quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

TÃO ACRE

O humor acreano de todos os tempos II


Circula convite do presidente do Tribunal de Justiça do Acre, desembargador Pedro Ranzi, e do presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado do Acre, Marcos Vicentti, para o lançamento do livro “Tão Acre – O humor acreano de todos os tempos II”, de José Chalub Leite (1939-1998), marcado para às 19 horas desta quinta-feira, 10, na filmoteca da Biblioteca Pública de Rio Branco.

Decisão acertada de ambos, pois a impressão da obra inédita do jornalista acreano foi desconsiderada por órgãos públicos que supostamente zelam por nossa cultura e história. Ranzi aceitou prontamente a proposta de Vicentti e determinou que a gráfica do Judiciário ficasse dedicada nas últimas duas semanas ao trabalho de edição e impressão da obra deixada inacabada pelo autor, mas concluída por sua família.

São quase 800 páginas de artigos, crônicas e outros escritos tendo o Acre como pano de fundo. Os 500 exemplares serão distribuídos basicamente nas bibliotecas. Versão digital estará disponível para download no site do Tribunal de Justiça e do Sindicato dos Jornalistas.

Reproduzo a seguir três notas de autoria de José Chalub Leite, contidas em “Tão Acre – O humor acreano de todos os tempos II”:

TOINHO ALVES E CHICO MENDES
A imprensa galhofava, não acreditava quando o sindicalista Chico Mendes denunciava estar marcado para morrer. Eu mesmo quantas vezes não glosei o mártir da floresta por escrito e pessoalmente. Um só vestiu a camisa da credulidade, o Toinho Alves, premonitoriamente, sete meses antes da emboscada fatídica, na crônica “A Coisa em Si”, de O Rio Branco, de 3 de maio de 1988:

- Deve-se pensar duas vezes antes de dizer que as ameaças contra Chico Mendes são de brincadeirinha. A máfia não está brincando não, gente.

Não estava mesmo: aos 22 de dezembro de 1988 Chico Mendes era abatido em Xapuri.

Toinho foi demitido duas vezes de O Rio Branco. A primeira, em 1985, sem muita comoção. A segunda, em 1988, na debandada em massa da qualificada equipe editorial do decano dos jornais acreanos.

A estréia da degola por exercer o direito de crítica deu-se no Governo Flaviano Melo quando desnudou as presepadas de dondoca do PMDB chegado a raspagem de cofre público.

O método mais fácil para calar jornalista abusado é chamar o dono do jornal e determinar o pontapé na bunda do escriba.

O aflito diretor Walter Gomes da Silva, que adorava o Toinho Alves, tentou contemporizar e colidiu com a intransigência do governador: ou demite ou cortamos o dinheiro do jornal.

A gota d’água foi uma frase cruel condenando a forma servil da acocorada imprensa sempre atrelada:

- Fazemos no Acre um jornalismo de terceira categoria para sustentar um governo vagabundo.

SE NÃO TEM TU...
O gravador de um repórter apresentou defeito na hora do início de conturbada sessão legislativa. Choveram palpites dos “técnicos” amadores em eletrônica, com alguém achando que como era sujeira no cabeçote bastava limpar com algodão molhado em álcool que ficaria bom.

O jornalista José Altino Machado, mais prático, acenou para o colega Francisco Araújo, na época ainda não filiado aos Alcóolicos Anônimos:

– Chico Araújo, vem cá e dá uma baforada de álcool no cabeçote para limpar o gravador do colega.

Quase saiu tapa.

NO RASTRO
O Acre em dezembro de 1988 era o centro das atenções do Brasil e Xapuri o umbigo do mundo por causa da emboscada que liquidou o líder seringueiro Chico Mendes.

O diretor-geral da Polícia Federal, Romeu Tuma, no desembarque no aeroporto de Rio Branco atraiu autoridades, políticos, sindicalistas, populares e chusma ululante de jornalistas da terra e de fora.

Cercado pelos repórteres para a clássica entrevista, os jornalistas escutavam atentamente o relato da situação que o secretário de Segurança, coronel José Carlos Castello Branco expunha ao xerife federal.

Castello Branco, a uma indagação de Tuma sobre se havia vestígios do Alvarino, irmão de Darli Alves da Silva e de seu bando de pistoleiros embrenhados nas matas de Xapuri, esclareceu:

– Doutor, um policial nosso há coisa de três dias viu o pistoleiro Alvarino na floresta.

O jornalista José Altino Machado, à época correspondente d’O Estado de São Paulo, sempre gaiato, estragou o impacto da revelação com uma pergunta cretina mas pertinente que lhe garantiu olhares mortíferos do secretário:

– Coronel, e não deu para o seu policial dar uma corridinha atrás do gajo?

Leia mais sobre o livro no site do Tribunal de Justiça do Acre.

5 comentários:

Jean Freire disse...

Oh meu amigo, já faz tempo que você "incomoda" os caras!

du disse...

E podemos chamar de máfia uma única pessoa e/ou uma única família que acabou sujando e taxando a classe de fazendeiros como bandidos?
A questão ali era uma briga latifundiária entre a vítima e o assassino.

Beto Tapeocy disse...

Tive o privilégio de conhecer o Zé Leite... era moleque qndo via meu pai e ele batendo papo por longas horas... foi por meio dele que tivemos acesso ao Raimundo Lôro e pude fazer uma prova pra ser aceito no almejado Colégio Acreano....

Quando o Zé faleceu, foi uma das poucas vezes que vi os olhos do meu pai cheio de lágrimas...

Leila Ferreira disse...

Olha que bacana “Tão Acre II”, Tenho a primeira edição do Tão Acre, que ganhei do querido presidente do SINJAC Marcos, e me alegro com a leitura solto gargalhadas sozinha lendo e muito legal e divertido. Além de conta sobre nosso estado. As historias trabalhadas contada pelo padre José, pela poeta Juvenal, e tantas outras contada pelo jornalista José Chalub. Parabéns ao SINJAC e jornalista que farão parte deste belo livro e ao Tribunal de Justiça do Acre, pela bela iniciativa.

Gustavo Souza disse...

Poxa, você tem uma cópia da versão digital? Eu realmente não a encontrei na internet. =/ Se pudesse encontrar em sebos, como Estante Virtual, seria alguma coisa, mas nem isso.