sexta-feira, 4 de setembro de 2015
Qual é a sua, cara?
No dia 25 de agosto, uma carreta com 110 porcos que seriam levados para o abate em um frigorífico da Grande São Paulo tombou no Rodoanel, em Barueri. Muitos dos suínos ficaram feridos ou morreram. Ativistas de entidades protetoras dos animais foram até a rodovia e ajudaram a resgatar alguns dos suínos. Deram água, cuidaram e depois levaram os animais para um sítio. Chegaram a fazer uma vaquinha virtual e arrecadaram R$ 280 mil para evitar o abate dos porcos.
Naquele mesmo dia 25, acordei cedo e enviei para o WhatsApp do governador do Acre, Tião Viana, às 5h34, a mensagem a seguir:
- Bom dia! Acordei mais uma vez a pensar nos imigrantes que estão há mais de três meses sem banheiros e vasos sanitários. Será que apenas eu, que não detenho poder, sou capaz de enxergar essa realidade dantesca? Apelo por sua comiseração. Abraço.
Três horas depois, o governador telefonou para agradecer o alerta e para anunciar que, apesar de depender de verba do governo federal, havia determinado que a Secretaria de Obras Públicas (Seop) providenciasse a construção de latrinas no abrigo de imigrantes haitianos e africanos em Rio Branco. Ainda no final da tarde daquele mesmo dia, uma assessora de Tião Viana enviou mensagem:
- Boa tarde. O governador pediu para lhe informar que a Seop já realizou vistoria nos banheiros e amanhã (26 de agosto) uma empresa já vai iniciar as obras.
Estive no abrigo de imigrantes nesta quinta-feira (3) e pude constatar que os banheiros foram limpos e estão sendo construídas latrinas. Os vasos sanitários que existiam estavam entupidos e foram retirados. Os imigrantes, na verdade durante quase cinco meses, faziam suas necessidades na capoeira no entorno do abrigo. Ou usavam as marmitas descartáveis de papel alumínio como vasos sanitários.
Muitos agora só se dão conta do drama dos imigrantes por causa da morte do menino sírio Aylan Kurdi, de três anos, cujo corpo foi fotografado na praia de Ali Hoca, em Bodrum, causando consternação e ganhando manchetes no mundo inteiro, virando símbolo do drama enfrentado por milhares de refugiados sírios, afegãos e iraquianos que buscam recomeçar suas vidas na Europa.
Rememoro esses fatos porque meu amigo Janu Schwab compartilhou no Facebook uma reportagem que escrevi em março, intitulada “Com débitos e abrigo superlotado, AC quer que governo federal assuma imigrantes”, na qual o governador Tião Viana considerava a situação um “drama humanitário de imigração”. E Janu mandou bem no comentário:
- Você se comove com a foto do corpo do menininho refugiado lá na Europa, mas quer que os imigrantes haitianos apodreçam no abrigo improvisado lá no Acre? Qual é a sua, cara?
A questão migratória que perpassa o Acre se arrasta há cinco anos, sendo marcada por pontuais ações e profundo silêncio institucional, sem qualquer vislumbre de solução.
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Um comentário:
A diferença está, Altino, em que é chocante ver uma criança branca morta por afogamento numa praia européia...
Me perplexifica é constatar o pseudo-movimento "negro" acomodado (literalmente) na estrutura do Governo Acre, calar, não ver, nem cheirar a situação dos haitianos embora ela esteja bem embaixo dos seus narizes.
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