porque nunca saiu: nasceu e se criou no Acre, mas não sente as dores do colonizado. Como ensina o jornalista, escritor e sociólogo paraense Lúcio Flávio Pinto: “O colonizado que imita o colonizador: pensa, fala, age com a cabeça do colonizador” sem se dar conta disso.

Elson Martins é jornalista acreano, colaborador do blog. Na foto acima, de Daniel de Andrade, "seu" Silvino Filgueira mede tabaco.

CORRUPTOS ACREANOS

O relatório da CPI dos Sanguessugas foi aprovado pelo plenário da CPI com apenas um voto contrário, do senador Wellington Salgado (PMDB-MG), e uma abstenção, do senador acreano Sibá Machado (PT).

Votei na senadora Marina Silva e esperava que o suplente dela votasse a favor do relatório. Fez feio o senador ao tentar lavar as mãos diante de um escândalo tão vergonhoso.

Baixe o relatório da
CPI dos Sanguessugas, que cita os deputados João Correia (PMDB) e Júnior Betão (PL) e o ex-deputado Ronivon Santiago.

Duro vai ser ver essas figurinhas bem situadas nos palanques durante a campanha eleitoral.

FRASES DO BINHO MARQUES

"Eu não gosto quando vejo nos jornais os mesmos títulos e textos dos press-releases distribuídos pela Secretaria de Comunicação. Eu acho isso muito feio".

"Tenho uma diferença muito grande de personalidade em relação ao Jorge Viana, como todos nós somos diferentes uns dos outros".

"Bajuladores e fantoches são pessoas que não quero de maneira nenhuma no meu governo. Quero pessoas de caráter, com autoridade, para dizer o que pensam".

"Fui secretário de educação do Jorge Viana, na prefeitura e no Estado, durante 12 anos. Em nenhum momento eu quis aparecer mais que o governador. O meu papel é ser discreto e quase invisível. As pessoas são testemunhas de que cumpro bem esse papel".

"O próximo governo vai ser muito diferente do atual governo. Vai ser muito diferente porque não vai ser o governo do Jorge Viana".

"A verdade, ela surge de um jeito ou de outro. Não tenho a menor preocupação com o que está saindo ou deixando de sair na imprensa. Para mim, quantos mais veículos de comunicação existirem, melhor. Ruim é quando há unanimidade. E eu não gosto de bajulação".

"O mais importante é que todas as manifestações venham à tona, pois tudo vai se depurando. Às vezes a gente recebe uma crítica tão descabida, mas mesmo essa crítica descabida serve para a gente avaliar se está agindo certo".

"Eu não tenho o menor rancor contra ninguém, nem mesmo contra o Narciso, que vive batendo no governo. Pode parecer demagogia, mas a verdade é que eu tenho amor até pelo Narciso".

OLIVER HENMAN

Oi Altino!

Que bom que você gostou do comentário sobre vocês do Acre em meu blog. Estou escrevendo meu estudo sobre a democracia participativa no Acre, principalmente em relação com o Zoneamento Ecológico-Econômico. Logo vai sair um capítulo.

Realmente, aprendi tanto no Estado da Florestania e espero que as reformas sociais e ambientais continuem com o Binho Marques!


Nesse momento, não tenho tido tempo de escrever no meu blog, mas logo ponho notícias da Inglaterra. Você pode me passar o seu e-mail? Assim, te mando o meu texto sobre o Acre.

Grande abraço do outro lado do Atlantico,

Oliver Henman

O inglês Oliver Henman é pesquisador da University of Oxford, de quem vamos esperar o texto sobre o Acre. Tive o prazer de conhecê-lo neste ano durante sua passagem pelo Acre, a caminho do Peru e da Bolívia.

TIROTEIO

Do senador Tião Viana (PT-AC) na coluna Painel, da Folha de S. Paulo, sobre a entrevista de Heloísa Helena ao "Jornal Nacional", na qual a ex-petista e presidenciável do PSOL disse que programa de partido é diferente de programa de governo:

- Heloísa acusou o PT de abandonar seu ideais depois da posse de Lula. Por essa ótica, ela está mudando já na campanha eleitoral.

quarta-feira, 9 de agosto de 2006

GAZETTE DES FEMMES

Querido Altino,

Meu nome é Mélanie e eu traballho em uma pequena revista franco-canadense chamada La Gazette des femmes. Eu vi no seu blog uma foto de Kátia Hushahu e Raimunda Putani. Nós vamos publicar um pequeno artigo sobre essas duas mulheres e estamos procurando uma foto pra ilustrá-lo. Você poderia nos dizer quem tirou a foto e como podemos encontrar essa pessoa? Gostaríamos de ter permissão para imprimi-la.

Muito obrigada, tudo de bom.

Mélanie Saint-Hilaire
Editora-assistente
La Gazette des femmes (do escritório de Claire Gagnon)

A história das pajés yawanawá Kátia Hushahu e Raimunda Putani foi revelada ao mundo neste modesto blog, que sempre serve. Enviei oito fotos que tirei delas, em alta resolução, para a editora da revista La Gazette des femmes. Por aqui, como fez o Página 20 nesta semana, as fotos são copiadas e publicadas sem o devido crédito.

BINHO MARQUES EM DEBATE



Binho Marques (PT) participou ontem à noite da série de debates promovida pelo Sindicato dos Jornalistas do Acre com os candidatos a governador do Estado.

O auditório da Secretaria de Fazenda ficou lotado de gente interessada em ver e ouvir aquele que foi um dos assessores mais influentes e discretos das gestões de Jorge Viana como prefeito de Rio Branco e governador do Acre.

Binho deixou evidente que terá uma relação bem diferente da que teve Jorge Viana com a imprensa em oito anos de governo.


Ele disse que não lhe agrada ver nos jornais, por exemplo, a reprodução integral dos press-releases distribuídos pela Secretaria de Comunicação.

Citou uma reportagem do jornal A Tribuna, que forjou foto para ilustrar reportagem falsa sobre estrago de merenda escolar, como exemplo de mau jornalismo.

Diferente de alguns petistas, reagiu com elegância quando uma estudante de jornalimo perguntou se ele seria um fantoche de Jorge Viana no governo.


A diretoria do sindicato tentou convencer o candidato a assinar uma carta-compromisso que incluia, entre outros pontos, exigência para a realização de concurso público para a contratação de jornalistas na Secretaria de Comunicação.

Binho Marques disse que não assinaria a carta naquele momento, mas se dispôs a continuar o debate com a categoria até a definição de um compromisso que pode ser mais amplo do que consta na carta.


Eis algumas opiniões de Binho Marques:

Fantoche do Jorge Viana
É a primeira vez que ouço isso, embora procure saber como está o andamento da imagem a meu respeito. As pessoas me conhecem, sabem que eu sempre tive idéias próprias. Tenho uma diferença muito grande de personalidade em relação ao Jorge Viana, como todos nós somos diferentes uns dos outros. Por esse motivo o Jorge me convidou para ser o seu vice, pois o Jorge também não gosta de fantoche. Ele sempre gostou de gente que dialogasse, que debatesse com ele de modo franco e direto. É a primeira vez que vejo alguém na minha vida achar que sou fantoche. Devo dizer que todo mundo comete erro e quando isso acontece é importante não ter em volta pessoas subservientes. O bajulador não ajuda em nada. Bajuladores e fantoches são pessoas que não quero de maneira nenhuma no meu governo. Quero pessoas de caráter, com autoridade, para dizer o que pensam. A pergunta é interessante porque é muito importante que o eleitor não queira um candidato fantoche. Algumas pessoas não entendem o que é discrição. Um vice-governador não pode querer ser mais que o governador. Fui secretário de educação do Jorge Viana, na prefeitura e no Estado, durante 12 anos. Em nenhum momento eu quis aparecer mais que o governador. O meu papel é ser discreto e quase invisível. As pessoas são testemunhas de que cumpro bem esse papel. Isso não significa que sou fantoche.

Continuar a mudança
O paradoxo é continuar a mudança. O governo Jorge Viana mudou o Acre completamente e nós vamos continua a mudança. O próximo governo vai ser muito diferente do atual governo. Vai ser muito diferente porque não vai ser o governo do Jorge Viana. Ele recebeu o Estado numa situação lastimável. Nós vamos receber o Estado do Jorge Viana e vamos poder fazer muito mais. O que vai permanecer é a essência de que o governo deve trabalhar para todos, especialemente para aqueles que não votaram ou não vão votar na gente. Quando falamos em inclusão social não estamos descartando ninguém. Tudo o que nós fizemos até aqui tem uma coerência com o que vai ser feito nos próximos quatro ou oito anos.

Universidade estadual
Não está nos meus planos. Isso seria um grande erro. A nossa proposta é dar acesso ao ensino superior. Não faz sentido criar uma universidade estadual no momento em que a Universidade Federal do Acre tem menos alunos do que comporta a sua capacidade. Quando assumimos o governo, a Ufac tinha 3,5 mil alunos e nós colocamos lá mais 4,5 mil alunos. E ela tem condições de absorver muito mais. O que a nossa universidade pública precisa é de apoio financeiro, pois tem uma estrutura imensa que está ociosa. Nós não vamos criar um prédio, um elefante-branco, para instalar um reitor que seja amigo do governador, isto é, um cabide de emprego, pois sabemos que essa é uma tendência. Sugerir a criação de uma universidade estadual no momento em que a federal necessita de mais alunos e de recursos, é muito grave. O que queremos fazer é apoiar a Universidade Federal do Acre para que ela recebe mais alunos e para isso vamos criar centros universitários em todos os municípios, em parceria com a Universidade de Brasília, que vai trazer capacidade para a nossa universidade trabalhar com educação à distância.

Liberdade de imprensa
A TV Rio Branco, do empresário Narciso Mendes, tem divulgação e financiamento do governo, como todos os órgãos, e vocês sabem como a emissora nos trata. Nós temos uma trajetória que nos permite avançar muito mais na área de comunicação. Podemos conversar mais, antes e depois do próximo governo, no sentido de democratizar mais a comunicação. Eu não dou a menor importância do que falaram e falam na imprensa a respeito do meu trabalho. Diziam que íamos acabar o segundo grau, mas o que fizemos foi ampliar como nunca o acesso ao segundo grau. Jamais liguei para um jornal para dizer o contrário. O que faz a diferença é o resultado do trabalho. A verdade, ela surge de um jeito ou de outro. Não tenho a menor preocupação com o que está saindo ou deixando de sair na imprensa. Para mim, quantos mais veículos de comunicação existirem, melhor. Ruim é quando há unanimidade. E eu não gosto de bajulação. O que nós precisamos criar é mais jornais de bairro, de escolas, sem ficar preso aos veículos tradicionais. A sociedade mudou e nós precisamos usar mais outros meios, outras formas de comunicação. O mais importante é que todas as manifestações venham à tona, pois tudo vai se depurando. Às vezes a gente recebe uma crítica tão descabida, mas mesmo essa crítica descabida serve para a gente avaliar se está agindo certo.

Adversários políticos
Hoje (ontem) estive na TV Rio Branco, do empresário Narciso Mendes, que ficou tentando soprar algumas perguntas para o entrevistador. Quando a entrevista terminou, fui lá cumprimentá-lo. Eu não tenho o menor rancor contra ninguém, nem mesmo contra o Narciso, que vive batendo no governo. Pode parecer demagogia, mas a verdade é que eu tenho amor até pelo Narciso. Não assisto a TV Rio Branco porque tem uma estética e uma linguagem que não me atraem. Não sou apaixonado, mas gosto do Narciso. Amo todas as pessoas. Até os inimigos. Não adianta a gente achar que está combatendo o mal, pois o mal está dentro da gente também. Essa história a gente tem que levar por outro caminho porque uma dia a verdade prevalecerá.

SALTENHA



Daqui a pouco explico o que é saltenha.