POR RENATO ROVAI
O jornalismo e muitos jornalistas dos veículos tradicionais de
comunicação estão cada vez mais inescrupulosos e sem noção dos limites
éticos da profissão. A notícia esdrúxula da vez vem de Rio Branco, no
Acre, a partir do aviso do meu amigo Altino Machado.
Greyce Lima, uma repórter do SBT metida a justiceira, divulgou no seu perfil o seguinte comentário:
“Parabéns ao policial militar que estava a paisana e meteu fogo
no assaltante agora a tarde durante um assalto na casa lotérica do Auto
Posto Gadelha ..Bandido bom é bandido morto!! E nem venham com história de imagem… quem não quiser ve feche os
olhos ou me exclua.. ou vai lá pro twitter falar mal de mim que eu não
tenho twitter! Antes um bandido do que um pai de familia#Rum..”
E em tamanho família, postou esta foto
que não divulgarei aqui por considerar que a exposição deste tipo de
imagem é de uma violência brutal e contribui para a banalização da vida.
Os comentários que se seguem são tão esdrúxulos quanto o inicial da suposta jornalista.
Vão desde coisas como o de uma garota dizendo: “Morreu Bonito hem! Parabéns Sr. policial” a “Nem todo lixo pode ser reciclado”.
Greyce Lima é produto do que se tornou nossa imprensa. Ela viu a foto
de um homem morto por um policial que, segundo ela, tentou assaltar uma
lotérica, e ao invés de fazer uma reportagem decente sobre o episódio,
preferiu distribuir em linguajar chulo toda sua estupidez. Isso tem
acontecido diariamente em diferentes veículos. O que choca neste
episódio é que a tal repórter vai no limite do limite. E vira chefe de
torcida da barbárie.
Não se pode mais ignorar este tipo de episódio. Sindicatos e
entidades do jornalismo precisam ficar mais atentos a ações de supostos
profissionais como esta tal Greyce Lima. As profissões que se prezam têm
códigos de ética que quando infrigidos levam à penalidades. A liberdade
de imprensa não pode atentar contra outros direitos. Por exemplo, não
pode se sobrepor aos acordos que a sociedade estabeleceu de defesa dos
Direitos Humanos.
Ou é isso ou é a barbárie social e midiática. Da qual essa tal Greyce Lima parece ser ao mesmo tempo produto e reprodutora.
O jornalista Renato Rovai, editor da Revista Forum, é autor do Blog do Rovai
Atualização às 16h31
Destaque para o comentário de autoria do empresário George Dobré:
"A Humanidade vem desenvolvendo, há mais de 3000 anos, regras para possibilitar o convívio social dos indivíduos, minimizando conflitos e esclarecendo, para os cidadãos, seus direitos e seus deveres para com seus pares e para com a sociedade. Convencionou-se denominar esse conjunto de regras de “Lei”.
Ao reconhecermos essa “Lei”, que é dinâmica ao longo do tempo e varia conforme a região e cultura em que foi desenvolvida, aceitamos obedecê-la em todas as situações. Em tempos e regimes de exceção, quando a Lei é usurpada, ficamos à mercê da vontade, desejo e decisão de algum indivíduo, sem termos a quem recorrer em caso de possíveis injustiças cometidas.
Vimos isso inúmeras vezes se transformarem em verdadeiras catástrofes humanas. Podemos relembrar algumas mais recentes à titulo de exemplo: Hitler e seu Holocausto, Idi Amin Dadá e seus genocídios em Uganda, Muamar Kadafi e suas atrocidades na Líbia, Slobodan Milošević e o General Ratko Mladić e suas “limpezas étnicas” na Sérvia, sem esquecer nossos generais durante o Regime Militar implementado em 1964 no Brasil, além de muitos e muitos outros.
Aceitar que uma pessoa pode, sozinha, julgar, condenar e matar um suspeito é negar todo o princípio desta Lei, ainda que esse suspeito tinha cometido um crime horrendo. Admirar quem faz isso, reconhecendo nisso algum mérito, é aceitar o risco dessa pessoa cometer desvios, sem que nada possa ser feito para impedir eventuais erros ou vícios nessas decisões. Qual indivíduo tem esse poder? Porque ele tem esse poder? Qual o limite desse poder? Quanto tempo pode demorar até que se mate um inocente por engano, achando que se tratava de um criminoso?
A reação imediata de alguém frente a uma ameaça à sua vida causando a morte de quem a ameaçava é lícita, inclusive prevista em Lei. A celebração pela morte de um ser humano, seja ele quem for, é baixa.
É assustador constatar a quantidade de manifestações em favor de regredirmos 3000 anos no tempo."
16 comentários:
Lamentável...
Meus cumprimentos ao jornalista Rovai, o texto é bem contextualizado e trata de um problema recorrente em nossos meios de comunicações. Impressiona a falta de preparo de alguns "jornalisatas", seja por desconhecimento ou desprezo pelas Leis vigentes. É lamentável...
É amedrontador ver esse tipo de reação estúpida e ignorante proliferando nas tais redes sociais. É a sociedade de massa em seu mais alto grau de alienação e incapacidade de uma leitura coerente sobre a realidade.
Em parte, essa celebração da subversão aos fundamentos da civilização a la instrumentos instituídos pelo direito , tratada no comentário de George Dobré, é causada pela própria mídia industrial que tem uma de suas principais vertentes calcada no culto a violência cotidiana das cidades. Este ramo do "jornalismo" se especializou: tem horário garantido nos meios de comunicação; desenvolve sua linguagem e cria seus "âncoras" que não raro, mais cedo ou mais tarde, enveredam pela política, fazendo uso de sua performance irresponsável a frente de programas de tv e rádio para ascenderem a cargos nas esferas de poder... e aí?!?! a situação torna-se ainda pior!
O que realmente me estarrece, é que membros da imprensa só observam o momento de violência quando é para pregar de cristo outro colega de profissão, que fora do horário de trabalho, em momento de desabafo e em uma rede social para seus amigos e seguidores, expõe o que todos já aceitaram, ao menos de maneira tácita.
Não defendo a execução sumária de ninguém, mas defendo a legítima defesa e o uso da força, e fiquei satisfeito com o procedimento correto do policial, que como agente do Estado, treinado para tal, executou com perfeição o que se é esperado do mesmo. E não me venham como nhenhenhém, bandido que não reage não é morte, vide o comparsa do caso em tela que foi preso.
Todos sabemos que a raiz do problema não encontra-se na morte do bandido, vai mais fundo, chegamos a um momento em que a criminalidade não respeita o Estado de Direito, suas leis e seus agentes são esnobados e por diversas vezes como esta, desafiados, bandido não tem medo de cadeia, ou de policia, em parte fruto desta parcela que ganha à vida defendendo a bandidagem, pseudo intelectuais de esquerda que botam bandido no colo (figurativamente claro, levar pra casa eu duvido.).
É politicamente errado dizer que não faz falta o delinquente, que Rio Branco de certo está um pouco mais segura sem o mesmo? É, mas é a verdade. Antes chore a mãe da bandidagem que as dos PMs.
Parabéns ao @MarcelFla pelo brilhantismo do seu comentário! Pelo que se depreende da notícia de jornal, o policial militar agiu no estrito cumprimento do dever legal, efetuando disparo de arma de fogo contra quem reagiu à voz de prisão em flagrante de forma violenta. A morte do agente foi uma consequência de sua conduta. Somente espero que o sr. Delegado tenha lavrado o Auto de Resistência conforme manda a lei adjetiva penal.
Concordo com a jornalista no seguinte ponto: antes um bandido morto que um pai de família trabalhador. Contudo não podemos achar bonito nenhum tipo de violência, mesmo aquela que ocorre dentro do que a lei aceita. Uma coisa é certa, prender nao adianta nada, não concerta ninguém, ainda mais nos presídios daqui. Então temos que repensar nosso modelo social e ver onde estamos errando para que esse tipo de coisa não ocorra mais.
Da simples notícia de jornal, podemos observar a existência de um crime de roubo qualificado na sua forma tentada, havido com o concurso de agentes e emprego de armas de fogo, tendo como lesada uma casa lotérica. Também podemos observar que iniciada a execução do delito, um policial militar que ali se achava na fila para fazer seu jogo, sacou de sua arma de fogo e deu voz de prisão em flagrante aos dois “assaltantes”, sendo que um deles resolveu reagir de forma violenta efetuando disparos contra o policial militar que sem outro recurso revidou aos tiros matando seu agressor e prendendo o outro. Em síntese, os fatos.
Sendo verdadeira essa versão amplamente noticiada pela mídia local, não tenho a menor dúvida em afirmar que o policial militar de forma moderada agiu no estrito cumprimento do dever legal e em legítima defesa própria e de terceiros, sendo a morte de um dos agentes uma conseqüência e não uma vontade, devendo ser entendido que a intenção do policial militar era a de reprimir aquela ação criminosa, tanto que o outro autor foi preso em flagrante sem oferecer resistência e tendo a sua integridade física respeitada.
Não vou entrar no mérito dos pensamentos contrários posto que o Blog do Altino Machado não seja o local propício, mas apenas parabenizar o lúcido e brilhante comentário do @MarcelFla, lembrando que o policial militar, o policial civil, o policial federal, o policial rodoviário federal e o policial ferroviário federal, são policiais 24 horas por dia independentemente de estarem ou não de serviço, pois quando ingressaram na profissão mediante concurso público o fizeram sabendo que aquela profissão era de tempo integral e de dedicação exclusiva. Além disso, nos exatos termos da legislação em vigor qualquer do povo pode e a autoridade policial e seus agentes DEVEM prender quem quer que se ache em situação de flagrante delito.
Você não pode querer uma sociedade não-violenta estimulando a violência. Okay, o policial fez o seu dever. Matou o bandido. Tecnicamente correto, pelas normas da corporação. Mas, e talvez ele mesmo concorde, isso não é uma barbaridade? Usar violência para conter a violência, como assim?
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Pessoas se tornam violentas quando são vítimas de violência. Se forem submetidas a um cotidiano de violências podem não assaltar lotéricas ou trocar tiros com a polícia, mas podem se tornar corruptas, desonestas, perseguidoras, inescrupulosas etc.
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E isso não depende de classe social. A violência consiste, em todas as classes, de ver outra pessoa como alguem de quem se pode tirar vantagem, e, por isso, alguém que é descartável...
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Para ficar assim, é preciso ter sofrido isso. É preciso desenvolver algum nível de ódio que lhe permita planejar o mesmo sofrimento para todos quantos for possível. Esse ódio relativiza o valor das pessoas, que então se tornam "coisas".
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A questão é: por que as pessoas estão se tornando cada vez mais violentas a ponto de defender a violência em nome da paz?
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Falta de deus no coração não é, já que nunca fomos tão religiosos quanto hoje.
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A resposta é: a violência é o que nos define como sociedade. Parte do nosso modelo social dedica-se a produzir "marginais" (pessoas à margem). Dividimos as pessoas entre os que podem e os que não podem morar, comer, vestir etc, dignamente.
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Isso é o que está produzindo pessoas violentas. Pior: pessoas violentas que justificam a violência para manter as coisas como estão.
"Porra" Altino! Como aparece "poeta" aqui no seu blog hein? Pelo o que acabei de lê chego à conclusão de que ao ser agredido violentamente com disparos de arma de fogo o policial militar deveria ter reagido jogando FLORES contra o seu agressor. É sabido que toda ação resulta em uma reação. Está mais que patenteado que a conduta do policial foi legítima, eficaz, moderada e necessária. E a morte de seu agressor foi uma conseqüência não pretendida, mas apenas reprimida. Tanto é verdade que, como já dissemos anteriormente, o outro “cidadão” não reagiu e foi preso legalmente tendo sua integridade física respeitada. Onde está o erro. Chega de FILOSOFIA POÉTICA. Altino vou encerrar minha participação nesse evento, pelo óbvio. Sou obrigado a respeitar as opiniões alheias, principalmente aquelas eivadas de poesias.
"A questão é: por que as pessoas estão se tornando cada vez mais violentas a ponto de defender a violência em nome da paz?"
Nobilíssimo Jozafá, em essência o ser humano é violento, compreender isto, aceitar e trabalhar para crescimento próprio e em comunidade faz parte do caminho.
Quanto a sua pergunta, em Roma Antiga dizia-se "Si vis pacem para bellum!", não é uma formula perfeita, afinal nenhuma é, contudo todas as outras mostraram-se meras utopias.
Isso me lembrou o filme A Ilha do Medo, quando DiCaprio encontra o chefe de segurança (que dirigia um jeep) da ilha dentro de um bosque...
Elsouza obrigado pelas palavras, mas, as suas foram ainda mais lúcidas!!
Tenho de conviver com um genro sociólogo. Como esse pessoal consegue transformar coisa simples num tratado prolixo e ilógico. Troca de tiros é, simplesmente, troca de tiros. O mais preparado acertou o alvo. Mera questão de competência. O resto é conversa fiada para boi dormir. O policial fez, e bem, o dever dele: é pago pela sociedade para isso!
Em casos extremos deve-se tirar a vida de outra pessoal, quando for para preservar a sua vida e de outros, ou seja, exatamente o que o PM fez. Já para certos "jornalistas" frustados é fácil ficar criticando a atitude do policial sentadao atrás de um computador, ou vcs acham que os policiais gostam de matar alguém? É claro que não. Sem dúvida gostaríamos de um mundo onde não fosse necessário conter a violência com violência. E em relação ao PM está armada fora de serviço não tem nada de errado,Sr Altino, hoje para efeitos legais o policial que possui conduta idônea pode comprar sua arma própria, e aqueles que já possuem estabilidade por tempo de serviço também podem portar arma da corporação 24hs, já que a sociedade cobra de um policial, independente de está de folga ou não.
Nobilíssimos,
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Na verdade, a ideia de que o homem é naturalmente violento e que são necessárias leis fortes e homens desassombrados para nos defenderem, é uma ideologia da Idade Média, criada para fortalecer monarquias absolutistas.
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Essas ideias, que impregnam o jusnaturalismo, o coronelismo, o autoritarismo e outras ideologias de controle social, foram assimiladas como naturais porque servem de conforto psicológico aos que, na sua prática cotidiana, são violentos.
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A ideologia medieval, criada como mecanismo de controle social, ressurgiu como resultado da violencia moderna.
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No mais, e só para ficar por aqui, a realidade social não é autoevidente (este raciocínio também é autojustificador, ele preserva a ignorância de quem o defende). Todas as nossas práticas estão submetidas a um contexto social mais amplo, que herdamos e reproduzimos. Se assim não o fosse, toda a ciência social seria desnecessária.
Tem gente que gosta de falar muito, e bem diga-se de passagem, mas sequer sabe ler. Só é necessário um mínimo de discernimento pra entender que a crítica exposta na matéria não diz respeito à atitude do policial, que agiu de forma correta diante da situação, mas sim ao fato de existirem pessoas que celebram a morte de alguém, mesmo que seja um "bandido". A morte de alguém sempre é algo a se lamentar. É inaceitável o tipo de declaração "bandido bom é bandido morto". Bandido bom seria aquele que fosse de fato reeducado e reintegrado à sociedade como um cidadão de bem. Infelizmente nosso sistema penitenciário não permite isso, tampouco as normas sociais de nossa sociedade "evoluída". Mas mesmo que esses bandidos continuem a ser bandidos, celebrar a morte destas pessoas (sim, eles continuam sendo pessoas) é algo lamentável, é triste, e evidencia um retrocesso.
Observando toda essa repercussão, lendo comentários prós e contra, percebi que muitos dos prós utilizam a liberdade de expressão como argumento para defender a postagem da jornalista. Comecei a pensar nisso, na tal "liberdade de expressão". Há quem diga que ela não exista. Teoricamente a gente é livre para dizer o que quiser - ninguém nos força a dizer nada, nem nos coloca mordaça para que a gente se cale diante das coisas -, mas ninguém é livre das consequencias daquilo que diz. Parece contraditório, mas quer algo mais contraditório do que perguntar "cadê a liberdade de expressão?" sempre que o outro usa a liberdade que também tem para discordar do que dizemos? Existindo ou não liberdade, o que não pode deixar de existir é bom senso.
Vale a leitura.
http://www1.folha.uol.com.br/opiniao/1189112-tendenciasdebates-jornalismo-etica-e-seguranca-publica.shtml
Fernando Melo
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