sábado, 21 de dezembro de 2013

Tributo a Chico Mendes

POR ISAAC MELO

É possível progresso na Amazônia sem os bois do agronegócio?
É possível agronegócio sem a destruição da floresta?
É possível a floresta sem destruição?

Chico Mendes
Encontrou o momento propício ou fez propício
o momento para a discussão ecológica?

Chico Mendes
se tornou um mito porque era grande a sua causa
Ou a causa se tornou grande por sua luta?

A borracha nunca deu certo, nunca beneficiou o Acre,
Que viveu sempre das sobras que lhe deixaram.

Os seringueiros foram espoliados.
Os patrões faliram.
Os governos fracassaram.

Há mais de um século o Acre vive com
O mesmo modelo de economia,
Degradante, dependente e dispendiosa.

O pequeno agricultor abandona a lavoura
Para se dedicar a criação de gado, pois esta é menos dispendiosa
E mais lucrativa. Já que viver da farinha que produz, do arroz, do milho...
Não é suficiente, nem encontra mercado e valor adequados a estes produtos.
Não há dúvida entre uma saca de farinha e um boi.

Assim, o pobre desmata, o rico desmata.
Aquele um roçado por ano;
este dezenas de hectares por dia.

Mas os governos comemoram os resultados positivos.
A comemoração é a floresta em chamas,
Com as labaredas riscando os céus
Em dantescos fogos de artifícios.

A pobreza grassa os seringais.
Expulsa seringueiros, colonos, ribeirinhos.
Seringueiros de ontem, favelados de hoje.

Pequenas cidades com grandes problemas
Valas à céu aberto, ruas enlameadas, esburacadas
Prefeitos, sorridentes e cínicos, contentam-se com o que fazem
E pousam para fotografias que irão ilustrar
As páginas de seus blogs e jornais
Em títulos de matérias vangloriosas que anunciam o excelente
Trabalho que desenvolvem sempre em prol do povo.

O povo embasbacado e anestesiado
Agradece, contente, a benesse dos governos
Que o mantém na eterna dependência.

Cresce a criminalidade, os muros alteiam-se
As drogas, qual alagação indomável, alastram-se.
O governo cria mais prisão
(corta o investimento da educação)
para o pobre que, privado de pão,
se torna nem sempre o bom ladrão.

Mais penitenciária
Para uma educação precária.

O ribeirinho, o colono, na sua dignidade maltratada
Continua a plantar seu roçado, a criar seu gado
Abandonados pela inexistente política de Estado
Que lhe torce o nariz para investimento técnico e cultural.

Soldados da borracha apátridas caem desfalecidos
Nas trincheiras burocráticas
Assassinados por sua própria pátria
Que os enterrou para sempre
No túmulo, outrora verde, da floresta.
Haverá ressurreição?

Povos indígenas um dia dizimados em correrias
Na onda ‘civilizatória’ da ocupação
E progresso do último grande setentrião.

A cada curva de rio tombou um índio à bala.
Bilós, Cerqueiras e padres completaram
O amansamento do ‘gentio’.
Foram os últimos assassinos do rifle
E da palavra.

Agora índio pra ser índio tem que dançar o mariri
Tomar caiçuma, fantasiar-se com vistosos cocares
E fazer festival para gringo, político e intelectual apreciar.
Nova forma de extermínio?

Acre, acre, ácido,
Terra, como toda terra, de contradição
Porque contraditório é o homem.
Terra de meu amor
Onde viceja também meu ódio.

Fogos, música, satisfação e felicidade
Formam a grande mentira deste Estado.

E Chico Mendes?
Morreu em vão?

Em vão morre todo aquele cujo legado
Acaba-se enterrado, com o corpo, num caixão.

Isaac Melo, natural de Tarauacá (AC), é formado e especializa-se em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Edita o blog Alma Acreana.

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