POR LETÍCIA HELENA MAMED
Após seis anos de trabalho na gestão da Assessoria de Comunicação Social do Poder Judiciário, passarei a intensificar minha carreira acadêmica como professora da Universidade Federal do Acre, e meu programa de estudos de doutorado, em regime de dedicação exclusiva.
Desenvolver e promover comunicação pública foi o desafio perseguido diariamente, com foco no estabelecimento de política em defesa da transparência e da democratização de informações no âmbito da Justiça, com a prioridade do interesse público.
Alinhados com a premissa de aproximar e efetivar o diálogo entre o Judiciário e a sociedade, os objetivos estratégicos consistiram, de um lado, no aprimoramento da comunicação com o público interno e externo, utilizando linguagem clara e acessível, visando ao reconhecimento, credibilidade e transparência; de outro, na promoção da cidadania, mediante difusão e conscientização de direitos, deveres e valores.
Esse foi um ambicioso programa de trabalho, em face da cultura de financiamento e pagamento dos meios de comunicação para divulgação de informação pública no Acre. Diferente disso, a unidade de Comunicação Social do Judiciário desenvolve suas atividades com apenas seis servidores, tendo que atender o Estado inteiro e, principalmente, sem dispor de recursos orçamentários.
Mesmo assim, os resultados obtidos a cada ano e avaliados estatisticamente revelam que o trabalho foi capaz de suprir, de modo inteligente, a falta de recursos humanos e econômicos. Ele foi executado a partir da definição de planejamento e método de compromisso com o interesse público, sendo a gestão da comunicação pensada e executada de modo estratégico.
Procurei honrar a função pública que me foi confiada, bem servir ao Poder Judiciário e àqueles que, indistintamente, dependiam das ações de minha equipe. O trabalho no serviço público judicial me proporcionou conhecer a realidade socioeconômica pelo viés do conflito, pois solucionar conflitos e assentar a paz social são as causas do Poder Judiciário. E mesmo reconhecendo todo o complexo de dificuldades e contradições nisso, é inegável o potencial emancipatório dessa missão institucional.
Fundamental foi a oportunidade de trabalhar pelo acesso à Justiça, promoção dos direitos e garantias individuais, especialmente daqueles economicamente menos favorecidos e socialmente mais necessitados. Pude acompanhar desde o registro civil de homens e mulheres anônimos no interior da Amazônia, o recomeço da vida de egressos do sistema penitenciário do Acre, reconhecido por sua grandiosa população carcerária, até os debates colegiados sobre as questões públicas, dos governos, das instituições e de caráter universal.
Participei da engrenagem do poder público, conhecendo empiricamente a organização e o funcionamento do Estado, entre outras questões. Todas elas me despertam curiosidade intelectual e foram imprescindíveis para a ampliação de minha perspectiva de história e sociedade, para o aperfeiçoamento de uma visão orgânica e dialética.
Para me integrar à totalidade que é o Poder Judiciário, procurei harmonizar minha individualidade nela, respeitando cultura e movimento próprios. A partir de agora estou me desligando para poder me dedicar integralmente a outro ofício – a promoção da política do pensar na Universidade Federal do Acre, com o desenvolvimento de um projeto autoral, de autonomia crítica.
As realizações ficam e constituem o melhor registro de minha modesta passagem e participação na história do Judiciário do Acre, que, espero, possam ter dignificado a sua imagem e engrandecido o nome de todos aqueles que pertencem ou pertenceram à instituição.
Ao iniciar minha trajetória, experimentei o desafio do desconhecido, mas agora vivencio o sentimento da despedida. A partir de quinta-feira, 28 de fevereiro, não farei mais parte do quadro de servidores da Justiça do Acre.
Aos magistrados, servidores, juízes leigos, conciliadores, estagiários e terceirizados, devoto minhas saudações de reconhecimento e agradecimento.
Aos profissionais da imprensa e das demais assessorias, com os quais sempre cultivei relação institucional respeitosa e estimulante, agradeço pelas parcerias. Elas possibilitaram atingir os resultados e conquistas da unidade de Comunicação Social do Poder Judiciário, por mim coordenada, de 2007 a 2013.
A vida é essencialmente dinâmica e esse é o espírito da mensagem do poeta Carlos Drummond de Andrade que dedico a todos: "As coisas tangíveis tornam-se insensíveis à palma da mão. Mas as coisas findas, muito mais que lindas, essas ficarão”.
Letícia Helena Mamed é comunicadora, cientista social, pesquisadora e professora universitária
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