terça-feira, 15 de outubro de 2013

Albion: "A segurança está horrível. Nós estamos numa ribanceira muito grande"


O policial civil Albion Gomes de Almeida, 65, aposentado há sete meses, após 43 anos de serviço como um dos mais temidos do Acre, diz em terceira pessoa:

- O Albion é aquele Albion de sempre.

Na semana passada, quando dois jovens invadiram uma lotérica e fizeram reféns mais de 20 pessoas no centro de Rio Branco, Albion não se fez de rogado ao passar na rua: mandou o mototáxi parar, desceu da moto, sacou seu revólver calibre 38, apoiou-se numa árvore, fez pontaria e ordenou a um dos bandidos:

- Largue arma e se entregue agora.

O bandido não obedeceu e os demais policiais trataram de tirar o colega aposentado de cena, pedindo que se protegesse no outro lado da rua.

Com o Acre castigado por uma onda crescente de violência, em poucas horas Albion se tornou herói nas redes sociais.

Alheio ao sucesso que faz na internet, que afirma não ter e não utilizar, e quase indiferente ao exaltado heroísmo de sua atitude, Albion acha que apenas cumpriu o seu dever.

É um policial à moda antiga, daqueles que jamais esquece o ofício, é leal à sua biografia e gosta de ajudar os amigos em apuro.

Foi essa forma de encarar a profissão que o fez participar, voluntariamente, de um dos momentos mais tensos dos assalto.

- Pulei da moto e resolvi me unir aos colegas para ajudar. Eu não posso me omitir num caso desse. Não posso fazer vista grossa. O que iam falar de mim se tivessem me visto passar de moto, sem fazer nada durante o assalto?

Albion está convencido de que sem sua presença surpreendente os bandidos poderiam ter fugido.

- Acho que eles pensaram duas vezes quando me viram. Sabem que não aceito ser desmoralizado.

Albion concedeu entrevista exclusiva na casa de um dos seus filhos, no bairro Esperança. Estava com seu tradicional chapéu, óculos escuros e o cordão de prata, uma espécie de amuleto, onde estão pendurados estrela, figa e a miniatura de um revólver.

Estava tão descontraído que chegou a tirar o chapéu e deixou à mostra a enorme careca. O telefone celular não parava de tocar, mas Albion evitou atender para comentar sobre segurança pública, violência no Acre, Hildebrando Pascoal e sua fama de mau.

- Lamento muito a situação dele, mas a vida é essa. Pena a gente tem que ter. Toda a vida nós fomos amigos. Fomos para Brasília juntos. Não tenho nada contra ele. E outra coisa: ele nunca falou pra ninguém de quem ele tem raiva ou deixa de ter. Nunca. É uma pessoa, um cidadão comum. Talvez se alguém achou que ele estava errado, o erro não é só dele. Talvez ele está pagando por muita gente sem falar nada - disse sobre Hildebrando Pascoal.

Cheguei a perguntar, no final da conversa, sobre quantos bandidos já mandou para o além.

Veja a entrevista com o "Albion de sempre", em que o policial aposentado se defende da sua fama de mau.



Um comentário:

FRANCISCO COSTA disse...

O mais difícil na vida de agente de polícia civil no Acre é aposentadoria. O Governo, o Sindicato, ainda não conseguiram corrigir o deficit salarial que reduz em mais de 50% o salários dos profissionais. Tem gente que mesmo após correr riscos, ser ameaçado e ter prestado excelência de trabalho para a comunidade vegeta para sobreviver com minguado salário no bolso. Dinheiro que deveria manter a família, pagar medicamentos e serviços de saúde. Sem falar que a valorização pessoal, autoestima cai significamento. Seria digno reconhecer urgente o trabalho desses homens e possibilitar que possam envelhecer de maneira descente e ter um descanso tranquilo. Para isso servem nossos parlamentares, corrigir injustiça e erros na legislação, é uma questão de cidadania e zelo com a pessoa humana.