terça-feira, 20 de maio de 2008

DIRETO DE SANTA ROSA DO PURUS

Sob o ataque implacável dos piuns


Estou em Santa Rosa do Purus, um dos municípios mais isolados do Acre, com 3,9 mil habitantes, onde será realizada amanhã mais uma sessão da "Assembléia Aberta", que é o programa de interação criado pelo deputado Edvaldo Magalhães (PC do B), presidente da Assembléia Legislativa. Durante as sessões abertas, parlamentares se tornam ouvintes de vereadores, sindicatos de trabalhadores e associações de classe nas cidades do interior do Estado.

A viagem de Rio Branco até Santa Rosa durou uma hora e meia num avião bimotor. A outra forma de alcançar o município é percorrer o rio Purus, a partir de Sena Madureira, a 146 quilômetros da capital. A viagem de barco durante o inverno amazônico, quando o rio está cheio, dura em média uma semana. Porém, nesta época do ano, dependendo do barco, pode demorar até 14 dias.

É a primeira vez que venho a Santa Rosa e minha impressão negativa estava muito influenciada pelas imagens precárias do lugar, sobretudo das que foram feitas quando a vila foi declarada município, há 16 anos. A maioria das ruas é pavimentada com tijolos e os moradores transitam sem pressa, a pé ou em bicicletas e motos, sem que sejam importunados pelos 11 carros existentes na cidade.

Existem por aqui apenas 1,8 mil eleitores. O prefeito José Tamir (PT) foi eleito com 430 votos. Quando concorreu a vereador, em 1992, foi o mais votado, com cinco votos. Existem nove vereadores, sendo que o mais votado na última eleição foi Júlio Brandão, que era do PT e mudou para o PMN. Cada vereador ganha R$ 1,2 mil.

Viver por aqui não é fácil. A cidade estava sem gás de cozinha há mais de uma semana. Uma botija de 18 quilos custa R$ 53,00. No momento falta gasolina. O litro custa R$ 4,25. O diesel, R$ 3,80. Tudo gira em torno do Fundo de Participação do Município, que injeta mensalmente R$ 300 mil na economia. O máximo por aqui é ser funcionário público ou aposentado do INSS.

Nuvens de piuns (insetos, borrachudos) castigam os moradores, sobretudo às margens do rio Purus. Neste momento, estou no ponto de acesso à internet existente na prefeitura. Já acendi vários porroncas (aliás, o fumo daqui é excelente, Toinho) e tenho lançado baforadas de fumaça, mas meus braços, pés e o rosto já estão mais enrugados de tantas picadas dos insetos. Eles parecem resistentes aos três tipos de repelente que apliquei desde que desembarquei na pista de terra dos aviões.

Existe muito peixe no Purus e nos lagos no entorno de Santa Rosa. Como em todas as cidades acreanas, a incidência de hepatite é elevada. Hoje mesmo foi enterrado um índio vítima da doença. Índios da etnia kaxinawá, kulina e jaminawa habitam a região. O vice-prefeito José Domingos (PT) é da etnia kaxinawá. Os indígenas representam 80% da população, sendo que parte deles vive embrigada na beira do rio e nas ruas da cidade.

Conheça o website da prefeitura de Santa Rosa do Purus.





Um comentário:

Saudades do Acre disse...

Altino, na época em que ainda havia florestas no Acre(antes da "invasão" sulista), utilizei vários repelentes naturais contra insetos, de qualidade superior a qualquer outro industrializado. Entre eles, óleo de copaíba e andiroba. Utilizava outros além destes, mas cujos nomes não me vêm à memória no momento.