segunda-feira, 29 de outubro de 2012

EXPULSO DA BALSA

Cansado, tentarei ser sucinto ao relatar minha curta viagem na lendária balsa dos derrotados.

Lembram quando Antônia Lúcia falou em overbook, na TV, durante a campanha eleitoral?

Foi o que aconteceu. A balsa, todos sabem, é estreita e havia muita gente para poucas vagas.

Acompanhado do Puma, meu fiel amigo, fui o primeiro a chegar na beira do Rio Acre para aguardar Tião Bocalom, capitão da balsa.

- Fi, não tem problema, pode levar o seu cãozinho. Também trouxe a vaca mecânica pra mostrá-la a alguns apoiadores que não acreditavam nela.

Passava da meia noite quando começou a primeira confusão, logo no embarque. O senador Sérgio Petecão se irritou quando passei a coleira em Puma e dei os primeiros passos sobre uma pinguela mais lisa que sabão.

- Você não pode embarcar com esse animal, Altino. Vou chamar o pessoal do Centro de Zoonoses da prefeitura. O meu anão Montana Jack é asmático e alérgico a pelo de cachorro.

Argumentei que a vaca mecânica também estaria entre os passageiros. Outros fizeram coro com o senador, mas embarquei assim mesmo.

Era mais ou menos 2 horas da madrugada quando a balsa partiu. Eu estava exausto, após um dia tão tenso, e não queria papo com ninguém.

Sentei sobre a mala, separei inseticida, água e farinha, e fiquei com o celular ligado até o sinal sumir. Pude acompanhar a euforia de meus amigos do 13 nas redes sociais e aproveitei para parabenizá-los.

Cheguei a ler que o prefeito eleito de Londrina (PR), Alexandre Kireeff (PSD), não possuía estrutura de campanha, apenas um carro de som. Não tinha bandeiras, nem cabos eleitorais. Segurou-se pelo discurso técnico, com a defesa da transparência.

Bem, antes do embarque, inventei de passar na Pizzaria do Patetão, onde comprei uma calabreza. Com fastio, comi um pedaço e cometi o que parece ter sido um erro: levei a sobra para o Puma.

Sentado sobre a mala, o sinal de internet sumiu menos de meia hora após a partida. Desatei a coleira do Puma e fiquei contemplando a lua e poucas estrelas.

Acordei com Antonia Lúcia aos gritos, com aquela voz de taquara rachada, dedo em riste:

- Você é mesmo o demônio. Seu cachorro cagou a balsa toda. Veja como está minha sapatilha. Vai ter que jogar esse vira-lata no rio, para que seja devorado pelas piranhas.

Levantei atordoado e fui cercado pelos passageiros. Gago, o Anão Montana Jack era um dos mais insolentes.

- Bem que o senador avisou pra você não entrar na balsa com esse pirento. Minha alergia voltou e eu estou com dificuldade pra falar e respirar.

Amanhecia e Porto Acre estava pertinho. Aleguei que meu cachorro não é pirento, que só se alimenta de ração e que a caganeira fora mera fatalidade por causa da pizza, que ele não iria mais evacuar matéria sólida ou líquida.

Não adiantou. Os passageiros ficaram enfurecidos, exibindo pés e objetos afetados. A brisa não era suficiente para atenuar a fedentina.

Tive a brilhante ideia de propor que só prosseguiria viagem caso fosse na companhia de Puma.

- Fora! Fora! Fora! - gritaram todos.

E assim fui deixado na beira do rio, em Porto Acre, de onde não consegui acessar o sinal da antena do programa Floresta Digital para enviar essas mal traçadas.

4 comentários:

Ser ou Não Ser... disse...

Impagável Altino, quase me espoco de rir, tu é fera mesmo!

Cronistas disse...

Parabéns Altino!!! Seria ótimo se outros tantos tivessem o seu senso de humor...

Paulo Wadt disse...

Parabéns Altino! Excelente humor, mas também com a critica polida para ambos os lados - perdedores e vencedores.

ELSOUZA disse...

O Altino de fato é do CACETE.