Preconceito e discriminação
O deputado estadual Eduardo Farias (PCdoB) pediu ao governador do Acre, Tião Viana (PT), que seja excluída da ficha
de entrevista aos doadores de sangue do Centro de Hematologia e
Hemoterapia do Acre (Hemoacre) a pergunta sobre se o doador fez uso de
ayahuasca ou daime nos últimos 12 meses.
- É uma completa
agressão aos seguidores da doutrina, pois não há nenhum indício
científico na literatura que indique qualquer prejuízo à saúde pelo uso
da ayahuasca. Além de tudo isso, o Estado do Acre, que nós defendemos,
não permite mais este tipo de agressão à religião das pessoas. Solicito
ao governador que, de imediato, determine a retirada desta agressão das
fichas de entrevista para que isso não se transforme num ato de
discriminação aos seguidores da doutrina do Santo Daime - disse Farias,
que é médico infectologista.
A primeira fase da polêmica
se deu em 2005 (leia), quando o atendimento do Hemoacre chegou a cumprir
orientação da direção para que fosse recusado o sangue de quem declarava ser usuário
de ayahuasca.
Foi argumentado à época que a Secretaria de
Saúde do Acre não dispõe de base científica para afirmar que o sangue de
quem ingere ayahuasca seja prejudicial à saúde do receptor.
A
yahuasca (vinho das almas, em quíchua) é uma bebida preparada com o cipó
jagube (Banisteriopsis caapi) e folhas de chacrona (Psychotria viridis). É
usada ritualmente por populações amazônicas e milhares de adeptos de
diversos centros religiosos em todo o Brasil e no exterior. É também conhecida como
vegetal, auasca, daime, iagê, mariri e uasca.
Em setembro de 2005, Antônio Alves escreveu nota intulada "Dai-me paciência". Como continua atual, transcrevo:
"A
direção do Hemoacre faz restrições a doadores de sangue que sejam
usuários da ayahuasca (Daime, Vegetal). O jornalista Altino Machado
denuncia o preconceito em seu blog. O senador Tião Viana manifesta-se
pedindo à Secretaria de Saúde que retire a restrição. Registre-se que o
Senador, que é católico praticante, tem demonstrado, ao longo dos anos,
respeitar a tradição do uso religioso da ayahuasca. Mantém boas relações
de amizade com as comunidades, especialmente com o Alto Santo, núcleo
inicial do Daime, fundado pelo Mestre Irineu Serra e dirigido até hoje
por sua esposa, D. Peregrina Gomes Serra.
Mas as
restrições feitas pelo Hemoacre fazem parte de um preconceito arraigado
em parcelas da sociedade afastadas de suas origens e desinformadas sobre
a vida do povo acreano, que acontece fora dos roteiros institucionais.
Quando fui presidente da Fundação de Cultura, tive que corrigir
cartilhas de combate às drogas editadas pelos órgãos de segurança do
Estado, que incluíam o Daime entre seus alvos. De tudo temos que
suportar.
A questão é: existe justificativa científica
para a restrição? O sangue de um usuário de ayahuasca pode provocar
problemas para quem o recebe? Obviamente, não. Sei que não há pesquisas
sobre isso –e é bom que sejam feitas- mas a história das comunidades do
Daime registra, em décadas passadas, vários casos de doação de sangue
sem que houvesse sido registrado qualquer problema. Um dos antigos me
contou o caso de um doador de sangue que saiu do templo, durante o
ritual religioso em que havia ingerido a ayahuasca, para doar sangue
atendendo a um chamado de emergência. Se o receptor sentiu algum efeito
da ayahuasca, não sei. Sei que não morreu.
A direção do
Hemoacre, certamente, há de rever com rapidez sua posição sobre o
assunto. Se os dirigentes da Saúde no estado quiserem aproveitar a
oportunidade para receber esclarecimentos e aprender, com humildade,
coisas que ainda não sabem, estejam à vontade para pedir."
Destaque para comentário de João Guedes
"Altino,
Lembramos, também, que em abril de 2010 as Comunidades Ayahuasqueiras realizaram um seminário que contou com apoio do Governo do Estado, da Prefeitura Municipal de Rio Branco, através de suas fundações de Cultura e da Assembleia Legislativa.
O evento contou com a participação efetiva de gestores públicos do Estado, do Município, de parlamentares, autoridades e convidados. Naquela oportunidade, foram pactuados com o Governo do Estado e Prefeitura, vários assuntos que constituem Políticas Públicas para o seguimento, entre os quais, o assunto que envolve a coleta de sangue pelo Hemoacre.
Naquela ocasião, as comunidades Aayhuasqueiras receberam do Governo do Estado, na pessoa do então secretário de saúde Osvaldo Leal e técnicos do Hemoacre, a garantia de que tal procedimento discriminatório não mais se daria.
Infelizmente, não obstante a isso e ao bom relacionamento que o Governo do Estado demonstra ter com as principais lideranças dessas comunidades, em várias manifestações publica, inclusive assinando o pedido de registro dessa tradição cultural genuinamente acreana como Patrimônio Imaterial da Cultura Brasileira, se omite e faz vistas grossas para procedimentos preconceituosos e discriminatórios por parte de setores do Governo."
2 comentários:
Chega de preconceito!!
O santo daime é uma religião.
Chega desse papo discriminatório e preconceituoso,
ou, deixem as pessoas morrerem por falta de sangue.
As autoridades que escolham.
Com todo meu respeito aos praticantes do santo daime, mas particularmente não vejo tal fato como preconceito ou discriminação, mas sim como uma medida de saúde pública, tendo em vista exatamente o que foi dito na matéria, que não existem estudos acerca da prejudicialidade ou não da citada substância, que querendo ou não possui princípios psicoativos, muito embora, pelo que se sabe, não cause dependência química ou danos físicos.
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