segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

JORGE VIANA

Maria Lima - O Globo - 07/12/2008

Lembrado para ocupar os mais variados postos em Brasília desde que concluiu os dois mandatos como governador do Acre, o engenheiro florestal Jorge Viana (PT) optou por uma experiência inédita no setor privado. Há dois anos, preside o conselho de administração da Helibrás, maior fabricante de helicópteros da América Latina. Continua morando em Rio Branco com a família, mas vive no eixo Itajubá-São Paulo, passando sempre por Brasília, onde, em conversas com o presidente Lula, descreve as maravilhas de executar projetos sem as amarras da gestão pública. O hoje alto executivo do setor privado diz que o objetivo é acumular experiência como um empreendedor para voltar ao setor público e implementar novo modelo de gestão. Diz que este é seu destino, mas admite que está adorando estar do outro lado.

O que o levou a buscar eficiência no setor público?
JORGE VIANA: Na minha primeira eleição, o presidente Lula falou: "Você tem que fazer curso de gestão, porque vai ser prefeito". Ele conseguiu para mim bolsa de estudos para um curso em Caracas. O curso mostrou que ser bom gestor é parecido com ser empreendedor de sucesso. Tem que trabalhar com metas e uma equipe competente para criar ambiente de governabilidade, conduzir coisas e ter bons resultados. Meu único período de férias em oito anos de governo foi para ficar 12 dias fazendo curso sobre gestão. Era o único governador, os outros da turma eram grandes empresários. Confirmo uma quase certeza de que devemos gerir governos, prefeituras, mandatos, inspirados no mundo fora dos mandatos, no mundo real, que busca eficiência e resultados todo dia. Vou voltar melhor, porque conheci o mundo real. Do ponto de vista da satisfação, do ideal de um mundo melhor, as chances no setor público são maiores.

Quando conversa com o presidente Lula e conta que no setor privado, quando o executivo dá uma ordem ela é cumprida, ele fica com inveja?
VIANA: (Risos) Todo mundo que conhece o presidente Lula, ou quem como ele está no governo e já passou pelo setor privado, tem inveja e quer trazer a experiência para o setor público. O tempo do setor público é diferente. Faz diferença para eficiência de gestão! Tempo pode ser tradução de burocracia, oportunidade, ganância, ou metas e compromisso. São tempos diferentes, que se traduzem em interesses diferentes.

A conseqüência de uma falha é diferente nos dois setores?
VIANA: Se alguém no setor privado comete falhas, afeta pessoas e empregados. Mas a falha e o responsável podem ser corrigidos e substituídos imediatamente. No setor público, a situação é mais grave e, às vezes, afeta gerações inteiras. Nem sempre é punido. Quem atua no setor público deveria ser mais bem preparado. Pretendo voltar à vida pública. Vou voltar melhor com esse aprendizado.

Que experiências são mais ágeis na empresa?
VIANA: No setor público, você tem amarras. No setor privado, pode ser mais agressivo, objetivo. Isso dá vantagem ao setor privado. No Acre, a gente entendeu que a prefeitura e o governo eram nossa empresa. Nosso negócio. Fiz questão de que a educação pública fosse viável economicamente. Quando assumi, era mais barato matricular os alunos da rede pública na melhor escola particular do que manter no ensino público. Obviamente não transferi alunos. Trabalhei para dar eficiência ao ensino público. Ele tem que ter competitividade do ponto de vista da qualidade, mas ser eficiente do ponto de vista dos gastos. O mesmo na saúde e em outras áreas. O governo tem que ser um bom negócio. Na Helibrás, estou convencido de que temos que fazer gestão focada em metas e objetivos. O setor privado se alimenta por uma concorrência de inovação, de superação. Às vezes há inércia, acomodação na vida pública. Ganhou a eleição, fez promessas, assumiu compromissos, se cumpriu parte ou nada, tudo bem. No mundo privado, a competição agressiva e a cobrança são diárias. O setor público cria mecanismos para dar transparência e segurança para que os atos sejam lícitos. Mas acaba engessando, afeta o tempo do projeto. Nos processos de licitação, o tempo gasto da elaboração até a execução de um projeto praticamente já o torna inviável. Ele vai sair mais caro, gastar mais tempo e sempre fica com falhas. É preciso uma reforma. Resolver o problema de impunidade, honestidade e ética no setor público. Mas dentro de um tempo, porque senão danifica de morte a ação pública. Todo governante sofre essa doença: quer fazer mas não consegue, fica amarrado. A burocracia é grande e acaba virando incompetência. Leva à descrença da sociedade com o setor público.

É melhor estar de qual lado?
VIANA: Do ponto de vista do prazer, quem faz bem feito no mundo público atinge número maior de pessoas. Tenho ideais, me realizo mais no mundo público. Estou feliz de viver a experiência privada, pagando minhas contas, tendo remuneração melhor. O importante é acumular experiência. Vai ajudar (na volta à vida pública). Vou buscar aproximar o mundo público da coisa mais objetiva e competitiva que o mundo privado ensinou.

5 comentários:

Unknown disse...

"No Acre, a gente entendeu que a prefeitura e o governo eram nossa empresa." E quem foi que abacanhou a maior parte dos lucros? Cuma?

Unknown disse...

Pôxa, eu queria fazer esse curso em Caracas, más faz tanto tempo... será que ainda tem? É por isso que eu admiro o Jorge, não quer saber de entraves, faz e manda fazer, um bom gestor tem que adotar sempre essa postura!

xapuriense disse...

Jorge parece que, definitivamente, rendeu-se ao gerencialismo. Deve ter atenção para o fato de que cidadão não é cliente.

Esse enfoque da nova administração pública (essencialmente de mercado) assume implicitamente que o setor público e o setor privado são similares em sua essência e que responderiam aos mesmos incentivos e processos...(Grau,1997). Eu não acredito nisso.

A transferência da ideologia gerencial privada para a administração pública representa a inserção de um corpo estranho (Pollit, 1990).

A grande questão é: será que a etica em que os valores chaves são a eficiência do lucro e o individualismo é apropriada para o setor público?

Acredito que o cidadão possui direitos que vão muito além daqueles de consumidores ou mesmo clientes.

Minha posição é de recusar o gerencialimo como única forma de organizar e gerenciar no setor público, como também de recusar a concepção de que os seres humanos são apenas agentes no mercado, sem capacidade para a ação politica, coletiva e solidária.

Unknown disse...

Zé Luiz disse:
Rapaz eu acho que o Jorge Viana veio numa época boa, mais ele conseguiu fazer o básico que era necessário ser feito, na época em que foi prefeito e posteriormente Governador, o grande problema era que os outros políticos não estavam conseguindo fazer nem o básico, por isso ele ganhou essa fama toda, e também por saber manipular a imprensa acreana como poucos, mais aí essa comparação aí que ele fez eu concordo só em partes...

Unknown disse...

Zé luiz disse:
Rapaz na minha opinião o Jorge Viana foi um bom gestor como prefeito e governador, ele conseguiu fazer talvez só o básico o grande problema é que os outros não conseguiram fazer nem isso, mais aí comparar administração pública com empresas privadas é um exagero!!!