sábado, 6 de dezembro de 2008

O PREÇO DE UMA ELEIÇÃO

Governo decidiu negociar a presidência do Congresso. O PMDB já apresentou a conta

Otávio Cabral, de Veja


O presidente Lula sempre procurou manter uma estratégica e prudente distância das disputas intestinas que envolvem os partidos políticos da base aliada do governo. Só interfere diretamente quando a situação está mesmo se degenerando. Diante da ameaça do PMDB de lançar um candidato próprio à presidência do Congresso, o que poderia inviabilizar a eleição do senador Tião Viana, do PT do Acre, Lula convocou as principais lideranças peemedebistas e selou um acordo de paz – nos moldes peemedebistas, evidentemente. Em troca do apoio ao PT, o PMDB apresentou sua lista de desejos para 2009. O partido reivindicou apenas a manutenção do que já está sob seu comando. Em vista da voracidade notória do PMDB, o pedido pareceu até comedido. Acordo fechado, então? Não. Seguindo sua tradição, o PMDB fez a proposta, mas, à sombra, se arma para dobrar o pedido.

Para isso, o partido conta com a atuação de sua "ala de rebeldes", liderada pelo senador Renan Calheiros. Desde que renunciou à presidência do Congresso para salvar o mandato, no ano passado, Renan tenta recuperar poder. Em sua investida para assegurar a eleição de Tião Viana, o presidente negociou diretamente com três caciques do PMDB. Ao senador José Sarney prometeu a manutenção de seus afilhados no comando do setor elétrico. Ao senador Valdir Raupp, atual líder do PMDB no Senado, garantiu a vice-presidência do Congresso na chapa de Tião Viana. Com o senador Romero Jucá comprometeu-se a apoiá-lo para a presidência do partido. Faltou falar com Renan Calheiros, que disse a amigos que o governo lhe deve muitos favores e ele merece ser tratado com mais deferência. Para mostrar que não é líder apenas dele mesmo, Renan convocou uma reunião da qual participaram os senadores que haviam acabado de acertar o acordo com Lula. Ao final, Renan anunciou que o partido vai lançar um candidato próprio para enfrentar Tião Viana.

Quem entende de PMDB conhece bem a manobra. Ela é vendida como uma insurreição de rebeldes do partido, mas ao mesmo tempo o governo é alertado de que "o movimento pode crescer". Nessas horas sempre surge um nomão para emprestar seriedade ao jogo. Desta vez não deu e saiu da cartola o nome do senador gaúcho Pedro Simon. Pelo jeito, contra a vontade dele. "Eu me recuso a fazer papel de espantalho para assustar o governo. Desautorizo o uso de meu nome", reagiu Simon na reunião. Deu-se então mais uma das "surpresas" típicas do PMDB e quem se apresentou como voluntário para a missão? José Sarney. Mas não foi Sarney que, dias antes, teria fechado um acordo com Lula? Sim. Porém a política é volátil como as nuvens. A eleição para a presidência do Congresso será no início de fevereiro e, até lá, as nuvens peemedebistas vão continuar se mexendo até que chova tudo o que eles querem na horta do partido. Tião Viana deverá ser o novo presidente do Senado, mas a conta vai ser mais alta.

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