terça-feira, 3 de abril de 2012

O GOVERNO DOS MENINOS DO PT

POR JAIRON NASCIMENTO

O que se assiste atualmente no Estado do Acre é algo que causa incômodo a todas as pessoas de bem. Em 1999 o PT assume o poder tendo à frente Jorge Viana, sendo sucedido por Binho Marques e este por Tião Viana, respectivamente. Pensava-se então, que o PT colocaria em curso tudo o que havia pregado durante quase três décadas.

Durante a campanha eleitoral de 1998, Jorge Viana deu publicidade ao seu programa de governo que levava o nome de “A vida vai melhorar” que, entre outras coisas, previa a geração de 40 mil empregos, mecanização de grande quantidade de áreas degradadas, implantação de vários pólos agroflorestais, estímulo à produção rural e ao seu escoamento e armazenamento, implantação de unidades de saúde em todos os municípios especializadas e hierarquizadas etc. Mas a prática foi outra e os sonhos e lutas foram reduzidos aos "manejos" da vida e em um projeto de poder de família.

O governo dos "meninos do PT" tratou de resolver questões rotineiras e obrigatórias, tais como o pagamento do funcionalismo público em dia, reestruturação do espaço físico de escolas e formação de professores, remodelamento de ruas, praças, parques e prédios públicos que, na lógica vianista, passaram a funcionar como uma espécie de “quadro na parede”. Tratou ainda, de reconstruir uma memória histórica moldada de acordo com seus interesses, inventando "tradições" cujo objetivo era promover e cultuar a personalidade do seu líder.

Sob sua lógica personalista e com total ausência de escrúpulo, usando todos os métodos disponíveis "esgotofera", passaram a comprar corações e mentes antes, durante e após os processos eleitorais, foram capazes de cooptar para sua esfera de bajulação, desde os grupos e indivíduos, da direita e da esquerda, exceção feita àqueles que, por firmeza de ideais, resolveram não capitular sua própria história.

Costuraram também alianças com as demais forças, inclusive com os rivais tradicionais, incluindo-se Orleir Cameli, Narciso Mendes, Romildo Magalhães, Ronivon Santiago e Osmir Lima, que hoje são aliados preferenciais dos irmãos Vianas e do PT, inaugurando assim um processo de fulanização da política acreana sem precedente em sua história e deixando claro que "vianismo" está sendo profundamente infértil e danoso para o pensamento progressista, a soberania popular e aos homens e mulheres de bem.

Na história recente do Estado do Acre, protagonizada pelos governos dos irmãos Viana e Binho Marques, chama atenção o fato de que, em menos de 13 anos, como num passe de mágica, simples professores, bancários, médicos, engenheiros, jornalistas - categorias de profissionais que no Brasil foram paulatinamente empobrecendo – e até alguns sem profissão definida, tornaram-se uma espécie de "novos ricos", ocupando cargos de destaque no governo do PT.

Os recentes episódios que envolvem denúncias de corrupção no Departamento Nacional de Infraestrutura e Transporte (Dnit) e a desejada Comissão Parlamentar de Inquérito no Congresso Nacional, que acabou não acontecendo, seria uma saudável maneira de lançarem-se luzes sobre as verdadeiras origens das obscuras e “bondosas” doações de empreiteiras às campanhas eleitorais dos irmãos Vianas e Binho Marques.

Incrivelmente, nas últimas eleições, estaduais e municipais, as campanhas mais milionárias são as de certos funcionários públicos, professores, bancários, médicos, advogados e engenheiros e até aqueles sem emprego formal, todos ligados ao PT e ao PC do B que, "em nome do povo e da defesa dos direitos sociais", gastam "rios” de dinheiro para garantir ou manter um mandato político.

Qual a misteriosa origem de seus recursos financeiros? Quem financia suas campanhas e em troca de quê? Uma investigação séria e honesta nos contratos da empresa Companhia da Selva, por exemplo, eterna responsável pelo bilionário contrato de marketing do Governo do PT desde o ano de 1999 bem como os estranhíssimos gastos com consultoria poderia desvendar, quem sabe, a verdadeira origem destes recursos.

Após assumir o poder, a surpresa nos sobreveio através dos vergonhosos resultados desses quatro mandatos do PT: emprego para toda parentada na estrutura de governo e a troca de favores usando o mesmo critério com os demais poderes. Nos governos dos Viana e Binho dar-se preferência a familiocracia e declina-se a meritocracia.

A submissão aos Viana e ao PT por parte dos partidos e parlamentares que compõe a base alugada explica-se através das centenas de cargos e empregos e até secretarias tão somente  criadas para este fim. Desta forma, reproduzem no exercício do poder as mesmas práticas de seus antecessores e, sem cerimônias, passaram a declarar publicamente que só "fazem o que os outros também faziam". Desse modo, com o apoio de intelectuais cínicos e subservientes, procuram justificar esses atos como inerentes ao que denominam de "realismo político".

O interesse, publicamente manifestado em 2009 por Binho Marques, em aprovar uma lei autorizando o Estado do Acre a pagar todas as despesas com honorários advocatícios de gestores ou ex-gestores públicos do governo acreano que eventualmente fossem acusados na justiça de desvio de conduta, bem como o acintoso atentado contra a democracia pelo hoje governador Tião Viana acerca dos procedimentos referente à mudança do fuso horário acreano, e, ainda, as manobras efetuadas por ele e seu irmão, tendo o senador Aníbal Diniz atuando como menino de recado destes, objetivando não respeitar a decisão tomada em plebiscito popular, revelam muitas coisas deploráveis da trinca.

As palavras de Florestan Fernandes nos ajudam a entender mais claramente toda esta farsa:

“... mas este pensamento se veste com muitas roupas que enganam, que escondem sua astúcia. Às vezes se veste com roupa de liberdade, e mente. Às vezes com um vestido de justiça, e mente. Às vezes com um manto de democracia, e mente. "Igualdade", diz aquele que está em cima porque enriquece com a nossa dor. E a liberdade que promete é a que procura para comercializar com o nosso sangue. E a justiça que defende é a da impunidade e da perseguição àquele que, lá em baixo, não se rende. A democracia que proclama é a da resignação diante dos diferentes rostos do mesmo poder que nos rouba, nos explora, nos despreza e nos persegue...”.

O que conta para os atuais “gerentes do barracão” é a promoção de uma auto-imagem de "modernos" que nós interpretamos como neocolonizados, vaidosos e narcisistas, manifestada através dos vultosos gastos públicos efetuados em propaganda desnecessária em rede nacional, com a idéia de ter-se o Acre como uma das sedes da Copa do Mundo em 2014.

Tudo isso funciona de maneira eficaz para ocultar a pauperização de nosso povo e a reedição do saque das riquezas desse território e de sua gente, como é o caso da exploração madeireira em larga escala prevista para acontecer nas florestas de concessões públicas criadas recentemente e já em execução na Floresta Estadual do Antimary e na fazenda Ranchão II, mas, em breve, deverá estender-se para a Floresta Nacional do Macauã e algumas áreas indígenas.

Retomar essa discussão, romper com o silêncio, nesse importante momento de nossa história, representa um tributo aos nossos pais e familiares que, sem abrir mão de sua dignidade, se constituíram como sujeitos anônimos de um Estado marcado por desigualdades, injustiças e exclusões e que foram aprofundadas pelos governos do PT. Significa um tributo aos nossos companheiros que tombaram na caminhada, cujos túmulos, como os de Wilson Pinheiro, Ivair Higino e Chico Mendes, os vencedores do presente continuam pisoteando, seguindo a tradição autoritária e mantendo uma profunda empatia com os conquistadores, colonizadores e vencedores do passado e do presente.

Por fim, inspiro-me no excelente filme “O Curioso caso de Benjamin Button”, do diretor David Fincher, para reconhecer não ser possível retroagir ao passado na tentativa de corrigir os erros cometidos, numa dramática inversão do ciclo da vida como conta o enredo do aludido filme. Mas é possível, denunciando os maus feitos deste mesmo passado, bem como do presente, tentar construir um futuro melhor cuja chegada se avizinha, aliás.

Jairon Alcir Santos do Nascimento é professor associado da Universidade Federal do Acre e doutor em Geociências e Meio Ambiente.

Nota do blog: O espaço está aberto para petistas ou simpatizantes que queiram se manifestar em defesa do governo. Não custa nada para opinar com liberdade.

17 comentários:

@MarcelFla disse...

Análise simplesmente perfeita, em um artigo agradável, limpo, adorei.

eliomar m. disse...

Que o blog está aberto ao petistas e aos internaltas tudo bem, mais que é que vai dizer alguma coisa contra essa esplanaçäo do senhor Jairon Nascimento. E por sinal um conhecedor de carteirinha do asunto, o que é que pode sai da boca de alguns petistas e de membros da frente popular que é composta por PT e PC do B, somente pois os outros partidos säo meros figurante.

Anônimo disse...

Os críticos que sonham com alternância de poder talvez tenham a memória curta, fico a pensar se na época dos “antigos e saudosos” mandatários deste estado, onde vivíamos tropeçando nas mazelas tivesse a internet, os blogs, as redes sociais para doutores nas escritas pudessem se expressar como esta postagem feita com paixão pelo autor. A dita alternância é salutar e necessária, desde que haja proposta alternativa que supere. Mas, pelo que percebo contrária a crônica exposta, o antigo esta atrelada a quem quer estar no poder, é justo que ganhe e volte ao poder se mostrarem que pode fazer melhor. Palavras sábias cheias de emoções podem caracterizar opção, mas talvez não apague das mentes o que era o estado do Acre antes dos “Meninos do PT”.

Francisco Paxeco disse...

Este é o grande mal do que se arvoram intelectuais : apontam-se as falhas, mas falta as soluções práticas.

O que o senhor Jairon explanou aqui é só mais um discurso repetido há 13 longos anos. Mais um lenga-lenga politiqueiro que não leva a lugar nenhum.

Cadê o "novo" ? Falo do real e não do idealismo das teorias.

Isso já faziam "os meninos do PT"... A prática é o bicho-papão dos sonhadores, já dizia aquele velho filósofo do rio.

Uns ficam e se envenenam com o doce do poder, outros voltam a choromingar "que tudo está errado". Mas não conseguem ir além disso.

O uso de expressões vazias do tipo "esgotofera" só evidencia o seu aporte político : os neologismos bobocas inventados pelos jornalistas de 'Veja', como o tal de Reinaldo Azevedo.

Se não for assim, é então só mais um a repetir neologismos por aí sem saber o que realmente significa, o que seria triste para um cidadão com todas suas credenciais acadêmicas aqui expostas.

Que diabos, em verdade me diga, é 'esgotofera' ?

Quantos mais leio a respeito da política do Acre, mais fico perdido e sem solução:
- O que é pior, os ex-meninos do PT ou as velhas tranqueiras de nossas política travestidas de novidade ?

Se não reinventarem o Acre do zero, melhor que o devolvam à Bolívia.

Altemar disse...

Seria por isso que, para presidente, ganhou aqui um paulista? Lá já dura 18 anos.

Siqueira Neto disse...

Engraçado, até um dia desses quando o o autor deste texte tinha cargo de confiança não falava nada, agora ruge como um leão...Engraçado como as coisas funcionam. Vai entender!

Ser ou Não Ser... disse...

A melhor coisa que o governo do PT e os petistas devem fazer, é voltar às origens. Em uma das falas do senador Pedro Simon em entrevista à Veja desta semana ele diz: "Os caras andavam de pé descalço, caminhavam pelas ruas fazendo campanhas em troca de nada, era um troço sensacional....Aí foi para o governo e ofereceu ao carinha de chinelo....um cargo de 9000 reais. Então apodreceu. O poder corrompe, sim."

Cassio Duran disse...

Queremos mudanças! Então candidatos a reformadores apresentem suas estratégias pautadas na realidade dura do estado do Acre, na economia do contra cheque!

Beneditino disse...

Sugiro que leiam "Em ranking, os estados que vão decolar em 2012" http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/o-primeiro-ranking-dos-estados . Lá verão que a infra-estrutura do Acre é zero e o regime tributário e regulatório, inexiste. Os recursos humanos são ínfimos, assim como a inovação. Impossível afirmar que A, B ou C fariam um governo melhor, mas, certamente, nenhum deles teria tamanha cara-de-pau em enganar uma população formada em sua imensa maioria de analfabetos funcionais. O que se vê é uma propaganda de fazer inveja a Goebbels.

Anônimo disse...

Como pode, ainda tem pessoas que usam argumentos chamando eleitores de analfabetos. Analfabetos não os são, os humildes são muito mais espertos que muitos metidos a catedráticos revoltados pelas derrotas.

Altemar disse...

Aí monge, com todo respeito, prefiro o IBGE. E a dicotômica abordagem sobre goebbels e veja é antagônica ou corolário? não entendi.

Andarilho disse...

Por favor quando sair o convite para o manifestação de desagravo contra as contas publicas, antes condenadas pelo TCE, apontavam desvio de recursos, hoje tornadas 'limpas' de uma hora para outra, mim avisem, please?!
Tantos milhões destinados a educação, saude e infra-estrutura para o Acre, por recursos federais e emprestimos que, curiosamente, não conseguimos exporta um pé-de-banana para os mercados locais. Com escolas sendo reformadas apenas pintadas as 'janelas' já estragadas. BR´s sendo 'contruidas' como um marco na engenharia e meses depois anuncia-se 'força tarefa nas estradas'. Não era nova essa BR? Constroi-se pontes sobre rios quilometricos e gasta-se bem menos, mas aqui os asfalto é como farinha. Construimos e meses depois temos que refazer.
A diferença dos 'gestores politiqueiros' é que somente anuncia os recursos que entram, alarde total. Mas, não vejo o mesmo acontecer para dizer onde foi parar tanto recurso, centavo por centavo.
Somo bons em apontar erros? É pelo simples fato que são os mesmo erros, cometidos pelas mesmas pessoas, e não há mudança no quadro. Enquanto isso, pintam e bordam!

Catherrine Milli disse...

Risos...o pior de tudo é que todos sabem o que acontece no Acre e ninguém faz nada. Enquanto funcionários públicos e empresários forem reféns nada vai mudar, e quem perde é a grande massa que se conforma com uma coisinha aqui, outra ali. Outro dia vi aqui nesse blog sobre um cidadão que foi indicado a um cargo no MEC por esse grupo que ainda está no "poder" e esse ainda se defendeu por seus poucos anos de faculdade (21 anos, se não me falha a memória) acusando uma instituição federal de mentiras. É desse tipo de gente que o governo do Acre é formado? Cargos com indicação político amigos partidários? Precisa mudar. Que indicações existem em todo o país isso é verdade, mas o que vejo no povo do Acre é uma revolta por tanta arrogância e prepotência daqueles que só recebem seus gordos salários. Acreanos, dêem a resposta nas urnas e não se apeguem na frase..."mas antes dos vianas era assim ou assado". Da mesma forma que vocês deram chance aos desconhecidos, hoje algozes, dêem chance para os que estão tentando fazer diferente.

Edkallenn disse...

A análise é muito bem feita e apoiada em fartos argumentos, mas interpelo em apenas um ponto: O que o Dr. Jairton descreve como "resolver questões rotineiras e obrigatórias" tem muito mais peso e dificuldade (dentro da realidade histórico-política acreana) do que ele mesmo faz parecer. Eram questões graves e que por causa de algumas estouravam denúncias de corrupção (como o é o caso dos salários atrasados e a conta Flávio Nogueira).


Grande parte do "status" que mantém os Viana no estado vêm dessas realizações. É claro que elas não podem sustentar todos os erros cometidos durante todos estes anos, mas, não esqueçamos, não devem esconder os acertos que foram pontuais, mais muito importantes para a modernização do estado.

Minha maior crítica aos Viana é o excessivo endividamento do Acre a custa de pouca contrapartida social. Ao quer parece, os Viana pararam no tempo ou estão encantados demais com a própria lenda que eles criaram e que é alimentada pelo séquito de seguidores, bajuladores e desajuizados.


Outro grave erro foi a oportunidade de ouro perdida pelo governo de, definitivamente levar o Acre a outro patamar através da inclusão e do respeito à biodiversidade.


Para terminar, reforço que os métodos Vianistas não são diferentes de outros (ou de todos) políticos. Foram, apenas e tão somente, mais eficazes.


Como diria Platão, a POlítica seria simples se os homens fossem simples.

Um abs.

Edkallenn disse...

A análise é muito bem feita e apoiada em fartos argumentos, mas interpelo em apenas um ponto: O que o Dr. Jairton descreve como "resolver questões rotineiras e obrigatórias" tem muito mais peso e dificuldade (dentro da realidade histórico-política acreana) do que ele mesmo faz parecer. Eram questões graves e que por causa de algumas estouravam denúncias de corrupção (como o é o caso dos salários atrasados e a conta Flávio Nogueira).


Grande parte do "status" que mantém os Viana no estado vêm dessas realizações. É claro que elas não podem sustentar todos os erros cometidos durante todos estes anos, mas, não esqueçamos, não devem esconder os acertos que foram pontuais, mais muito importantes para a modernização do estado.

Minha maior crítica aos Viana é o excessivo endividamento do Acre a custa de pouca contrapartida social. Ao quer parece, os Viana pararam no tempo ou estão encantados demais com a própria lenda que eles criaram e que é alimentada pelo séquito de seguidores, bajuladores e desajuizados.


Outro grave erro foi a oportunidade de ouro perdida pelo governo de, definitivamente levar o Acre a outro patamar através da inclusão e do respeito à biodiversidade.


Para terminar, reforço que os métodos Vianistas não são diferentes de outros (ou de todos) políticos. Foram, apenas e tão somente, mais eficazes.


Como diria Platão, a POlítica seria simples se os homens fossem simples.

Um abs.

Wander Silva disse...

Infelizmente para os verdadeiros heróis acreanos a guerra não acabou. Uma pena muitos se foram sem ao menos o reconhecimento da Nação, pela qual custou a sua "vida" em todos os sentidos!!

http://coisasparaandarveresentir.blogspot.com.br/2011/05/infelizmente-guerra-nao-acabou.html

Meysa disse...

É disso que nós precisamos, conhecimento que ultrapassa o visível,simplesmente perfeito.