sexta-feira, 28 de novembro de 2014

RS faz 'tempestade em copo d’água' por causa de imigrantes haitianos, diz Acre

Haitianos no abrigo de imigrantes, em Rio Branco, com destino a São Paulo e Porto Alegre

O governo do Acre considera “tempestade em copo d’água” a reação crítica do governo do Rio Grande do Sul em decorrência dos ônibus com imigrantes do Haiti que teriam sido enviados durante a semana, de Rio Branco para Porto Alegre, sem aviso. O secretário de Desenvolvimento Social do Acre, Antonio Torres, disse que o governo estadual foi orientado pelo Ministério da Justiça a providenciar o embarque dos imigrantes haitianos para a capital gaúcha.

- O governo gaúcho está fazendo uma tempestade em um copo d’água. Essa questão tem que ser dialogada com o Ministério da Justiça porque não é o Acre que coordena a política e as ações em benefício de imigrantes no país. O Ministério da Justiça é quem tem que dar respostas. Nós estamos cumprindo com as orientações do plano de trabalho de um convênio com o ministério. Nós comunicamos isso ao governo do Rio Grande do Sul. Se não está havendo comunicação entre eles, paciência – afirmou Torres.

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As autoridades gaúchas reclamam que os imigrantes chegam a Porto Alegre com carteira de trabalho, permissão do governo federal para trabalhar, mas sem previsão de emprego.

O abrigo de imigrantes caribenhos e africanos, mantido em Rio Branco pelos governos federal e estadual, permance lotado há mais de três meses. Na manhã desta sexta-feira (28) havia 420 imigrantes, sendo 350 haitianos, que isputavam inscrição na lista de 44 passageiros do quinto ônibus que sairá de Rio Branco com destino a Porto Alegre esta noite. Cerca de 30 mil imigrantes já passaram pelo Acre desde o final de 2010, quando começou o fluxo crescente na fronteira com Bolívia e Peru.

Com verba do governo federal, o Acre contratou por R$ 1,1 milhão uma empresa de ônibus para transportar imigrantes em território acreano até as cidades de São Paulo e Porto Alegre.

O governo estadual exigiu que os 24 ônibus fretados tenham cortinas, ar-condicionado central, poltronas reclináveis e que a empresa forneça aos estrangeiros água, café da manhã, almoço e jantar, no trecho de Rio Branco a Porto Alegre, com paradas em Porto Velho (RO), Cuiabá (MT), Campo Grande (MS), Curitiba (PR), Florianópolis (SC).

O secretário Antonio Torres disse ter comunicado na sexta (21)  o governo gaúcho sobre o envio de haitianos. Segundo ele, foi o Ministério da Justiça orientou o Acre a providenciar, além de São Paulo, como já vinha sendo feito desde abril, o embarque de imigrantes haitianos para Porto Alegre.

- Telefonei e conversei com Débora Silva, da Secretaria da Justiça e dos Direitos Humanos do Rio Grande do Sul. Minha equipe enviou até a relação dos imigrantes e eu mesmo informei que todos estão saindo daqui documentados com protocolo, carteira de trabalho, CPF e, no caso de crianças, com autorização do Juizado da Infância e Juventude. A gente informa que dispomos de ônibus para Porto Alegre, eles se inscrevem na lista e assim a gente os envia.

O secretário rebateu as críticas de que o governador do Acre, Tião Viana (PT), deveria ter telefonado para o governador gaúcho Tarso Genro (PT).

- Lamento que haja falta de comunicação na equipe do governo do Rio Grande do Sul, mas logo os gaúchos vão se ajustar à realidade. São apenas oito ônibus previstos no plano de trabalho.  A embaixada do Haiti não telefona para o Acre todo dia dizendo que vai chegar 100 imigrantes. Sendo assim, o governador do Acre não tem como ficar ligando todos os dias para os demais governadores, para avisá-los que vai chegar ônibus com imigrantes em seus estados.

Torres lamentou que o governo gaúcho tenha identificado dificuldade em lidar com os imigrantes e “jogado a responsabilidade sobre o governo do Acre”.

- Não dá pra funcionar assim. Estamos fazendo um trabalho com responsabilidade e coerência. Não estamos tentando nos livrar de um problema jogando no colo dos outros. O fato é que o Acre se tornou porta de entrada de imigrantes africanos e caribenhos que querem seguir com destino a outros Estados. Imprevistos vão acontecer sempre, pois os próprios imigrantes não têm clareza do que querem e para onde querem ir no país, e vão decidindo na medida em que se encontram.

Em Rio Branco (AC), 420 imigrantes aguardam ônibus com destino a outros Estados

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