Passei quase três horas da manhã de sábado na companhia do jornalista Roberto Vaz, que é diretor do site Notícias da Hora. Ele me convidava há meses para conhecer a sua redação e então decidi convidar o jornalista Elson Martins para me acompanhar.
Quase não tivemos tempo para falar, pois logo o Vaz abriu um armário do qual tirou e leu em voz alta capítulos picantes do “Jogada$ do Poder”, o livro de memórias que está escrevendo.
Vaz já viveu e presenciou muita coisa como menor carente, office-boy do Palácio Rio Branco, radialista, jornalista e empresário de comunicação no Acre.
Para não correr risco de ser assassinado ou evitar uma avalanche de ações judiciais, Elson Martins e eu aconselhamos Vaz a continuar a escrever as memórias, mas que deixe para publicá-las daqui a 10 anos ou mais por causa das figuras citadas no livro.
Existe um capítulo revelador sobre a viagem que Vaz fez a São Paulo, em outubro de 1991, para cumprir uma missão que envolvia o então governador Edmundo Pinto. Ele viajou sem saber com quem iria encontrar.
Ao desembarcar no aeroporto de Cumbica, Vaz foi recebido e levado diretamente ao homem que estava hospedado no apartamento 311 de um hotel. Quando o homem abriu a porta, Vaz não se conteve:
- O senhor é o PC Farias?
- Sim, sou eu. Entre, jovem - respondeu o ex-tesoureiro da campanha de Fernando Collor.
PC logo avisou que teriam mais tarde uma reunião ali mesmo, no hotel. Encantado com o conforto do luxuoso apartamento onde ficou hospedado, Vaz se atrasou para a reunião. Quando abriu a porta, PC já o aguardava tranquilo no corredor.
Na verdade não havia reunião marcada. A dupla seguiu para o aeroporto, onde se juntou a Leopoldo Collor. Embarcaram num Boeing que era ocupado apenas pelo trio e a tripulação.
Vaz não sabia qual era o destino e nem procurou saber. Dentro do avião, PC Farias foi lacônico ao tentar tranquilizá-lo:
- Estamos indo agora resolver o pedido daquele nosso amigo.
Desembarcaram no aeroporto de uma cidade na Alemanha, onde foram recebidos e levados numa van até um galpão onde havia as mais belas máquinas impressoras de jornal em exposição. PC Farias mais uma vez dirigiu-se a Vaz:
- Agora você pode escolher a máquina do nosso amigo.
Tendo Vaz feito a opção por uma impressora que, ao contrário do que fora planejado, não seria transportada no mesmo avião, o trio voltou no mesmo dia ao Brasil. A impressora custou R$ 600 mil.
PC Farias e Leopoldo Collor, segundo Vaz, desapareceram repentinamente logo após o desembarque em São Paulo. Quando Vaz saia do aeroporto, uma mulher se dirigiu a ele e falou:
- Senhor, devolva-me aquele documento vermelho.
Ele ficou sem o passaporte diplomático que haviam lhe entregado antes da viagem, mas no final daquele ano a máquina adquirida na Alemanha já estava em Porto Velho (RO).
Vaz afirma que optou-se por camuflá-la num depósito, para que fosse transportada ao Acre em momento oportuno, sem chamar muito a atenção.
Mas a história mudou com o assassinato do governador Edmundo Pinto num hotel em São Paulo, em maio do ano seguinte.
Após o assassinato, Roberto Vaz e seu então sócio no jornal A Gazeta, o jornalista Sílvio Martinello, procuraram a viúva Fátima Almeida para anunciar que ambos eram sócios de Edmundo Pinto num "contrato de gaveta" que envolvia uma empresa denominada Fênix.
O "contrato de gaveta" fora elaborado pelo advogado José Ravagnani, ex-procurador geral do Estado.
Edmundo Pinto havia conversado com a mulher dele a respeito da sociedade com Roberto Vaz e Sílvio Martinello para fundar um novo jornal no Acre. Ao ser procurada, a viúva disse aos dois jornalistas que não tinha interesse em tocar o projeto.
Os três decidiram vender a impressora pela metade do preço. A máquina foi comprada por U$ 300 mil pela empresa que edita o jornal Diário da Amazônia, de Rondônia. Roberto Vaz recebeu U$ 38 mil, Sílvio Martinello U$ 40 mil e Fátima Almeida ficou com os demais dólares.
Quando for publicado, o leitor poderá conferir que o capítulo escrito por Roberto Vaz em “Jogada$ do Poder” é bem mais detalhado e divertido que o meu.
O ex-governador e ex-senador Flaviano Melo, sócio de Martinello e Vaz no jornal A Gazeta, jamais tomou conhecimento da transação paralela deles com o seu adversário político.
O que o governador Edmundo Pinto fez para merecer de PC Farias um presente de U$ 600 mil?
O fato reforça as velhas teses de que o assassinato de Edmundo Pinto foi um crime político tramado por corruptos de Brasília e do Acre.
Ao contrário do que concluiu a Polícia Civil de São Paulo, permanecem as evidências de que o crime não foi latronício - roubo seguido de morte.
Conta mais, Vaz, conta mais!
ResponderExcluirÉ difícil ser historiador no Acre por causa da insuficiência de fontes. Pedro Martinello desvelou os Acordos de Washington, envolvendo o Acre na segunda guerra, justamente porque passou cinco anos naquela cidade americana consultando arquivos. No Acre os arquivos estão fragmentados e sob as mais diversas formas de tutela. Mas você, jornalista, tem acesso a muitas informações que estão ainda na cabeça de pessoas como o VAz. Você é um dos poucos que usa a memória e trabalha com essa perspectiva passado/futuro típica de historiadores.Aliás, para ser historiador não precisa fazer faculdade de história. Bons historiadores são médicos, inclusive.Essa é uma dica para você publicar um livro sobre esse assasssinato do governador que ainda não foi esclarecido.Pode conseguir um patrocinador para fazer as viagens e entrevistas necessárias fora do Acre. Ou não, como diria Caetano.Fátima Almeida.
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