
- Ele tinha ouvido, pelo rádio, a notícia de que eu estava à procura do uirapuru. O governador Miranda acabou por me dar valiosas indicações sobre onde supunha ser mais fácil encontrar o lendário pássaro. Parti, então rumo ao seringal Bagaço, situado na divisa do Acre com o estado de Rondônia - conta Dalgas.
Ao anoitecer, ele finalmente chegou ao local sugerido. Pouco depois, caiu um temporal. Na manhà seguinte, aos primeiros raios de sol, parecia que toda floresta amazônica estava em festa. Sons de pássaros de diversas espécies vinham de todos os lados. Acompanhado de um guia índio, Dalgas foi penetrando a mata fechada.
- De repente, o guia chamou minha atenção. O uirapuru cantou, disse ele. E eu não tinha percebido nada. Pouco depois, ele repetiu a mesma frase. Entramos um pouco mais na floresta. A essa altura meu gravador e a parabólica já estavam operando. Então, um pequenino pássaro, menor que um tico-tico, pousou em minha aparelhagem. Tentei espantar a avezinha, quando o índio explicou: é o próprio uirapuru - recoda Dalgas.
Após alguns instantes de tensão, a avezinha vôou para o galho de uma árvore, a menos de um metro e meio dos dois espectadores boquiabertos e dali fez uma apresentaçào exclsuiva e sem pressa.
- Assim que o uirapuru parou de cantar, voltei a fita e reproduzi o canto, com qualidade perfeita. A avezinha ficou um pouco nervosa com o som de sua própria voz, suas penas arrepiaram-se e passou a cantar uma melodia totalmente diferente da primeira. Repeti o mesmo procedimento outras vezes e, ao final, consegui gravar oito cantos diferentes. No dia seguinte, retornei ao mesmo local e consegui gravar os mesmos cantos de forma ianda mais perfeita. Concluí, então, que havia feito um registro completo e inédito dos cantos dessa espécie. Foi uma das maiores emoções de minha vida.
Aquele que seria o encontro mais significativo de Dalgas com uma ave aconteceu em 9 de novembro de 1962, exatamente às sete horas da manhã, no Acre".

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