Ele queria voltar para o Acre
Folha de S. Paulo traz especial (aqui para assinante) sobre 16 médicos apontados como os melhores em cinco especialidades (pediatria, ginecologia, cardiologia, ortopedia e oncologia) na opinião de outros médicos. Entre eles, o acreano Adib Jatene, com breve perfil assinado pela repórter Flávia Montavani:
"Prestes a completar 80 anos, o cirurgião torácico Adib Jatene afirma que faz tudo o que recomenda aos pacientes: não fuma nem bebe, controla as taxas de colesterol e triglicérides, caminha, faz musculação e mantém o mesmo peso há 30 anos.
Mais do que isso, procura controlar o estresse. "Não dá para evitá-lo. O que você pode é reagir de forma equilibrada às tensões. E não adianta se desesperar diante de uma encrenca. Acho que elas são estímulo para a criatividade", afirma.
E foi assim, buscando soluções criativas para os problemas, que o médico construiu dispositivos como o primeiro coração-pulmão artificial do Hospital das Clínicas da USP e uma válvula cardíaca artificial.
A válvula, por exemplo, era cara demais quando foi trazida para o Brasil, por volta de 1963. "Não podíamos comprá-la, então resolvi que ia fazer a válvula. Fui atrás de saber que liga era, que metal era, como é que fazia", conta. Com o coração-pulmão artificial também foi assim. "As máquinas importadas estavam fora da nossa realidade. Já a que eu fiz podia ser consertada em qualquer lugar."
O primeiro modelo, testado em cães, ele criou quando atuou em Uberaba (MG). Se mais tarde ele passou a contar com centros de bioengenharia equipados, na época tudo foi feito com a ajuda de Chiquinho "Veludo", dono de uma retificadora de motores. "Acabei aprendendo a tornear e a fazer essas coisas de mecânica."
As invenções foram uma oportunidade para Jatene exercitar sua veia de engenheiro -até o terceiro ano científico, era isso que ele queria ser.
Mudou de planos porque quis estudar saúde pública para voltar ao Acre, onde nasceu. "Eu tinha dois anos quando meu pai morreu, e a ideia é que ele tinha morrido por falta de assistência. Não foi bem isso. Mas eu queria voltar." Acredita-se que foi a febre amarela que matou seu pai, um libanês que vendia mercadorias a um seringal em Xapuri (AC).
Na faculdade, Jatene se envolveu, "por acaso", no grupo de cirurgias torácicas orientado por Euryclides Zerbini, pioneiro na área no Brasil, com quem trabalhou por 11 anos. "Aprendi tudo com ele. Era um grande trabalhador. Dizia que, se a pessoa é séria, competente, nada resiste ao trabalho."
No InCor (Instituto do Coração da USP) e no Instituto Dante Pazzanese, Jatene foi pioneiro em uma série de cirurgias. Fez, pela primeira vez no país, a operação de ponte de safena, assim como a de troca de válvula. E criou uma técnica batizada com seu nome para correção de uma cardiopatia congênita.
Quando aceitou, em 1979, o convite para ser Secretário Estadual de Saúde do então governador de São Paulo Paulo Maluf, deixou todo mundo surpreso. "Não esperavam que um cirurgião cardíaco que atuava fortemente na área fosse trabalhar na saúde pública."
Foi ainda ministro da Saúde dos governos Collor e FHC. "Fui atrás de recurso para a saúde, porque saúde é prioridade no discurso, mas não é na prática." Idealizador da CPMF, o extinto imposto do cheque, Jatene continua a defendê-lo.
"Nas discussões no Congresso, eu sempre dizia: "A CPMF não é meu clube nem meu partido. É a alternativa que eu encontro. Se tiverem alternativa melhor, eu aceito". Mas ninguém tinha."
Ele calcula que já operou em torno de 20 mil pacientes -chegou a fazer cinco ou seis cirurgias por dia. Mas, se alguém lhe diz que trabalha muito, ele nega. "Quem trabalhou muito foi minha mãe. Ela era sozinha e ficou sem nada quando meu pai morreu. Tinha 28 anos e quatro filhos para criar."
Com a voz embargada, Jatene conta que ela abriu uma loja e costurava para ganhar a vida. "Eu me emociono porque ela era fantástica. Tinha mil problemas e nunca se queixava. Quando fechou a loja, não tinha nada. Mas tinha os filhos formados. Essa era a meta dela."
Além das atividades ligadas à medicina, Jatene é presidente do conselho deliberativo do Masp e coleciona obras de arte.
Casado há 54 anos, tem quatro filhos e dez netos. Lê "o que lhe cai na mão" e cuida de sua fazenda no interior de São Paulo. E diz que, "enquanto sua mão obedecer a cabeça e a cabeça pensar direito", não vai se aposentar. "Enquanto eu der conta eu vou em frente."
7 comentários:
Parabens ao estado do Acre por tão ilustre filho.Com certeza os Acreanos estão orgulhosos.São homens valorosos como DR.JATENE que faz o BRASIL ser respeitado.No entanto esta CPMF não deveria carregar sua chancela,pois esta imposição macula o seu nome,pela vilania em que foi usada de fato. BETO MINEIRO.
Amigo ALtino Machado, esse Acreano de Xapuri para mim e a maior expressao do Acre, esse sim e um Heroi.acho que os governantes do acre tinha que fazer um busto e colocar na principal praça publica do acre.o Dr. Jatene e um orgulho pra todos nos acreano.Parabéns pela matéria.
Esse sim, merecia uma espadinha do Jorge. Nosso orgulho.
O que ele fez pelo Acre?
Lembrando aquele velho comercial da tv: "Não basta ser pai, tem que participar". Não basta ser acreano, tem que fazer algo por nossa terra, nosso povo. Afinal, ninguém escolhe onde vai nascer, mas onde vai viver, trabalhar, produzir; já está no nosso livre arbítrio...
O Dr Adib é uma ser humano fantástico um orgulo para o Brasil ...um médico brilhante responsável pelos avanços ciêntificos mais importantes dos ultimos trinta anos da cardilogia brasileira.Um médico respeitado e adimirado em todo o mundo. anderson Sorocaba.
O Prof. Dr. Adib D.Jatene é um dos mais renomados cirurgiões de nosso país. Ora, toda sua vasta contribuição na área médica é aplicada no atendimento aos doentes não só de TODOS os estados de nosso país como também no exterior. Ele fez, e faz, muito pela humanidade, o que sem dúvida inclui os filhos do Acre.
Quanto a CPMF, quem teve oportunidade de ouvi-lo falar a respeito, em suas palestras, compreende o ideal com que ele a criou. Foi uma pena para nosso país que seu uso nem sempre foi da maneira como planejou.
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