terça-feira, 20 de maio de 2008

CASA PLANETÁRIA

Lucia Helena de Oliveira Cunha

Todos sabem que as lutas socioambientais de Marina Silva estão inscritas em sua história e na história. Todos também conhecem o seu brilhantismo intelectual, já evidenciado quando assistia às minhas aulas de Sociologia e Antropologia na Universidade Federal do Acre, cursando História.

Impressionava-me à época, nos anos de 1980, a capacidade de sua elaboração teórica e de colocação de questões relevantes do ponto de vista do conhecimento e do ponto de vista político. Entre nós havia uma troca de iguais, assim como tem sido até hoje quando também aprendo com Marina a partir de seu pensamento sempre fértil e original e de suas ações criativas e destemidas.

Mas é necessário ressaltar, ainda, que em uma época em que a política é rebaixada em sua importância histórica para a construção do novo, banalizada no espetáculo mediático da modernidade, Marina ainda demonstra ter uma visão ampla do significado de saber e fazer política, mesmo sem poder fazê-lo nos termos que ainda são postos retrogadamente na política brasileira marcada pelo servilismo, favoritismo, bajulações – pelo neo-populismo, neo-coronelismo, neo-colonialismo. Querendo sempre fazer política em sentido grande, destes “ismos” a ex-ministra nunca compactuou.

Nem das históricas pressões de interesses escusos dos ruralistas, dos madereiros e do agro-negócio. Fiel aos seus princípios éticos e à sua visão de mundo alargada, coerente com suas propostas, optou em se desligar de sua função ministerial

É bom que se diga que, mesmo comprometida com o presente, fazendo a “poética do agora”, seu projeto de futuro é amplo: a construção de um novo projeto societário ou civilizatório que coloque em novos termos as relações entre os homens e a natureza e dos homens entre si, dentro de um novo pacto histórico; de um novo contrato social e natural que contemple a dança da vida – o respeito a todos os seres vivos.

Essa é Marina que conheço intimamente, ainda remando contra a maré possui um projeto do presente com desdobramentos para o futuro em que o inédito tenha lugar. Em que as gentes da floresta, do mar, da terra, dos rios possam habitar esse futuro numa “casa comum” planetária, com sua rica diversidade cultural e ambiental.

A antropóloga Lucia Helena de Oliveira Cunha é Dra. em Meio Ambiente e Desenvolvimento pela Uuiversidade Federal do Paraná. Publicado originalmente no Blog da Mary.

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