sábado, 17 de outubro de 2009

COMUNICAÇÃO PÚBLICA SEM TRUQUES

João Veras

A propósito da Conferência Nacional de Comunicação, também acho que é fundamental compreender a comunicação social no Acre muito além da idéia que aqui se tem dela como instrumento de propaganda governamental. Nesse sentido, não quero ficar analisando, neste momento, o que acontece fora daqui e fora dela (estaria alguma coisa mesmo fora?), muito menos entreter-me em discussão teórica sobre o nome, papel e “fenomenologia” das novas tecnologias no campo da comunicação. Não quero o desvio.

O que desejo é o enfrentamento direto das questões que envolvem as políticas governamentais de comunicação daqui. Interessa-me questionar a comunicação relacionada à cidadania local.
Prefiro o que está ao meu alcance como, inclusive, cidadão consumidor da gestão dos meios de comunicação públicos no contexto republicano.

E
já faço isso aproveitando a visibilidade do debate, que o governo local, não por gosto, mas por desgosto, foi levado a “abrir”, empurrado pela avalanche política do movimento popular Pré-conferência Nacional de Comunicação - este que também empurrou o governo federal - e, com o mais legítimo interesse e a mais profunda franqueza, questionar se a política de comunicação pública, praticada pelo chamado Sistema Público Estadual de comunicação do Acre, continuará sendo tão-só instrumento de propaganda dos feitos e idéias governamentais.

Se ele continuará impedindo que a pluralidade e diversidade de idéias, manifestações e informações locais seja objeto de suas transmissões igualmente locais. Se ele continuará selecionando, sob critério da não-crítica, as caras e assuntos merecedores de difusão pública. Se ele continuará censurando o que não é espelho de dividendos eleitorais.


Se ele continuará forjando uma imagem unívoca daquilo que tem denominado de acreanidade. Se ele continuará sendo alheio à pluralidade e diversidade da produção artística e científica locais. Se ele continuará sendo antidemocrático, também no aspecto da participação social na formulação de sua política de difusão radiofônica e televisiva (alguém conhece o Decreto Estadual 2.097, de 11/05/00?). Se continuará dominando, com mão de ferro, a imprensa local com a sua política de “distribuição” de verbas de mídia de governo.

O que me interessa tem cheiro de terra, de tempo imediato, de realidade, de mudança. Não me interessa simulações e truques. Apesar de saber que continuaremos envoltos em truques e simulações, apesar de saber que a caravana da insatisfação social passará enquanto os cães da comunicação continuam ladrando e lambendo suas patas de cifras, votos e enganos, com ou sem “conferências-tur” rumo à capital federal.

João Veras é advogado no Acre. Leia mais no blog da Confecom-Acre

3 comentários:

Helder Cavalcante Jr. disse...

João Veras falou muito bem e concordo com ele, principalmente no trecho "O que me interessa tem cheiro de terra, de tempo imediato, de realidade, de mudança. Não me interessa simulações e truques."

Já ouvi pessoas dizerem que essa Conferência, nesses moldes onde grande parte da sociedade não participa - e não é para menos, tendo em vista que esta Conferência de COMUNICAÇÃO é o evento MENOS DIVULGADO das últimas conferências - é um começo. Pois bem, concordo que se trata de um começo, mas sem conferências municipais dignas, isso não passa de um começo errado.

Que me desculpem aqueles que realmente acreditam que aquilo que se passou na pré-conferência de sexta-feira foi uma participação do interior do Acre, mas fazer tele-conferência com ligações de péssima qualidade e formar comissões de organização na DEDOcracia, não ajuda em nada para a tão almejada mudança.

Bem, o que resta agora é estudar muito bem temas relevantes como a questão do Sistema Público de Comunicação e fazer proposições e exigir mudanças com fundamento. E tudo pra ontem...

Rosangela Barros disse...

Um Bom Domingo!

Todo essa matéria que acima degustei me seduziu profundamente (se fosse alguns anos atrás iria participar desse encontro assiduamente),um belíssimo texto: os trechos a seguir, me imobilizaram: “Interessa-me questionar a comunicação relacionada à cidadania local. Prefiro o que está ao meu alcance como, inclusive, cidadão consumidor da gestão” (...) “Se ele continuará impedindo que a pluralidade e diversidade de idéias, manifestações e informações locais seja objeto de suas transmissões igualmente locais (...) Se ele continuará forjando uma imagem unívoca daquilo que tem denominado de acreanidade. Se ele continuará sendo alheio à pluralidade e diversidade da produção artística e científica locais”.
- Só quero saber Dr. João Veras: quais serão as medidas a serem tomadas se tudo isso acima descrito continuarem acontecendo? Porque interessa-me profundamente também questionar (se for necessário irei até para as esquinas) tudo que está relacionada à cidadania local, principalmente na comunicação!...
O que me animou também foi o comentário do sr. Helder: “Bem, o que resta agora é estudar muito bem temas relevantes como a questão do Sistema Público de Comunicação e fazer proposições e exigir mudanças com fundamento. E tudo pra ontem...” Se todo o dito for sério iniciarei a organização dos meus instrumentos de trabalho e partirei para a guerra com vocês!

Acreucho disse...

"Se ele continuará forjando uma imagem unívoca daquilo que tem denominado de acreanidade".
Na realidade o governo determina o que seja "acreanidade", dentro dos moldes impostos por ele e, por aquilo que ele acha que é, de acordo com suas necessidades e pretenções, impondo essa opinião ao povo e aos meios de comunicação, que diga-se de passagem vivem coagidos e submissos aos caprichos governamentais.
A maioria dos "jornalistas" por aqui, são "dadores de notícias", simplesmente narram o fato sem omitir qualquer comentário ou opinião, quando o fazem são insípidos ou louvaminheiros, são os "jornalistas coroinhas", dizem "amém" o tempo todo. Se essa notícia for algo que possa "denegrir" a imaculada imagem criada pelo governo petista do que é o Acre, vendida para fora daqui e imposta aqui dentro, obviamente aos menos esclarecidos e desinformados ela é apenas narrada. Quando algum jornalista emite uma opinião, ela tem que tecer elogios ao governo, caso contrário, calar é o melhor, sob pena de represálias. O governo por aqui, só se dá mal mesmo é na internet, onde todo mundo comenta livremente e ele ainda não conseguiu nenhum tipo de controle, embora a gente saiba que existem equipes que são pagas pra ficar "pescando" notícias nos blogs e fazendo comentários defendendo o governo.