sexta-feira, 11 de setembro de 2009

ADEUS, BARÃO

Morreu nesta sexta-feira, em Brasília, aos 90 anos, o professor e ex-governador do Acre (1975-1979) Geraldo Gurgel de Mesquita, o Barão, pai do senador Geraldinho Mesquita (PMDB-AC).

Ele jamais admitiu publicamente que fundou no Acre o Partido Comunista Brasileiro por volta de 1940 e com isso acabou sendo nomeado governador da Arena pela ditadura militar.

- Ele sempre negou, mas sou testemunha de que ele era do PCB. O grande legado do Barão foi ter realizado o primeiro "empate" político contra a bovinização do Acre. Sua gestão foi pontuada pela defesa dos seringueiros, reagindo à desordem promovida pelos fazendeiros que chegaram ao Estado atraídos pelo governador que o antecedeu - afirma do alto de seus 75 anos o jornalista Elson Martins.

De minha parte, o que posso dizer é que o Barão me induziu à maior gafe de minha carreira profissional. Já contei aqui. Numa manhã, em meados de 2002, eu estava no gabinete do então governador Jorge Viana quando a secretária Graça abriu a porta e se aproximou para avisá-lo que o ex-governador Geraldo Mesquita já estava na ante-sala.

Quando Jorge disse à secretária que trouxesse o ex-governador, peguei meu gravador e um bloco de anotações que estavam sobre a mesa e levantei da cadeira para bater em retirada. Jorge disse:

- Não, Machado, fica aqui.

- Vocês vão falar de política, fiquem à vontade. Vou embora.

- Fica, fica - ele insistiu.

Aí entrou o Barão, de óculos, passos lentos, alisando as mãos. Após os cumprimentos, sentou-se na cadeira ao lado da minha. E foi direto ao assunto:

- Governador, nós precisamos contar com um candidato a senador, além da Marina Silva. Alguém que ajude a puxar votos. O Geraldo Mesquita está aqui e é um bom candidato.

- Claro, Barão. Concordo plenamente. Sua estratégia está certa. Vamos conversar mais com os partidos - respondeu Jorge.

Bem, ambos continuaram a falar algumas bobagens a mais que já nem recordo e então pedi licença para me ausentar. Fui embora.

Horas mais tarde, escrevi algo mais ou menos assim e mandei pro jornal Página 20: "O ex-governador Geraldo Mesquita se reuniu ontem com o governador Jorge Viana para se oferecer como candidato ao Senado com apoio da Frente Popular do Acre". Pronto.

Eu havia induzido o jornal a uma barriga (divulgação de informação falsa). Claro que o Jorge percebeu isso ao ler o jornal no dia seguinte, mas não ousou me importunar. Só percebi a barriga uma ou duas semanas depois ao encontrar Geraldo Mesquita Jr.

- Altino, o Barão está há dias amuado por sua causa. Está uma fera mesmo. Ao contrário do que você escreveu, sou eu o candidato que ele sugeriu ao Jorge para ser apoiado pela Frente Popular.

- Ah é? Mas ele falou Geraldo Mesquita, sem o Jr.. Como você não tem votos, jamais imaginei que estivesse sugerindo a sua candidatura - tentei justificar.

Moral da história: Geraldinho Mesquista foi eleito senador pelo PSB com 104,9 mil votos. Abandonou a Frente Popular do Acre se filiou ao PSOL e depois ao PMDB.

Espero que as divergências políticas com Geraldinho Mesquita não sirvam de alegação para que a morte do Barão seja agora ignorada pelos petistas que tanto diziam admirar o seu exemplo de coragem em defesa de nossas florestas, índios e seringueiros.

- Ele estava à mesa quando morreu, durante o almoço. Morreu como merecia: sem sofrer nada - relatou ao blog o empresário Heleno Araújo, casado com Adízia, irmã de Geraldinho.

Perdemos um dos poucos governadores honestos da história acreana.

Mensagem do Heleno Araujo

Amigos e familiares

É com tristeza que comunico o falecimento do meu sogro Geraldo Mesquita, ocorrido hoje, às 12 horas, em Brasília, vítima de uma parada cardíaca. Adízia, Gabriel e Geraldinho, que estava aqui em Rio Branco, seguiram para Brasília hoje à tarde, onde se juntarão daqui a pouco à Dona Ivinha, neste momento de dor.

O Barão foi tudo que um cidadão gostaria de ser em sua terra natal, o Acre: professor, deputado federal, senador e governador. Para mim, especialmente, foi como um segundo pai por mais de 30 anos.

Honradez, dignidade, honestidade e bondade foram as virtudes principais deste homem que, junto com sua família, me acolheu no Acre, quando aqui cheguei, em 1975. Qualidades que já não se vê mais nos homens públicos atuais. É uma pena.

Já fazia algum tempo que ele andava fraquinho, do alto de seus 90 anos dedicados integralmente à causa pública, aos acreanos. Deus seguramente definiu que sua hora chegara. Felizmente, sem nenhum sofrimento.

Aos que enviaram mensagens, aos que telefonaram, enfim, gostaria de agradecer a todos, em nome da família, os votos de pesar e sentimento, neste momento de perda irreparável.

Heleno
Adízia
Gabriel

2 comentários:

Observador disse...

Sabe-se que foi o governador mais íntegro que passou pelo palácio do governo Acreano. Ele trazia até os centavos na hora de prestar contas das diárias recebidas.
Está nas mãos de Deus.

Anônimo disse...

Fico feliz em saber que D. Ivinha ainda esta esntre nós.Quanto ao falecimento do Prof. Geraldo Mesquita nada temos a lamentar pois quem viveu 90 anos, tendo uma vida com um histórico como o dele, só devemos pedir à Deus que o de um descanso eterno. Quanto aos seus familiares, os pesames de um velho amigo.
Esperamos que cumpram com as homenagens que o mesmo merecia. Pois em vida pouco se falava do mesmo.