segunda-feira, 1 de junho de 2009

O MERGULHO

Sílvio Margarido



Três jovens saltam da ponte para um mergulho insólito. O que podem encontrar nas escassas águas do rio Acre?


Nas histórias de Hélio, Abrahim e Quintela, a memória de um rio ausente, onde as chatinhas e os navios faziam a alegria da garotada com seus apitos estridentes. Tempo em que a cidade que surgia era abastecida de água e alimentos desse rio avenida principal. Tempo de varejar, remar nas ubás, enquanto a noite não vinha para com os amigos festejar a vida de improviso, com tardes de futebol e danças domingueiras a noitinha.

Mas esse rio passa levando os peixes e esperanças de Elias, que tenta inutilmente arrancar seu sustento em arrastões de redes vazias. O rio já não tem mais peixes, além disso, em certas épocas é proibido pescar.

Rosangela e Antônio se esforçam, com sua fé evangélica, para tirar da catraia seu sustento. Levando pessoas pra lá e pra cá, de uma margem a outra, enquanto a nova ponte não venha e as velhas catraias, aposentadas, balancem ancoradas no porto às ondas de velozes voadeiras e as escadarias de madeira, apodreçam mais a cada nova alagação.

Mas o rio continua a correr em barcos trazendo algum alimento pro mercado. Robercí traz de sua colônia bananas e a família para abastecer o mercado vizinho do grande esgoto.

Dragas devoram água e vomitam areia, quem sabe para a construção da nova ponte. A resignação de dona Maria Júlia e seu Edson , que cansados de navegar aportam na Cadeia Velha e depois de anos serão removidos pois, no lugar de sua casa, uma nova ponte.

Esgotos, corredeiras, escadarias, balseiros, pontes, pessoas.

Subindo ou descendo de barco, se vê quem navega e quem nas margens espera. Barcos que seu João constrói desde a infância e hoje, mesmo alquebrado pela idade, teima e colocar no rio para o transporte de quem tem vai descer, subir ou atravessar esse barrento rio.

Valeu a pena ter mergulhado? Só Fábio, Alisson e Elessandro poderiam nos contar. Na cama Fábio lamenta a sorte de talvez nunca mais andar. Noticias que se dão nos jornais.

Mas a esperança está estampada nos desenhos e poesias de crianças ribeirinhas que na escola reencontram o rio.

Poesia singela da inocência de Ana Rosa, esperando que algo de novo aconteça no velho rio.

Este é um olhar de quem esteve próximo, dentro deste rio por alguns meses na construção de uma história em um documentário de vídeo. Com o desespero de quem cai ou se lança na aventurar de mergulhar, e com a esperança de sair e vê-lo novamente passar. Passar numa tela projetado, em suas margens relembrar a ausência que sentiremos... Quando não pudermos mais lhar para esse rio.

O Mergulho será apresentado publicamente pela primeira vez na quinta-feira, dia 4 de junho, às 19h30, na 6 de Agosto, na praça da cabeceira da passarela Joaquim Macedo, no 2º Distrito. Estão todos convidados e desde já grato pelas presenças.

Silvio Margarido é diretor, roteirista e produtor de diversos documentários e curtas-metragens de ficção. Também é poeta e músico.

Um comentário:

Txai Dinho da Silva disse...

Viva o Sílvio Margarido :)

Que maravilha de notícia boa nesses tempos confusos! Seus trabalhos são mais que kamikazes, pois estão sempre engajados nas lutas sociais com o olhar riobranquense de ser diferente em tudo, até na forma de chamar a nossa atenção e nos provocar a mobilizar e organizar a cidade e ribeirinhos para um empate histórico pelo nosso Rio Acre.

A importância da revitalização desse rio para mim vivi muito tempo, bem pertinho dele, no bairro da base e depois subindo para o centro, alí entre as 2 rádios AM - Difusora e Capital (ex-Andirá) é de todos nós e merece a nossa contribuição voluntária.

Ouço uma voz lá da 6 de agosto... É o Sílvio que chama por nós! Torcemos SEMPRE pelo seu sucesso merecedor de aplausos da comunidade e de gente como nós, que temos o privilégio de sua amizade crítica, criativa e cuidante!