Li num panfleto que, quando menino, fui acusado de roubar frutas. Li isso não faz muito tempo e fiquei convencido de uma coisa: quem escreveu achava errado roubar e que cometi um erro. Agora, entretanto, quero ser honesto afirmando não acreditar que, em toda a minha variada carreira, eu tenha roubado mais que uma tonelada de frutas.
Certa noite, roubei (quer dizer, subtraí) uma melancia de uma carroça enquanto o dono, de nome Tião, conversava com o irmão, Jorge. Fugi de gatinhas para um lugar escondido onde verifiquei que a melancia estava verde. Era a melancia mais verde de toda a minha vida. Fiquei então pensando. E fiquei triste. Pensei no que homens ilustres, o Lula por exemplo, faria se estivesse no meu lugar. Pensei muito e de repente tive aquela estranha sensação do homem que toma uma boa decisão: peguei a melancia e devolvi ao Tião. Entreguei-a e disse a ele que me emendei. Ele ouviu atento minha falação e quando me deu uma melancia madura no lugar da verde, perdoei-o.
Falei que ia continuar freguês dele e que não guardava rancor do fato, que estava sempre verde na minha lembrança.
Resta-nos o conselho que o médico deu a Manoel Bandeira, tuberculoso: - O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito está infiltrado. - Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax? - Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.
Comentários neste blog passam por minha moderação, o que me confere o direito de publicá-los ou não. Textos assinados por mim refletem exclusivamente a minha opinião e não a das instituições para as quais trabalho ou venha a trabalhar. A reprodução do conteúdo é livre, desde que seja preservado o contexto e mencionada a fonte.
Li num panfleto que, quando menino, fui acusado de roubar frutas. Li isso não faz muito tempo e fiquei convencido de uma coisa: quem escreveu achava errado roubar e que cometi um erro. Agora, entretanto, quero ser honesto afirmando não acreditar que, em toda a minha variada carreira, eu tenha roubado mais que uma tonelada de frutas.
ResponderExcluirCerta noite, roubei (quer dizer, subtraí) uma melancia de uma carroça enquanto o dono, de nome Tião, conversava com o irmão, Jorge. Fugi de gatinhas para um lugar escondido onde verifiquei que a melancia estava verde. Era a melancia mais verde de toda a minha vida. Fiquei então pensando. E fiquei triste. Pensei no que homens ilustres, o Lula por exemplo, faria se estivesse no meu lugar. Pensei muito e de repente tive aquela estranha sensação do homem que toma uma boa decisão: peguei a melancia e devolvi ao Tião. Entreguei-a e disse a ele que me emendei. Ele ouviu atento minha falação e quando me deu uma melancia madura no lugar da verde, perdoei-o.
Falei que ia continuar freguês dele e que não guardava rancor do fato, que estava sempre verde na minha lembrança.
Sobre Roubo e Consciência (1902)
Resta-nos o conselho que o médico deu a Manoel Bandeira, tuberculoso:
ResponderExcluir- O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito está infiltrado.
- Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax?
- Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.
O tango, por favor o tango, já não aguento mais tanta prospecção!
ResponderExcluir