sábado, 7 de março de 2009

SUBINDO O PURUS

Arquilau Melo

Depois de 30 horas que deixamos Sena Madureira, navegando ininterruptamente, exceto para entrevistarmos alguns ribeirinhos que se achavam em seringais visitados há 100 anos por Euclides da Cunha, chegamos, finalmente, a Manoel Urbano.

Aqui nossa estada será breve, apenas para nos comunicarmos com a família e esperar pelo nosso outro barco com a metade da equipe do Projeto Cidadão, que durante a madrugada se viu obrigado a parar eis que queimou a lâmpada do seu farol.

Não foi uma noite fácil para os três pilotos que se revezaram ao leme do “Euclides da Cunha”, o barco que viajamos e que faz recreio entre Sena Madureira e Manoel Urbano, cujo nome originário era “Chalé Barco”. Em nossa homenagem, o seu proprietário, José da Silva Araújo, cuidou de às pressas rebatizá-lo de Euclides da Cunha.

Bem que a lua ajudou, mas o rio foi tomado por um repiquete arrastando para o seu leito árvores inteiras, formando aquilo que os ribeirinhos chamam de balseiros ou galhadas, dificultando a navegação, especialmente à noite.

Depois do café da manhã, cuidamos de deixar o barco numa voadeira e fomos conversar com ribeirinhos dos seringais Boa Vista, São Salvador e Oriental.

Em São Salvador encontramos “seu” Carlitos, de 83 anos, que se orgulha de haver cortado seringal durante 43 longos anos. Foi aposentado como Soldado da Borracha. Ele em si é um personagem.

Contou-nos sobre o que chamou de “revolução do Purus” , ocorrida em 1903, em que um corone, e seus 100 homens, após combater e expulsar os peruanos para Santa Rosa do Purus, foram humilhados por um único homem - o também seringalista cearense , dono do São Salvador, conhecido por Cariri.

Sozinho, Cariri suportou “três dias e três noites” de fogo intenso das tropas do coronel e saiu ileso. Tal feito Cariri conseguiu por ser um homem misterioso e de corpo fechado, aonde bala na entrava graças as suas milagrosas orações.

Gravei a história toda, mas o tempo não me permite pormenorizá-la agora, o que farei quando em casa chegar. Um grande abraço e corpo-fechado para vocês todos.

Arquilau Melo é desembargador do Tribunal de Justiça e presidente do Tribunal Regional Eleitoral do Acre.

Um comentário:

Índia disse...

Navegar em águas barrentas, bater papo com ribeirinhos, comer uma comida bem caseira, olhar a floresta torna-se uma experiência gostosa. Em 2007 viajava pelo baixo Madeira aqui em Rondônia e foram momentos que nunca vou esquecer. A gente cruza com umas figuras, numa comunidade chamada Nazaré conheci o João, um garoto que era uma graça, até me afeiçoeu a ele. Preciso voltar por aquelas bandas.