segunda-feira, 15 de maio de 2006

RUMUAL ÉKISSA

Do escritor mineiro Juarez Nogueira, que enviou a foto:

- Recebi esta mensagem, Altino. Com as ressalvas de costume, nesse país de analfabetos funcionais, dá para a gente refletir um bocado, né? E a estranha sensação de ter dentes num país de banguelas não serve de consolo. E enquanto isso, a bola rola...

3 comentários:

  1. Anônimo6:31 PM

    Altino, boa noite.
    Nem imagina, mas essa foto me deu uma vontade de chorar! Lembrei-me do Vinicius de Moraes naquele poema "Patriazinha". Creio que é esse o nome.
    Ah! perdoe-me, mas me deu uma pena tão grande do nosso povo. Esse povo que ama seu país, que trabalha tanto e nada tem. Que nem consegue expressar direito o amor e o orgulho que tem.
    Perdo-me, meu amigo, fiquei meio sentimental.

    Beijos

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  2. Anônimo6:51 PM

    Sarama, tá aqui:


    Pátria Minha

    Vinicius de Moraes


    A minha pátria é como se não fosse, é íntima
    Doçura e vontade de chorar; uma criança dormindo
    É minha pátria. Por isso, no exílio
    Assistindo dormir meu filho
    Choro de saudades de minha pátria.

    Se me perguntarem o que é a minha pátria direi:
    Não sei. De fato, não sei
    Como, por que e quando a minha pátria
    Mas sei que a minha pátria é a luz, o sal e a água
    Que elaboram e liquefazem a minha mágoa
    Em longas lágrimas amargas.

    Vontade de beijar os olhos de minha pátria
    De niná-la, de passar-lhe a mão pelos cabelos...
    Vontade de mudar as cores do vestido (auriverde!) tão feias
    De minha pátria, de minha pátria sem sapatos
    E sem meias pátria minha
    Tão pobrinha!

    Porque te amo tanto, pátria minha, eu que não tenho
    Pátria, eu semente que nasci do vento
    Eu que não vou e não venho, eu que permaneço
    Em contato com a dor do tempo, eu elemento
    De ligação entre a ação o pensamento
    Eu fio invisível no espaço de todo adeus
    Eu, o sem Deus!

    Tenho-te no entanto em mim como um gemido
    De flor; tenho-te como um amor morrido
    A quem se jurou; tenho-te como uma fé
    Sem dogma; tenho-te em tudo em que não me sinto a jeito
    Nesta sala estrangeira com lareira
    E sem pé-direito.

    Ah, pátria minha, lembra-me uma noite no Maine, Nova Inglaterra
    Quando tudo passou a ser infinito e nada terra
    E eu vi alfa e beta de Centauro escalarem o monte até o céu
    Muitos me surpreenderam parado no campo sem luz
    À espera de ver surgir a Cruz do Sul
    Que eu sabia, mas amanheceu...

    Fonte de mel, bicho triste, pátria minha
    Amada, idolatrada, salve, salve!
    Que mais doce esperança acorrentada
    O não poder dizer-te: aguarda...
    Não tardo!

    Quero rever-te, pátria minha, e para
    Rever-te me esqueci de tudo
    Fui cego, estropiado, surdo, mudo
    Vi minha humilde morte cara a cara
    Rasguei poemas, mulheres, horizontes
    Fiquei simples, sem fontes.

    Pátria minha... A minha pátria não é florão, nem ostenta
    Lábaro não; a minha pátria é desolação
    De caminhos, a minha pátria é terra sedenta
    E praia branca; a minha pátria é o grande rio secular
    Que bebe nuvem, come terra
    E urina mar.

    Mais do que a mais garrida a minha pátria tem
    Uma quentura, um querer bem, um bem
    Um libertas quae sera tamem
    Que um dia traduzi num exame escrito:
    "Liberta que serás também"
    E repito!

    Ponho no vento o ouvido e escuto a brisa
    Que brinca em teus cabelos e te alisa
    Pátria minha, e perfuma o teu chão...
    Que vontade de adormecer-me
    Entre teus doces montes, pátria minha
    Atento à fome em tuas entranhas
    E ao batuque em teu coração.

    Não te direi o nome, pátria minha
    Teu nome é pátria amada, é patriazinha
    Não rima com mãe gentil
    Vives em mim como uma filha, que és
    Uma ilha de ternura: a Ilha
    Brasil, talvez.

    Agora chamarei a amiga cotovia
    E pedirei que peça ao rouxinol do dia
    Que peça ao sabiá
    Para levar-te presto este avigrama:
    "Pátria minha, saudades de quem te ama...
    Vinicius de Moraes."


    Texto extraído do livro "Vinicius de Moraes - Poesia Completa e Prosa", Editora Nova Aguilar - Rio de Janeiro, 1998, pág. 383.

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  3. Anônimo6:57 PM

    Obrigada, meu querido.
    Agora chorei mesmo, não deu pra segurar.

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