sábado, 19 de outubro de 2013

Terrorismo de Estado no Acre: Eu como alvo de blitz do Detran

POR LETÍCIA MAMED

Aos trinta minutos deste sábado, após um dia de intenso trabalho na Universidade Federal do Acre, eu e Laura Mamed fomos paradas nas imediações de nossa casa, próximo ao Mercado do Bosque, por agente de trânsito que preparava barreira para mais uma blitz em Rio Branco.

- Senhora, me passe o seu documento e o do carro - ordenou assim mesmo.

Repassei a documentação prontamente, mas o agente não se conteve:

- Está tudo certo com os documentos, mas eu preciso perguntar: a senhora bebeu muito?

Com toda a paciência que me é peculiar, disse ao moço que não bebo. Aliás, nunca bebi.

Não satisfeito, o agente remendou:

- Vou liberá-la do bafômetro, mas vou lhe dar um conselho: quando a senhora avistar uma barreira policial, diminua a velocidade para evitar um acidente.

Ora, se a pergunta partiu da ideia de que eu havia bebido, ele teria obrigação de sugerir o teste, sem adotar um "jeitinho", para posar de benevolente.

Mesmo dispensando a suposta benevolência por ter me liberado, pacientemente ainda disse que estava com apenas 40 km de velocidade.

No tom inquisidor de sempre, o agente insistiu:

- Mesmo com 40 Km a senhora pode causar um acidente grave, portanto, diminua.

Eu me calei e fui embora, afinal, não seria possível dialogar com um agente público assim, empoderado e tão cheio de razões sobre tudo e todos.

Moral da história

No Acre, o terrorismo de Estado sempre surpreende. O princípio de que todos são inocentes até que se prove o contrário, não vale. A regra é que todos são culpados e talvez possam se explicar.

Respeito a política do Álcool Zero, mas discordo do seu viés pedagógico, pautado em abordagens truculentas, e desconfio da real finalidade dos recursos obtidos por meio das suas ações.

Lembro ao governo do Estado, ao Detran, e a todos os interessados que o meu dever de comprovar a regularidade da minha situação como cidadã é equivalente ao dever das instituições em me respeitarem. Deveria ser assim a vida no Estado de direitos.

Letícia Mamed é professora do Centro de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal do Acre

7 comentários:

altvR disse...

Altino, abordagens desse naipe, quando não há nenhuma irreguladidade por parte do motorista, nos fazem crer que os agentes nos provocam à prática do desacato! Abordagens tais que nos deixam enojados! Com inteligência e paciência agiu a professora!

Gleiciane disse...

Certa feita fui abordada por um agente de trânsito em Sena Madureira, cuja conduta foi semelhante à relatada pela professora. Como não encontrou irregularidades, ele resolveu discursar e me repreender porque minha CNH estava a 30 dias de vencer. Falou o que quis e o que não quis, decerto, como disse a pessoa acima, provocando o desacato. Tive que engolir a vontade de mandá-lo se lixar por puro medo de ser levada à delegacia e perder um tempo que naquele momento, eu não tinha. TERRORISMO MESMO.

Unknown disse...

Particularmente todas as abordagens que sofri sempre foram muito educadas. Até quando eu, de maneira imprudente, num dia de chuva, bati na traseira da caminhonete da Polícia Militar. Não podemos generalizar e achar que todos os policiais militares do Acre agem de forma truculenta e mal educada.

Roberto Feres disse...

tente renovar uma CNH no Acre antes que ela vença e vc não conseguirá

Eduardo Hadad disse...

A Letícia disse tudo!
infelizmente é assim, não seu até quando!

Unknown disse...

A Lei Alcool zero vem alcançando bons resultados, porém ocorre por parte de alguns agentes exageros inadimissíveis.

Unknown disse...

Esse caso gerou tema da minha redação,sou favorável a Lei Seca ao Volante porém os exageros por parte de alguns agentes são inadimissíveis.