sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

TRATAMENTOS DE ALTA COMPLEXIDADE NO ACRE

POR TÉRCIO GENZINI

Estou decepcionado com a repercussão negativa que está tendo o curso “Enfermagem em Terapia Intensiva e Transplante de Órgãos Abdominais”. Eu não fazia idéia que um curso de pós-graduação pudesse ser utilizado para prejudicar a imagem de pessoas, sejam quem for. Em São Paulo, vejo sempre o nosso governador inaugurando Cursos de Medicina, pós-graduação e outros, em instituições públicas e privadas, sem este tipo de repercussão.

A idéia de criar o curso foi minha e, como seriam necessárias verbas não disponíveis no Estado para trazer profissionais de alto nível, procurei a
União Educacional do Norte (Uninorte) e propus um curso de pós-graduação.

Com o curso, a Uninorte assumiria os custos da estrutura necessária para sua realização e também do deslocamento dos convidados que dariam treinamento aos profissionais do HC envolvidos no projeto de transplantes.

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Pensei que seria uma fórmula adequada que, repito, sem custos para o Estado, propiciaria treinamento de alto nível aos enfermeiros do Hospital de Clínicas do Acre, e quem colheria os frutos seriam os pacientes, beneficiados por esta capacitação.

Os professores convidados do  urso foram também escolhidos por mim. A aula inaugural seria dada pelo governador Tião Viana e por outros três médicos de Brasília ligados ao setor de transplantes do Ministério da Saúde: Dr. Heder Murari, Professor Silvano Raia e Dra. Daniela Salomão. Esta aula seria gratuita e aberta ao público e seria um evento de ensino e também de divulgação do curso.

As demais aulas seriam dadas por outros convidados, quase nenhum deles professor da Uinorte, mas apenas convidados para este curso especificamente, e então seriam fechadas para os participantes do curso de pós-graduação.

Realmente não participo de discussões políticas no Estado do Acre e em nenhum outro governo em qualquer esfera e por isso estou surpreso com a divulgação de notícias utilizando este curso como pretexto e base de informações.

As matérias que você publicou inibem ações deste tipo e ecoam os desejos dos grandes centros do Sul e Sudeste que desejam manter a centralização da tecnologia para tratamentos de alta complexidade e não se preocuparam em desenvolver outras regiões.

Só tenho capacitação técnica na área médica e fico tentando encontrar meios de desenvolver minha área nos locais onde atuo e o Acre é um deles. Criamos o projeto Transplantes Sem Fronteiras que nesta semana iniciou um programa de transplantes em Itabuna, na Bahia, tendo como exemplo o programa do Acre.

Procuramos sempre estratégias que independam de recursos do Estado para serem iniciadas e que tragam recursos extras ao mesmo. Para nosso grupo, não importam os nomes que estejam no poder mas sim as atitudes que são tomadas. Na área em que atuamos estamos qualificando profissionais médicos locais, que inclusive já realizam captação e transplantes de rim com bons resultados, estudantes de medicina, enfermagem e nutrição, que formaram grupos de estudo e de atuação prática, atendemos cerca de 70 pacientes triados por mês em Rio Branco.

Hospedamos mais de 200 pacientes por ano na Casa de Apoio em São Paulo, onde os mesmos realizam tratamentos de alta complexidade pelo SUS com atendimento médico, psicológico, hospedagem e alimentação gratuitos. Reduzimos em 90% a necessidade de deslocamentos dos pacientes para serem tratados em outros centros.

Este programa está servindo de exemplo para outros Estados que estão querendo implantá-lo, nos mesmos moldes do Acre. Mas como tudo começou no Acre, então os projetos pilotos de desenvolvimento e qualificação também começam por aí e este Curso é um exemplo.

Enquanto esta polêmica criada em torno deste curso não for devidamente esclarecida, vou propor o cancelamento do mesmo e o prejuízo será todo dos profissionais de enfermagem e da população do Estado que necessita de transplante, pois o desenvolvimento do mesmo será retardado por falta de profissionais devidamente capacitados, fato que teria uma grande oportunidade de ser resolvido com um curso deste tipo.

Estou certo que a consciência humana sempre suplanta os lados profissionais e políticos de todos. Não estou aqui defendendo o governador Tião Viana ou qualquer outro político ou a mim próprio, mas apenas estou esclarecendo fatos que, expostos de uma forma distorcida, podem prejudicar pessoas e denegrir a imagem de um projeto de cunho científico que pode ser bom para a população atendida no Hospital de Clínicas do Acre.

Por isso, peço que apure devidamente os fatos e reflita sobre a publicação de matérias como esta, evitando assim o prejuízo de ações como a realização deste tipo de curso.

Obrigado pelo contato e pela oportunidade de expressar minha opinião sobre o assunto.

Tércio Gezini possui graduação em medicina e mestrado em cirurgia do aparelho digestivo pela pela Universidade de São Paulo. É sócio diretor do Hepato Clinica Médica Ltda e coordenador da pós-graduação do Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo.

4 comentários:

alisson disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Pietra Dolamita disse...

Muito bem caro Doutor Médico, entretanto já que o senhor expressou a sua opinião. Não se meta na politica no Acre, defendendo entre linhas a posição do governador/professor. Pois, se realmente quisesse ajudar, estaria ministrando aulas na UFAC, e não "por erros" no panfleto ministraria aulas na Uninorte.Qual seria o interesse em prejudicar o seu negócio? Nenhum!

Renaldo disse...

O que o sr. Tércio Gezini colocou foi que se a polemica continuar por causa do curso de pós-graduação na área de saúde na UNINORTE, ele proporá o cancelamento do curso, então por puro paroquianismo mais uma vez o ACRE vai ser prejudicado nesta área tão essencial, o que a politicalha não faz?!

José Coutinho disse...

Quanto ele ganha no Estado do Acre, mensalmente? Ele atua como médico no Acre, qual o CRM dele? Enfim, sei que o cidadão é um bom profissional mas não entendi o porquê de tanta revolta, ao ponto de querer cancelar o curso destinado aos enfermeiros do Acre. Tudo bem, traz os de fora, o governo gosta é assim!