quinta-feira, 27 de abril de 2006

ENTREVISTA COLETIVA

Conversei ontem com a Glória Perez, a quem sugeri uma entrevista exclusiva ao blog e fui prontamente atendido. Além de exclusiva, pode-se dizer que a entrevista será virtual e coletiva, pois mais gente participou e as perguntas foram enviadas para o correio eletrônico dela.

Explico: pedi a um grupo de amigos (três jornalistas, uma cientista política, uma antropóloga e um estudante de jornalismo) que elaborassem perguntas para a entrevista. Eles também aceitaram prontamente a colaboração ao blog.

Não sou a Glória Perez, mas fica criado um certo suspense ao publicar abaixo as perguntas. Agora vamos esperar a novelista emergir com as respostas e as fotos que serão usadas para ilustrar a entrevista.


Perguntas do jornalista Altino Machado

Há seis anos, quando a entrevistei pela primeira vez, à última pergunta você respondeu que seu grande sonho era escrever sobre o Acre, que tinha a certeza de que isso viria a ser o seu trabalho mais bonito. Continua convencida disso, agora que começou a escrever a próxima série da Rede Globo sobre a história de sua terra?

O que pode significar para o povo brasileiro a história do povo acreano, em parte tão desconhecida?

Após tantas pesquisas, qual a leitura que você faz agora de Luis Galvez e Plácido de Castro?

O escritor Araújo Lima chegou a sugerir em livro alguns romances de Plácido de Castro no Acre. O que você já conseguiu resgatar da vida afetiva do nosso herói?

No começo do século passado, após a Revolução Acreana, a companhia feminina era privilégio de poucos. Como apresentar um herói solitário, obcecado por fortuna e poder, sem que seja dada margem à questionamentos sobre a sexualidade dele?

Naquela primeira entrevista, consegui localizá-la na internet e você também respondeu às perguntas que enviei para o seu correio eletrônico. Na semana passada, o colunista Luiz Gravatá, do Globo, se referiu a você como internauta-escritora. Como encara o advento da internet no seu trabalho, especialmente da blogosfera e das comunidades virtuais?


Perguntas da professora e cientista política Letícia Mamed:

A Amazônia é comumente tratada pela grande mídia de modo homogêneo, o que dificulta a compreensão de suas reais características e particularidades internas. Como você pensa em tratar o contexto acreano no sentido de destacar o que lhe é mais peculiar?

A princípio, o que você já tem identificado como características singulares do Acre e da sua história?

Sobre o compromisso social deste seu novo trabalho, o que mais tem lhe motivado e/ou inspirado a estudar e a trabalhar o Acre?


Perguntas da antropóloga Mary Allegretti:

Como você vai mostrar o movimento social que estava associado ao Chico?

Qual a causa que pretende promover, como sempre faz em suas novelas?

Você tem tem consciência do fato de que o Brasil continua insistindo em não reconhecer o Chico como um herói (apesar de estar no Panteão da Pátria) enquanto o mundo o reverencia todo o tempo? A minissérie poderia ser uma oportunidade de popularizar a história dele?


Perguntas do jornalista Elson Martins:

Você já construiu, em suas novelas e minisséries, algum personagem parecido com Chico Mendes?

Na sua opinião, Chico Mendes parece mais com Ghandi, Che Guevara, John Lennon, Evo Morales ou quem mais?

Na Amazônia começamos a refletir sob o olhar do colonizador. Historicamente, ele tem “traduzido” a região para o país e o mundo, o que nos leva a dar pouca importância às nossas riquezas naturais e ao nosso conhecimento de povos da floresta. Acreano, atualmente com 66 anos, experimentei no passado uma certa vergonha de ser amazônida. Agora, assumo o olhar do colonizado como arma de ataque e defesa, e me orgulho disso. A pergunta é: como acreana e escritora renomada, você percebe a diferença entre esses olhares e a importância que poderá ter no Acre de hoje?

Eu acho que a Rede Globo trabalha com o olhar do colonizador no país, sobretudo na Amazônia. Vai dar para contornar esse “mau olhado” na minissérie?

Alguns escritores já se referiram à lezeira amazônica confundindo-a com “lerdeza”. Na verdade, a lezeira tem a ver com o estado de espírito das pessoas, o tempo em que elas se movem, se alimentam, trabalham, amam etc. A lezeira estará contemplada na minissérie?

Fui aluno de português de seu pai, Miguel Ferrante, no Colégio Acreano dos anos 50. Lembro que era um homem alto, elegante e apaixonado por literatura. Naquela época, era difícil perceber a ideologia dos mestres, até porque a expressão comunismo assustava muitas famílias. Seu pai era comunista?


Perguntas do estudante de jornalismo Hermington Franco:

Nos meios acadêmicos a TV Globo é vista com reservas no que se refere a qualquer pureza de intenções de seus programas. Boa parte do horário da Globo é destinada à teledramaturgia e essa produção também é questionada como grande veiculadora de ideologias por parte da emissora. Os autores de novelas da Rede Globo são livres até que ponto?

A minissérie sobre o Acre terá quais principais fontes de pesquisas? Já teve alguma surpresa, alguma curiosidade sobre essa pesquisa que possa nos adiantar?

A principal diferença entre escrever sobre temas “emergentes” ou histórias de época é a pesquisa? Como é pensada a diferença da narrativa nesses casos?

A declaração de inconstitucionalidade da lei de crimes hediondos pode beneficiar pessoas condenadas por crimes bárbaros, como o que vitimou a Daniella. Você pretende incluir uma possível crítica a isso em alguma obra futura?

Como é ser acreana num mundo de paulistas e cariocas?


Perguntas do professor de jornalismo Maurício Bittencourt:

É comum em minisséries a mistura de fatos históricos com fictícios, o que pode confundir o público quando o limite ficção/história é impreciso. Como pretende lidar com isso em "De Galvez a Chico Mendes"?

Que critérios você usa para dar nuances fictícias a fatos históricos?

Algumas idéias da revolução acreana permanecem ousadas, pois assuntos da época continuam em pauta, entre eles, a discussão sobre o conceito de desenvolvimento e a influência internacional na Amazônia. Como tratará desses temas presentes nos motivos da Revolução?

E a pesquisa para a minissérie: pode descrever o funcionamento de sua equipe?

Há muito contraste quando se confronta o "discurso oficial" da História com os dados da pesquisa para a minissérie?

Você é reconhecida como autora de grandes sucessos. A batalha por audiência influencia de alguma maneira o seu trabalho?

Em produções como "JK" e "Mad Maria", a Globo parece tender ao estereótipo na caracterização de personagens "bons" ou "maus". Até onde vai a certeza de que no vídeo o personagem será reproduzido fielmente em relação ao texto? Como funciona essa dinâmica autor/produção/direção?

Que mitos, festas, rituais da cultura acreana vai mostrar na minissérie?


Pergunta do jornalista Antonio Alves, que mais uma vez se esforçou para chegar atrasado, inspirado que é em Juvenal Antunes, o autor do "Elogio da preguiça":

Caramba, Altino! Só agora abri minha caixa, não almocei ainda e não tem nem como pensar em perguntas pra Glória Perez. Só me lembro de uma idéia que tive tresantonte, quando soube que ela ia colocar o Juvenal Antunes como personagem da minissérie sobre o Acre: que tal ela pesquisar também a vida do Garibaldi Brasil? Ah, não, mas se a gente for sugerir personagens, nesta próvíncia tão farta de tipos, a minissérie vira uma novelona. Agora vou comer e depois tenho uma reunião. Antes dela, se lembrar de alguma coisa, te mando. Abraço e boa entrevista.

3 comentários:

  1. Anônimo5:19 PM

    Quando meu tempo de trabalho permitia, assisti alguma parte da última série global sobre a Amazônia, baseada no livro Mad Maria, de Marcio de Souza. Fiquei impressionado com a imprecisão histórica naquilo que dizia respeito a região. Na verdade, o roteirista tratou de mostrar as desventura de um gringo ao buscar a Amazônia como espaço de investimento. Ou seja, deixou um único papel para a região: palco para o desenrolar do papel do mocinho da história, vivido na telinha por F´´abio Assunção. O resto da história transcorre onde a classe dominante acredita se desenrolar o que de fato interessa para a História brasileira: Rio de Janeiro e São Paulo. Mais lamentável, até mesmo o ambiente amazônico é totalmente descaracterizado. As imagens são amrcada por um tom amarelado, indicação de muita luz, o que mostra um total desconhecimento do que é a luz num espaço de 'mata virgem'. Numa dos capítulos que assisti aparece um índio vestido como um 'pele-vermelha" daqueles que habitavam o norte do planeta. Espero que Glória Peres consiga evitar as armadilhas da historiografia 'oficial' e evite dar a história regional uma compreensão baseada no exótico. O Acre é, antes de tudo, uma invenção da modernidade que se apoia no extraordinário avanço do capitalismo industrial.

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  2. Anônimo5:44 PM

    Altino, boa noite.
    As perguntas são excelentes, principalmente aquelas que tratam da singularidade entre os vários ambientes e gentes amazônicos (adoro essa linda palavra) e essas que tratam da visão do colonizador, muito interessante porque a única que todos nós os brasileiros temos.
    Estou ansiosa para ver as respostas da famosa acreana.
    E, mais uma vez digo, sinto-me privilegiada por conhecê-lo, aliás, o seu blog, onde há vida inteligente e alma, tudo disfarçado em sua despretensão.

    Beijos

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  3. Anônimo1:47 PM

    TOMARA QUE ESSA MINISSERIE SE FÔDA E QUE A RECORD PASSE A GLOBO EM AUDIÊNCIA NO HORARIO ,POIS NA MIMHA OPINIÃO ,O AMAZONAS EO PARANÁ TEM HISTORIA MUITO MAIS BONITA DO QUE ESSE ESTADOZINHO MERRECA,SÓ MORO AQUI POR QUE É O JEITO SE NÃO ME DANAVA DAQUI.

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