terça-feira, 6 de maio de 2008

A VERDADE NA HISTÓRIA

Fátima Almeida

O que existe em História são verdades aproximadas, mas que não se entenda por verdades parciais. Mas a humilde busca pela verdade demanda certo distanciamento dos grupos decisórios que impõem mitologias como patriotismo, nacionalismo, heroísmo, igualdade, num país pluriétnico e com acirrados conflitos - agora mesmo está ocorrendo um em Roraima envolvendo generais, produtores de arroz e indígenas - para, desse modo, fomentar um ensino obscuro produzindo profissionais competentes e adestrados para uma máquina estatal monstruosa e ineficiente deixada no Rio de Janeiro pela Corte portuguesa e em funcionamento até os dias de hoje.

No Brasil, o historiador pode até entrar na Casa Grande para observá-la, mas deve viver na senzala se quiser fazer alguma diferença e apresentar uma verdade aproximada. Precisa ter alguma renda com o suor do seu rosto, pois o ofício de historiador não é sequer regulamentado, muito menos rentável como o do médico e do advogado, apesar de que a História tem por irmãs a Medicina e o Direito.

A estatura de um historiador se mede pela estreiteza ou amplitude de horizontes. Ninguém, por isso, se compara a Eric Hobsbawn que numa página de "A Era dos Impérios", discorre sobre a produção literária russa e na mesma página faz referências ao Teatro Amazonas em Manaus com propriedade e intimidade. Desse modo, um bom historiador é aquele que se apropriou de outros campos de conhecimento e respectivos conceitos como a Literatura, as artes em geral, a economia, a filosofia e a sociologia e sendo poliglota, coisa que no Brasil é dificílimo e no Acre um esforço para várias encarnações a honrosa exceção de Pedro Martinello.

Além disso, precisa realmente ter lido Marx de forma inteligível, já que nenhum método jamais superou o materialismo dialético e o materialismo histórico. Mas caso isso aconteça vai precisar ter mais fé em Deus que todo o resto porque só poderá contar com ele num país onde a memória cultuada pelo Poder e a História do ponto de vista da Senzala, estão polarizadas. Ou seja, vai levar muita peia e viver com os capitães do mato no encalço, sem dar trégua.

Por fim, já disse Jesus: o caminho, a verdade e a vida são uma só coisa.

Fátima Almeida é historiadora

2 comentários:

Unknown disse...

Lendo esse texto da professora Fátima (lê-la é algo que faço sempre com prazer), me veio a mente uma passagem de Max Horkheimer que, ainda bem, consegui localizar para colar aqui:

“a revolutionary career does not lead to banquets and honorary titles, interesting research and professorial wages. It leads to misery, disgrace, ingratitude, prison and a voyage into the unknown, illuminated by only an almost superhuman belief.”
[uma carreira revolucionária não leva a banquetes e títulos honorários, pesquisas interessantes e salários professorais. Leva a miséria, desgraça, ingratidão, prisão a uma viagem ao desconhecido, iluminado somente por uma sobrehumana crença.]

Anônimo disse...

êsse final é de arrepiar. Tenho até medo!