Cansado, tentarei ser sucinto ao relatar minha curta viagem na lendária balsa dos derrotados.
Lembram quando Antônia Lúcia falou em overbook, na TV, durante a campanha eleitoral?
Foi o que aconteceu. A balsa, todos sabem, é estreita e havia muita gente para poucas vagas.
Acompanhado do Puma, meu fiel amigo, fui o primeiro a chegar na beira do Rio Acre para aguardar Tião Bocalom, capitão da balsa.
- Fi, não tem problema, pode levar o seu cãozinho. Também trouxe a
vaca mecânica pra mostrá-la a alguns apoiadores que não acreditavam
nela.
Passava da meia noite quando começou a primeira confusão, logo no
embarque. O senador Sérgio Petecão se irritou quando passei a coleira em
Puma e dei os primeiros passos sobre uma pinguela mais lisa que sabão.
- Você não pode embarcar com esse animal, Altino. Vou chamar o
pessoal do Centro de Zoonoses da prefeitura. O meu anão Montana Jack é
asmático e alérgico a pelo de cachorro.
Argumentei que a vaca mecânica também estaria entre os passageiros.
Outros fizeram coro com o senador, mas embarquei assim mesmo.
Era mais ou menos 2 horas da madrugada quando a balsa partiu. Eu
estava exausto, após um dia tão tenso, e não queria papo com ninguém.
Sentei sobre a mala, separei inseticida, água e farinha, e fiquei com
o celular ligado até o sinal sumir. Pude acompanhar a euforia de meus
amigos do 13 nas redes sociais e aproveitei para parabenizá-los.
Cheguei a ler que o prefeito eleito de Londrina (PR), Alexandre Kireeff (PSD), não possuía estrutura de
campanha, apenas um carro de som. Não tinha bandeiras, nem cabos
eleitorais. Segurou-se pelo discurso técnico, com a defesa da
transparência.
Bem, antes do embarque, inventei de passar na Pizzaria do Patetão, onde
comprei uma calabreza. Com fastio, comi um pedaço e cometi o que parece
ter sido um erro: levei a sobra para o Puma.
Sentado sobre a mala, o sinal de internet sumiu menos de meia hora
após a partida. Desatei a coleira do Puma e fiquei contemplando a lua e
poucas estrelas.
Acordei com Antonia Lúcia aos gritos, com aquela voz de taquara rachada, dedo em riste:
- Você é mesmo o demônio. Seu cachorro cagou a balsa toda. Veja como
está minha sapatilha. Vai ter que jogar esse vira-lata no rio, para que
seja devorado pelas piranhas.
Levantei atordoado e fui cercado pelos passageiros. Gago, o Anão Montana Jack era um dos mais insolentes.
- Bem que o senador avisou pra você não entrar na balsa com esse
pirento. Minha alergia voltou e eu estou com dificuldade pra falar e
respirar.
Amanhecia e Porto Acre estava pertinho. Aleguei que meu cachorro não é
pirento, que só se alimenta de ração e que a caganeira fora mera
fatalidade por causa da pizza, que ele não iria mais evacuar matéria
sólida ou líquida.
Não adiantou. Os passageiros ficaram enfurecidos, exibindo pés e
objetos afetados. A brisa não era suficiente para atenuar a fedentina.
Tive a brilhante ideia de propor que só prosseguiria viagem caso fosse na companhia de Puma.
- Fora! Fora! Fora! - gritaram todos.
E assim fui deixado na beira do rio, em Porto Acre, de onde não
consegui acessar o sinal da antena do programa Floresta Digital para enviar essas
mal traçadas.
4 comentários:
Impagável Altino, quase me espoco de rir, tu é fera mesmo!
Parabéns Altino!!! Seria ótimo se outros tantos tivessem o seu senso de humor...
Parabéns Altino! Excelente humor, mas também com a critica polida para ambos os lados - perdedores e vencedores.
O Altino de fato é do CACETE.
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