Isaac Melo
É uma dura realidade, mas aquilo que a mídia não mostra o povo tende a desconhecer. No entanto, mostraram. E sabemos. Será que isso foi suficiente para provocar alguma mudança na mentalidade de políticos acreanos, especialmente os de Tarauacá, que agora passa de terra do abacaxi grande e da mulher bonita para terra de miseráveis? O Fantástico, da Rede Globo, elevou apenas esse problema ao conhecimento nacional, pois há muito tempo lideranças tarauacaenses vêm denunciando a podridão da política local. Mas nunca foram ouvidos. Por quê? Simplesmente pelo fato de serem tachados como “inimigos” de quem está no poder. E agora, serão ouvidos? Não. Acontecerá o que sempre acontece: simplesmente deixar o tempo passar e assim, o povo esquecer.
E onde está o governo da florestania? É inconcebível que uma das regiões mais ricas do planeta esteja entre as mais miseráveis do país. Não há algo estranho nisso? Não há uma contradição com o próprio conceito de florestania, que visa a inclusão do homem a partir da floresta? Onde está essa inclusão? Miséria é inaceitável em qualquer contexto, mas muito mais em regiões que tem tanto a oferecer. Nós não vivemos no sertão nordestino, onde as questões climáticas são muito desfavoráveis, estamos na terra fartura e da esperança. Mas fartura e esperança para quem? O governo do Acre deveria parar de falar besteira, como a do tipo "o Acre será o melhor lugar para se viver a partir de 2010" (não que não quiséssemos), e acordar para a realidade. Antes de se ter um lugar melhor é necessário estar vivo e para isso é necessário comer. Sonhar é importante, mas projetar uma sociedade sobre sonhos é tolice.
Não adianta isentar o povo dessa também. Se tivéssemos um povo menos corruptível teríamos menos ladrões no poder. O poeta já havia alertado “vai doer, vai sofrer” e quem sabe um dia aprender. É necessário mais que reivindicar, protestar, mas assumir também o compromisso com a sociedade da qual faz parte. Isso implica participação, honestidade e consciência crítica, coisa que ainda estamos engatinhando. Não adianta se espantar, como se já não soubessem de tudo, e fazer cara de vítima e inocente. Se quisesse enxergar, enxergaria e se quisesse mudar, mudaria.
Há um grande desnível social em Tarauacá, o que é reflexo de um país de desigualdades. Creio que só um fazendeiro dessa região tenha mais boi que todo o número de pessoas de Jordão e Tarauacá juntas. Todavia, boi não é para alimentar pobre, mas para manter o luxo e o conforto dos ainda “coronéis de barranco” e “senhores da casa grande”, que ao longo desses anos mudaram apenas de nome e de endereço.
O sentimento de vergonha não recai sobre a população de Tarauacá ou Jordão apenas, pois a realidade não é muito diferente nos demais municípios do Estado. A pior vergonha recai (isso para quem tem) sobre a classe política que tanto se alardeia, no entanto, apresenta poucos resultados práticos. O mais miserável não são esses apresentados pelo IDH, mas aqueles que fazem de palácios e prefeituras um salão nobre, onde se banqueteiam a desonestidade e a senhora ganância.
Mas o acreano, assim como o nordestino, é antes de tudo um forte, usando o termo de Euclides da Cunha. Que isso não nos sirva de desculpa ou compensação, mas que confirme apenas a bravura de um povo que vive e resiste "heroicamente" há mais de um século, lutando contra a natureza e as piores formas de crueldade humana. Que orgulho de ser acreano-tarauacaense mesmo que o coração esteja escorrendo gotas de sangue de alegria e vergonha.
Sei de uma coisa apenas, aprendido pelo saudoso Océlio de Medeiros – o povo do Acre ainda está na infância / mas nasceu com passado e o ironiza: / dos próprios feitos hoje ri o acreano / e o que ontem era épico hoje é cômico.
◙ Isaac Melo é marista e graduando em filosofia pela PUC-PR.
8 comentários:
Concordo com o Isaac Melo, mas tenho uma dúvida: Uma moradora do Jordão reclamou que o preço do ovo está muito alto, mas não se pode criar galinha, e a tangerina? Não se pode jogar a semente no quintal? Não se pode plantar pés de banana, abacate, abacaxi, mandioca e frutas em geral, não se pode plantar feijão, arroz, melância, o cupuaçu, a pupunha e hortaliças? Não há caça, pesca? Agora cabe crítica ao governo no que diz respeito às áreas de saúde, educação, segurança e infraestrutura: porto e aeroporto, essas áreas são de responsapibilidade do governo. A população tem que cobrar, exigir; a sociedade organizada tem que ser firme nessa cobrança.A sociedade organizada tem justificar o termo organizada, o povo também tem que agir, deixar a preguiça e começar a plantar e o governo e os políticos têm que criar vergonha na cara e trabalhar, fazer algo de útil pelo povo. É ISSO.
Uma sugestão: Altino, teu blog é muito bom; e ficaria melhor ainda se tu aumentasses o tamanho e o tipo da fonte que usas para escrever, digo, melhor para nós, leitores. Obrigado.
marista. Que diabo quer dizer isso homi?
Tiago, você é o primeiro a reclamar disso. Considere as seguintes possibilidades: falha no seu browser, monitor desconfigurado ou, ainda, ausência ou lentes embaçadas. Eu não sei mexer no template para atendê-lo. Lamento.
Cara Anônimo,
para saber quem são os maristas, vá no google; ou www.padresmaristas.com ou www.maristas.org.br
Abraços.
Nas cidades do interior é fácil observar como a disparidade entre as classes sociais é absurda e como as mais carentes estão a mercê de empresários que em sua maioria se tornam os políticos da região apenas com o objetivo de enricar ilicitamente ainda mais às custas dos de recursos públicos, já não lhes é suficiente explorar o povo com o comércio cartelizado e abusrdamente caro.
Folou tudo Isaac. Seu desabafo é de o mesmo de muitos outros. Infelizmente, mas muito infelizmente mesmo, criticar ou opinar contra esse governo virou no mínimo caretisse e passamos a ser vistos como inimigos.
Pois é manin, e ainda querem eleger novamente Marina Silva para o Senado e Jorge Viana na cola dela. Tenha santa paciência, o Acre é atrasado por causa desse pessoal que na próxima eleição completa 20 anos no comando do estado defendendo a "florestania". Vamos dar um basta nisso, falam mal do Sarney, mas a velharia da política tá é aqui mesmo com tomate a 8 reais o quilo. Olha ai Altino, não corta o meu comentário democrático senão vou acreditar naquele assessor do Tião que bateu boca com voce por causa da lata velha que anda pelo interior com o nome do Senador, pura propaganda antecipada.
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