quinta-feira, 14 de agosto de 2008

GOVERNO E SOCIEDADE

Esquerda faz "desmanche social" para manter poder


Uma realidade bem diferente da imagem politicamente correta que se conhece do Acre, dominado por três governos consecutivos do PT de Chico Mendes, Marina Silva e dos irmãos Jorge e Tião Viana, começa a emergir formalmente de uma análise sobre participação da sociedade e da governança de espaços de definição de políticas públicas do Estado.

Financiado pelas organizações Rede Grupo de Trabalho Amazônico (GTA), com apoio da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) e o WWF-Brasil, o estudo foi conduzido pelo agrônomo Luis Meneses, 39, ex-coordenador do Programa Amazônia do WWF, que atualmente é consultor em governança institucional e gestão de programas ambientais.

A análise, suficientemente ácida para ferir o brio do “governo da floresta”, expõe o desmanche social promovido pelos partidos de esquerda, sobretudo o PT, para tentar se perpetuar no poder político do Acre. Expõe da mesma maneira a relação incestuosa à qual se submeteram diversas lideranças do movimento social.

Segundo a análise, as organizações de base reconhecem que o crescimento político do movimento de esquerda no Acre fez aumentar a ingerência de políticos junto ao movimento sindical. A situação tem reforçado um paternalismo onde sindicatos sentem-se subordinados ao governo e aos políticos e não podem se manifestar contra nada em função do estabelecimento de convênios e outros benefícios próprios de quem controla os cofres públicos.

No final dos anos 80, sendo a maior expressão do movimento social acreano, Chico Mendes forçou o Banco Mundial a financiar um plano de mitigação dos impactos socioambientais decorrentes do asfaltamento do trecho da BR-364 entre Porto Velho (RO) e Rio Branco. Atualmente, seus antigos aliados constroem rodovias sem respeito às leis ambientais e defendem ou calam diante dos impactos gerados por diversas obras de infraestrutura na região.

O “governo da floresta”, que começou em 1999 com o engenheiro florestal Jorge Viana, poderá ter continuidade com o senador Tião Viana, a partir de 2011, como “governo do petróleo”. Existem até pretensos ambientalistas que aderiram à atividade agropecuária que tanto criticavam e se tornaram destacados articuladores e defensores do plantio de cana-de-açuçar para produção de etanol na região.

O marasmo do movimento social é crescente, não existe mais articulação, e isso resulta no arrefecimento do papel contestador e aguerrido dos anos 70 e 80, quando foi capaz de impulsionar uma ruptura na política local com a eleição de lideranças que hoje são respeitadas dentro e fora do país. Além disso, a cultura do cargo público comissionado tem enfraquecido a atuação do movimento e gerado confusão de papéis na interlocução com a sociedade.

- Isso é constatado pelas organizações entrevistadas e também foi observado em relação à ascensão do PT ao Governo Federal. Esses quadros, que representam as melhores cabeças do movimento, quando no governo, tendem a compreender que participação das organizações do movimento podem ser substituídas pelo histórico pessoal e político dessas pessoas - afirma Meneses.

Na semana passada, ao tomar conhecimento da existência da análise, o governador do Acre, Binho Marques (PT), conversou rapidamente com Luis Meneses e manifestou intenção de instituir no Estado um mecanismo de certificação de organizações não-governamentais.

Leia a entrevista com Luis Meneses no Blog da Amazônia.

7 comentários:

Unknown disse...

Não, não! pela o amor de Deus não!
Petróleo não!
Que tal outras alternativas renováveis.
Que tal renovar tambem os caras que já não são os mesmos caras!

Thais Iervolino disse...

posso ter acesso ao estudo completo? como faço isso?

Aflora disse...

Muito boa a entrevista com o Luis, e que bom que os frutos do trabalho elaborado estão vindo à público, pra lá de necessário. Nunca achei salutar esta coisa de ninguém fala nada, este patrulhamento ideológico. Se a vaca está indo para o brejo, tem que gritar: ei, o brejo tá logo ali! Ou, pior: vc já reparou que está no brejo?

Enfim, Luis e Altino, fiquei pensando em como a segunda etapa do trabalho - de "elaboração de uma agenda de políticas socioambientais da sociedade civil" - será realizada frente à carência de quadros e de formação diagnosticada. Imagino que terá que ser um processo formativo, educativo, ao mesmo tempo que propositivo. Bom desafio.

Rose disse...

Altino.
A entrevista está excelente.
Olhando para o nosso Acre do ponto de vista da politica partidária, o Estado do Acre já alguns anos, encontra-se nas mãos de uma coligação de partidos chamada de frente popular.Para essas eleições municipais o cenário não nos parece muito diferente, ainda mais se somarmos ao poder da máquina, o poder dos recursos do PAC. Não há nenhuma novidade. Nem a saída da Marina Silva do Ministério do Meio ambiente alterou a rotina.Os movimentos sociais segue sem condição e fazer o contra ponto e mostrar a verdadeira face.

Unknown disse...

Queria dizer a Thais que o Altino tem o estudo completo e posso enviar tambem se me mandas em email no lcl.meneses@gmail.com

Mariana
Qto a 2da fase de elaboracao da Agenda de Politicas frente a carencia de quadros, o processo meotodologico que pensamos incluiu a priorizacao de pautas de politicas de interesse de um coletivo de organizacoes, realizar uma problematizacao, e trazer novos referenciais com pessoas especialistas nestes assuntos. Este ultimo seria fundamental para arejar as ideias e trazer novos elemntos na construcao de propostas.
No entanto, temos tido dificuldade de conseguir mobilizar as organizacoes para entrarem na empreitada. Agendas intensas, recursos humanos escassos, pagar a luz do mes,... nao abre espaco nem condicoes de pensar em projetos coletivos. Estamos tentando pensar em outros processos que atendam a construcao da agenda com achar rumos para a sobrevivencia institucional.
Luis Meneses

Unknown disse...

Altino, este estudo foi publicado?

Unknown disse...

Caro Altino, prezamos seu blog como um importante espaço de debate, porém gostaríamos de deixar claro que suas avaliações políticas feitas a partir de um estudo técnico encomendado pela UICN, WWF-Brasil e GTA, não representam o nosso posicionamento institucional e nem o objetivo para o qual o estudo foi elaborado.

Qualquer um que ler o trabalho vai notar seu caráter técnico e propositivo, que reflete a intenção das instituições em contribuir para o debate e aprimoramento das políticas e da governança sócio-ambiental no Estado do Acre.

É bom enfatizar que o estudo é uma análise da participação da sociedade civil nestes espaços e traz em si um forte componente de auto-crítica por parte destas organizações.

Respeitamos sua leitura política, assim como respeitamos todos os posicionamentos políticos. Porém para ser justo com os leitores e permitir que cada um possa fazer a sua avaliação e construir um posicionamento a cerca do mesmo, recomendamos a todos que leiam ao menos seu resumo e a entrevista do consultor responsável na íntegra.

Por fim, observamos que há um forte movimento por parte do Governo em pensar a reestruturação da gestão sócio-ambiental no Estado. Este momento é extremamente rico e pode gerar as condições necessárias para que governo e sociedade construam novas formas de participação.

Marcelo Arguelles - UICN
Alberto (Dande) Tavares - WWF-Brasil
Joci Aguiar - GTA/Regional Acre

PS - Aqueles que quiserem ter acesso ao estudo ou ao seu resumo, porfavor envie uma solicitação para marcelo.arguelles@sur.iucn.org