Archibaldo Antunes
No viveiro das especulações políticas da coligação Frente Popular do Acre não há lugar para equívocos, mesmo que as teorias estejam longe de explicar a realidade. Isso ocorre porque o poder é uma ferramenta capaz de ajustar os fatos às versões de quem o detém.
Acostumados a dar aos acontecimentos a roupagem que mais lhes agrada, os políticos da FPA fizeram contorcionismos verbais para explicar a derrota em Feijó, nas eleições do último domingo. Mas isso não muda o fato de Dindim ter batido uma candidata que contava com o apoio de gente que está envelhecendo no poder. E para quem até o domingo havia andado pelas ruas de Feijó de salto alto, não caberia calçar, no dia seguinte, as sandálias da humildade. E foi assim que de uma soberba se passou à outra pior.
Do alto da tribuna da Assembléia Legislativa do Acre, na terça-feira, o líder do governo, deputado Moisés Diniz, foi taxativo: “Perdemos para nós mesmos”. E à sentença peremptória juntou outras, que, sim, explicam em parte o raciocínio, mas está longe de esgotar o assunto.
Pois não poderia haver, em política principalmente, declaração mais presunçosa. Sobretudo porque descarta a vontade do eleitor, que em Feijó foi às urnas dizer não ao continuismo.
Ao explorar a questão nesses termos, o deputado esteve longe de reconhecer erros e aparentar humildade, antes se encarregando de depreciar os adversários. E quando afinal reconheceu algum mérito neles, admitindo-lhes a coesão municipal, foi para fazer um ataque mais amplo, dessa vez no plano estadual, cujas lideranças de oposição, segundo ele, estão longe de se entender. (Pior ainda foi o presidente regional do PT, Leonardo de Brito, que em um programa de televisão insinuou que Jaciara perdera a eleição por falta de estrutura material).
Moisés Diniz poderia ter juntado ao mea culpa a reflexão de que a FPA perdeu as eleições em Feijó porque o governador Binho Marques, após ajudar a eleger o companheiro Juarez Leitão, esqueceu-se de aparecer para dizer olá e levar ali um punhado de recursos. Ou que nos municípios a situação política lhes vai ficando cada vez mais adversa na medida em que os problemas se acumulam. O atual governo é um fazedor de grandes obras na capital, o que impõe certa amnésia quanto às necessidades de quem vive no interior do Estado.
Mas ainda que o mea culpa seja de mentirinha, alguns argumentos fazem sentido. Por exemplo: a de que a candidata Jaciara, do PT, teve 18 dias para fazer campanha, quando Dindim contava com a vantagem da memória eleitoral. Se agora esse fator explica a derrota em sua totalidade, durante o pleito a arrogância não deixou margem a dúvidas desse calibre. E petistas e comunistas empunharam suas bandeiras como quem vai esmagar o inimigo.
Uma semana antes do pleito suplementar, ocorrido para preencher o vazio de outro petista pilhado na contravenção eleitoral, a Frente Popular alardeava vitória, amparada talvez em uma pesquisa de métodos esdrúxulos – durante a qual os eleitores seriam instados a responder que votariam na candidata da FPA. Acossado pelos pesquisadores, o cidadão comum acabou por dizer o que eles queriam ouvir, e no domingo foi à urna desfazer o equívoco.
Os parlamentares da base governista que amenizaram a derrota declararam que a alta corte da FPA vai avaliar os erros na tentativa de corrigi-los. Esquecem talvez que do lado da oposição são os acertos da campanha em Feijó que nortearão as conversas daqui por diante.
♦ Archibaldo Antunes é jornalista e titular da coluna Prisma.
Um comentário:
Realmente, se o governador Binho, fez em Feijo como estar fazendo em Xapuri, a derrota da candidata da frente popular foi bem merecida. Os políticos tem que perceber que a população, devagar esta apredendo a dar resposta.
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