sábado, 17 de maio de 2008

PERDENDO O PESCOÇO

Zuenir Ventura


Num país em que é comum as pessoas deixarem os cargos públicos por desvio de conduta ou suspeita de corrupção, sair sendo acusada de "purista" é um elogio. Em cinco anos à frente de um ministério sujeito a tantas pressões e envolvendo tantos interesses, esse é o único defeito grave que se atribui a Marina Silva. E ainda assim não se lhe faz justiça. Sua adesão à causa ambiental não é motivada por sectarismo ideológico. Conheci-a há 20 anos no Acre, como um ser da floresta, pertencente à espécie dos seringueiros, que sempre viveram em harmonia com a natureza. Aprendeu com a própria experiência e com seu amigo Chico Mendes que toda aquela riqueza natural não é um santuário intocável, mas que os recursos ambientais devem ser usados com racionalidade, até para não acabarem, para serem usados sempre.

Foram essas idéias e princípios, defendidos desde o começo também por Lula e consagrados depois por organismos internacionais que os inscreveram em sua agenda planetária, que levaram Marina Silva ao Ministério do Meio Ambiente. Era um sinal para o mundo do quanto tínhamos avançado nessa questão, embora para isso tivéssemos sacrificado Chico Mendes. Hoje, pelo menos dois indícios sinalizam para o retrocesso: a absolvição do mandante da morte da missionária Dorothy Stang e a vitória dos que acham que o meio ambiente prejudica o desenvolvimento, e não o contrário. E que Marina é um "estorvo ambiental".

Os seus adversários não escondem a satisfação com o desfecho, e querem mais. Rápidos como a serra e o fogo no mato, conseguiram outro avanço no campo do atraso. Já está em fase final de votação na Câmara dos Deputados um projeto que recua 40 anos na história de nossa política ambiental: a bancada ruralista quer ressuscitar o velho código florestal de 1965. Assim, os donos poderão desmatar 50% de suas terras, em vez dos 20% em vigor desde 2001, graças a uma medida provisória de FHC. Se com essas restrições quase 20% da floresta amazônica não existem mais, imagine-se quando liberarem a farra do boi, ou melhor, da soja. Outra acusação, e essa é debitada a Lula, é de que sua ex-ministra não seria "isenta", como se a isenção fosse uma virtude numa questão como a da preservação da Amazônia.

Uma coisa rara em todo o episódio: contrariando a praxe nesses casos, Marina sai melhor do que entrou, mais admirada. Como disse uma vez e provou agora, "perco o pescoço, mas não perco o juízo". Carlos Minc, um político que também é fiel à sua biografia, deve pôr o seu pescoço de molho, principalmente após cutucar quem ele disse que quer "plantar soja até nos Andes" e depois de prometer que não será "biombo verde de uma política predatória". Ele reivindica participar das discussões sobre a política industrial do país. É esperar para ver.

Zuenir Ventura é colunista do Globo. Tirei as fotos de Marina no dia 14 de julho de 2006, durante um simpósio sobre ciência, religião e meio ambiente, promovido pelo patriarca Bartolomeu, da igreja ortodoxa. Naquele dia, após a entrevista coletiva, Marina pediu ao passar por mim que eu não sumisse, pois ainda queria falar comigo. Momentos depois me chamou para dizer: "Vamos almoçar apenas eu e você". E assim aconteceu no restaurante do navio Ibero Star, no Rio Negro, em Manaus, não sem antes um norte-americano e um grego da organização do evento tentarem me retirar da mesa. "Fiquem em paz. Altino não é apenas jornalista. Ele é meu meu amigo. Eu o convidei para almoçar". Ficamos em paz, conversamos e depois pedi para gravar as respostas dela para algumas perguntas. Foi mais um dos grandes momentos com minha parceira de palco em três ou quatro peças no teatro amador, além de outras lutas. Assista abaixo.



4 comentários:

Luiz Matos disse...

Prezado Altino e demais leitores deste blog,

hoje faz 16 anos da morte do saudoso governador Edmundo Pinto. Gostaria de saber se algum jornal da capital acreana publicou sequer uma nota sobre a data. Acessei a página web dos principais e não consegui encontrar. Será que procurei direito ou vai sair uma edição especial na próxima segunda?

Pelo visto, somente o Portal G1 [1] e a família do assassinado guardam esta data na memória! Impressão minha, ou no vídeo abaixo a resposta data pelo "assistente de ordens do governador" não foi nada convincente? Vocês o (re)conhecem? Alguém foi preso? Existem respostas para estas perguntas?

Enfim.. não lembro de muita coisa daquela época, afinal estava no auge dos meu 9 para 10 anos. Mas de dois eventos políticos ainda me recordo do início da década:

1) a carreata do então candidato Fernando Collor de Melo na Av. Getúlio Vargas e
2) o aceno dado para mim por aquele ilustre homem, meses antes de sua morte, na "Panificadora Suprema".

Tempo bom.. não volta mais.

Abraços e bom fim de semana a tod@s.

[1] http://video.globo.com/Videos/Player/Noticias/0,,GIM676884-7823-GOVERNADOR+DO+ACRE+E+ASSASSINADO,00.html

Jalul disse...

Prezado Luiz Matos,

Edmundo Pinto foi, sem medo de errar, uma das figuras mais insignificantes para o Acre. Se somar dois mais dois, noves fora coisa nenhuma, o Edmundo Pinto foi, exatamente isso.
Edmundo não tinha bandeira, dava bandeira!!! Era fruto do nada, com coisa nenhumna.
Seu histórico, permita-me dizer, tinha o DNA de Kalume com Médice. Se quisesse renovar, por cima, diria, com Geisel Garrastazu e Silva.
Não sou do contra. Sou atual.Apenas isso. Minha consistência não reside no adorar, mas do viver vivendo, de preferência com senso crítico.
Esse menino mártir, de minha parte, não merece veneração. Não desejei sua morte, evidentemente. Nem chorei sua sorte, mais do que evidentemente.
Não louvo a sua passagem pela governança do Estado do Acre, porquanto obscura, exceto as luzes do seu assassinato. Seu filho Pintinho segue a mesma linha de seberba do pai. Vai se dar mal. É esperar para ver.
Não estou falando do Edmundo governador. Estou falando de um funcionário que comigo trabalhou e que de frente batia com a minha consciente figura de servidora pública, com o dever de servir.
Faz 16 anos que o Edmundo Pinto morreu e o Acre nao sentiu a menor falta.
Quem acenderá as velas?
Eu, não.

Anônimo disse...

Misturar Marina com Edmundo é, no mínimo, uma insensatez.
Arre vôte!
Xô!

Luiz Matos disse...

Olá Leila!
Não busquei velas, também não vou acendê-las por não tê-las em mãos neste momento. Infelizmente não sei muito daquela época.. e também não vejo fundamento em imaginar "como seria se tivesse sido diferente".
E particularmente, sua mensagem soou mais como um desabafo.

Só defendo que os acreanos, que por vezes bajulam tanto gente que só vê lucro em nossas terras, poderiam sequer recordar de alguém que (bom ou mal) teve sua representatividade em nosso estado.

Para o sem personalidade (vulgo: anonimo),
não relacionei alhos com bugalhos. Só postei na mensagem de Marina por ser o post mais atual.

Abraços.

P.S.: O link do vídeo saiu cortado na última mensagem. Aí vai ele completo. (Vale a pena para quem quer se manter desinformado)

http://video.globo.com/Videos/Player/Noticias/
0,,GIM676884-7823-GOVERNADOR+DO+ACRE+E+ASSASSI
NADO,00.html