Opinião de um leitor anônimo:
"É um equívoco conceber como um ato heróico ou individual as ações do sertanista José Carlos dos Reis Meirelles, que há duas décadas, completadas este ano, chefia a Frente de Proteção dos Isolados no Alto Rio Envira. Se ele está sozinho neste momento, deve-se ao total descaso do governo federal (e por que não dizer do governo estadual).
O trabalho do Meirelles deveria ser visto como importante componente de uma política de fronteira e as questões dos isolados e da proteção do meio ambiente como questões cruciais no relacionamento com o governo peruano.
É pena que nossos políticos só consigam ver a "integração" como sinônimo de grandes obras de infra-estrutura (estradas e energia) e do crescimento das relações comerciais (para produtos que nem temos).
Enquanto isso, a ilegalidade come solta na fronteira, e os madeireiros (nos rios Envira, Amônia e no Parque Nacional da Serra do Divisor) por ora fazem a festa, invadindo o território brasileiro, detonando a floresta e colocando em risco índios (inclusive isolados) e outros moradores da região.
Para que existe mesmo um batalhão de fronteira do Exército instalado há quase dez anos em Santa Rosa? Cadê o apoio que em várias ocasiões o governo do Acre sinalizou em dar ao Meirelles?
Vai precisar matarem um mateiro no alto Envira (se matarem isolados só os urubus vão ficar sabendo) para o governo e os políticos do Acre se mobilizarem, dizendo-se muito preocupados com a integridade da fronteira, com os índios e com o Meirelles e sua turma?
Além de recursos e apoio institucional para a Frente de Proteção no alto Rio envira e da vigilância da fronteira, iniciativas diplomáticas se tornam cada vez mais necessárias.
Não adianta os representantes dos governos federal e estadual se encontrarem com os peruanos durante as festas pelo avanço da Transoceânica, ou deputados acreanos fazerem viagens de turismo pela estrada até o Pacífico, apenas para tirar fotos e falar dos grandes benefícios que a integração trará.
Tratar de questões como a segurança da fronteira, a proibição das atividades ilegais feitas por madeireiros, a proteção dos índios isolados também deve fazer parte da agenda da integração".
Altino, comentário nada a ver com o post:
ResponderExcluirVc já viu as placas de outdoor que estão sendo postas lá no BEC (de frente para a Av. Nações Unidas)? Pode publicidade privada em espaço público??? Sei que não é sua alçada mas é que esse blog já virou mesmo ombudsman... ;-)
O primeiro parágrafo do texto está truncado. Fiquei curioso para saber em que sentido da concepção das ações do Meireles pode constituir um equívoco.
ResponderExcluirO resto do texto é interessante. Falta mesmo uma concepção do que queremos de fato fazer com o Acre. Nesses dias, o que há mesmo é muita confusão e tiroteio para todos os lados quando a questão é desenvolvimento regional. E, no andar da carruagem, floresta, índios, rios, tudo isso está sendo considerado impecilho ao desenvolvimento. Faz algum tempo, o presidente da Federação da Agricultura divulgou uma teoria segundo a qual haveria uma relação inversa entre floresta e desenvolvimento. Assim mesmo, de forma direta e rasa. Então, teriamos mesmo era que desmatar, poluir, queimar. Para completar, o governo que desenvolveu uma idéia do Acre da Florestania (seja lá o que isso signifique), resolveu embarcar nas promessas dos grandes empreendimentos agropecuários: rodovias transoceânicas (sei lá o que é isso), alcool verde, frigoríficos,etc. Isso quando existem possibilidades de um modelo de exploração agropecuário muito mais compatível com as idéias ambientalistas. Não se trata de utopias. Já existem bases científicas e tecnologias capazes de apoiar um modelo acreano capaz de considerar a incorporação das populações excedentes e evitar o desperdício das bases naturais de recursos. Mais ainda: assim, como faz o governo do Amazonas com a preservação florestal é possível seguir outros caminhos e também obter ganhos mesmo efetuando o uso do solo.
Mas é rpeciso que nossas lideranças políticas sejam motivadas a olhar para outra direção que não a da acumulação capitalista, a dos grandes empreendimentos capitalistas. Temos que pensar em termos de bem-estar social para a população regional e não na construção de grandes empresas capitalistas.
Uma correção, feita pelo anônimo cuja opinião acabou destacada pelo Altino. A primeira frase, agora correta, é: "É um equívoco conceber como um ato heróico ou individual as ações do sertanista José Carlos dos Reis Meirelles, que há duas décadas, completadas este ano, chefia a Frente de Proteção dos Isolados no Alto Rio Envira". Deu para entender agora o duplo equívoco?
ResponderExcluirO que é fundamental é que as ações do Meireles são de um tipo pouco praticadas na atualidadae: são ações engajadas, visando o bem comum, o bem-estar social, a defesa dos direitos de minorias pouco consideradas pelo vandalismo de um desenvolvimento a qualquer custo. São ações que valem muito mais que discursos ambientalistas em auditórios refrigerados porque voltadas para a construção de alternativas para o que nos resta de humanidade, ou seja, de respeito por nós mesmos e de capacidade de nos reconhecermos em cada outro indivíduo em qualquer situação do mundo. Desse sentimento de reconhecimento nos fala muito atitudes e ações como a de Meireles. Isso já nos bastaria para que construíssemos um movimento a partir dessa denúncia - que não é a primeira e, lamentavelmente, não será a última - visando pressionar, cobrar daqueles que desconsideram a necessidade e a importância do trabalho desenvolvido pelos agentes da FUNAI, em situações como as que prevalecem na região acreana.
ResponderExcluirO próprio Meireles não se mostra como herói de coisa nenhuma, simplesmente, pelo que dele se sabe, resolveu dedicar sua vida a essa atividade esquecido por quem deveria apoiá-lo. E esse apoio não lhe é devido, apenas, pelos governantes. Nós mesmos, que nos dizemos a sociedade, é que faltamos no apoio a ele.