segunda-feira, 17 de agosto de 2009

MARINA SILVA CANDIDATA

É coisa para se levar a sério

Sérgio Abranches

A agenda política continua enrolada no caso Sarney e nas escolhas complicadas do presidente Lula, de dar mais força ao PMDB. Mas um fato novo começa a agitar o Planalto e o país e tem espaço garantido na mídia: a esperada candidatura da senadora Marina Silva (PT-AC) à presidência da República.

A senadora acreana ocupará a agenda política, nas próximas semanas, em pelo menos três ocasiões diferentes. Em breve, talvez esta semana mesmo, ela anunciará seu desligamento do PT, partido que fundou, ao lado de Chico Mendes e Lula. Não é notícia trivial, quando um ícone de raiz, vindo do coração do movimento social, que mantém legitimidade, tem carisma e é coerente, deixa o partido. Ainda mais quando sai, levando consigo os mesmos valores originais, fundadores, do partido, os ideais democrático-socialistas que animavam os que resistiram à ditadura e buscavam uma alternativa de poder. Sua saída repercutirá na mídia, na máquina partidária, na militância petista e no movimento social.

Em um segundo momento, a senadora participará do grande evento que deve ser montado para sua filiação ao partido Verde, PV. O PV é um partido pequeno e complicado. Como todos os partidos brasileiros, tem uma banda boa e outra podre. Tem aparentemente uma plataforma consistente, mas muitos de seus parlamentares em Brasília, nos estados e municípios não mantêm coerência com seus princípios. Só faz sentido Marina Silva se deslocar para o PV, se sua entrada representar uma espécie de refundação do partido. Não está claro que seja isso que está em negociação. Não falei com ela desde que anunciou a decisão, nem com lideranças do PV, mas falei com muitos companheiros seus e com várias lideranças do PT, do ambientalismo e de movimentos sociais.

O que ouvi sobre as conversas políticas que Marina Silva manteve com seus companheiros de partido, é que ela está tomando todo cuidado para não liderar uma diáspora. Disse a seu grupo político no Acre, que governa o estado há 12 anos, que ele não precisa acompanhá-la nesse novo movimento. O ex-governador Jorge Viana me disse que ele, seu irmão, o senador Tião Viana, e o atual governador Binho Marques não podem acompanhá-la, nem lhe dizer que não siga nessa nova jornada.

Não é um grupo trivial, nem uma situação simples: três mandatos no governo, Binho Marques tem toda chance de se reeleger, para completar o quarto mandato consecutivo do grupo no Executivo acreano. Dois senadores, ambos com capacidade de se reelegerem. Mas Marina Silva já havia dito que não buscaria um novo mandato senatorial, nem se engajaria na campanha de Dilma Roussef (PT-RS), o que em si já representava problema suficiente para o grupo.

A situação mais delicada é a do governador Binho Marques. Ele tem ligações políticas e pessoais muito estreitas com Marina Silva. Jorge Viana me disse que a saída é um problema pessoal para eles, mas não é um problema político. Observadores políticos locais me disseram que é um grande problema político, para o PT local, para o grupo de Marina no Acre e para o PT nacional. Segundo essa análise, não há como evitar problemas, quando o PT terá um palanque, para Lula e Dilma, no qual Marina não estará, porque estará em um palanque contrário. Boa parte de seu grupo terá a lealdade pessoal e o coração no palanque de Marina Silva, e a presença política formal, no de Dilma. Mas esses observadores não descartam a possibilidade de que, se a candidatura Marina emplacar, uma parte de seu grupo acabe em seu palanque, pessoal e politicamente, esvaziando o de Dilma. Para Lula e Dilma, a melhor alternativa seria não ter palanque no Acre. O estado não é eleitoralmente relevante para eles, Dilma não tem a menor chance de fazer frente a Marina em seu próprio território. Pelo menos desinflaria a tensão.

Júlio Barbosa, do movimento dos seringueiros, com base em Xapuri, onde Chico Mendes foi assassinado, e Secretário Nacional de Meio Ambiente e Desenvolvimento do PT, me disse que essa decisão de Marina Silva “é um problemaço” para o PT. Ele acha que as repercussões internas serão muitas porque há muita gente descontente com o “tratoraço” de Dilma Roussef em Marina Silva e que o governo até hoje não respondeu às críticas internas de suas políticas que contribuem para o desmatamento da Amazônia, as emissões de gases estufa e a degradação ambiental.

Ouvi de muito petistas e de lideranças de movimentos sociais ligados ao PT que estão de malas prontas para embarcar na campanha de Marina Silva. Ela pode acabar, involuntariamente refundando o PV e promovendo um realinhamento partidário, no campo da esquerda democrática, mais amplo do que se imagina. Marina está atendendo a uma demanda que eu já vinha comentando aqui e é bastante geral: por uma alternativa “a tudo isso que está aí” posto para a sucessão de Lula.

O terceiro momento, o de maior repercussão, será o anúncio da candidatura à presidência. Conversando com pessoas ligadas à senadora e que têm falado com ela sobre a candidatura em si, capto dois sinais importantes. O primeiro, é que a candidatura já está subjetivamente decidida. Falta apenas a decisão política. O segundo é que Marina Silva não fará uma candidatura “de nicho”, ambientalista. Fará uma campanha por um novo modelo de desenvolvimento, estruturado pelo desafio do aquecimento global. Deve formular um programa alternativo para o desenvolvimento econômico e social do Brasil de baixo carbono para o século XXI. Essa perspectiva Marina Silva defendeu, antes de iniciar esse movimento atual, em um seminário em que estivemos juntos e pude sentir que ela havia reformatado muitas de suas idéias, ampliando sua visão e sua perspectiva sobre o desenvolvimento.

É pouco provável que a candidatura de Marina Silva termine uma candidatura “nanica”. É claro que ela precisará de mais que os 2 minutos de tempo de TV que o PV lhe daria. Mas isso não parece difícil de negociar, por meio de uma aliança com um ou dois partidos médios. Ela tem potencial para crescer muito mais que seus adversários imaginam.

As pesquisas de intenções de voto ainda mostram muito pouco sobre ela. Mas já indicam, por exemplo, que Dilma Roussef parece estar plafonando, Ciro Gomes segue mais competitivo que ela. Aécio Neves também se mantém no mesmo patamar, sem evolução. José Serra mantém a liderança, em um patamar real que corresponde, basicamente, à votação que já obteve. Um quadro pré-eleitoral parado, despolarizado e que indica um eleitor desinformado e desmotivado. Terreno fértil para fatos novos.

O artigo do cientista político Sérgio Abranches foi publicado esta manhã em Risco Político.

2 comentários:

Sustentabilidade Insustentável disse...

Olha só o que já está circulando Brasil afora, nas redes colaborativas. Acessar neste endereço:

http://sites.google.com/site/camisetamarina/

Anônimo disse...

De todos os comentários que ja li
este é o mais lúcido. Eu mesmo já
havia comentado no blog do Altino
que a Senadora Marina Silva,daria
o" troco" em Lula e no alto clero
do PT nacional. Primeiro pro des-
denhar da política ambiental, sé-
ria e lúcida de Marina, por no-
mear o mixto de brasileiro e ame-
ricano Mangabeira Unger para a
pasta de Assuntos Estratégicos e
passou a dar"pitacos" no Ministé-
rio do meio Ambiente. Depois foi
a preferencia da "sargentona" Dil-
ma Roussef por Lula para sucedelo
e por fim, a opção de Lula pelo
desenvolvimento sem se importar
com as amarras ambientais. Foi a
gota dágua que faltava á Marina.
Com o convite do PV, encaixou como
uma luva. Eu dou como certo que a
Marina chega no segundo turno. Bas
ta um bom projeto baseado no tripé
SOCIAL, ECONOMICO E MEIO-AMBIENTE.