sexta-feira, 27 de novembro de 2009

GLÓRIA GANHA O EMMY

Leila Jalul

Ladeada por atores e diretor da novela Caminho das Índias, Glória Perez eleva o troféu merecido por seu trabalho. A novela passou recente e ainda está circulando nas mentes. De um modo geral a crítica foi favorável. As vozes dissonantes calaram ante a aceitação geral. Os picos de audiência fizeram prova disso.

Com um elenco de peso e a regência especial do maestro Marcos Schechtman, cada proposta da autora foi tratada com a profundidade possível, e o melhor, todas bem assimiladas pelo público. E olha que eram várias.

A cultura indiana e suas diferenças foram mostradas. O respeito aos idosos (coisa que nosso país quer ignorar), o mundo da psiquiatria, com enfoque à socialização do doente e um não ao degredo dos nosocômios frios e fétidos; a psicopatia e o nada a ver entre esta e a loucura, a ganância entre irmãos, o desvio da juventude, tudo foi tratado de tal forma que, os amores (principais e secundários), não ofuscaram o brilho do todo. Uma novela supimpa que deixou saudades.

Nesse tempo de escrever, capítulo após capítulo, Glória Perez se depara com uma fragilidade na saúde. Nada a fez parar. Entre uma terapia e outra, mais um capítulo surgia. A novela fez parte do tratamento.

Estou a lembrar de Amazônia – De Galvez a Chico Mendes, um dos seus últimos trabalhos. Ouvi muitas críticas negativas de seus irmãos de terra. Uma ponta de escárnio aqui, outra ali. Santo de casa não faz milagres, afinal. Gosto do trabalho de Glória Perz, sendo conterrânea ou não. Acompanhei Carmen, na extinta Manchete, e já ali vi nascer uma autora competente. Escrever bem ela sempre escreveu, desde a escola, no nosso antigo ginasial.

Pelo Brasil inteiro se comentava sobre os Abéis e suas Norminhas. Vários outros programas ficaram motivados a mostrar a cultura dos pobres sem casta, dos bramas, suas danças e organizações familiares. As Mayas, Rajs e Bahuans foram copiados dos chapadões da Paraíba até os balcões petrolíferos de Tucano. Das bocas só se ouvia are babas e outros termos repetidos pelos personagens.

Ana Carolina, vizinha de vila, aos quase três anos ainda não fala. Em contrapartida, nunca se esquivou de sair balançando a cabeça, os quadris e mexendo nos cabelos que nem uma Norminha da primeira infância. Ao final da novela já sabia dizer um are baba quase totalmente compreensível.

Coisa interessante foi ficar sabendo que um evangélico gravou um CD caseiro com os temas de abertura e o de Maya. Ao serem cantados durante um culto, os irmãos, pastores e obreiros engatavam uma primeira e lá se iam dançando com toda a sensualidade requerida e dando are baba pra Jesus!

Quando a vi levantando o tal Emmy, pensei: os familiares e amigos de Glória, presentes ou ausentes, têm orgulho dela. O Tico, inclusive.

Equipe técnica, atores e autora estão de parabéns.

Are baba.

Leila Jalul é cronista acreana. Em tempo: Tico era o periquito com o qual Glória Perez frequentava as aulas no Colégio Acreano.

Nenhum comentário: