sábado, 11 de abril de 2009

BOLA PRA FRENTE

Sepetiba, o campeão do mundo da minha infância

Armando Nogueira




Sepetiba era o terror dos bolivianos, prêto de raça que nunca fugia do jôgo, fôsse em Rio Branco ou em Cobija, em cujos campos costumava sangrar uma terrível rivalidade de fronteira.

Estávamos sempre juntos e eu sentia de perto a bravura de Sepetiba, entregando as pernas às chuteiras de couro cru, amarelas, que os bolivianos costumavam desembainhar naqueles amistosos vulcânicos de Cobija, Brasiléia (naquele tempo, era Brasília, a doce cidadezinha nos limites do Brasil com a Bolívia). Era o terror dos bolivianos o prêto Sepetiba, meu bom amigo Euclides da Costa.

Embora se diga que no interior não se joga futebol, embora tudo o que se inventa por aqui sobre a qualidade de jôgo nos campinhos longe do Rio, posso dizer que foi por lá, no Acre, vendo o Sepetiba, o Chico Banha, o Dudu, o Marajó, o Severo - foi vendo essa gente tôda que descobri o gôsto do futebol. Espremendo razões, chegarei à conclusão de que a êles, ao Sepetiba, devo eu a sorte de ter chegado até a Suécia para assistir à "Copa do Mundo".

Sepetiba não jogava bonito, soltava o pé, era valente; clássico era o Severo, espécie de Danilo dos pobres, visão de craque que trago da infância. Mas, o que me empolgava mesmo, era o coração do Euclides, o Sepetiba.

Correu o tempo, transferi-me para o Sul, não tive mais contato com os amigos, meus ídolos do campo do Rio Branco, que era a coqueluche do major Isidoro e do Geraldo Mesquita. Do Mesquita, tenho tido notícias, ele aparece, às vezes, por aqui, é botafoguense. Dos outros, ficaram-se, apenas, umas pontas de saudade que vêm à tona quando à tona me vêm a infância e um pedaço da adolescência, vividas entre o barro vermelho de Penápolis e aterra fina de Rio Branco, onde aprendi a fazer "embaixadas" de canhota com bola de borracha importada de Santarém.

Ontem, um amigo me trouxe de Rio Branco um pacote e uma carta. Presente do Sepetiba: a miniatura de uma péla de borracha com os nomes dos campeões do mundo gravados a fogo e uma dedicatória singela: Ao amigo Armando, um lembrança da "Copa do Mundo".

Revi, no presente, meu bom amigo Euclides, esguio, comprido e simples; reencontrei, na péla de borracha, minha terra e nela o menino que fui eu.

A "Copa do Mundo", que vi tão de perto, nos campos de Gotemburgo, Estocolmo, Udevala - aquela conquista de Solna me deu grandes e belas emoções. Nenhuma, porém, é tão minha quanto essa que me veio de Rio Branco.

Sepetiba devolveu-me a minha infância: o campo do Rio Branco, as meninas do ginásio de uniforme azul-e-branco na arquibancada, e a cidadezinha carregando em triunfos o "center-half" Sepetiba, o campeão do mundo dos meus 10 anos.


"Caro Altino, fazendo uma varredura em alguns documentos, encontrei uma crônica escrita por Armando Nogueira, que àquela época, em agosto de 1958, usava o pseudônimo "Arno" na coluna "Bola Pra Frente", do Jornal do Brasil. Ele homenageia meu pai, o famoso Pedro Sepetiba. Digitalizei o pequeno texto, mas o título saiu apagado, mas aqui eu te esclareço: "O campeão do mundo da minha infância". O nome do meu pai era Euclydes Barbosa da Costa, nascido no Seringal Catuaba com o nome de Pedro, dado por minha avó, dona Lídia Barbosa da Costa, nascida numa senzala da Ilha de Marajó (PA), após a assinatura da Lei Áurea. Bem, mas por essas razões do coração ou do destino, quando veio para Rio Branco ser batizado, a madrinha de apresentar achou o nome Pedro impróprio. Ao que parece, baseada nas andanças de Euclydes da Cunha por aqui, mudou o nome de meu pai para Euclydes (com y), mas o nome Pedro lhe acompanhou por toda sua vida vida, e pelos idos de 1940, numa partida de futebol, na cidade de Xapuri, lhe pespegaram o apodo "Sipitiba", daí o nome Pedro Sepetiba, conhecidíssimo em Rio Branco, e até na Bolívia, jogando futebol pelo Rio Branco. Enfim, meu pai se foi em 1994, mas sei que seu nome até hoje é lembrado com carinho por todos os que o conheceram.

Abraços

Edson Carneiro da Costa"

2 comentários:

Txai Dinho da Silva disse...

Grande Família Sepetiba!

Tenho o privilégio de conhecê-la desde a minha infância e posso reafirmar: o Pedro Sepetiba é uma referência para muitas gerações, um craque na bola, nas relações com as pessoas e talentoso com o seu violão.

Obrigado ao Dr. Edson Carneiro pelo achado e socialização, brindando a rede de amig@s e fãs do Pedro Sepetiba, seu valoroso e saudoso pai na crônica criativa do Armando Nogueira!

ALTINO MACHADO disse...

Direito de resposta:

"Senhor Altino,parabéns!Gostei da sua excelente iniciativa de transcrição no se blog do texto de autoria de jornalista Armando Nogueira sobre o nome de Pedro Sepetiba-O campeão do Mundo da minha Infância.Esta crônica,na época(1958),foi,sem dúvida a maior divulgação do Acre/Rio Branco,não só para o Brasil mas para o mundo.
Tendo em vista haver algumas impropriedades no texto agora em enfoque é que,com amparo na nossa Constituição Federal/88,venhor usar meu direito de resposta,com objetivo de que sejam retificados alguns dados sobre o nome de minha MÂE.
Permita-me esclarecer sobre a nota explicativa de Edson Carneiro-filho de Pedro Sepetiba-sobre a origem de sua avó e minha MÃE.Correto é que a senhora LIDIA BARBOSA DA COSTA foi criada por seu irmão mais velho(Sr.Aristides) em Belém do Pará.Assim,nunca esteve em uma senzala,conforme fala em sua nota o Sr.Edson EM MAIS UM DOS SEUS DEVANEIOS.
Presto esses esclarecimentos a bem do restabelecimento da VERDADE e em memória de minha MÃE.
Os presentes esclarecimentos poderão ser confirmados pela Sra.Dulcimar de Oliveira-mais conhecida como Didi-filha de Aristides.
Espero diante do exposto que sejam RETIFICADOS as minhas informações,bem como RATIFICADAS as demais.

Atenciosamente,
Irio Barbosa da Costa

Rua da Gloria 268/1204-Rio de Janeiro-RJ"