POR THIAGO DE MELLO
Venho armado de amor
Para trabalhar cantando
Na construção da manhã.
Amor dá tudo o que tem:
Reparto a minha esperança
E planto a clara certeza
Da vida nova que vem.
Não tenho caminho novo,
O que tenho de novo
É o jeito de caminhar.
Porque com a dor dos deserdados,
Com o sonho escuro
Da criança que dorme com fome,
Com a árvore minha amiga de infância
Que morreu queimada,
E com a rosa branca que cultivou
O sinsonte cubano
Que Martí se chamou,
Aprendi que o mundo não é só meu.
Mas sobretudo aprendi
Que, na verdade, o que importa
É trabalhar na mudança
Do que é preciso mudar.
Cada um na sua vez,
cada qual no seu lugar.
Sr. Presidente do Consejo Mundial del Proyecto José Martí de Solidaridad Mundial, mi querido compañero Armando Hart.
Senhoras e senhores,
Façamos nossas, todos e cada um de nós, estas palavras que Martí escreveu para seu filho Ismaelillo que acabara de nascer: "Espantado de todo, me refugio em ti. Tengo fe en el mejoramiento humano, en la vida futura, en la utilidad de la virtud y en ti".
De algum modo, ou do melhor modo, somos também filhos da vida, do pensamento, da ação e da poesia de José Martí. Ele nos adverte, sejamos capazes do espanto e da indignação com as desigualdades sociais que marcam a vida desta humanidad que tiene hambre de justicia e tenhamos fé em que é possível, sim, apesar de toda a indiferença e tanto sofrimento, a construção de uma sociedade humana solidária. Utopia? É uma questão de optar. Há quem prefira e até precise do apocalipse no qual já padecem os pobres.
Por mais impenetrável que pareça a escuridão da hora que atravessamos e governantes padeçam de perda da ética, enfermidade de contágio vertical, ainda é tempo de uma transformação revolucionária que só pode ser alcançada com a participação consciente dos povos do mundo. Con los pobres de la tierra. Confiantes no valor e na dignidade da vida de suas lideranças. Mas onde estão os homens de bem? Pergunta o querido Jânio de Freitas, jornalista brasileiro, em artigo na Folha de São Paulo.
O desequilíbrio do mundo, a diferença entre a qualidade de vida dos afortunados e a dos pobres, a hostilidade que se aprofunda cada vez mais na relação entre países e atinge a própria convivência entre as pessoas, tem esta causa ostensiva e perigosa: as mais belas virtudes humanas -confiança, retidão , respeito, esperança, solidariedade, tolerância, ternura, bondade, solicitude– estão ameaçadas de extinção, como certos pássaros da minha floresta. Ninguém gosta mais de atender. A delicadeza é ave rara e sem céu.
A verdadeira razão da crise econômica de repercussão mundial, em 2008, não estava nos abalos das finanças, vacilantes nas bolsas de valores, mas na enlouquecida voracidade de supremacia e domínio de países que se pretendem donos da terra e do espaço, valendo-se dos mais avançados recursos da ciência, da tecnologia e da sinistra ameaça do seu estoque de milhares de ogivas nucleares.
Mas onde estava a sabedoria, o coração da Inteligência desses dirigentes mundiais que fizeram do 10 de dezembro de 2010 em Copenhague o dia do grande fracasso da esperança humana? Reunidos para fixar o limite consensual da emissão dos gases malignos que incendiaram o planeta, não conseguiram chegar a um acordo. Até o Protocolo de Kyoto segue, até hoje, vazio das necessárias assinaturas. Enquanto isso, a nossa Terra continua ardendo em carne viva, rodando pelo espaço.
Revelo, para concluir, que o meu espanto mais dolorido é ver que nações desta linda e sofrida Nuestra América, de economias elevadas a potências mundiais, ainda permanecem tão atrasadas em matéria de educação e de saúde.
País deseducado e doente, a qualquer viravolta do mundo, pode ser dominado.
Mas uma alegria me leva a fazer a minha Terceira Declaração Pública de Amor a Cuba: é o primeiro dos nossos países que já conquistou os três primeiros Objetivos do Milênio, fixados pelas Nações Unidas: a educação, o meio ambiente e a saúde do seu povo.
Faço estas anotações com o pensamento nas crianças barrigudinhas, mal nutridas, que varam as veredas da mata e remam na proa das canoas de itaúba no amanhecer das águas que banham o coração da floresta amazônica.
A mensagem do poeta amazonense Thiago de Mello, 86, foi lida na Terceira Conferencia Internacional por el Equilibrio del Mundo, em Cuba, durante a comemoração do 160º aniversário de José Martí.
Um comentário:
Bacana no papel escrito. Ele esqueceu de solicitar, consultar e pedir autorização dos donos do mundo (os banqueiros), e mais ainda, o principio mais importante da vida humana, que com certeza NÃO É a educação, Meio Ambiente e a saúde, (e logo aonde, em Cuba! Que ironia..he,he,he) ou seja, o Poeta esqueceu-se de olhar o ser humano como um todo, o que sem isso nada justificaria viver, a LIBERDADE...
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