sábado, 6 de janeiro de 2007

ANA DO BOTÃO

Leila Jalul

Toda noite a mesma coisa.

- Madrinha Otília, estou com uma dor de cabeça de lascar. Dói até o caroço do olho!

- Deite minha filha, feche os olhos, reze e peça para Nossa Senhora do Perpétuo Socorro que afaste essa dor e será atendida.

Meia hora depois, nada!

- Madrinha, a dor ta piorando.

- Ô, minha filha, o que eu faço? Sua regra já veio?

- Não.

- Ainda não? Então é isso!

- Leila, Lígia, quem está acordada? Vão ali e ponham 40 gotas de elixir paregórico para a Anita.

E essa cantilena enfadonha e verdadeira se repetia dia após dia. A dor da Anita não deixava ninguém dormir. Era deitar e esperar.

- Madrinha?

Falava logo pra minha irmã: levanta, hoje é tua vez. Pinga 50 gotas que passa logo.

- Vó, não tem mais elixir, quê que eu dou?

- Minha filha, dentro da gaveta do meio, do criado da esquerda, bem no cantinho, tem uma caixa de Cibalena. Pegue uma, meio copo d’água e dê pra Anita.

Deixa eu lembrar: na gaveta esquerda do criado do meio, bem na frente, tem uma caixa de Cibalena. Dê que passa!

Passei a mão, peguei aquela bolotinha.

- Toma, Anita. Toma essa merda e vê se dorme!

Ela ainda gemeu uns 10 minutos e parou.

- Ana, passou?

- Tá quase.

E dormiu.

É preciso dizer que não tinha luz, o candeeiro ficava bem baixinho e trepado. Tudo para não gastar energia e menino não alcançar.

Já com sol claro, minha irmã descobriu que a Cibalena não passava de um pequeno botão. Pronto!

A partir desse dia, nossa paciente nunca mais reclamou. Ao primeiro sinal (minha irmã colocou a caixinha de botão debaixo da cama), um comprimido de madrepérola de Cibalena, meio copo d’água. Já?

Vamos dormir?

4 comentários:

  1. Anônimo12:33 PM

    Leila, salve os botões da madrinha.

    beijos

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  2. Anônimo1:12 PM

    Sérgio,
    Quer um: é melhor do neosaldina!
    Beijos

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  3. Anônimo9:13 AM

    Leila, que a indústria farmaceutica não
    saiba do "milagre dos botôes"

    beijos

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  4. Anônimo9:49 AM

    Serginho, a indústria farmacêutica já fez isso, de forma criminosa. Quantos remédios sem o princípio ativo já foram espalhados pelas fabriquetas de fundo de quintal! Muitos!
    Agora, o que me deixa encafifada é aquele Frei Galvão, lá de Guaratinguetá, que vai ser canonizado!
    Plabebos, placebos...

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