sexta-feira, 18 de outubro de 2013

"Florestas do Meu Exílio" é uma narrativa dos anos de chumbo

POR EDILSON MARTINS 


“Florestas de Meu Exílio”, de João Capiberibe, é a história de uma geração, que mergulha, corajosamente,  numa luta desigual de vida e morte pela liberdade de seu país. Até aí, nenhuma grande novidade, pois esta narrativa – que perseguiu, prendeu, torturou  e eliminou a geração dos anos  de chumbo da ditadura militar -  é recente e vem sendo contada nas últimas décadas.

Novidade é o que Capiberibe fez, melhor dizendo, é a forma com que foi contada a saga suicida dele, Janete e um bebê de u ano, de nome mais que exótico, Artionka, filha do casal, fugindo da perseguição política, conseguindo escapar de um presídio em Belém, e se deslocando, sabe Deus como, sem dinheiro, sem cobertura de ninguém, jovens e inexperientes, num roteiro de mais de 6 mil quilômetros de rios e estradas.

Nessa saga inimaginável,  que começa em Belém, Santarém, passa por Manaus, Porto Velho, Guajará Mirim,  corta países como a Bolívia, Peru e finalmente chega a Santiago, onde o Chile era a última rota de fuga dos cães do governo militar.

Mas não pararam naquele país, já que outro golpe militar, apoiado pele ditadura brasileira, derruba Salvador Allende, obrigando nova fuga, escapando milagrosamente de fuzilamento, no estádio de Terror do Chile, por uma dessas razões que a vida não explica sob a ótica da razão. O destino então foi o Canadá.

Uma boa história não basta para ser um bom livro. Um bom livro precisa de forma, da arte nada fácil de prender, seduzir o leitor. A notícia de jornal, o jornalismo, não precisa em si de uma excelente arte de escrever.

O governador, ao descer no aeroporto da capital, num surto de insanidade, mordeu as pernas do primeiro cachorro que encontrou. Esta é uma notícia que não precisa de nariz de cera.

Pois bem, a saga de Capi, Janete e Artionka é uma narrativa que prende, emociona e nos conta a história  recente de nosso país, que precisamos resgatar, já  que nenhuma democracia pode cometer o pecado da desatenção, imaginar que não existam perigos permanentes.

Capiberibe fugiu da cadeia paraense, juntamente com essa pequena família, em razão de sua militância na ALN, de Carlos Maringhella, assassinado no final dos anos 60, em São Paulo. O livro, portanto, emerge desse momento político, com suas tragédias e misérias humanas.

De certa forma o Acre, mais especialmente Cruzeiro do Sul, está inscrito nessa história, já que Capi, ao retornar ao Brasil, pela Lei da Anistia, buscou refúgio com sua família, no município, onde inclusive foi Secretário de Agricultura.

Um garoto que aos sete anos, procedente de uma Ilha na foz do grande rio -Marajó- deslumbra-se, ao chegar, pela primeira vez, com o encantamento das luzes da cidade grande, no caso Macapá, e reconhece  que “acabara de mudar de mundo”, e que décadas e décadas depois,  nas fileiras dos templários da liberdade de fato “mudaram o mundo”, é em si, uma história que mobiliza, envolve e encanta.  “As Floresta do Meu Exílio” é uma leitura, obrigatória, para quem acredita em memória.

Edilson Martins é jornalista e escritor

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