“Eu sinto a necessidade de haver portadores de utopia e eu estou disposta a ser a portadora de uma utopia”, disse a senadora Marina Silva (PT-AC) ao senador Cristovam Buarque (PDT-DF)
Leia trechos do discurso do senador:
"Do ponto de vista da falência dos partidos, vejo essa esperança nova que surge sob a forma da candidatura da Senadora Marina Silva. Embora, no Brasil, sejam proibidas candidaturas independentes, ela tem que usar um partido, mas, para mim, que fui quinze anos filiado ao Partido dos Trabalhadores, militante do Partido, e tive que fazer esse gesto que ela está fazendo, e sei como é doloroso, e ainda muito mais no caso dela, porque é mais orgânica, porque é de um Estado com uma história petista muito forte, eu fiquei surpreso quando vi essa possibilidade de que a Senadora Marina possa ser candidata por um outro partido.
E quero dizer que isso reacendeu as minhas esperanças. Esperança de que mais alguém vai carregar a bandeira de alguma utopia. Porque as candidaturas que nós temos aí são candidaturas exatamente iguais, são candidaturas da aceleração e não da inflexão na história do País. Há momentos de aceleração e há momentos de inflexão. E nós vivemos um momento que exige uma inflexão. Uma inflexão até mesmo civilizatória, mais mesmo do que uma inflexão do ponto de vista social. Muito menos vai nos bastar uma aceleração, uma aceleração de um crescimento perverso contra a natureza, concentrador da renda; não vai levar a um bom destino nosso País.
Nós precisamos fazer uma inflexão para termos um projeto de Nação que, além de uma soberania integrada no projeto global, não mais uma soberania isolada, saindo do fanatismo da estatização para o respeito ao serviço público, colocando o público como algo diferente do Estado; saindo da concentração para vender mais bens caros e caminhando para a distribuição para vender mais bens públicos; saindo da ideia de que crescer destruindo a natureza é um projeto suficiente e permanente, entendendo que esse é um projeto insustentável e trazendo para a dimensão nacional a idéia de que só servirá ao nosso País um desenvolvimento plenamente sustentável com a natureza, distributivo com a sociedade, integrado internacionalmente na defesa dos interesses nacionais, pondo o público na frente do privado e na frente do Estado também.
Só com essa nova visão é que a gente vai ter uma eleição que, além de escolher um novo Presidente ou a nova Presidenta, a gente tenha, também, um processo educativo das massas, da população, que é uma das funções do processo eleitoral.
Dezesseis anos de um mesmo discurso – o tempo do ex-Senador Fernando Henrique Cardoso junto com o Presidente Lula – 16 anos de um mesmo discurso está fazendo a nossa juventude esquecer a possibilidade de mudar a história do País. Está viciando a nossa juventude na ideia de que a gente só precisa acelerar nesse destino que vai levar, certamente, a um abismo. Em alta velocidade, a gente pode chegar ao abismo, mas não vai deixar de ser um abismo.
A vinda dessa Senadora para o debate nacional, como candidata a Presidente, traz, a meu ver, uma esperança nova; como ela mesmo me disse quando eu liguei para ela: “Eu sinto a necessidade de haver portadores de utopia e eu estou disposta [ela disse] a ser a portadora de uma utopia”.
Além disso, vai ajudar muito o Senado, porque eu venho cobrando deste Senado, há alguns anos, que nós deveríamos ser aqui todos como se fôssemos candidatos a Presidente, cada um trazendo a sua responsabilidade de um discurso capaz de trazer a população atrás das nossas mensagens. E nós perdemos isso.
Na vinda da Senadora Marina a esta tribuna, a partir do momento em que ela for candidata, o discurso será outro. Ela não vai ficar perdida nos discursos e nos dias a dias que nós temos aqui. Ela vai começar a falar como candidata a Presidente ou Presidenta; ela vai começar a dizer o que ela pensa de cada problema nacional; ela vai engrandecer o discurso enfraquecido, envergonhado, nervoso que nós temos tido nos últimos meses.
Mas esse é um fato que mostra como nós estamos sem a plena percepção da crise, porque a Senadora Marina não deveria precisar sair de partido, como eu não deveria precisar sair de partido, por descontentamento com a linha do partido. Além disso, a mudança de partido deveria ser uma coisa extremamente rara e hoje é uma coisa absolutamente simples, porque ficaram todos iguais. Não adianta a gente querer extrapolar para um ou outro, numa dimensão maior da falta de uma ideologia, de princípios, de valores.
Continuo achando que o Presidente Lula tem sido um bom Presidente quando comparado com os de antes dele, mas é um Presidente que, entre outros problemas, trouxe um esvaziamento do debate político, um enfraquecimento das forças políticas, um acomodamento dos movimentos sociais."
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