sexta-feira, 3 de maio de 2013

ERIK JENNISCHE

"É impossível saber se Manuel David Orrio estava contra ou favor da liberdade"


Reencontro o jornalista sueco Erik Jennische para mais uma demorada conversa em minha casa. Ele lançou há poucas semanas, na Suécia, o livro "Maste fa polisen ur huvudet - ett reportage om Kuba" (É preciso tirar a polícia da cabeça - uma reportagem sobre Cuba, em tradução livre).

Autor de um blog, Erick Jennische prepara reportagem sobre a Estrada do Pacífico. Ficou surpreso quando contei que a estrada, concluída em 2011, não teve até agora o menor impacto na economia regional, sendo mais uma rota de turismo e do tráfico de cocaína na fronteira.

E ele contou que um dos personagens do livro é Manuel David Orrio, que era considerado, dentro e fora de de Cuba, o principal jornalista independente do movimento por democracia.

Com muito estilo, durante 12 anos, de 1991 a 2003, Manuel David Orrio escreveu artigos que os opositores do regime cubano consideravam os mais brilhantes sobre o país. A frase "é preciso tirar a polícia da cabeça", usada no título do livro, é de autoria do jornalista cubano.

Erik Jennische esteve mais de 15 vezes em Cuba e costumava encontrar Manuel David Orrio. Na última vez, quando se dirigia à casa do jornalista, em Havana, em novembro de 2002, o sueco foi preso, interrogado e expulso. Desde então não obteve mais autorização do governo cubano para visitar o país.

No artigo "Aunque el miedo devore el alma", de março de 2003, Manuel David Orrio chega a relatar o medo que sentiu na tarde em que foi preso o dissidente Raúl Rivero, que morava a uns 300 metros da casa dele.

Três semanas após a publicação do artigo, o "jornalista independente" compareceu ao julgamento de Raúl Rivero e de outros presos. Ele se apresentou como agente da polícia política e revelou tudo o que sabia sobre a organização dos que lutavam por democracia e direitos humanos no país.

Reencontro de Erick Jennische com Manuel David Orrio aconteceu em maio de 2011, quando o sueco localizou o cubano no Facebook e passou a entrevistá-lo e questioná-lo.

- Ele respondeu a muitas perguntas e questionamentos sobre Cuba e sobre o fato dele ter se tornado o mais respeitado jornalista independente. O que ele jamais respondeu, apesar de minha insistente pergunta, foi o motivo de começar a trabalhar para a segurança do estado. Numa das vezes que escreveu sobre sua atividade limitou-se a dizer que se sentia patriota, o que não explica tudo.

Erick Jennische acrescenta:

- O que Manuel David Orrio falou durante o julgamento dos jornalistas dissidentes não era nada segredo. Todas as informações que apresentou eram do conhecimento de todos. Não havia novidade. O que não consegui entender foi o motivo de trabalhar para a segurança do estado. É impossível entender o que há de verdade no que ele escreve ou conta agora. Ele foi realmente um jornalista independente brilhante, mas, ao mesmo tempo, foi agente de segurança do governo de Cuba. É impossível saber qual era realmente a opinião dele quando escrevia. Lendo somente os artigos, sabe-se que estava contra o regime cubano, mas, ao mesmo tempo, contava tudo o que sabia sobre os dissidentes. Portanto, é impossível saber se estava contra ou favor da liberdade.

Leia Un reencuentro entre Erik Jennische y Manuel David Orrio.


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