quarta-feira, 9 de março de 2016

Em Brasileia, a memória de um ícone do sindicalismo e do PT na lama

POR ANDERSON PEIXOTO



Estive em Brasileia, visitei o Memorial Wilson Pinheiro e fiquei chocado com o que vi. Já não é novidade para ninguém a situação daquela cidade após os seguidos alagamentos, bem como o jogo de empurra sobre a responsabilidade em recuperá-la, vide o caso da avenida Marinho Monte, principal via da cidade.

Brasileia tem ruas totalmente esburacadas, o Parque Centenário coberto por mato e terra e aquela beira de rio totalmente abandonada.

Mas o que quero ressaltar é a questão do Memorial Wilson Pinheiro, que junto com a casa de Chico Mendes, em Xapuri, simbolizam os principais equipamentos históricos da luta repercutida mundialmente entre pecuaristas e seringueiros nas décadas de 1970 e 1980.

O museu está jogado às traças. Virou foco de dengue como mostra uma plaquinha fixada em uma de suas janelas. No que resta do Memorial pude ver quadros, painéis, objetos históricos, além de documentos originais, escritos por Wilson Pinheiro, Chico Mendes e outros representantes dos sindicatos à época.


Os materiais estão soltos, quebrados e cobertos por poeira e terra. O chão está com a terra trazida pelo rio Acre ao longo das alagações, exatamente do mesmo jeito. Sem contar que o acesso ao espaço acontece tranquilamente. Entrei no Memorial e fiquei lá dentro um tempão olhando tudo e fotografando sem acreditar no descaso que eu presenciava.

Perguntei a um representante do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Brasileia (localizado nos fundos do Memorial) sobre aquela situação e a resposta foi que a Fundação Elias Mansour ordenou que era para deixar tudo como estava e que se algo fosse alterado a multa era pesada. Depois da visita da FEM já se passou muito tempo e não há resposta sobre reforma ou restauração do espaço.

Não conheci Wilson Pinheiro, mas imagino que ele preferiria que seu nome fosse lembrado como símbolo da luta dos trabalhadores rurais, e não apenas em pontes e ginásios.

Diante do que vi no Memorial, saí com duas impressões. A primeira é que o descaso pode mostrar como está fragilizado o sindicalismo rural no Acre. A segunda impressão revela o desinteresse do poder público na formação cultural e histórica dos acreanos e daqueles que querem conhecer mais sobre essa terra.

É esse o valor que o governo do Acre dá para sua história? É muito fácil sair pelo mundo venerando os povos da floresta, o movimento seringueiro e dizer que tudo está a mil maravilhas no Acre, mas como diz o ditado: "Quem te conhece que te compre".

E não me venha com essa história de #PartiuAcre, pois chegar nas cidades do Alto Acre é um desafio e tanto. Caminhar por aquelas ruas é mais difícil ainda.

Para completar, voltei de Brasileia dentro de um ônibus velho, sem para-choque, com bancos quebrados e sujos, mas que diariamente faz a linha Assis Brasil/Rio Branco. Esse retorno mereceria um relato a parte.



Anderson Peixoto é estudante e funcionário público

Um comentário:

Thalita disse...

Anderson, é de fato uma pena que os espaços de memórias de nossa história acreana estejam sendo perdidas ao longo dos anos. Vc vem acompanhando minha trajetória na pesquisa sobre as potencialidades turística do Acre, estes apontamentos são importantes para identificarmos os limites que precisam ser superados aqui. Obrigada pela contribuição e por expressar seus desapontamentos com a condução do turismo no nosso Estado. Prezo para que minhas conclusões não sejam tão "óbvias", mas que muito mais que apontar nossas limitações, consiga identificar os potenciais e ainda sugerir os caminhos para uma boa gestão desta temática em nosso estado, e conseguir contribuir, mesmo que no campo teórico, que o turismo pode ser um vetor para nosso desenvolvimento regional. Abraços e sucesso na sua pesquisa!